Happy Accident escrita por Hyper A


Capítulo 1
Someday


Notas iniciais do capítulo

Olá! Essa é a primeira vez que decidi escrever com AoKaga (gosto bastante dessa dupla), e é uma dificuldade pra mim porque nunca fico satisfeita com a minha interpretação deles. Pois bem, espero que gostem ainda assim!

(Tinha escrito isso pra minha melhor amiga, Yasei, de taaaanto que ela me fala deles, heh...)



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O programa de hoje é especial para você que gosta de comidas exóticas e experimentar coisas novas! Vamos dar uma passada pela culinária tailandesa, árabe e indiana e dar dicas de como misturar três culturas em um único prato!

“Bobagem.” Aomine murmurou para a televisão, pegando o controle e trocando de canal. “É sempre lindo na TV, mas quando eu tento fazer...”

Aho!” Kagami gritou do outro lado. A sala do apartamento de Kagami Taiga era dividida apenas por um balcão que o separava da cozinha. “Eu estava vendo!”

“Você tá fazendo o almoço!” Aomine retrucou. “E eu vi você cantarolando alguma coisa aí. A última coisa que você estava fazendo era...”

“Eu estava ouvindo,” Kagami se aproximou e bateu com o pano de prato na cabeça do rapaz. “E você não pode nem levantar a bunda do sofá pra me ajudar, huh?”

“Que ajuda você precisa?” Aomine rolou os olhos. Ele voltou no programa de culinária e a apresentadora dava risada enquanto fazia algo em sua cozinha – de estúdio, óbvio, porque Aomine duvidava muito que fosse em uma casa de verdade – e Fata Morgana tocava ao fundo. “Você é quem sabe cozinhar, e foi você quem cedeu a sua casa pra alimentar, tipo, dez pessoas.”

“Exatamente,” Kagami bateu no garoto mais uma vez. “Minha casa, meu sofá, minha televisão, meu almoço, e o meu...”

Aomine olhou para ele e abriu um sorriso malicioso.

Ahomine!” Kagami virou-se de costas e voltou para a bancada. “Você não pode sequer fazer uma gentileza pra alguém que você gosta?”

Aomine se levantou e o seguiu, abraçando por trás.

“Não tem ninguém que eu gosto aqui,” murmurou ele, e Kagami uniu as sobrancelhas. “Apenas alguém que eu amo.”

Aho...” Kagami sentiu o rosto corar. Ele poderia fazer uma lista de quantas vezes ele chamava Aomine, tentando insultá-lo – tudo em vão.

“Você quer que eu corte os legumes?” Aomine se colocou ao lado dele, já lavando as mãos na pia para coloca-las em prática no almoço.

“Eu já fiz isso,” Kagami suspirou. “Mas ainda não tive tempo para tocar no salmão. Você poderia cortar pra mim, ou alguma coisa assim.”

“Eu,” Aomine apontou para si mesmo. “Cortar salmão. Tipo... sashimi?”

“É, isso aí mesmo,” Kagami abriu um sorriso e lhe deu uma faca. Aquilo não deveria ser normal. “Eu já estou refogando o nirá. Acho que é uma combinação boa. Todo mundo vai gostar.”

“Seus amigos da Seirin comem qualquer coisa,” Aomine rolou os olhos, pegando a faca e então indo na direção do salmão que o encarava e ele jurava que estava dizendo ‘hoje não, Aomine; você não vai conseguir me cortar sem cortar os seus dedos primeiro’. “Jogadores de basquete não têm essa frescura de pratos bonitinhos ou...”

Kagami o encarava sério, pronto para lhe dar um tapa na cara. E ele também tinha uma faca na mão – péssimo momento para Aomine tentar ser engraçado. Mas não tinha como levar o ruivo a sério – ele estava usando um avental. Aomine achava isso hilário demais.

Talvez porque Kagami Taiga fosse um rapaz bruto de dezessete anos que, na verdade, além de ser um ás no seu time de basquete, também era um perfeito cozinheiro.

