Shadows Of Love escrita por Roxane Norris


Capítulo 1
Shadows of LOve


Notas iniciais do capítulo

Pela primeira vez eu posso dizê-lo
sem olhar para os lados
Aos meus olhos
você é único...
 
(Shadows of Love - Olivia Lufkin)



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Shadows of Love

Roxane Norris

 

 

O Gitanes foi devolvido ao cinzeiro enquanto seus olhos se fechavam gradualmente e um sorriso brincava em seus lábios. As vozes de todos naquele estúdio parecia tão longe de seus sentidos... Ergueu-se em meio ao burburinho, nada daquilo lhe importava no momento e murmurou:


Estou indo.


Não houve protestos, apenas algumas palavras e aquele olhar escuro que invariavelmente o seguiria até a porta. Não se daria o trabalho de olhar para trás, apenas o faria derramar seu brilho sobre seus pretos e não evitaria seus passos para longe dali. Fechou a porta num leve click e deixou o local.


Era estranho pensar que estava fazendo aquilo mais vezes no último mês – riu de si mesmo – mas algumas vezes se permitia fazer o que tinha vontade. Não foi assim que aquela história começou? Num capricho seu? Os pés deslizaram sobre o chão frio até o quarto, silenciosos. Havia chegado mais cedo do que prometera e ainda assim a encontrara dormindo - seu cérebro registrou mecanicamente à beira da cama, em pé. Os movimentos dela sob o lençol tencionando sua retina, e um novo sorriso. Talvez não devesse tê-la avisado mesmo... Respirou fundo, afrouxando a gravata ao redor do pescoço ao voltar-se para a sala.


Abriu a porta da varanda e deixou a brisa brincar em seus cabelos pretos. Novo Gitanes nos lábios e o olhar escuro se perdendo no horizonte. Sempre fora cedo demais para carregar responsabilidades, mas ele o fez, não é? Inclinou-se sobre o muro. Uma, duas, várias vezes. Os cabelos castanhos ondulados ricochetearam em sua mente, murmurando-lhe: “ Eu sou Layla Serizawa... Prazer em conhecê-lo.”


A fumaça ao ar e ele se perguntou:


Teria sido mesmo?


Por que aquela voz agora não o acalmava como antes?


Baixou o rosto, olhando as pessoas na calçada, passando rápido naquele mundo imundo. Sujos como suas vidas medíocres e suas existências falhas. Seria assim com ele também? Não... Sorriu. Ele sempre fora assim. Afastou-se da brisa e entrou no apartamento, onde estava seu santuário? O criara tão bem, tão seguro de si, nos braços de Reira.


Deixou seu corpo se moldar ao dela, os braços envolverem Nana... Ela podia estar acordada, ao menos que fosse para vê-la sorrir. Só isso lhe bastava. Quando começara a pensar assim? Afundou o nariz nos cabelos castanhos, amanhã seria um dia longo.


 

x.X.x


 

Ohayou! – era uma voz conhecida, cada célula de seu corpo tinha ciência disso, mas não respondia a ela como antes.


Reira... – contrapôs baixo enquanto folheava o jornal. – Não está cedo demais para estar fora da cama? – Ela sorriu, ele sabia disso embora ainda que não visse.


Dormiu bem? – era para alfinetá-lo, mas não encontrou destino.


Muito – abaixou o jornal e fitou-a demoradamente.


Era mesmo sua princesa, única. Sua e de mais ninguém, mas o conhecimento daquilo já não o permitia falar com os anjos. Por quê? Devolveu o olhar à mesa a sua frente e pegou o Gitanes. Acendeu-o e tragou calmamente esperando uma resposta. Silêncio.


Então, vai mesmo ficar nesse vai e vem?


Era uma pergunta inevitável, e ele odiava cobranças... Geralmente esse era o seu papel, não o delegava a outros. Pretos nos castanhos dela.

 

Isso a incomoda?


Os castanhos alargados nos pretos. Ele estreitou as sobrancelhas na direção dela. Maldito era aquele silêncio, onde estavam os anjos? Suspirou ao erguer-se do sofá.


Bem... – sentenciou ao passar por ela. – Estou indo tomar café. – Alcançou a porta sem dificuldades, mas não sem atravessá-la seguro.


Não a acordou antes de sair, não é? – Ele sorriu contra o branco da porta, eles se conheciam bem demais.


Não vi necessidade. – A porta se abriu e ele passou por ela, no seu terno marfim impecável.


