Não era um bom lugar. Richard Gansey estava acostumado com coisas boas, mesmo vivendo em uma bagunça, mas ele estava longe de reclamar do lugar. Da companhia. Blue não demonstrava hesitação enquanto o observava, escorada na porta do quarto do garoto. Seus cabelos estavam um pouco molhados do banho recente, mas ele só conseguia prestar atenção em seu batimento cardíaco acelerado. Não deveriam fazer nada daquilo. Deveriam estar atrás de respostas, mas ele podiam sossegar por alguns instantes de paz. Era muito raro aquela sensação de tranquilidade.

— Você está inquieto — Blue disse, ignorando o quanto ela o afetava. Ou resolvendo se concentrar no quanto ela estava nervosa.

Gansey refletiu por alguns instantes. Era a maldita insônia. A maldita verdade sobre ele que ele não conseguia encarar. Ele deixaria todos em breve. Não era algo bom a se pensar e muito menos falar sobre aquilo. Suas noites sem dormir ficavam piores a cada dia. Ele deveria ir atrás de uma resposta sozinho e deixar seus amigos longe de perigo?

— Aqui não tenho tantos livros... — ele disse, olhando o quarto. Ele só estava com seu caderno de anotações, que há muito tempo se tornou inútil. Encontrando coisas novas, diferentes e mágicas. Nada que ele pudesse explicar ou escrever, para tentar entender.

— Melhor você tentar dormir — ela disse, pronta para se virar e sair do quarto. Gansey levantou da cama em um lampejo, arrastando a mesma alguns centímetros do chão. O barulho de metal contra madeira pareceu ecoar por todo o quarto, tornando o silêncio entre Blue e Gansey ainda maior.

Eles sabiam que tinham coisas mais importantes para lidar. Sabiam que tudo aquilo era errado. Mas talvez, só talvez... eles não precisariam se preocupar com isso.

Gansey tocou na maçaneta e Blue se afastou da porta, entrando no quarto, enquanto ele a fechava.

No quarto do meio Noah Czerny tentava se manter vivo. Mas para quem, afinal? Era em momentos como aquele que ele precisava sumir. Desaparecer. Se retirar da vista. Mas não havia ninguém ali. Ele escutava tudo, mas não pensava em nada. Ele poderia analisar de perto, mas não queria aquilo. Noah sabia quando deveria ser sólido e presente. E aquela não era uma boa hora.

Adam Parrish não estava acostumado com nada daquilo. Viagens, hotéis, um garoto o encarando, pensando que ele valia a pena. Não sabia se merecia aquilo. Uma parte dele queria aproveitar aqueles momentos com seus amigos. Com Ronan Lynch. Mas algo dentro dele, muito fundo, não o deixava. Não parecia correto estar feliz. Não parecia fácil assim. Não era fácil, ele pensava.

Adam não sabia o que Ronan tinha visto nele, mas não queria perguntar. Eles não eram esse tipo de pessoa. Ronan trazia a tona o Adam que ele sempre quis ser: corajoso, ambicioso e merecedor.

Eles estavam sentados, lado a lado, na cama do hotel. Nenhum dos dois fez um movimento sequer. Não que não quisessem, mas tudo parecia frágil. Recente. Quebrável demais.

— Acho que estamos perto — Adam escutou Ronan, embora, por seu tom de voz, ele notou que era apenas uma tentativa de não deixar Adam sozinho em pensamentos.

— Talvez — Adam murmurou. Ambos sabiam que estavam cada vez mais longe. Ou talvez estivessem, o tempo todo, perto demais e não notaram as respostas.

Mas aquele assunto não importava. Adam Parrish não queria pensar em perigos, aventuras ou a procura pelo rei. Ele queria olhar Ronan Lynch de perto.

Ronan, embora tivesse aquele olhar selvagem e uma postura agressiva, estava com as costas curvadas naquela cama. Adam não sabia no que ele estava pensando, mas não se importou.

Seus olhos o analisavam, tentando encarar Ronan como nunca antes.

Eles tinham algo, afinal? Há quanto tempo tudo aquilo estava acontecendo com Ronan?

— O que, Parrish? Perdeu alguma coisa? — Ronan perguntou, na defensiva. Adam não se ofendeu, entretanto. Ele apenas sorriu. Aquele era o Ronan que ele conhecia. Mas Ronan não estava com o cenho franzido, desconfiado, na direção de Adam. Ele também estava sorrindo.

E aquele sorriso seria o que Adam Parrish lembraria por muito tempo.