Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Comentem o que acharam. Espero que gostem!



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Permaneço sentada próxima à janela por um tempo infinito. Encaro a semiescuridão lá fora, no que parece ser um jardim enorme. Meu corpo está inerte, o único movimento é a minha barriga se contraindo pela minha respiração e meus olhos que piscam com preguiça.

Pareço a sombra de uma garota assustada, e é exatamente o que sou agora. Preciso sair daqui. Preciso descobrir onde estou e dar um jeito de avisar ao Hugo. “Ele não te ama, acredite em mim.”. Aperto os olhos, tentando me livrar desses pensamentos. Claro que isso era mentira. O que ele sabe sobre o Hugo e eu? Nada. O Hugo me ama, e tenho certeza que agora mesmo ele está lá fora, em algum lugar, a minha procura.

Continuo de olhos fechados, em alguma espécie de mantra para que ele consiga me encontrar e me salve.

A porta do quarte abre de supetão, me assustando. Penso ser Alexandre, mas no lugar dele uma senhora idosa em todos os seus cabelos brancos entra no quarto. A me ver, noto carinho em seus olhos. Ele sorri amigável para mim e isso quase me empurra para a borda novamente, meus olhos enchendo de lágrimas que não serão derramadas.

– O senhor Herman quer que você desça para jantar.

– Quem?

– Alexandre. Alexandre Herman. – ela diz, esclarecendo minha confusão.

– Não quero comer, obrigada.

A senhora muda sua expressão, parecendo incomodada.

– Ele insiste. E não costuma ser muito compreensivo. Por favor, venha.

– Eu não ligo. Não comerei enquanto não sair daqui. – ela sorri, balançando a cabeça em negativo.

– Posso te trazer algo para comer então?

A olho triste. Eu estava sim com fome, mas ao lembrar tudo que aconteceu hoje meu estomago embrulhava.

Deixo escapar um sorriso de canto.

– Tudo bem. – fala, retribuindo meu meio sorriso. – Ele não vai gostar disso, mas tudo bem.

E se vai. Alguns minutos mais tarde, retorna com uma bandeja contendo mais comida do que eu já vira na vida. Algumas eu nem sabia identificar o que era. Agradeço, imensamente grata por aquilo, enquanto minha barriga ressurge faminta.

Quando vou me sentar à mesa para, finalmente, comer, a porta é aberta com tamanha grosseria que me faz pular de susto. Um Alexandre furioso vem em minha direção, segurando com força meu rosto em sua mão, me prende contra a parede.

– Quem você pensa que é para renegar uma ordem minha? – ele grita.

– Me solte, você está me machucando. – falo e isso só o faz apertar ainda mais forte.

– Esposa minha come comigo à mesa. Você entendeu? Não teste minha paciência, garota. Você está aqui para servir a mim e me obedecer.

– Não estou aqui para nada. Solte-me.

Ele me solta com brutalidade. Levo minha mão ao meu rosto e esfrego ali, sentindo a umidade de lágrimas que eu nem sabia que haviam caído. Alexandre continua me olhando com fúria, e notando a bandeja de comida, a pega e joga no chão, quebrando pratos e copos e espalhando comida por todo lado.

– Se não vai comer comigo, não vai comer nada. Isso é para você aprender a sua primeira lição de como ser uma boa esposa.

Quero me jogar sobre ele, bate-lo realmente com força, mas me contenho, com medo do que ele faria. Apenas o encaro, chorando silenciosamente, enquanto ele sai do quarto. Corro até a porta e a fecho com raiva. Escorregando meu corpo contra a mesma, sento no chão e choro mais ainda. Choro como nunca chorei na vida.

Quem é esse homem? Por que está fazendo isso comigo? Minha vida será um inferno aqui.

Assim choro até pegar no sono, ali mesmo, no chão.

*

Sinto algo me atingir nas costas e uma dor aguda me desperta. Abro os olhos e noto que ainda estou no chão e alguém está tentando forçar a porta que estou impedindo de abrir. Engatinho para longe dela. A mesma senhora aparece novamente.

– Olá garota. – ele parece abatida. O que aquele monstro a fez?

Ela nota a bagunça no chão e sua tristeza se aprofunda. – Sinto muito por ontem. Sabia que ele iria reagir mal, mas não poderia te deixar passar fome. – continua.

– Não, a culpa foi minha. – falo, minha voz rouca. Estou com a boca seca, muita sede e muita fome.

– Vim preparar seu banho. A tutora estará aqui daqui a pouco. Poderá comer em paz, o senhor Herman saiu para cavalgar.

– Tutora?

– Sim, que te ensinará boas maneiras. O senhor Herman a contratou.

Suspiro. É claro que ele fez. Ele e essa ideia estupida de que serei sua esposa. Sigo a senhora por uma porta que não havia notado ali no quarto. Ela revela um grande banheiro, tão luxuoso quanto o quarto. Eu nunca vira nada igual de perto. Tudo é dourado, ouro talvez.

– Como você se chama? – pergunto, enquanto observo a senhora encher uma banheira.

– Margaret. E você, bela menina?

Coro com seu elogio e me encolho mais. – Rosie.

– É um belo nome. – ela sorri com carinho e segue banheiro afora. – Tome seu banho. Aqui estão algumas roupas. – e aponta para um armário no canto do quarto. – Vista um bom vestido, calce alguns sapatos. Depois desça para comer. Vou arrumar esta bagunça e preparar seu café da manhã.

Dito isso, sai sem me deixar falar nada. Volto para o banheiro e encaro a banheira, sem saber o que fazer. Poderia aproveitar que Alexandre não está e fugir. “Tenho homens por toda cidade, tente fugir e você não voltará viva para receber meu sermão.”. Gemo em frustração.

