Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!♥



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Vou diretamente para meu antigo quarto. Encosto-me a porta agora fechada atrás de mim e solto o ar que não sabia estar prendendo. Respiração profunda, uma, duas vezes. Olhos marejados, tento compreender a dimensão da dor umbrática que sinto no peito. As palavras de Lydia machucaram-me mais do que eu esperava. Certas verdades, por mais familiares que elas já sejam, simplesmente doem ao serem ouvidas. Ela está certa, como diabos Alexandre pôde casar-se comigo? Somos de mundos diferentes, crescemos em realidades diferentes. Sinto o aperto no peito aumentar ao imaginar todas as mulheres primorosas e prendadas com quem ele já deve ter se encontrado. Ele nunca olharia para mim. Alexandre está preso a mim por um infortúnio do destino. E eu estou apaixonando-me por ele.

Sorrio tristemente diante da constatação de meu tremendo azar. Há passos além da porta, seguindo para o final do corredor. Segundos mais tardes estão de volta, vindo em direção ao quarto em que estou, e sei que Alexandre está a minha procura. Uma batida na porta, o ouço chamar meu nome. Mantenho-me imóvel atrás da porta, ponderando se devo ou não abri-la. Por fim, desisto, e abro a porta para encontrar um Alexandre com o cenho franzido para mim, parecendo preocupado.

Dou-lhe espaço para entrar, e com braços envoltos do corpo, caminho pelo quarto.

– O que está acontecendo, Rosie?

– Nada.

– Nada? Então por que está trancada aqui?

– Só preciso ficar um pouco sozinha.

Alexandre observa-me, e de repente há tanto carinho e compaixão em seu olhar que quero lançar-me em seus braços. Mas quando ele tenta aproximar-se, eu instintivamente afasto-me. Ele para imediatamente.

– Olha, nada do que a Lydia falou é verdade. Eu sei disso e você também sabe. Você não tem de ficar assim e...

– Não. – o interrompo. – Tudo que ela falou é verdade.

– O que? Claro que não, Rosie.

– É uma vergonha um homem como você estar casado comigo com tantas mulheres por aí afora que te dariam orgulho. É uma vergonha um homem como você estar casado com alguém como eu apenas por motivos lastimosos. – Alexandre balança continuamente a cabeça em negativa, mas estou descomedida. – Afinal, não nos amamos, certo? Você está comigo apenas porque acredita que deva estar, você trouxe-me para cá e está mantendo-me aqui apenas por causa de uma vingança.

– Isso não é verdade.

Lagrimas começam a cair de meus olhos, mas não me preocupo em ao menos enxuga-las. – Não diga coisas que nem você mesmo tem certeza, Alexandre. Eu sempre tive esperança de que se eu me casasse seria por amor. De que alguém tirar-me-ia de minha vida miserável por amor a mim. Mas apenas chegamos aonde chegamos por circunstâncias infelizes. E, agora, eu sinceramente espero que o Hugo saia logo de nossas vidas, para que eu possa ir embora e procurar o que eu realmente quero e preciso em outro lugar.

Saio em disparada do quarto, deixando pra trás um Alexandre imóvel. Desço as escadas em correria, tropeçando em meu vestido no final dela, a visão embaçada pelas lágrimas. Procuro refugio na biblioteca, onde jogo-me no pequeno sofá ali e choro copiosamente, sentindo-me a maior das estupidas por ter me apaixonado por Alexandre Herman.

*

Há um movimento em meu braço e eu acordo de supetão, assustada. Levo um momento para notar que ainda estou na biblioteca, e Margaret está de pé olhando-me com séria confusão.

– Acalme-se, sou eu. Por que dormiu aqui, menina?

Sento-me, desengonçada. Os copiosos panos de meu vestido fazem-me quente e suada, além de que há uma manta sobre o meu corpo. Franzo o cenho ao notar que meus sapatos estão também no chão, enquanto roço a ponta dos dedos na manta. Eu não trouxe isso para cá, trouxe?