Está ficando cada vez menos exigente, Takumi.


 

x.X.x

 


Mais uma semana trancado num estúdio – protestou o louro ao seu lado. A fumaça espiralou do Gitanes.


Não vamos deixar a Blast ganhar essa. – Ele apenas acompanhou com o olhar aquela voz. O ritmo, a suavidade, a determinação que ele nunca vira antes em Reira. – O lançamento do novo single dele é em menos de quinze dias.


Por que o prazo de uma semana lhe parecia terrivelmente grande? Tomou o celular entre os dedos longos e fez a ligação.


Hi, Hi! Nana falando! – Ele riu, sem dizer-lhe nada em resposta. – Hi, Nana... – ela tentou de novo.


Eu ouvi da primeira vez... – cortou-a ainda com o sorriso nos lábios.


Gomen ne – ela baixou o tom ao reconhecer a voz dele. – Como está a gravação?


Bem – respondeu mecanicamente. Ela não notara sua presença na noite anterior, porque isso o surpreendia? – E você?


Mamãe e bebê bem – ela brincou.


Ele sorriu. Não gostara dela não ter notado que ele estivera no apartamento, mas a voz dela espantava seus receios. O sorriso dos castanhos dela. Era como se os anjos...


Pretos em Reira, sem completar a frase mentalmente e as palavras para Nana:


Que bom... Tenho que ir.


Hai... – Fechou os olhos absorvendo aquele últimos segundos com ela. – Dê o seu melhor, né?


Ok. – O celular desligado e o Gitanes no cinzeiro.


Vamos logo... – sentenciou, calando todos. – Uma semana é tempo demais para acabar um CD.


Os castanhos de Reira que o seguiram de perto.


Não está sendo muito exigente? – ela indagou. Ele voltou-se para ela.


Não tanto quanto gostaria, foi você mesma que me alertou... – impassível, ele prosseguiu seu caminho.



x.X.x

 


A batida na porta o fez se erguer da cama do hotel, enrolado no roupão azul escuro. Apagou o Gitanes no cinzeiro sob a mesa de cabeceira e escorregou calmo até a porta. Inevitavelmente só podia ser ela, crispou os lábios antes de atendê-la. Os castanhos que o fitaram intensos ao pronunciar numa voz suave:


Gomen ne...


Ele não se mexeu, apenas a recebeu nos braços quando projetou seu corpo contra o dele, em olhos molhados.


Takumi...


Essa era a sentença de seu anjo, antes de lhe dizer que o amava, na voz que trazia paz para seu coração e mente. Mas quando deixara de ser assim? Indagou a si mesmo quando, pela segunda vez naquela noite, percorreu o corpo dela em língua e lábios. Os sons ritmados que saíam daqueles lábios rosados, arranhando aquelas paredes... sujas. Os pretos que voltaram até o rosto claro, de olhos cegos por sensações.


Ele queria tanto mantê-la intocada por aquela sujeira, que não notara que deixara sobre os ombros dela o peso de todas suas falhas; do passado, do que havia perdido quando sua mãe morrera... Quando a pesada mão do pai se arremetia contra ele, fazendo aqueles pensamentos imundos aflorarem como brasas em suas veias. Reira era o que mantinha sua mente sã no mundo que o envolvia, o tragava e amarrava em suas entranhas tortas. Ela lhe dera boas recordações; momentos, deixara sua vida nas mãos dele. Fitou-a mais alguns instantes, retorcendo as feições delicadas sobre os lençóis enquanto ele buscava-lhe os seios e mordiscava-os.


Afastara Shin... Yasu... Todos que podiam roubá-la dele. Sempre fora egoísta e nunca soubera lidar com os sentimentos dela, mas quando deixou Nana entrar em sua vida? Quando a deixou entrar... ?


Os pretos molhando-lhe o umbigo e a pausa abafava sua respiração suspensa. O corpo dela arquejou entre seus dedos.


A ingenuidade e a doçura de Nana, a necessidade de ser amada... Protegida. Era uma brisa quente de verão na frieza que ele deixara no seu coração... A traíra, usara, manipulara, era o que sabia fazer melhor do que ninguém. Porém Nana arrancava dele coisas que nem mesmo Reira conseguia, na frente dela se pegara inúmeras vezes de guarda baixada... E isso deveria ser um erro, mas não tinha argumentos suficientes para refutá-la.


Traçou o caminho molhado entre as pernas de Reira pensando em Nana.


