Berial, Belial, Bellus... Fique a vontade para chamar como melhor lhe convém.

O fato é que eu matei. Não, não. Você não consegue entender, não é mesmo? Vejamos... Eu poderia dizer que foi mais um, apenas mais um belo e esbelto corpo feminino caído aos meus pés sem o menor sinal de possível vitalidade ou quem sabe esperança de sobreviver. Bom, de fato era realmente um corpo sem vida, mas não um cadáver qualquer.

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Eu ouço continuamente os gritos de agonia que ecoaram no salão antes que o golpe final fosse desferido. Ela dançava mesmo sendo forçada pelo meu corpo e o sorriso parecia ainda mais encantador do que o costume de me chamar de Diabo. Diabo! Sim. Por quê? Ora essa, não venha me dizer que nunca ouviu falar de mim e do que Eu, um demônio, sou capaz de fazer com você ou qualquer outro mortal.

Mas enfim, não estou aqui para falar-lhe sobre meu poder e sim para somente confessar e repito: somente confessar meu pior e maior pecado. Na verdade, diria até mesmo o meu único arrependimento depois de tantos milênios esperando a chance de viver na Terra como um homem comum. Há! Comum, veja só como isso soa tão irônico meu caro leitor.

Novamente me vejo molhando o bico da pena negra. Sinto muito se não agrado com minha carta de pouco sentido. Há um tempo que não escrevo algo decente, juro que até me acostumei na vidinha mortal que me fora concedida antes de tudo isso. A falta do calor do corpo de Pamela me traz más lembranças, nenhum pouco convidativas a querer retomar um passado mais distantes onde pela primeira vez eu a encontrei...

Dei comida para aqueles que tinham fome. Mal sabiam que eu era um pássaro negro vendendo a passagem para o Inferno. Pamela foi a primeira a reparar no brilho imundo de meus olhos. Ali, onde toda a minha impureza refletia-se somente para aquela menininha de negros cachos escorrendo sobre os ombros tão frágeis. Digo-lhe, desde que ela era pequena eu sabia que tinha tudo o que desejei, pois foi a primeira mulher que conseguiu despertar o estranho sentimento de amor. 

Não me diga que você acredita que demônios não amam?! Hahaha! Mas que coisa. É realmente uma lástima que você, mortal, pouco saiba sobre nós. Rejeitados dos Céus, impuros, marcados e esquecidos pela própria fé. Se bem que isso não irá trazê-la de volta. Todas as pérolas do colar foram reunidas por ela cuidadosamente ao longo dos anos em que estive a seu lado mesmo que a mesma nem soubesse muito a respeito de mim, fui o seu maior mistério. Na última dança, sentir os fios negros tocando meu rosto foi como então abrir as asas e voar pelos céus rasgando as nuvens. Novamente me encontro em tamanho romantismo que antes desconhecia.

Até que por fim, eu cumpri minha promessa e ao primeiro toque do relógio roubei sua vida. Escorreu entre meus dedos como um líquido viscoso. Os olhos claros refletiram a desgraça dos olhos meus e então acolhi minha pequena Pamela. Tão frágil... Quebrou-se muito rápido, mal pude vê-la chorar ou então gritar meu nome suplicando para deixá-la viver por mais alguns séculos a meu lado. Aqui estou ao lado dela esperando que a mortalha não seja a única a encobri-la na escuridão de uma Noite sem fim.