“Eu imagino como eles estejam tristes por perderem você...” Aomine murmurou, pegando uma tábua de madeira que estava em cima da pia e colocando o salmão sobre ela. “Digo, eles já perderam Kiyoshi. Em breve perderão Hyuuga também. Você ainda vai começar seu segundo ano na Seirin, e os outros...”

“Eu estou mesmo é preocupado com Kuroko,” Kagami respondeu com sinceridade, deixando um suspiro sair ao falar o nome do amigo. “Eu sei que ele está em boas mãos com Koga, Izuki, Mitobe, Furihata... Todos os que vão ficar no time. Mas mesmo assim imagino que está sendo difícil pra ele aceitar que não vamos mais jogar juntos.”

“É,” respondeu Aomine, examinando o peixe. “Eu sei como você se sente. Foi o que eu senti quando saí da Teiko e entrei pra Touou. E senti a mesma coisa quando vi Imayoshi e os outros saindo – a amizade continua, claro, mas nada é a mesma coisa uma vez que se quebra.”

“Meu pai sempre diz que uma mudança não é necessariamente algo ruim,” Kagami lavou as mãos novamente e então se colocou ao lado de Aomine, virando-se de costas para a bancada e então cruzando os braços. “Ele diz isso sempre, porque nós nos mudamos bastante desde que eu nasci. Tanto aqui, nos Estados Unidos... Toda vez ele me diz isso – fechar uma porta é sinônimo de abrir outro caminho, e pode ser até melhor do que o lugar que você está atualmente.”

“É uma boa forma de lidar com a situação,” Aomine assentiu de forma positiva lentamente. E então suspirou. “Você realmente quer isso? Eu sei que já te fizeram essa pergunta mil vezes, é só que...”

“Eu sei, eu sei,” Kagami deu de ombros. “Ninguém esperava que eu desistisse de tudo pra estudar gastronomia fora do país.”

“Tipo, mesmo,” Aomine arregalou os olhos azuis, “ninguém esperava isso. Você tinha uma carreira promissora no basquete. Eu duvido que ficaria mais de uma semana sem fazer nada após terminar a escola, porque uma universidade chamaria você imediatamente. E você também poderia voltar para a Califórnia, jogar nos Estados Unidos ou...”

“É exatamente por isso que eu não posso viver em favor do basquete,” Kagami respirou fundo. “Porque eu não sou o único que tem esse futuro – olhe pra você. Já tem uma vaga garantida na Universidade Touou. Eu tenho certeza que um dia eu vou ligar a TV em um canal de esportes, ver a reprise de um jogo e um comentarista falando sobre o ídolo do basquete da nova geração, Aomine Daiki.”

Eles fizeram uma pausa. Aomine continuou encarando o peixe, preferindo não olhar no rosto de Kagami. Sabia que aquilo era verdade. Mas existia um fato sobre Aomine Daiki – pensar no futuro o aterrorizava. E pensar que ele realmente teria que abrir mão de muita coisa era de fazê-lo não dormir a noite. Imaginar que em breve ele não seria apenas um membro da Geração dos Milagres, mas sim um verdadeiro jogador... Era algo bom, claro – mas incerto. Dentre cinco jogadores, havia apenas uma chance de ele ser um deles. E quantos outros como Aomine existiam pelo mundo? Ele já conhecera Kagami. Isso já era mais um. Só ao lado dele. E quantos outros poderiam estar do outro lado do oceano? A escala já saía de cinco, seis, para milhões, bilhões.

Às vezes Aomine imaginava que Midorima estava certo.

Tudo era questão de sorte.

E a sorte escolhe você, então era por merecimento.

E quantos merecedores existem por aí, apenas esperando pela sua chance?

“É ridículo dizer isso, mas a culinária foi minha melhor amiga nos últimos anos,” Kagami continuou, abrindo um sorriso triste. “Você sabe, eu moro sozinho, preciso saber me virar. E a culinária foi o que me sustentou, óbvio, mas também era uma forma de me distrair. Uma terapia. Eu dou toda a minha força e raiva no basquete, e aqui eu coloco toda a minha calma, todo o meu cuidado. Foi como eu consegui me equilibrar. Caso contrário eu teria perdido a cabeça, certamente.”