– Você colocou essa manta em mim?

– Não, acabei de encontra-la aqui. Estranhei não ter descido para o café da manhã, e quanto te procurei no quarto não estava.

– Café da manhã? Já amanheceu?

– Sim, minha senhora. Não quero me intrometer, mas aconteceu algo entre vocês? O patrão parece não estar muito para conversa hoje.

Meu humor decai ainda mais.

– Tivemos uma pequena briga, eu acho. E eu já lhe disse, não precisa me chamar de senhora. – Margaret oferece-me um sorriso embaraçado. – Preciso de um banho.

– Vou por a mesa para a senho... Digo, para você, menina Rosie. Chá?

– Por favor.

Saio para a grande sala e encontro o frio, surpreendendo-me com tanta chuva que há lá fora. Pergunto-me onde está Alexandre, e torço para que ele não esteja distante de casa nesse derramamento de agua. Enquanto subo as escadas, com a manta nas mãos, torço também para que ele não esteja no quarto. Não sei como encara-lo depois das coisas que disse na noite passada. Não sei como pude perder a cabeça de tal maneira. Sinto-me sobrecarregada e magoada, e sem saber como lidar com estes sentimentos.

Ergo a manta e inspiro o cheiro nela, cheiro de Alexandre. Foi ele que a pôs em mim? Meu coração se agita em tristeza. Por mais incrível que pareça, eu sinto falta dele.

Tomo um longo banho e visto-me em um simples vestido azul. Simples demais para a esposa de um marquês, mas sinto-me melhor assim. Prendo meu cabelo no alto, com alguns fios soltos propositalmente. Vou ao encontro de Margaret na cozinha, onde quieta e perdida em pensamentos, tomo meu chá.

– É provável que o patrão não goste disso, mas estou indo ao centro comprar algumas carnes e temperos para o almoço e jantar. Venha comigo, para se distrair.

Não me sinto com muita disposição, mas talvez Margaret esteja certa. Talvez eu precise me distrair. Ou só precise dele mesmo.

Seguimos de carruagem até o centro. A chuva está mais amena, mas mesmo ela não impediu que as pessoas saíssem de casa. O centro da cidade está movimentado, como bem me lembro. Paramos em frente a uma loja de carnes, e eu apenas sigo Margaret para dentro dela. Atrás do balcão, um homem grande e barbudo parece feliz ao ver Margaret.

– Olá, Jack. – Margaret o cumprimenta em igual animação. – Já conhece a senhora Herman?

O homem dirige seu olhar astuto para mim, um enorme sorriso no rosto. Sorrio de volta, sem jeito.

– Então essa é a famosa senhora Herman, hein?! Bem, Alexandre escolheu acertadamente.

Sinto meu rosto esquentar. Deixo Margaret e Jack em uma animada conversa e caminho desinteressadamente pela loja.

– O que está havendo? – Margaret assusta-me surgindo de repente ao meu lado, momentos depois.

Suspiro, e estamos em sussurros.

– Ele não me ama.

Margaret sorri com carinho para mim. – Não podemos nos dar o luxo do amor na realidade em que vivemos, Rosie. Como você esperava encontrar um bom marido que lhe desse uma vida confortável se você apenas o fizesse por amor?

– Eu não sei. – dou de ombros. – Mas uma garota pode sonhar. Isso é tudo muito cruel. Somos constantemente moldados a encarar tudo com desprovimento de sentimentos.

– Você é uma boa garota. O senhor Herman gosta de você, eu posso ver. E, bem, se não gostar, ele é um tolo.

– Não posso culpa-lo. Não sou adequada.

– O que devemos julgar necessário que alguém tenha não é físico ou material.

