Nunca diga "Adeus" escrita por BecaM


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Observação: Jane foi escolhida ao invés de Wendy porque no livro, Peter diz o motivo pelo qual não existem meninas perdidas para a Wendy ("pois meninas são muito espertas para caírem de seus berços"). Mas no filme da Disney, Peter Pan de volta a Terra do Nunca, Jane, uma menina que acha que é "gente grande" e não acredita nas loucuras de Peter, a filha de Wendy, é nomeada a primeira Menina Perdida.



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Eu nunca quis deixá-la. Pelo contrário, queria mantê-la conosco.

Eu só queria que ela não fosse a resposta, mas era. A resposta para o que aliás? Para tudo. Para a nossa liberdade... O fim da Terra do Nunca. Jane era a chave para o fim de tudo aquilo. Isso não é justo!

Lembro do dia em que a vi pela primeira vez, e o que me fez ir atrás dela. Wendy, sua mãe. Wendy me levou até ela. A semelhança com sua mãe na “nossa” idade era assustadora. Os mesmos olhos gentis, o nariz pequeno e perfeitinho, a boca avermelhada... Eram idênticas. Me disseram que Wendy era a solução. Mas se não aconteceu quando a trouxe da primeira vez, como iria funcionar agora? Simples, Wendy era mãe agora. Mas mesmo sendo mãe, ela não era uma menina perdida. Nunca acreditou em nossas aventuras

Jane praticamente cuidava de seu irmão o tempo todo, mesmo sendo muito pequena. Tinha extinto de mãe, mas o espírito de uma criança como nós. Resolvi observá-la. Este foi meu erro.

Jane além de bonita era muito esperta, tinha boa intuição. Quando a vi brincando com seu irmão, tinha certeza que ela havia me visto, então me escondi. Na mesma noite a observei dormindo, Deus, como ela era linda dormindo! Por culpa de Sininho, ela acordou, não a culpo, ela sempre teve ciúmes de Wendy, e muito mais de sua filha. Hesitei no primeiro momento, mas assim que meus olhos se encontraram com os dela (com aquele brilho azul encantador), me senti em casa.

O erro não foi conhecê-la, não foi ser seu amigo, foi deixá-la entrar em minha vida daquele modo. Foi me apaixonar por Jane.

“Esqueça eles, Jane. Esqueça todos eles. Venha comigo onde você nunca, nunca terá que se preocupar em crescer novamente.”

Foi o que eu a disse naquela noite. Alguns dizem que ações são piores que palavras, mas palavras são para sempre... Queria poder não ter dito aquelas palavras. Mas eu não me arrependo de ter a levado comigo, me arrependo de isso ter ido longe demais.

Começou com minha orelhas, o formato pontudo estava ficando arredondado. Em seguida, foi a pena de meu chapéu, estava se desmanchando. E por último, minha altura, no dia em que Jane e eu saímos para passear, minha cabeça bateu no batente da porta, fizemos aquela porta exatamente 5 centímetros mais alta que eu. Eu não estava crescendo, estava me transformando. Estava mudando de forma. Eu não sou mais o ser mágico dos livros de contos de fadas que nunca cresce.

Jane me fez isso. O amor dela me fez crescer. Me trouxe de volta à realidade.

Não sou mais O Peter Pan.

Sou Peter, um garoto de 15 anos apaixonado por Jane Darling.

Minha transformação foi lenta, mas temida. Temida pois eu teria de ir embora da Terra do Nunca. Temida pois abandonaria todos os meus amigos. Temida pois eu iria crescer. Temida pois talvez eu não seria o único.

Quem sabe o que aconteceria com os Meninos? Cabelinho, Piuí, Bicudo, Deleve, Os Gêmeos… E eu? Irei para a tão mencionada “escola”? Jane lembrará de mim? Já se passaram anos no “mundo” dela…

Escrevi um pequeno bilhete para os garotos, não sou bom com despedidas. Sininho me emprestou um pouco de pó mágico para a viagem até Londres. Mesmo sendo minúscula, pude ver gotículas saindo de seus olhos, ela estava chorando pela primeira vez. Não queria chorar em sua frente, queria lhe garantir que tudo ficaria bem, que eu voltaria, mas nem mesmo isso eu sei…

Após o último “abraço”, a pequenina voou para longe. Estava no meio da madrugada, os meninos estavam dormindo profundamente. E por um instante me peguei lendo pela última vez o bilhete:

Caros Meninos Perdidos! Exploradores! Aventureiros! Irmãos sem mãe!

Caramba, nem sei o que dizer das loucas aventuras que tivemos nesta eternidade de tempo! Foi incrível, nem sei como descrever em palavras. Vocês são incríveis, não se esqueçam disso! Podem ser desajeitados mas terão uma missão agora. Sim, eu estou passando a minha missão para vocês! A missão mais importante da ilha e dos Meninos Perdidos!

Sua missão agora, é encontrar novos meninos perdidos. Meninos sem uma família. Sua missão é encontrar estes meninos e serem sua nova família!

Não sei quanto tempo mais ficarão nesta eternidade, mas se por acaso chegar a sua hora, passe esta missão adiante, assim a Terra do Nunca será eterna!

Creio que já saibam o que acontecerá agora. Meu tempo como Menino Perdido chegou ao fim. Na manhã em que vocês estiverem lendo isto, eu estarei em Londres. Sim, a mesma Londres em que encontramos Wendy e Jane. E esta é a minha missão agora. Irei à procura de Jane.

Vocês foram a minha família quando eu não tive uma. Meus irmãos. E sempre serão. Sempre seremos os Meninos Perdidos!

Não estou dizendo adeus, até porque, dizer adeus significa ir embora, e ir embora significa esquecer...

Espero vê-los novamente, com amor, Peter Pan.

Lágrimas desceram de meus olhos. Pus o bilhete novamente na mesa e revisei minha mochila. Cobertor, meu chapéu, alguns desenhos que eu e os meninos fizemos, um desenho da minha roupa antes de começar a crescer, alguns potes de pó mágico e um apito de Sininho (ela disse que ele funcionará em qualquer lugar do mundo a qualquer hora, assim eu o soprar, ela virá até mim.)

Ao voar sobre a Terra do Nunca, milhares de memórias vieram em minha mente, praticamente toda a minha vida inteira. Em poucos minutos, já pude ver o grande relógio de Londres, Jane está por perto. Está escuro, mas o grande relógio marca 7 horas.

Creio que Jane ainda mora na mesma casa de antes, assim como Wendy. Ao me aproximar da casa, o voo começou a falhar. Andei até a porta, a luz da sala se acendeu e uma voz feminina disse:

- Quem deseja?

- Meu nome é Peter. Jane está aí?

- Ai meu Deus. - disse a garota.

A porta se abriu rapidamente. E lá estava ela. Jane. O mesmo rosto de sempre, seus olhos gentis, o cabelo castanho estava mais comprido… Ela sorriu e com lágrimas nos olhos, me abraçou com força. Seu cheiro me lembrava a Terra do Nunca, era suave.

E em apenas alguns segundos, o peso de minhas ações veio à tona. Eu poderia nunca ter conhecido Wendy, ou Jane. Poderia ser um Menino Perdido para sempre… Mas tudo isso me trouxe até aqui, nos braços da Primeira Garota Perdida.

E eu não me senti em casa.

Eu estava em casa.


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