Aomine sorriu. Eram raras as vezes que Kagami conseguia expor completamente o que ele estava sentindo sem gaguejar, ficar irritado ou apenas deixar que suas bochechas coradas falassem por ele.

“Eu estou realmente feliz por você,” disse o moreno, abrindo um sorriso gentil no rosto e olhando para Kagami. “E espero que você consiga se dar muito bem estudando em Paris. Você mereceu essa bolsa.”

“Obrigado,” Kagami deixou uma risada nasalada sair. “Eu espero que eu consiga falar francês, na verdade. Cozinhar não é bem um problema.”

“Pra mim, é,” Aomine virou-se para o salmão novamente. “Porque esse peixe aqui está tirando uma com a minha cara,” e então ele abriu a mão e colocou-a na frente de Kagami. “Eu nem toquei nessa coisa e já estou me cortando!”

Kagami deu uma risada, então observou Aomine em tentativas errôneas de conseguir fatiar o salmão.

“Vá com calma,” Kagami abriu um sorriso. “O peixe já está morto.”

“Eu estou calmo!” Aomine deu uma fincada na tábua de madeira, e soltou o cabo da faca – que ficou no lugar, de tão forte que a fincada foi. O garotou chegou a ficar ofegante com a tarefa.

“Tô vendo,” o outro riu, pegando a faca com pouco esforço. “Daiki, você não tem noção nenhuma de culinária, hm? Sempre teve alguém pra fazer isso por você?”

“Tipo isso,” Aomine deu de ombros. “Com todo respeito, eu sei que você cozinha e tudo mais... Mas essa é uma atividade que só deveria ser feita por mulheres. Elas são muito mais cuidadosas, são multitarefa... Eu sou um ignorante pra isso. Juro que ainda não sei o que é uma colher de sopa e uma colher de chá.”

Kagami o olhou sentindo-se entediado.

“Ok,” Aomine levantou as mãos em tom de rendição. “Talvez eu saiba. Mas eu odeio sopa. E nem tomo tanto chá. Isso não é importante.”

“Você é realmente muito idiota,” Kagami lhe deu um tapa no braço. “Vamos lá, eu vou te ajudar,” e então pegou o salmão. “Está vendo essas listrinhas brancas? Isso são fibras. Você precisa cortar na direção que isso vai, porque é bem firme, não vai aceitar vindo uma faca ao contrário.”

“Tipo o Akashi?” Aomine riu. “Não aceita ninguém contra ele?”

“Sim, Daiki,” Kagami o acompanhou. “Akashi é a fibra, ok? Não tente ir contra ele, ou isso,” ele apontou para os dedos cortados de Aomine, “vai acontecer.”

“Salmão é laranja, tipo o uniforme da Shutoku.”

“Então vamos dizer que é o Midorima.”

“Eu não quero comer o Midorima.”

“Ah, mas está tudo bem em comer o Akashi, então?”

Aomine deu um tapa no braço de Kagami.

No final das contas, Kagami cortou o salmão em fatias e Aomine apenas o observou, pensando como aquilo poderia ser tão fácil para o ruivo. Kagami parecia ser donos de vários talentos. E ele realmente esperava ver quais mais ele poderia acompanhar.

Mesmo que fosse de longe.

xxx

“Por que, Aomine-kun?”

“Porque, Tetsu... as coisas não são tão fáceis como a gente imagina,” Aomine olhou para os próprios pés quando eles deixaram o apartamento de Kagami – apenas os dois sobraram depois do almoço, ficaram até tarde conversando e confortando o ruivo que já estava de malas prontas para viajar.

“Você poderia ter passado a última noite com Kagami-kun,” Kuroko o olhava com suas íris azuis refletindo inocência e gentileza. “Se eu fosse próximo dele como você é, eu teria ficado.”