Margaret volta para buscar seu pedido, deixando-me com suas palavras na cabeça, quando olho além da porta e noto um rosto conhecido. Meu coração acelera pela surpresa quando reconheço Victoria Herman do outro lado da rua. Ela conversa com um homem, que lhe deixa algo nas mãos e desaparece. Ela tenta esconder-se com uma manta, enquanto olha para todos os lados, provavelmente certificando de que não havia ninguém observando-a.

Mas, para minha infelicidade, seu olhar captura o meu. Imediata e instintivamente, fujo de seu campo de visão, chamando a atenção de Margaret.

– O que houve?

Arrisco uma espiada pela vitrine da loja, e Victoria Herman não está mais lá, e todos os comentários de Clarice sobre a estranheza de sua mãe me vêm à cabeça.

– Nada.

*

– Devo servir o almoço?

Estou angustiada, encarando a chuva atrás da janela da cozinha. Sei que estou assim porque estou longe dele, porque ainda não tive noticiais suas.

– Não sei, Marggie. Onde está Alexandre?

– Acredito que ainda deva estar trancado no escritório. Você deveria ir falar com ele. Ele nem sequer veio para comer.

– Por que não me disse antes?

Sigo imediatamente para o escritório e bato na porta, não muito crente de que ele ainda esteja lá. Mas para meu espanto, ouço sua voz abafada.

– Seja quem for, deixe-me em paz.

Meu coração acelera de tal forma que acredito que sairá pela boca. Ele está realmente chateado. Contrariando seu desejo, eu forço a maçaneta, e, felizmente, não está trancada. Eu não entro totalmente, e permaneço encostada a porta, segurando a maçaneta como se buscasse algum apoio ali.

– Eu falei que não... – sua voz morre quando ele nota que sou eu. Permanecemos com o olhar preso um no outro, ele parece cansado e irritado, como se não houvesse dormido a noite. Eu espero que ele diga algo e tento encontrar minhas próprias palavras.

– Você precisa comer.

– Eu estou bem, obrigado.

Alexandre volta sua atenção para os papeis em sua mão, ignorando minha presença. Mas não estou decidida a ir embora. Fecho a porta e dou a volta por sua mesa, até estar encostada a ela ao seu lado. Ele olha pra mim, e sei que está confuso.

– Eu sinto muito, pelas coisas que disse.

– Você não tem que se desculpar. Você tem razão.

E é como um soco no estomago. – Tenho?

– Tem, mas em partes. Você realmente merece algo melhor que eu. Merece alguém que faça de tudo para tê-la por amor. Eu fiz de tudo para tê-la por vingança. Mas eu te disse, não esperava sentir algo por você. Estou realmente confuso, pois é tudo muito novo para mim. Não é mais por vingança. Acredite em mim.

– Então como é agora?

Alexandre analisa-me por um momento, então, de repente, levanta-se e puxa-me para ele, arrebatando-me com um beijo que me tira de orbita. Suas mãos em meu rosto e cintura prendem-me a ele, e preciso me segurar em seus braços para não perder o equilíbrio, enquanto sua boca faz o primoroso trabalho de envolver-me cada vez mais. Sinto arrepios bons por toda parte, assim como o sinto em cada parte de mim. Acredito que vou falecer quando seus dentes encontram meu lábio, e sua língua encontra a minha. É realmente muito injusto, e prejudicial a minha sanidade mental, que ele beije tão bem. Ele então cessa, estamos ambos ofegantes, seus olhos procuram algo nos meus.

– Isso responde a sua pergunta?

– Creio que tive certa dificuldade em compreender. Acredito que o senhor precisará esclarecer-me mais uma vez. – digo, com falsa seriedade, um sorriso se desenrolando em meus lábios.

Alexandre sorri, um sorriso que me tira o folego, antes que sua boca encontre a minha e sua mão o meu traseiro, fazendo-me rir entre o beijo. Constato, assustada, a dimensão da diferença que sua presença faz a mim. Assustada, mas dessa vez, de um jeito bom.


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