Dispo-me e entro na banheira. Permaneço sentada no meio dela, abraçada às minhas pernas flexionadas. Tenho o olhar preso em um ponto invisível e não consigo manter a cabeça em ordem para saber no que estou realmente pensando.

Não encontro a bagunça no chão ao retornar ao quarto. Quando abro o armário, fico estupefata com o que vejo. Inúmeros vestidos, cheios de babados e enfeites. O armário parece pequeno para tanto pano. Passo a mão por eles e são do material mais macio que já sentira. Nada comparado ao vestido velho e encardido que eu tinha. Escolho o mais simples que encontro, incomodada por aquilo tudo parecer não combinar comigo.

Olho para baixo e só noto saltos. Por Deus, nunca usei um salto na vida.

Depois de secar meus cabelos escuros compridos e prende-los em uma trança, calço alguns. Mas depois de alguns passos e diversos tropeços, eu desisto e desço a escadaria com eles nas mãos.

Não consigo impedir o pender do meu queixo diante do casarão que vejo. Nunca havia visto nada tão rico e luxuoso. Há moveis caros por toda parte, arte e artigos em dourado. E a casa é realmente muito grande. Ele é bastante rico, constato.

Me encolho diante de tanta riqueza e caminho pela casa parecendo um animal em cativeiro. Encontro Margaret na cozinha, mexendo em xícaras.

– Você me encontrou. – ela sorri e me analisa. – Está muito simples, mas bonita. Tenho certeza que o senhor Herman não deve resistir a tanto encanto e beleza.

Sinto meu rosto esquentar e sei que estou corada. Ah, Margaret, pode ter certeza que o que ele sente por mim não chega nem perto de encantamento.

Sento-me silenciosa à pequena mesa na cozinha e aprecio meu café da manhã. Mesmo com fome, tento não comer tudo, pois acho que iria parecer deselegante. Quando termino, um homem adentra a cozinha. Por suas vestes, acredito que seja um dos criados – algum tipo de mordomo.

– A tutora chegou e... – sua frase morre ao me notar. Ele permanece imóvel com os olhos arregalados. Fico sem jeito diante de seu olhar. Olho para Margaret, e ela está rindo para ele. – Por que não me disse que ela era tão bonita assim?

– Pare de besteira, Clement. A acompanhe até a tutora, sim?

– Por aqui, senhorita. – Clement fala, fazendo um gesto exagerado. Eu tento, realmente tento, mas solto uma risadinha. Sou acompanhada por Margaret, que dá um puxão de orelha no homem.

Sou conduzida até um grande salão, onde uma mulher – parecendo ser só um pouco mais nova que Margaret – me aguarda. Ela está vestida com um grande e redondo vestido, como os que eu vira no armário.

Ela faz uma reverencia, eu retribuo.

– Sou a senhora Bauer, sua tutora pelos próximos dias. E você é?

– Rosie.

– Bem, Rosie, acho que vejo qual será nossa primeira lição. – ela diz, olhando sugestivamente para os saltos que ainda mantenho pressionados contra o peito.

Abaixo o olhar, envergonhada, e os coloco no chão.

Pela próxima hora ela realmente tenta me ensinar a andar com eles. Tenho um pouco de dificuldade, mas em alguma hora da manhã começo a pegar o jeito, até arriscando uma longa caminhada até a porta do salão. Quando estou pronta para retornar a senhora Bauer, alguém abre a porta, quase me atingindo, e eu perco o equilíbrio sobre os saltos.

Antes que eu encontre o chão, meu corpo é amparado por esse alguém. Ergo meus olhos e encontro os de Alexandre. Ele me mantem firme em seus braços, seu perfume amadeirado me inebriando, seus olhos jamais deixando os meus. Eu também não cedo, e nos encaramos por intermináveis segundos.

Ouço um pigarrear de garganta e a realidade cai sobre mim. Ainda estou nos braços desse monstro.

Forço-me a ficar em pé, me afastando dele como se ele tivesse alguma doença contagiosa. Olho para a senhora Bauer, me despedindo com uma reverencia, tiro os saltos e corro descalça em direção ao meu quarto. Permaneço trancada lá por não sei quanto tempo, tentando decifrar o porquê de Alexandre ter me olhado daquele jeito. É um pervertido, com certeza.

Na hora do almoço, eu arrisco descer antes de ser chamada. No meio da escada, dou de cara com Alexandre, que subia. Ele olha pra mim, surpreso – por me ver, acho.

– Estava indo te obrigar a comer comigo. – forço um sorriso irônico.

– Então acho que a primeira aula da senhora Bauer de como ser uma boa esposa fez resultado. – falo, com sarcasmo. Empino o nariz e passo por ele, o ignorando.

– Pensei que a aula houvesse sido sobre andar em saltos.

Viro-me para olha-lo me seguindo. Faço cara feia para ele, querendo passar por ofendida.

– Claro que não. Eu sei andar de saltos. – minto e ganho seu sorriso. E que sorriso...

– Estou vendo. – ele aponta para os sapatos em minhas mãos. Novamente eu coro.

Subo nos mesmos e tento, desajeitadamente, andar com eles até a mesa. Posso ouvir suas risadinhas atrás de mim.

– Se você não parar de rir eu juro que tirárei-los, mas será para jogar em você.

Ele ri mais alto e puxa minha cadeira para que eu me sente. Quando o faço, ele se aproxima do meu ouvido e sussurra, me causando arrepios.

– Te ter aqui será deveras divertido.


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