Eu me sentei no chão, me juntando ao círculo de pessoas felizes e animadas enquanto me arrependia instantaneamente de ter me metido naquilo. Eu sabia que ia me ferrar nisso, mas já era tarde demais para desistir.

É incrível as idiotices que alguém pode fazer diante das provocações da irmãzinha irritante.

Alguma música aleatória irritante pulsava nos alto-falantes, fazendo a sala vibrar, mas logo o som foi abaixado para ser substituído pela voz da Rosalya.

- Ok, gente. Eu vou começar o verdade ou consequência agora, então calem a boca e não me atrapalhem. E a minha primeira vítima vai ser... - ela girou a garrafa com um sorriso meio assustador em seu rosto enquanto eu rezava silenciosamente para não ser eu. - Castiel! - Rosa disse animadamente quando a garrafa parou no dito cujo.

Espero que ele se ferre.

- Verdade ou consequência? - ela disse, com um uma excitação que eu não consegui entender em sua voz. Aí ela deu um rápido olhar de soslaio pra mim, e eu soube imediatamente que quem ia se ferrar era eu.

- Consequência. - O cabelo de tomate nem hesitou, com uma sombra de um sorriso em seus lábios.

Por favor, que eu não esteja no meio disso. Por favor, que eu não esteja no meio disso. Por favor, que eu...

- Eu te desafio... - Rosalya começou, aumentando o tom de voz para chamar a atenção das outras pessoas presentes no cômodo. - A beijar o Nathaniel. - ela deu um sombrio sorriso na minha direção enquanto eu sentia meu rosto arder e se contorcer em incredulidade.

- O quê?! - Eu praticamente gritei, surpreso e completamente constrangido. Eu conhecia Rosalya há tempo suficiente pra saber que ela não estava brincando.

- Você tá me zoando? - Castiel disse, e eu tinha certeza de que ele estava tão incrédulo e constrangido quanto eu. Mas mais do que isso, ele estava irritado. Irritado e humilhado, eu tinha certeza.

Uma pequena pontada de dor atravessou meu peito com aquele pensamento, com a sensação de rejeição gritando em minha consciência, mas eu ignorei. Eu não me importava com o que ele pensava, de qualquer forma.

- Eu ainda não terminei. - Rosalya disse, seu rosto divertido como se o Castiel não estivesse olhando para ela como se fosse arrancar seus olhos. - Por quinze segundos completinhos.

Um beijo de quinze segundos para outras pessoas não era nada - na verdade, colocar tempo em um beijo já parecia algo bem idiota - mas para mim era muito. Era muito quando a pessoa que iria me beijar era a mesma pessoa que queria quebrar o meu pescoço. Você sabe como é simplesmente assustadora a ideia da pessoa que mais te odeia no mundo – e seu provável futuro assassino – ficar com os lábios colados no seu por malditos quinze segundos? Pescoços podem quebrar em quinze segundos.

Agora era a minha vez de me sentir irritado e humilhado.

- Você tá louca, Rosa? De onde você tirou isso? Por que eu?

- Eu tenho cara de viado, por acaso? - Castiel esbravejou, irritado demais para perceber o quanto estava sendo um cavalo ignorante, dizendo aquelas palavras rudes perto do Alexy. Mas, bem, quando ele não era um cavalo ignorante?

Rosalya ficou séria, finalmente, e só naquele momento eu percebi as risadas maliciosas e os sussurros divertidos na sala. Muito mais gente do que eu esperava estava prestando atenção no jogo agora, mais interessados do que há cinco minutos atrás. Mas é claro, todos eles gostavam de uma boa polêmica.

- Bem, me desculpem se vocês são tão preconceituosos e mente fechada assim, que não podem nem jogar direito. - ela argumentou, alternando seu olhar sério de mim para o Castiel.

- Não é esse o problema, Rosa. É que...- eu comecei, mas fui rapidamente interrompido.

- Eu pensei que vocês fossem mais corajosos.- ela disse, olhando fixamente para o Castiel. Era óbvio que isso era uma provocação, e mesmo que eu odiasse que me chamassem de medroso, eu não era idiota o suficiente para cair nessa. E, por mais cabeça dura que o Castiel fosse, ele também não.
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Né?

Mas quando o sorriso malicioso e sombrio voltou aos lábios de Rosa, eu sabia que ele era sim, muito, muito idiota.

Maldito cabelo de menstruação.

Ele se voltou pra mim, e quando viu minha cara de tacho, um meio sorriso idiota brotou em seus lábios, e meu coração falhou uma batida, só para depois voltar a bater mais rápido, muito mais rápido.

Ele se aproximou lentamente, com seu sorriso aumentando, e meu rosto ficando cada vez mais vermelho.

Até que a distância entre nós era nula, e eu senti seus lábios sobre os meus.

Eu simplesmente não podia descrever a sensação, porque eram muitas coisas para se sentir ao mesmo tempo.

Tinha uma reviravolta em meu estômago, e eu finalmente entendi o que significava "borboletas no estômago". Meu coração batia rápido e incontroladamente, e eu sentia como se ele tivesse acabado de dar um pulo de bungee jump. Minha mente estava confusa e girando, e eu não conseguia me concentrar em nada além da sensação dos seus lábios macios contra os meus.

Ele não aprofundou o beijo, e nem eu. Porque de alguma forma eu sabia que se eu começasse, eu não conseguiria parar. Eu perderia meu controle e envolveria meus braços em seu pescoço, apertaria meus dedos em seu cabelo ruivo e não ia querer soltar nunca mais. Eu sabia que faria isso porque era o que eu queria fazer, e estava lutando para não fazer.

Porque sentimentos que estiveram enterrados no fundo da minha mente e do meu coração por tanto tempo não poderiam ser desenterrados justo agora.

Mas eu sabia que esse esforço era em vão, porque aquele simples beijo já tinha feito estrago o suficiente.

E então eu finalmente fiquei consciente das pessoas a nossa volta, e do coro contando.

- Quatorze, quinze! - o coro disse, e então Castiel separou seus lábios do meu, e um estranho desejo de que Rosa tivesse dito algo como vinte, ou trinta segundos me invadiu.

Mas aí Castiel interrompeu meus pensamentos.

- Eu sei que você gostou. - ele sussurrou, me fazendo sentir seus lábios e sua respiração pesada contra meu rosto, e mordeu o lóbulo da minha orelha. Eu não sabia se ele estava zoando com minha cara ou não, mas aquelas palavras me deixaram mudo. Eu não conseguia achar minha voz para contestá-lo.

Eu senti meu coração dar outro pulo de bungee jump, e as borboletas voltarem.

Eu não pude negar, nem pra ele nem para mim mesmo, porque as batidas do meu coração e a reviravolta no meu estômago não deixaram.

Porque, mesmo que eu negasse, nós dois sabíamos a verdade.