“Nós decidimos que seria melhor para os dois não ficarmos martirizando isso. Amanhã ele vai estar pegando um avião para Paris, e eu...”

Provavelmente vou ser esquecido, em breve.

“Podemos fazer companhia um pro outro,” Kuroko abriu um sorriso. “Eu também estou triste que ele está indo embora, mas não é como se ele nunca mais fosse voltar, não é?”

Aomine ficou calado.

Era?

“Não é, Aomine-kun?” Kuroko sentiu-se um pouco desconfortável com o silêncio que recebera. Então insistiu: “Você não acha que ele vá voltar?”

“Eu...”

Aomine não sabia muito bem como responder aquela pergunta, pois tinha duas alternativas que faziam perfeito sentido na cabeça dele – opção 1: sim, ele vai voltar! Ele vai voltar, com certeza. É só um ano na Europa, ele vai terminar o ensino médio lá, e vai voltar e tudo vai ser como antes. Talvez ele jogue basquete com a gente, ainda. Talvez ele ainda queira entrar numa universidade como jogador. Quem sabe, hm? Com certeza. Eu acredito que ele vai voltar. Kagami é forte pra essas coisas.

Opção 2: não, Tetsu. Claro que ele não vai. Você conhece Kagami – ele é um espírito livre, sempre querendo se superar. A Europa vai ser um desafio enorme para ele, e certamente ele não vai fugir disso – vai viver até o último segundo. Quando menos perceber, ele será parisiense, vivendo como eles, falando como eles, vivendo a cultura deles. Quem sabe ele realmente vire um gastrônomo? Quem sabe ele seja tão bom com culinária que a bolsa que ele recebeu receba um acréscimo de mais quatro anos, período integral, para ele estudar em uma universidade lá? E ele vai conhecer novas pessoas, vai ter novos amigos... Nós vamos ser uma boa memória para ele. E, para falar a verdade...

“Não sei,” respondeu por fim, dando de ombros. E então suspirou.

“Ainda acho um pouco errado você se despedir assim,” Kuroko olhou para frente e manteve a voz tranquila. “Não sei se existe uma maneira certa de fazer isso... Só imagino que Kagami-kun precisava ouvir mais do que um ‘boa sorte’.”

E então seguiram em silêncio. Kuroko sabia que Aomine não tinha o que responder, e nem esperava que o amigo dissesse alguma coisa, de qualquer forma. Os dois respiraram fundo em sincronia, e então prosseguiram o caminho para casa.

Kuroko Tetsuya deu a Aomine Daiki bastante coisa para pensar naquela noite.

xxx

“Obrigado por virem,” Kagami abriu um sorriso quando viu o mesmo grupo que compareceu à sua casa no dia anterior – todos os jogadores da Seirin, os amigos mais próximos: Kiyoshi, Hyuuga, Mitobe, Izuki, Koganei e Furihata. Obviamente Kuroko também estava lá, despercebido. Mas Kagami conseguia sentir a sua presença. “Eu vou sentir falta de vocês.”

“Mande fotos pra nós!” pediu Koga, abrindo um sorriso enorme e abraçando o amigo com força. “Principalmente dos pratos que você fizer!”

“Pode mandar porções pequenas como testes, também,” Furihata deu uma risadinha. “Porque vamos sentir saudades da sua comida.”

“E tenha juízo, Kagami,” Kiyoshi colocou a mão na cabeça do ruivo. “Se tiver algum problema, arranje um jeito de nos ligar e nós vamos te ajudar no que for necessário.”

“Eu sei, Kiyoshi-senpai,” o garoto abriu um sorriso tímido. “Sempre posso contar com vocês, minha família de verdade.”

“Kiyoshi está certo,” Hyuuga cruzou os braços enquanto franzia o cenho. Ele poderia estar chorando por dentro por conta da despedida, mas nunca deixaria isso ser expresso. “Cuide-se bastante. Estamos torcendo por você.”

