Krum estava saindo pela quinta vez da biblioteca completamente decepcionado. Ele evitava o máximo que conseguia sua horda de fãs. Elas o queriam pela fama, mas Krum queria alguém que o desejasse por quem ele era. Na biblioteca tentava tomar coragem para falar com ela. Sempre tão concentrada nos estudos, sempre tão alheia a ele.

Onde estava a coragem? Ele não conseguia se aproximar para conversar com ela, muito menos convidá-la o baile. E depois de ensaiar mentalmente tudo que falaria à ela. Depois dela ter saído da biblioteca, Krum se pegou olhando para o vazio. Não havia mais nada a fazer, a não ser fugir das garotas escondidas detrás das estantes. Ele partiu, ouvindo o som dos passos atrás de si. Hogwarts era imensa e parecia ter olhos e ouvidos em todos os lugares.

Caminhou por muito tempo até chegar ao lado externo da escola. Por algum milagre ou força de vontade, havia despistado todas as suas fãs. Não que não gostasse delas, apenas queria um pouco de paz. Ele vagueou pelos campos floridos e hortas de morangos, até que a viu. Ela usava uma chapéu imenso de cabeça de leão, seus cabelos loiros acizentados saíam aos tufos do chapéu. Ela usava penduricalhos de beterraba e cenoura, e estava completamente suja de lama, que ia até seu joelho. Seus pés afundados da terra e, seu olhar parecia distante. Como se estivesse em pura meditação.

Krum ficou ali parado por minutos, se não horas, apenas observando a curiosa menina, que as vezes abaixava-se e procurava por algo pelas plantações, e em seguida voltava a olhar pro céu. Até que seus olhos se encontravam. Ela parecia surpresa, ou talvez, fosse apenas o jeito dela.

- Você não vai me ajudar?

O jogador ficou sem reação. Ele estava há um tempo observando-a e ainda não tinha entendido o que estava fazendo. Se supunha que ele deveria ajudar? Mas como?

- O que procura? - sua voz saiu rouca pela falta de uso.

- Guernumblies.

Krum ficou em silêncio. O que diabos eram Gernumblies? Ele ergueu os ombros sem se incomodar com sua própria falta de respostas. A menina voltou a procurar os seus Gernumblies. Krum sentiu que seu corpo reagia sozinho, enquanto aproximava-se dela. Curioso por conhecer o que eram as criaturas que ela falava. Ao chegar perto ficou encarando seus calçados.

- Os bilberentes devem ter me distraído e levaram meus sapatos. Alguma hora eles me devolvem, mas acredito que estejam trabalhando com os Gernumblies. - Ela olhou para Krum novamente e encarou seu rosto por tempo demais - Você não tem nada de Grifinória? Acho que por estar mais perto da torre deles, talvez não gostem de intrusos.

Ela levou a ponta do dedo indicador ao queixo e o bateu contra a pele umas 3 vezes. Suspirou, deu de ombro e se voltou para as plantações.

- Não tem problema, vamos continuar.

Krum permitiu-se acompanhar a estranha menina que caçava seus Guernumblies, sempre olhando para os seus pés.

- Você vai ficar resfriada nesse frio e com os pés na terra.

Luna apenas sorriu para Krum, deu de ombros e saiu andando.

It starts in my toes

And I crinkle my nose

Wherever it goes

I always know

Eles se encontraram novamente. Krum estava correndo próximo a lagoa, quando a encontrou sentada numa pedra olhando para o alto. Ele poderia ter continuado, poderia ter ignorado sua presença. Mas o vento revoando seus longos cabelos, que não pareciam ter o mesmo cuidado que as outras garotas tinham. Tudo em Luna Lovegood gritava diferente, e mesmo assim, ela parecia não se importar. Seu olhar fixo nas nuvens, apenas despertaram uma curiosidade em Krum.

Ele não gostava ou se importava demais com as coisas, mas o modo como Luna importava-se, era tão cativante, que era impossível não se aproximar e admirar. Antes mesmo dele chegar até ela, Luna perguntou-lhe, sem nunca tirar os olhos do céu.

- Quando você está jogando, consegue sentir as nuvens te tocando?

Ninguém nunca o havia perguntado algo como isso. Era sempre sobre como era enfrentar jogadores mais velhos e experientes, ou como ele fazia aquele giro triplo na vassoura, ou qual era sua comida favorita, e disso para pior. A questão sobre as nuvens era tentadora e diferente. Krum deu de ombros.

- Eu nunca prestei atenção nisso.

- Pois deveria! O espirito sem limites é o maior tesouro do homem. - Luna continuou a olhar para as nuvens - Olha aquela ali, parece uma lebre.

Krum afastou-se de Luna. O que ele tinha na cabeça? Ela era estranha demais… Mas suas palavras não saem de sua mente. “O espirito sem limites”. Krum não sabia se tinha, e se não, qual era o tesouro da sua vida?

What am I gonna say

When you make me feel this way

Ele entrou na biblioteca mais uma vez. Seus olhos fixos em Hermione, procurando por uma chance. Agora ela erguia o olhar do livro as vezes, e quando o fazia sorria, para depois ignorá-lo. Krum estava com um livro também em mãos, mas não lia. Seus olhos apenas analisavam a concentração de Hermione. Ele tinha que tomar coragem e convidá-la. Tudo que ele queria era se aproximar e conhecê-la.

