Seus olhos castanhos brilhavam de uma maneira diferente quando me viu. Cebola esboçava um sorriso. Minha mente foi invadida pelos momentos que ficamos juntos. Pareciam um sonho distante, mas ainda sim, estavam lá. Tentei me concentrar, apertando de leve a mão do DC, foi quando vi seu olhar desviar para baixo, nas nossas mãos entrelaçadas.

Sua expressão agora estava totalmente mudada. Não havia mais brilho nos seus olhos, seu sorriso desapareceu tão rápido que pensei ter imaginado que ele estava sorrindo. Olhei para o Do Contra, e ele estava olhando Cebola fixamente. Parecia que estavam numa guerra silenciosa. Eu até imaginava o porquê. Eles nunca se gostaram. Quando criança, Cê sempre convidada DC para participar de seus Planos Infalíveis, mas ele sempre recusava. E tinha o fato de que ele gostava de mim também, igual Cebola.

O silêncio constrangedor foi quebrado pela Sabrina.

– Bom, Mô, DC, esse é Cebola, futuro noivo da Penha.

– Achei que você tivesse dito que eles já eram casados. - Dessa vez foi DC quem falou.

– É que bom, eles praticamente são casados, já que o casamento é semana que vem. Desculpe se isso confundiu vocês. - Sabrina corou, mas logo viu a tensão que estava na sala. Cebola não parava de fuzilar DC com os olhos.

– Sabrina. Eu os conheço. Eram meus amigos lá no Brasil. - Pela primeira vez depois de tanto tempo, eu estava ouvindo sua voz. Mas algo nela me deixava nervosa. Sua voz estava fria como gelo, e a palavra ``eram´´ me atingiram em cheio.

– Cê... - Minha voz saiu falhada.

– Então, Mônica, Do Contra... Como têm passado? Parece que muito bem pelo que eu vejo. - As palavras saíram como navalhas.

– Cê... - Tentei novamente, mas minha maldita voz saia baixa demais. - N-Não é bem isso...

Mas nosso diálogo foi interrompido. Penha apareceu na Sala de Jantar. Vestia um longo vestido, que cobria toda a perna, era um vermelho bem vivo. Seus cabelos estavam presos em um coque bem elegante. E no dedo anelar, exibia um belo e nada discreto, anel de brilhantes.

– Enfim, vocês se reencontrarram. Então Mônica, Chéri. Agorra não há porque você não gostarr mais de mim, cerrto? Afinal, pelo que vejo, você está muito bem acompanhada. - Ela sorriu, mas com um certo desprezo.

Fiquei em silêncio, uma dor esmagadora surgiu no meu peito. Como ela poderia dizer isso? Ela estragou a minha vida! A vida de todo mundo lá do bairro. E principalmente do Cebola. Mas eu não poderia dizer nada à ela. Não poderíamos criar uma intriga bem na frente de Sabrina.

O mordomo da casa entrou no recinto, anunciando o jantar.

Sentei de frente para Sabrina, não queria olhar nem para Penha, nem para o Cebola, se eu me atrevesse, acho que não conseguiria me controlar. Dc sentou-se ao meu lado, enquanto Cebola sentava numa ponta e Penha em outra. Ouvi as explicações de Sabrina, nos pedindo desculpas pelo fato de os pais de ambas não estarem presentes. Ela nos contou que a família cuidava de muitos negócios. Aquilo foi desastroso. Até para DC, que ficava à vontade em qualquer situação, naquele momento não estava.

–Então, como esse mundo é pequeno. Nunca imaginaria que vocês conheciam minha prima e o Cebola. - Sabrina sorria.

Dei um meio sorriso para ela, evitando ver qualquer reação à minha volta.

Entre alguns momentos no jantar, Penha ficava nos perguntando sobre meu relacionamento com o DC. Aquela praga! Ela sabia que isso faria com que Cebola ficasse irritado. Tive que enrolá-la, desconversar e tudo o mais. Ela estava tirando proveito da situação. Parecia uma eternidade, mas enfim o jantar chegou ao fim.

– Bom, vou me retirrar. Se sintam em casa. E Mônica? - Olhei para ela. - Espero que vocês fiquem até o casamento. - Dito isso, ela saiu da Sala de Jantar.

Sabrina foi a próxima a se retirar, depois de toda a viagem, ela queria descansar. Nisso os únicos que sobraram sentados à mesa, foram DC, eu e Cebola.

