Que nem feijão com arroz escrita por Mary
Ele estava frente a frente com uma porta. Ouvia barulhos estranhos do outro lado e temia abri-la, mas sabia que devia fazê-lo. Respirou fundo e ergueu a mão, prestes a tocar na maçaneta. Lentamente, esticou o braço, sentindo seu coração acelerar no seu peito. Tocou-a e percebeu que havia um filete de suor escorrendo pelo seu rosto. E então girou-a, devagar, e ouviu o ruído que fazia, como se estivesse enferrujada. Percebeu que havia destravado a porta e ao mesmo tempo percebeu o medo que sentia ao extremo. Empurrou a porta e não conseguia deixar de respirar pesado. Queria e ao mesmo tempo não queria saber o que o aguardava. Ouviu o ranger que a porta fazia à medida que estava sendo aberta e seus olhos, ao serem erguidos, captaram a escuridão que havia no quarto. E o som começou a ficar mais alto e o assustava; ele estava prestes a largar tudo e a sair correndo quando outro som misturou-se àquele que já estava sendo ouvido.
E Eduardo abriu os olhos.
O som do despertador o irritava e ao mesmo tempo o acalmava. Seu peito já não subia e descia com a mesma velocidade de antes, ele não respirava mais tão alto.
Ainda assim, não queria se levantar da sua cama. Ela era quente e confortável, e levantar significava que teria que ir para a escola. E essa era definitivamente uma coisa que ele não queria fazer. Então, simplesmente permaneceu deitado e viu que horas eram.
Mas, é claro, isso não poderia acontecer. Cinco minutos depois, ouviu a voz da sua mãe o chamando da sala. Aquele era um dia de aula que ele poderia muito bem faltar, porém,... é, mães são mães.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Mônica tinha ficado a noite inteira acordada. Na verdade, ela não conseguia dormir. Não parava de pensar no seu ex-noivo, que a tinha largado durante uma madrugada quase dois meses antes. Aquele seria o dia em que eles sairiam para uma viagem para Fox de Iguaçu, mas, provavelmente, ele estava prestes a ir com outra mulher.
E tomava um conhaque quando recebeu uma mensagem de sua colega de faculdade, Priscila. Abriu-a, pensando se seria um aviso sobre algum trabalho ou uma prova surpresa. Porém, na verdade, era um convite para uma festa que teria naquela noite. O namorado de Priscila, que era de humanas, queria comemorar algum tipo de prêmio que devia ter recebido de algum jogo que participara.
Afinal de contas, pensou Mônica, o que custa? Vou parar de beber para beber mais.
E concordou.
Depois de um dia exaustivo na escola, Eduardo foi para o curso de inglês. Não conseguia se imaginar tendo que suportar mais duas horas preso numa cadeira olhando para a cara de algum professor. Por isso, aceitou sem pensar duas vezes quando um carinha disse que tinha uma festa legal e eles queriam se divertir.
Ligou para sua mãe e conseguiu permissão, desde que voltasse para casa no máximo à 1:00. E, gritando, entrou no carro do seu amigo Caio e foram em direção à festa.
Mas, é claro, não seria como todas as outras que ele tinha ido. Parecia mais cheia, mais aberta, mais... adulta. Eduardo não estava preparado para esse tipo de coisa. Viu as luzes e a forma como as mulheres dançavam (e pareciam muito mais velhas) e se perguntou se estavam no lugar certo.
Porém, não recusou o primeiro drinque que lhe ofereceram. Foi para a pista de dança e não conseguia parar de rir - nem de beber. Quando começou a se sentir tonto o suficiente para não ficar em pé direito, foi até o bar para se sentar.
Não conseguiria chegar nem até a metade do caminho se não tivesse esbarrado numa mulher que estava em pé com uma taça de vinho tinto na mão. Demorou a se tocar que havia derrubado a bebida toda na roupa dela e na sua também.
- Meu Deus! - ele gritou - Foi sem querer! Eu juro!
- Tá tudo bem - ela gritou de volta.
Desculpando-se mais uma vez, ele voltou a andar, porém ela não deixou que fosse sozinho pois sabia que ia voltar a cair. Abraçou-o pela cintura e o ajudou a caminhar até uma cadeira. Ele se sentou e ela também, ao seu lado.
- Sou Mônica - ela disse.
- E eu sou o Eduardo - ele respondeu.
- Você tá bem?
- Acho que não. Que louco. Festa estranha com gente esquisita - e ergueu a mão para recusar um drinque que ela estava lhe oferecendo - Não, eu não tô legal. Não aguento mais birita.
Ela riu.
- Você quer alguma coisa? Beber alguma coisa?
- Moça, eu tô mal e duro.
- Não se preocupe, eu pago. E posso te ajudar se acabar se sentindo muito mal, faço medicina. Vamos, bebe alguma coisa. Esse barman faz uma ótima caipirinha.
- Tá, tudo bem - e aceitou o copo que ela estava lhe oferecendo.
Quando deu o primeiro gole rápido demais, sentiu o álcool lhe queimar por dentro mais do que já estava queimando antes e cuspiu o que tinha restado na sua boca.
- Desculpa - resmungou - Acho que não sei beber.
- Tudo bem - ela riu de novo - Me diz, o que você tá fazendo aqui?
- Moça, eu...
- Ei, calma. Não me chama de moça, por favor.
Mas você é no mínimo seis anos mais velha do que eu, ele pensou e não disse nada.
- Desculpa - Eduardo respondeu - Mônica, eu não sei o que eu tô fazendo aqui. Um garoto lá do curso me chamou e, como eu tava entediado, resolvi vir. Acho que... eu preciso ir pra casa. Que horas são?
- 1:45.
- QUÊ? É quase duas, eu vou me ferrar!
E levantou-se correndo, já sentindo o álcool nas suas veias ser substituído por adrenalina.
- Calma - ela o puxou pelo braço - Você ainda não me passou o seu número.
Ele pegou o celular dela e anotou rapidamente, e ela fez o mesmo no dele. Depois, despediram-se.
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