O som de pisadas ecoaram pela silenciosa biblioteca. E mesmo sem se virar ele soube quem era. Luna se aproximou de Hermione e sentou ao seu lado. Hermione revirou os olhos para algo que ela falou. A loira esticou uma revista e apontou para a folha. Hermione negava com o rosto.

O semblante sempre sonhador e distante de Luna se fechou por instantes. Ela parecia furiosa. Ela afastou seu corpo de Hermione e ignorou-a. Seus olhos encontraram-se com Krum. Seus olhos piscaram e ela o observou por instantes, antes de levantar, pegar sua revista, apertar contra o peito, falar algo à Hermione e sair.

Krum observou Luna sair e seus olhos caíram em seus pés, descalços contra a pedra fria do castelo. Até que ele sentiu um olhar sobre si, e percebeu que Hermione o olhava da mesma forma que um cientista observa seu rato de laboratório.

I always know

That you make me smile

Please, stay for a while now

Just take your time

Wherever you go

Ele precisava parar de repetir para si mesmo o ditado. Mas tudo o que ele podia pensar era em como ter o espirito sem limites. Sua mente divagava enquanto corria, até que seu treino diário o levou até ela.

Luna lia o Pasquim de cabeça para baixo, e parecia tão interessada no artigo que não o viu parado diante dela. Krum gracejou chamando sua atenção. Ela continuou a ler, até que ele ajoelhou, ficando cara a cara dela, ou melhor, da revista. Krum apoiou o dedo no topo do Pasquim e abaixou-o. A loira piscou os olhos repetidas vezes.

- Olá.

- Você quer procurar Gernumblies? - Krum perguntou sem saber como iniciar uma conversa com a imprevisível Luna.

O sorriso dela fez com que ele sentisse que tinha marcado o ponto da vitoria de um seus jogos. Ela sentou um pouco mais para o lado e deu uma batidinha na pedra ao seu lado, indicando para que ele se sentasse. Krum sentou e percebeu que ela continuou lendo a revista.

- O que está lendo? - Ele tentou novamente.

E novamente ela sorriu, fechou a revista com cuidado e se aproximou meio de lado de Krum. Ele deveria se afastar, mas aquele mistério todo envolvendo à ela apenas os aproximou.

- Estou lendo especulações sobre o Bufador de Chifre Enrugado. - Luna confidenciou - Eu e meu pai estamos querendo viajar para a Suécia só para tentar encontrá-los.

Krum ficou em silêncio sem saber o que responder. Luna parecia aguardar uma resposta. Ela nem se movia, apenas aguardava. Depois de um tempo, o qual Krum acreditou que ela tinha virado uma estátua com um feitiço de Petrificus Totalus. Ela deu de ombros, estendeu o Pasquim para ele. Ele ficou para a revista em suas mãos sem realmente abrí-la.

- Não quer ler? - Ela fez menção de pegar a revista de volta.

Krum balançou a cabeça e seus olhos buscaram nos dela o brilho da loucura ou qualquer coisa que o fizesse correr. Mas tudo que ele via era amor, puro sentimento espelhado nos seus. Sentiu-se envolvido e não sabia dizer o que foi que o fez soltar.

- Vocês já tentaram procurar pela Bulgária?

Luna sorriu e sacudiu os cabelos. Ela ergueu-se na ponta dos pés e ficou de frente a Krum. A corvina bateu com a ponta do dedo no nariz dele e sorriu.

- Tolinho, todos sabem que eles vivem em bandos na Suécia, mas são muito tímidos.

Krum sentiu um tremular em seus rosto. Seu rosto coçou e os olhos de Luna apenas abriram-se mais do que o normal. Ela não piscava, olhando-o, enquanto Krum sentia aquele comichão estranho e tão atípico. E depois que acabou percebendo que ele também sorria.

- Parece que terei que ler mais sobre eles.

The rain is falling on my window pane

But we are hiding in a safer place

Under covers staying dry and warm

You give me feelings that I adore

Ele tinha apenas uma escolha. Estava chegando o dia do baile. Eles andavam e ele a ouvia falar. Ouvia sobre todas as criaturas que ela conhecia. Ajudava a procurar suas coisas que sumiam misteriosamente. E tudo que ele pensava é que queria saber mais. Ainda mais quando ela disse com todas as letras: “Você fica bem sorrindo”.

Ao seu lado, Krum não sabia fazer outra coisa que não sorrir.

Wherever you go

Always know

'Cause you make me smile

Even just for a while

As pessoas estavam ansiosas. Todos ergueram o olhar e o instinto dele foi de procurar quem eles olhavam. Seu olhar se chocou com Hermione. Ela estava linda, com os cabelos bem cuidados e seu vestido rosa. Os cabelos esvoaçavam e enquanto ela descia, e isso tirou um sorriso dele. Hermione parecia uma pequena fada vagando pelos jardins. Mas ele não procurava pela fada. Ele procurava pela sua louca particular. Luna apareceu em seguida, vestida com prata cheia de estrelas.

Ela não desceu graciosamente, mas saltitante. Luna foi aos braços de Krum nos penúltimos degraus. Ele rodopiou-a no ar. O sorriso que ele guardava só para ela, esboçado em seu rosto.

- Você está sorrindo - Luna não piscava, olhando-o intensamente, guardando cada detalhe de seu rosto.

- Estou. Afinal com você, meu espirito não tem limites.