“Ah, Kagami! Kagami!” Izuki tinha um sorriso de orelha a orelha no rosto. Todos já sabiam o que isso significava e já começavam a suspirar. “Não esqueça de ir à Torre Waffle. Digo, Eiffel! Hah!”

Mas mesmo que fosse uma péssima piada, todos eles riram.

“Kagami-kun,” a voz de Kuroko surgiu atrás de Kagami, que apenas arqueou as sobrancelhas e em seguida abriu um sorriso, colocando a mão no ombro do rapaz mais baixo enquanto os outros se afastavam um pouco e os deixavam mais à sós. “Te desejo muita sorte em Paris, e com o curso de gastronomia. Eu sinceramente não queria que você fosse, mas se é o que te faz feliz, eu estou satisfeito.”

Kagami olhou para o outro lado, sentindo-se envergonhado.

E também porque não queria chorar.

“Tch, Kuroko,” o ruivo uniu as sobrancelhas e fechou os olhos. “Você continua dizendo coisas constrangedoras assim, do nada. Que irritante.”

“Me desculpe.”

“Não,” Kagami abriu os olhos e abriu um sorriso novamente. “Não esquenta com isso. Só... Por favor, siga o conselho que Hyuuga-senpai disse pra mim. Cuide-se bastante.”

Kuroko retribuiu o sorriso, e então levantou a mão fechada para Kagami, no típico bro-fist que eles compartilhavam desde que entraram juntos na escola.

Passageiros do vôo 6887 com destino a Paris e conexões, o embarque será efetuado no portão número 17...

“Eu preciso ir agora,” disse Kagami, olhando para os amigos, “se não eu vou virar sushi frito.”

“Uma piada patrocinada por Izuki Shun,” Hyuuga rolou os olhos. “Yo, Kagami. Vá logo antes que um de nós comece a chorar.”

“Hyuuga vai ser o primeiro, quando sairmos daqui!” Koganei apontou para o capitão do time da Seirin e todos riram quando o mesmo começava a gritar, negando que faria uma sandice daquelas. Quando eles começaram a se afastar, Kagami viu a hora de virar as costas e finalmente adentrar o portão.

Exceto por um detalhe.

Bakagami!”

A pessoa que estava faltando.

Aomine Daiki.

“Tch, idiotas,” o garoto tinha uma mala de mão carregada em seu lado direito, que fez os garotos da Seirin – incluindo, obviamente, o próprio Kagami – arregalarem os olhos. “Eu achava que todo mundo ia olhar pra mim. Tipo, o aeroporto inteiro. Eu queria estar fazendo uma cena, mas...”

“Eu achava que eles tinham...” Kiyoshi cruzou os braços e deu uma cotovelada de leve em Hyuuga, murmurando. “Você sabe.”

“Shhh!” Izuki pediu para todos eles. “Ele mesmo disse que queria fazer uma cena, vamos deixar isso acontecer!”

“Aomine,” Kagami uniu as sobrancelhas. “O que é isso?”

“Isso o quê?” Aomine abriu mais os olhos. “Ah, isso,” ele levantou a mala. “Não, não é nada do que vocês estão pensando. É a bagagem de mão de uma velhinha que foi comprar um cappuccino porque perdeu o vôo e vai ficar aqui por, tipo, duas horas. Eu estou cuidando pra ela e...”

Kagami respirou aliviado.

“Você não achava que eu ia chegar aqui e ‘ei, Kagami, eu vou pra Paris também!’, não é?” Aomine questionou, aproximando-se do garoto. “Porque, você sabe... Nós não estamos em uma daquelas comédias-românticas, nem em uma daquelas histórias de... Como é o nome? Ficção criada por fãs? Algo assim? Eu não sou do elenco de Crepúsculo, cara. Eu não vim aqui pra ser mela-calcinha.”

Kagami colocou dois dedos na têmpora, torcendo para realmente só ser ele a estar ouvindo aquilo.

“Ok, deixe eu voltar tudo,” Aomine colocou um dedo na boca, pensativo. “Desde o começo. Baka, eu estava treinando tudo desde ontem à noite e você estragou o momento.”

