Perpétuo Sentimento escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos ao meu amigo Rubem, criador dessa versão da personagem Morte.

Leia antes: https://fanfiction.com.br/historia/656715/Crenca/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/657551/chapter/1

Ser um Perpétuo significa uma existência de solidão, principalmente quando você é a personificação da morte. Afinal, quando se está muito próxima do que significa ser mortal e, ao mesmo tempo, é o grande alvo de incompreensão e medo por parte da espécie humana, você acaba passando bastante tempo sozinha.

Como Ceifadora de Almas, seu dever era acompanhar as almas daqueles que estavam partindo ao seu destino final. Ironicamente, também era dar opção de escolha para aqueles que desejam adiantar a sua partida. Quando se é um Perpétuo, muito especialmente quando se é a Morte, você acaba se deparando com uma quantidade bastante surpreendente de ironias!

Naquele dia, seu objetivo era apenas questionar a jovem princesa talentosa que havia sido encarcerada por seus pais. Elsa. No entanto, as coisas não saíram bem como ela havia planejado, o que era incomum o bastante para deixar a Morte bastante curiosa.

Não. Em lugar de se negar aproveitar a sua segunda chance, como ela esperara, Elsa se limitara a encará-la nos seus olhos vermelho-sangue e abrir um sincero sorriso antes de balançar a cabeça uma vez e dizer que não, não queria morrer. Como se estar errada não fosse incomum o bastante, ela encontrara uma criatura humana que não a temia ou reverenciava de qualquer forma.

Foi apenas por pura curiosidade que a Morte resolveu voltar no dia seguinte (e nos muitos que se seguiram após esse) para observar a garota. Quem era aquela estranha criatura? O que ela sentia quando pensava na morte?

Foi necessário mais que um ano (na contagem dos humanos daquele lugar) para que a Morte finalmente compreendesse. A garota vira algo em si que muitas vezes nem mesmo a própria Morte conseguia ver: Vida.

Em lugar de saciar sua curiosidade, aquilo apenas a alimentou.

A Morte percebeu lentamente que estava se tornando obcecada, muito embora tenha conseguido manter-se em silêncio enquanto a jovem princesa tentava, sem sucesso, conversar com ela. Bom, dentro de sua cabeça, a Morte sempre respondia.

Mesmo sabendo que a princesa não podia ouvi-la, era engraçado como ela sempre esperava o tempo correto para que a Morte pudesse enunciar as palavras de resposta dentro de sua cabeça.

A Morte muitas vezes riu daquilo enquanto Elsa recomeçava a falar. E a jovem princesa se voltava para ela, na expectativa de ouvir qualquer comentário, muito embora ambas soubessem que a Morte não falaria nada.

Era uma conexão que nem mesmo a Morte conseguia compreender.

Quando os pais da princesa morreram, ambas souberam imediatamente que algo mudaria, embora não conseguissem prever o que seria. A Morte permaneceu em um canto do quarto, escondida nas sombras, enquanto um dos conselheiros dos pais da princesa davam-lhe a notícia em um tom de que beirava uma ameaça.

Ela ficou surpresa quando se deu conta de que havia cerrados os punhos com força enquanto se forçava a permanecer distante. Possessividade e uma vontade quase incontrolável de proteger Elsa da dor e do medo evidentes em seus olhos.

Tudo vai ficar bem. Ela falou dentro de sua cabeça, mais do que nunca desejando que Elsa pudesse ouvi-la. Eu vou te proteger, ninguém vai te machucar. Era uma promessa quase vazia, é claro, embora não o soasse à Morte naquele momento; um Perpétuo não deveria se envolver com mortais mais do que o estritamente necessário para o cumprimento de suas funções.

"Você os levou, não é?" Perguntou a princesa, e a Morte sentiu um aperto em seu metafórico coração. Embora a morte não a perturbasse, ver a tristeza nos olhos da garota diante de si lhe causava imensa tristeza. "Por que você fez isso? Achei que fôssemos amigas."

Elas, amigas? Era uma alegação interessante, pois a Morte nunca pensara daquela maneira. Não, você não é alguém que eu gostaria de chamar de amigo, ela falou dentro de sua cabeça, uma resposta rude que ela esperava que a menina compreendesse. Era verdadeira, no entanto, não lhe agradava a palavra "amiga" para descrever seus sentimentos pela princesa.

Quando Elsa não a respondeu logo em seguida, uma força invisível que a Morte conhecera apenas um par de vezes nos últimos mil anos a impeliu a finalmente dizer algo em voz alta. "Nem mesmo eu posso adiar o verdadeiro momento da morte de alguém. Eu sinto muito, Elsa."

"Agora, eles vão me matar, porque eu sou um monstro." Ela respondeu imediatamente depois, o que tornava evidente que Elsa já sabia qual seria a sua resposta.

Quando deu por si, a Morte percebeu que estava ajoelhada perto da princesa. Era a primeira vez em séculos que as emoções a tomavam de maneira tão abrupta, e a Morte sabia muito bem o que aquilo significa e que não adiantava lutar contra. Amor.

Subitamente muito consciente de seu outro nome, a Morte estendeu as mãos e acariciou suavemente os cabelos sempre presos de Elsa. Seus olhares fixaram um ao outro e, por muito tempo, nenhuma se moveu.

"Q… quem é você?" Ela perguntou, e a Morte ouviu, embora estivesse subitamente consciente que a menina se inclinava ligeiramente em sua direção. Um gesto inconsciente, mas a Morte sabia que aquilo significava que as duas queriam a mesma coisa.

Com isso em mente, ela beijou a jovem nos lábios. Foi um beijo rápido e suave, mas poderoso. Ela foi preenchida por um sentimento de completude que, se fosse honesta consigo mesma (e era), confessaria que nunca sentira antes. Tudo mudara.

Era a Vida.

"Você pode me chamar de Laura," ela respondeu quando se separaram, e não pôde conter um sorriso. "Eu sou a Morte e vou dizer apenas uma vez: você não é um monstro."

Elsa olhou para ela por um momento, sua juventude e inocência subitamente muito evidentes. Eu te amo, Laura queria dizer, mas se conteve, esperando uma reação da princesa. Então, Elsa também sorriu, e a mais velha percebeu com profunda alegria: ela acreditara.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perpétuo Sentimento" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.