No entanto – fechou os pretos – foi apenas aí que se permitiu tocar Reira. Somente quando ela quebrou aquela barreira. Deveria odiá-la por tornar sua última resistência uma parte tão suja quanto as outras que ele deixara para trás em dias escuros. A claridade que via agora não estava na voz dos anjos, mas naquele sorriso de mulher. A moça de cabelos cor-de-caramelo que entrara na sua vida por carregar seu filho... Maldição!


Arrancou o gozo corrompido de seu corpo, despejando-o nela. Sujando-o.


Merda, Nana!


Por que era a ela que queria proteger? Ela não poderia ser mais importante que Reira. A menina que ele vira crescer, por quem se apaixonara e que mantivera longe dele para preservá-la imaculada. Como ela conseguia fazê-lo abrir mão disso? Por que agora tinha a necessidade gritante de tornar Reira tão real para ele quanto Nana?


Pretos em Reira, que adormecera. Sentou-se à beira da cama, passeando os dedos nos longos cabelos negros. Era inacreditável que aquela simples menina quebrara o encanto dos anjos... Acendeu o Gitanes e deixou o quarto. Abriu a janela da saleta e debruçou-se sobre ela. O vento da noite espalhando seus cabelos no ar.


Sorriu, estava sendo usado por ela... Manipulado por aqueles olhos castanhos doces que lhe sorriam sem esperar nada em troca. Nem mesmo lhe perguntar:


O que eu sou para você, Takumi?”


Pretos na lua alta e ele apoiou o Gitanes entre os dedos, na testa.


Você era meu mundo... O mundo que eu construí para ser meu porto quando este estivesse sujo demais para confrontá-lo. Eu sabia como era torpe aqui fora e moldei a ele, aceitei as regras... Mas quando eu estivesse cansado de representar esse papel, você estaria lá, Reira, intocada, com os melhores momentos de minha vida nas suas mãos.”


Baixou a mão e o olhar.


Eu só não contava que houvesse algo nesse mundo real que pudesse me resgatar tão facilmente de mim mesmo, tornar aquelas memórias doloridas fáceis de conviver e me dar sonhos. Sonhos que eu passei a minha vida toda proporcionando aos outros. Proporcionando a você, quando te disse que seria uma grande cantora e fiz acontecer... Fiz da Trapnest minha prioridade para ver seu sonho realizado, e achei que realizaria o meu através de você. No entanto, esse meu sonho não é tão grande, ou talvez seja, para alguém como eu, só que eu não quero deixar escapar... Será que você me entende, Reira? Eu quero tentar, mesmo sem saber como... Eu já magoei a Nana, mesmo que ela me sorria e mantenha aquele lar intocado.”


Um sorriso de escárnio em seus lábios.


É isso, não é? Ela conseguiu o que eu não fui capaz de te dar.”


Nana, o que fez a mim? ”


 

x.X.x


 

Terminamos... – despejou, colocando o baixo de lado.


Eu não acredito que acabou. – Os castanhos sobre ele.


Ainda temos que lançar o single amanhã... – retrucou o louro, balançando as baquetas no ar.


Me pergunto se vale a pena tanto esforço – murmurou para si mesmo ao se dirigir para a porta do estúdio.


O que disse? – Reira contrapôs preocupada com o que ouvira.


Está tarde... – mentiu e atravessou a porta.


Aquela noite, as batidas na porta não o incomodaram... Na realidade, ele as trocou pelas memórias dos sorrisos de Nana.


 

x.X.x


 

Os últimos acordes que extraiu do baixo pareciam tão distorcidos, mas ainda assim a platéia gritou; ainda assim, mesmo que para ele não mais soasse como um anjo, eles o ouviam. A princesa que ela sempre seria, que ele criara e agora, por ciência, dava-lhe direito de voar. Será que a Nana premeditou isso? Pensou ao apagar o Gitanes no cinzeiro do camarim. Se assim fosse, ele cobraria um preço justo por isso... Saiu para o corredor.


Takumi – a voz e os castanhos de Reira. – Nós vamos comemorar, e...


Eu tenho um compromisso – não se deu ao trabalho de olhá-la.


Ela ligou?


Não... – Ele andou alguns passos, distanciando-se dela. – De toda forma isso não importa...


Ela ligaria se a criança fosse nascer hoje.


Ele crispou os lábios.


Bem... – Manteve seus passos para longe dela. – Não quero começar isso como um pai relapso.