“O que eu fiz?!” Kagami arregalou os olhos vermelhos. “Eu não disse nada!”

“Você perguntou ‘o que é isso?’ e mudou o rumo das coisas, caramba!” Aomine soltou a bagagem cuidadosamente – porque se fosse realmente dele, ele teria jogado na cabeça de alguém – no chão. “Quer me deixar falar, por favor? Obrigado.”

Kagami cruzou os braços, esperando.

“Você não vai falar nada?” indagou Aomine. “Não vai me contradizer ou algo assim? Tipo, ‘Aho, cala a boca! Sai daqui! Você nunca me ajuda em nada’?”

“Aomine-kun,” Kuroko disse próximo deles, “eu receio que você não tenha muito tempo.”

“Tetsu, calado!” Aomine levantou um dedo. E então respirou fundo e relaxou os ombros. “Kagami, primeiramente, me desculpe.”

“Por...” Kagami passou uma mão no cabelo.

“Por não ter ficado com você na sua última noite aqui,” Aomine respondeu, a voz cheia de ressentimento lutando contra seu orgulho. “Por não ter feito parte de nada nos preparativos da viagem. Eu vi você pesquisando tudo, deixei você sozinho e dizia que você estava sendo ridículo por se antecipar assim, mas... Mas eu estava sendo ridículo. Queria ter praticado com você o pouco de francês que conseguiu aprender com vídeos na internet. Queria ter ouvido as músicas francesas que você me mandou por mensagem e eu sempre ignorei. Eu...”

Aomine olhou para cima.

Ele ia chorar?

“Eu realmente fui um idiota,” ele continuou, voltando a olhar para Kagami. “Queria ter dormido com você ontem. Ter ficado a noite acordado, na verdade, porque você não está com cara de quem conseguiu dormir. E eu fiquei imaginando você, agoniado, vendo seu armário vazio, suas malas prontas, e planejando seu futuro sozinho... Quando era para eu estar lá. Com você. Fazendo tudo isso.”

“Daiki,” Kagami suspirou, “você só escolhe os piores momentos pra ser sentimental, não? Você e Kuroko têm essa mania de serem constrangedores o tempo todo.”

“Eu não vim aqui pra te fazer ficar, aliás,” Aomine o ignorou. “Isso também é coisa de filme. Não vim pra dizer ‘fica comigo, Kagami, porque sua vida vai ser melhor ao meu lado do que com um bando de francês fedido’. Não. Eu só vim porque pensei no que Tetsu me perguntou. Se você ia voltar ou não. Ele está com medo.”

Kagami olhou para Kuroko, que automaticamente olhou para o chão.

“Eu respondi que não sabia, mas não quis assustá-lo mais – porque eu estava assustado o suficiente,” disse Aomine, apontando para o próprio peito. “Se você voltar, eu vou adorar. Eu tenho certeza que serei o mesmo Aomine daqui a um ano. Entrando numa universidade e cursando qualquer coisa porque eu sou um poço de indecisão pra essas coisas, se eu não continuar no basquete. E se você voltar, eu vou estar aqui pra cortar Akashi e Midorima.”

Em outras palavras, ‘aprender a finalmente fatiar um salmão’. Ninguém entendeu a piada interna entre eles, mas como Kagami sorriu, foi algo que eles encararam com tranquilidade.

“Mas, se você não voltar...” Aomine abaixou a voz. “Eu não vou ver problema. De verdade. Você pode continuar na Europa, ou trabalhar nos Estados Unidos... Eu vou estar satisfeito porque a sua vida não será um fracasso de jeito nenhum. Eu vou ligar a TV e assistir um daqueles programas de culinária ridículos onde você vai ser o apresentador misturando, tipo, comida chinesa com brasileira e iraquiana, ou algo assim.”

“Você é muito bobo,” Kagami soltou uma risadinha.