O clima estava mil vezes mais pesado. Meu nervosismo estava muito alto.

– Mônica, por favor, eu preciso conversar com ele. - DC falou, sem tirar os olhos de Cebola.

– Mas... - Tentei contestar, mas Do Contra se virou e segurou meu rosto, me dando um selinho. Arregalei os olhos na mesma hora, senti que Cebola estava me encarando.

Sem dizer mais nada, me levantei e saí de lá. Seja lá o que fosse que eles iriam conversar, eu não estava bem mentalmente para ouvir.

Mas alguma coisa estava errada. Desde o princípio eu sentia isso. Parei na metade do corredor e voltei, entre passos reduzidos. Eu precisava saber o que estava acontecendo.

Me esgueirei na parede. Olhando cuidadosamente para a sala novamente.

– O que você pretende com isso? - Era Cebola quem falava.

DC soltou uma risada debochada.

– Eu é quem te pergunto. Você não a vê à três meses e é assim que a trata? - Fiquei ali escutando os dois.

– Não era assim que eu pretendia vê-la. Não junto de você. O que você pensa que está fazendo? Vocês estão juntos mesmo? E essa história de que estão casados... é mentira não é? - Cebola batucava na mesa com os dedos, impaciente.

– Sim, estamos juntos. E não, não estamos casados. Mas não é por falta de oportunidade. - Cebola bufou. - Que direito você tem por ela? Você a deixou, ou já se esqueceu? - Minha mente estava confusa, não sabia o porquê dessa conversa.

– Sim, eu a deixei, mas VOCÊ me ajudou. E sabe de uma coisa? Quando ela souber, não acho que você continuará feliz assim com ela.

Fiquei estática, levei minhas mãos à boca, contendo um grito.

O quê? Do Contra ajudou o Cebola? Todo esse tempo ele sabia de tudo?

– Você sabe o porquê. Querendo ou não, eu a amo. E como você, eu quero protegê-la. Ela ainda corre perigo.

– Ela corre mais perigo estando aqui. Porque deixou ela vir? - Cebola parecia ter se acalmado um pouco.

– Você é idiota? Qualquer um que a conheça nem que seja um pouco, sabe o quanto ela é decidida. Quando ela bota algo na cabeça, ela vai a qualquer lugar pra isso. - DC estava se levantando da mesa. Recuei um pouco da parede, pronta para correr dali.

– Eu não posso entregar ela a você. Mônica é minha, você sabe muito bem. - Ouvi, Cebola sussurrar.

– Sim. Você não vai entregar ela para mim. Eu vou tirá-la de você. - Do Contra falou, firmemente.

Corri dali o mais rápido que consegui, e saí no jardim. Minha cabeça estava à mil por hora. Eu precisava tirar isso à limpo, só não sabia como. O que eu sabia, era que Cebola ainda me amava. Apesar de tudo o que ele me fez, foi por meu bem, mesmo ainda não entendendo que ``perigo´´ eu estava correndo.

Ele me amava. Mas... Eu agora estava confusa. Eu me envolvi demais com o Do Contra, não conseguia mais negar a sua existência. O que eu sentia por ele, é igual a o que eu sentia pelo Cebola. Mas o Cê iria se casar em uma semana. O que ele fará? E Penha provavelmente não sabe disso, se soubesse acho que eu nem estaria aqui. Cebola deve ter feito tudo o que essa cobra mandou.

Lágrimas começaram a rolar do meu rosto. Essa situação era tão surreal. Eu teria que tomar uma decisão.

Alguém me abraçou por trás, fazendo com que eu me virasse para ver quem era. Não deu nem tempo de recuar, quando vi Cebola aproximar seu rosto do meu. Seus lábios envolveram os meus em um beijo ardente.

A princípio minha reação foi querer me afastar. Mas uma onda de eletricidade e seus braços me prenderam ali. Eu tentei pensar no DC, pois uma parte de mim gritava dentro da minha mente, que isso era errado. Mas a outra parte me fez querer retribuir o beijo. Foi o que acabou acontecendo.

Durou apenas alguns segundos, mas que para mim, pareceram eternidades.

Olhei atônita para ele, e então o vi sorrir. Mas ele não estava sorrindo para mim. Olhei para trás e vi um Do Contra nas sombras. Me soltei dos braços de Cebola e tentei correr em sua direção. Mas ele já não estava mais ali.

Ele não estava mais em nenhum lugar.