Quando era quase um ponto no horizonte, voltou pretos para ela.


Gomen ne, Reira...


Não era um escárnio, falta de amor... ou qualquer coisa parecida. Apenas precisava de Nana.


 

x.X.x


 

A mensagem chegou uma quadra antes de ele divisar o prédio.


Não consigo dormir. Me ligue quando terminar o lançamento. Nana”


Um sorriso e o acelerador apertado no fundo. Como ela conseguia ser gentil com ele daquela forma, ainda que soubesse o que ele fazia. Afinal, quem era aquela mulher? Por experiência própria, não havia pessoas assim...


O hall do edifício, o número 302 sob seus dedos e o barulho no outro lado do interfone:


Tadaima...


Okaerinasai...


Ele sorriu e entrou no elevador. Era bom ouvi-la. Atravessou o corredor vazio aquela hora, parou em frente à porta ainda surpreso consigo mesmo. Os castanhos dela que alcançaram seus pretos antes que ele tocasse a campainha, ou sua chave capturasse a fechadura. Por que gostava dessas atitudes infantis dela? Ela seria mesmo uma boa mãe? Fez-lhe uma mesura, repetindo:


Okaerinasai... – Ergueu seu rosto até fitá-lo novamente e sorriu: – Quer comer algo?


Iie – respondeu, mantendo os pretos atentos na silhueta arredondada sob a camisola.


Eu pensei que fosse só me ligar... – ela balbuciou, desviando o olhar do dele. – Afinal, acabei preocupando-o. Gomen ne...


Ela não entendia mesmo, não é? Respirou fundo. Ele era realmente ruim em lidar com sentimentos... e ela não cooperava nenhum pouco. Isso podia dar certo?


Nana... – chamou-a.


Eu sei que não sou a prioridade na sua vida... – ela o interrompeu, tirando conclusões precipitadas como sempre. – Não deveria ter ligado quando só me sentia sozinha...


Nana – ele tentou uma segunda vez.


Você foi bem claro – ela ergueu os dedos, ele ainda estava parado à frente da porta fechada. E começou a enumerar. – Primeiro, a Trapnest... Segundo, Sashiko... Terceiro...


Ele riu, passeando os dedos nos cabelos pretos. Ela era realmente irritante. Num único movimento, fechou o segundo e o terceiro dedo que ela empinara em sua direção. Os castanhos surpresos nos pretos dele enquanto ainda mantinha seu indicador ereto entre os dedos dele.


Nana... – ele soprou contra o rosto dela: – Não julgue tão severamente tudo o que digo. Muitas vezes estou errado... Você deveria ser minha prioridade número um.


Os castanhos nos pretos dele ainda mais alargados, e os lábios dele pousaram gentilmente no dedo dela, beijando-o. Era diferente das outras vezes, aquele contato. Não havia a urgência dele, ou a determinação dela de ser perfeita. Havia apenas carinho...


Não diga nada... – Puxou-a para perto, abraçando-a fortemente. – Eu estou feliz por poder corrigir isso.


Os dedos dela contra o tecido do terno, amassando-o, sentindo o coração dele bater próximo a sua bochecha.


Takumi...


Descolou-a de seu corpo, calando-a com apenas um dedo.


Apenas diga que não há mal em tentar...


Os lábios contra os dela, não deixando-a responder. Se ela quebrasse aquele feitiço, se o impedisse de ouvir seus sorrisos, tocar sua inocência... Talvez não houvesse mais lugar para ele no mundo. A língua que gentilmente se enlaçou a dele, fazendo-a tirá-la do chão entre seus braços... deixando a resposta fluir de seu corpo para o dele. A resposta dela e da criança.


Sim, Takumi...”


E ainda que fosse algo incerto no futuro, era doce sentir o gosto dela em sua boca... Escorregar seus lábios por sua pele e sorver seu cheiro. Era bom estar ali e ter um lugar para chamar de lar... Um lugar ao lado dela.

 

Nana, sabe, eu me apaixonei...


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Notas finais do capítulo

Não foi aquilo tudo que eu pensei que seria, mas eu e a Tasha gostamos do resultado. O crédito da betagem é todo dela, obrigada amiga!
 
Essa one é dedicada a Juh, que me apresentou à Nana, e a Tasha, que me acompanha em fantasias! E tb a todos que ainda tem fé num final Takumi-Hachi!
 
Beijos em todas e obrigada por virem me ver.