“Eu estou tentando ser sincero,” Aomine aproximou-se mais de Kagami. “Eu não fiquei com você direito porque eu estava com medo de acabar sofrendo sozinho, sabendo que você iria encarar a vida nova com facilidade. E eu ia ficar para trás. Você ia me superar. E eu não queria isso. Mas eu pensei em mim, não pensei em você. Achei que terminar o que tínhamos seria melhor.”

“Eu só concordei porque sabia que você não ia aguentar um relacionamento à distância, Aomine.”

“Eu ia. Eu ia! Eu ia tentar, pelo menos. O problema é que eu fui um babaca. Eu quero que você seja feliz, ok? E eu... Eu falo isso porque eu me preocupo com você. Sempre vou me preocupar com você. Porque...”

Eu amo você. Foi isso que Tetsu me fez pensar.

“Eu demorei muito pra achar alguém que fosse do meu nível.” Aomine colocou a mão no ombro de Kagami. Em seguida lhe deu um tapinha na cabeça. “Então não morra. O mundo lá fora é cruel. Estamos entendidos?”

Quase.

“Venha aqui,” Aomine o puxou bruscamente para um abraço apertado, colocando o nariz no pescoço de Kagami. “Eu estraguei tudo, não é?” murmurou ele no ouvido do rapaz. “Vou fazer você viajar de consciência pesada.”

“Eu deveria estar acostumado com o seu egoísmo,” Kagami respondeu no mesmo tom, mas com um sorriso satisfeito. “Você também... se cuida.”

“Sem você aqui vai ser difícil. Até a próxima vez, baka.”

Última chamada do vôo 6887 com destino a Paris e conexões, embarque no portão 17.

xxx

O sorriso de Kagami era enorme quando ele saiu do portão de desembarque do LAX, na Califórnia. Nem acreditava que não ouvia mais francês ao seu redor, e sentiu o coração mais confortável dentro do peito quando encontrou um rosto bastante conhecido a sua espera.

Long time no see, huh?” Himuro Tatsuya tinha os braços cruzados e um sorrisinho no rosto.

Brother.” Kagami abriu um sorriso. Já fazia cinco anos que ele não encontrava ninguém?

Os dois rapazes se abraçaram e então Himuro ajudou o irmão de consideração com as malas até chegarem a um ponto de táxi.

“Resolveu voltar pra cá?” questionou Kagami, já sabendo a resposta.

“Terminei a faculdade de Psicologia na UCLA,” respondeu o rapaz, colocando o cabelo (sua franja) para trás.

Kagami arqueou as sobrancelhas. Aquilo não acontecia normalmente – Himuro estava realmente mudado.

“Você sempre foi bom em ler a mente das pessoas,” Kagami deu um sorrisinho. “Mas largou o basquete também?”

Também? O que você quer dizer com isso?” Himuro olhou para ele com as sobrancelhas unidas. “Não vai me dizer que...”

“Já faz um tempo que não jogo. E você, com essa história de faculdade e uma matéria tão complexa... Eu imaginei que ia se aposentar depois da Yosen.”

“Eu não jogo em nenhum time, nem algum clube,” o outro rapaz suspirou dentro do carro. “E eu queria ter ficado no Japão, pra te falar a verdade. Mas Atsushi quis que eu viesse com ele para ajuda-lo. Jogo algumas vezes.”

“M-Murasakibara?”

“É,” Himuro olhou pela janela e disse casualmente: “Ele foi chamado pra jogar aqui na Califórnia. Pelos Lakers.”

Kagami abriu a boca, mas não emitiu som algum.

“Muita coisa mudou quando você foi pra Paris, Taiga,” Himuro abriu um sorriso, vendo que o amigo estava impressionado demais com tudo. “Fiquei sabendo que Kuroko e Momoi ficaramm juntos e ainda estão juntos, desde que você foi embora. Aquele loiro da Geração dos Milagres, Kise, assinou um contrato de, tipo, uma vida inteira com a agência de modelos que foi fundada pelo John Casablancas – o cara de descobriu a Gisele Bündchen, sabe? Isso aí.”

“Kise sempre foi modelo. Não é bem surpresa.”

“Akashi abriu a própria empresa e está em 10º lugar no ranking dos homens mais ricos do mundo com menos de trinta anos. Isso não é surpresa,” Himuro deu uma risada. “Midorima agora é médico. E Aomine...”

Kagami sentiu o coração apertar de novo.

“Eu não sei muito sobre ele,” Himuro deu de ombros e os dois saíram do carro. Rapidamente Murasakibara apareceu acenando para os dois, e caminhou na direção deles para ajuda-lo com as malas – ele estava suado, com roupas de ginástica e os cabelos presos. A casa era enorme, linda, e Kagami conseguia imaginar que tudo lá dentro era equipado perfeitamente para a dupla – livros, muitos livros para Himuro, e uma academia particular para Murasakibara (por mais que ele fosse um preguiçoso, agora ele era um jogador de basquete profissional).

Ne, Ka-chin, Muro-chin,” Murasakibara abriu um sorriso. ‘Ka-chin’? E ele deu um beijo na testa de ‘Muro-chin’? Muita coisa havia mudado em cinco anos, realmente.

“Atsushi, vamos levar tudo para o quarto de hóspedes,” Himuro sorriu para o gigante. “E Taiga, sinta-se em casa, obviamente.”

“Muro-chin,” Murasakibara murmurou para o companheiro, enquanto eles subiam as escadas e Kagami sentava-se no sofá. “Não é no quarto de hóspedes que...”

“Shhh, Atsushi,” Himuro riu. “Eu esperei cinco anos pra ver isso acontecer.”

“Yo, Murasakibara,” uma voz ecoou da cozinha, fazendo Kagami arregalar os olhos. “O bolo ainda não está pronto. Vamos voltar pra quadra e...”

Kagami virou-se de costas.

“Aomine?!”

Aomine Daiki.

Aomine.

Daiki.

Na casa de Murasakibara e Himuro. Na Califórnia.

“Ninguém me disse que...” Aomine franziu o cenho. “Eu achava que... Murasakibara me convidou pra...”

“O que você está fazendo aqui?”

“Não está feliz em me ver?”

“Você não sabia que eu vinha.”

“Eu continuei jogando basquete. Mas em Nova York. Pelos Knicks.”

Kagami arqueou as sobrancelhas novamente.

“Meu time vai enfrentar os Lakers na semana que vem,” Aomine aproximou-se com uma garrafa d’água em mãos. “Aproveitei pra fazer uma visita enquanto estava de folga.”

“Eu vim trabalhar, também,” respondeu Kagami, cruzando os braços.

“Realmente vai estrelar um programa de TV?”

“Vou ensinar pessoas a cozinhar.”

Os dois ficaram em silêncio após darem uma risada. Era desconfortável? Sim. Fazia cinco anos que eles não se falavam. Cinco. Da última vez que se viram, eram dois garotos terminando o ensino médio. Agora eram homens formados, com suas vidas diferentes e experiências nas costas. Era realmente estranho parar pra pensar nisso.

“Como foi o futuro?” perguntou Kagami, como se estivesse falando com o Aomine de que se despediu dele no aeroporto em Tóquio. “Muito assustador?”

“Difícil, mas interessante...” Aomine abriu um sorriso. Pausa. E então: “E o seu? Muito doce?”

“Bem amargo sem você.”

“Que conversa cafona,” Murasakibara bufou, rolando os olhos. Himuro bateu em seu braço. “Coisa de filme, Mine-chin.”

“Taiga, eu disse que não sabia muito bem como estava Aomine, mas...” Himuro Tatsuya abriu um novo sorriso. “Você sabe... É algo que você mesmo pode descobrir, não?”

Kagami e Aomine se entreolharam mais uma vez e sorriram.

Os únicos que poderiam modelar o futuro deles eram eles mesmos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui! Reviews são muito bem-vindos. Caso haja qualquer errinho, me desculpe. Até a próxima! ♥



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