Meu primeiro Halloween como suprema tem que ser perfeito. Nada de clichês das meninas se vestindo de bruxas mitológicas, não. Cada uma sabe muito bem como vai se fantasiar. E cada uma vai se fantasiar do jeito que bem entender.

Olho-me no espelho e coloco a flor oceânica no meu cabelo já naturalmente vermelho. O sutiã de concha é um pouco grande para meus peitos. A cauda verde é bem colocada para que eu não tropece. É, eu posso até não parecer com a Ariel, mas que a fantasia é bem feita, isso ela é.

- Serena. – fala a voz de Abby, ás minhas costas. – Daqui a pouco sairemos para a festa de Halloween.

Viro-me e vejo Abby com um vestido roxo, além de ter seu cabelo roxo claro. É, Abby agora pode controlar quando seu cabelo muda de cor e para qual será. Ela está muito bonita, isso sim.

- Uau. Ariel. – fala ela, olhando para mim. – Até eu queria ser parte de seu mundo.

- Que é isso, você está muito bem! – falo, tentando adivinhar quem Abby seria. – E você é...

- Sério que ninguém nunca viu “A Espada era a Lei”? Qual é o problema com vocês? – pergunta Abby, estressada. – Sou a Madame Mim, a bruxa das trevas!

- Ah, eu acho que eu já vi... – falo, tentando lembrar que filme seria esse.

- Ah, deixa pra lá. – fala Abby. – Ele só vai ficar na pilha de filmes da Disney esquecidos. Pelo menos você teve a decência de pegar a fantasia de uma princesa conhecida...

- Eu sei. – falo, vendo o quanto a fantasia está bem feita. – Vamos. Vamos encontrar as meninas para começar a festa!

Eu e Abby descemos as escadas da academia, até chegarmos finalmente no grande salão. Muitas meninas fantasiadas, cada uma á seu estilo. Isso é bom. Não tento passar a imagem de uma suprema conhecedora, apenas fico na minha e saio com as amigas. Mas tenho que sempre mostrar liderança, assim como Cordelia Foxx o fez.

- Serena! – fala Angie, chegando perto de mim com uma fantasia de Marilyn Monroe. Ela de fato está sexy com aquele vestido branco e peruca loira bem estilo Marilyn Monroe. – Estávamos esperando você á horas, sereia!

- Oi, gente. – fala Maggie, aproximando-se de nós com uma trança no cabelo e uma jaqueta, com uma bolsa de flecha nas costas.

- Katniss Everdeen! – falo, sorrindo. – Criativo...

- Obrigada. E foi muito barato também. – fala Maggie, sorrindo para nós.

Ao longe vejo uma Velma, de Scooby-Doo aproximar-se. Não identifico quem é logo de cara. Os óculos escondem bastante o rosto dela. Mas dá para ver que é minha amiga Kathy.

- Kathy! – falo, dando um abraço nela.

- Oi, Serena. – fala Kathy, ainda no abraço. – Você está ótima como Ariel!

- Eu sei! – falo, sorrindo. – Mas esse toque de Velma foi ótimo.

- Ó, Scooby-Doo, cadê você? – fala Angie, sarcástica.

- Há, há. – fala Kathy, olhando para Angie. – Muito engraçado.

- Ah, essa festa está um saco! – fala Angie, tomando mais um gole do champanhe. – Vamos ver algum outro lugar legal pra irmos.

- Não! Angie, eu sou a suprema. Tenho que ficar. – falo, segurando-a pelo braço.

- Ah, Serena. Vai dar uma de chefe hoje? Vamos, vai ser divertido. Halloween não é nada sem travessuras... – fala Angie, soltando-se do meu braço.

Olho ao redor e vejo que as meninas parecem concordar com Angie. E aí me toco, que antes de suprema eu era uma delas. Eu tenho que manter minhas amigas.

- Está bem. – falo, andando junto á elas.

- Ótimo! Por que já sei aonde vamos! – fala Angie, andando afrente de nós.

- Onde? – pergunta Kathy, andando rápido atrás de mim.

- Vocês verão. – fala Angie, abrindo a porta da sala da academia.

. . .

Olho para uma casa abandonada. Parece “A Casa Monstro”, mas muito mais assustadora.

- Vamos! – diz Angie, abrindo a grade enferrujada que dá para o jardim morto da casa.

- Gente, acho que isso não é uma boa ideia... – falo, enquanto vejo todas entrarem no jardim.

- Que é isso, Serena. – fala Abby. – É só uma casa abandonada. O que pode acontecer?

Penso que um pouco de travessura no Halloween não é nada demais. E além do mais, todas são minhas amigas. O que demais pode acontecer comigo?

- Está bem. – falo, entrando junto á elas.

- Ótimo. – fala Maggie.

Entro no jardim morto junto ás meninas e subo no terraço. Olho ao redor, e vejo a madeira velha caindo aos pedaços do terraço. Em que merda eu fui me meter?

Kathy abre a porta, mostrando um hall de entrada velho e esquisito. Móveis velhos e sem nenhuma manutenção. Uma verdadeira casa do terror.

- Vamos ver o que tem por aqui. – fala Angie, subindo as escadas.

Subo as escadas enferrujadas enquanto minha cauda de sereia bate nas escadarias revestidas por um carpete agora empoeirado.

- Minha cauda vai ficar toda empoeirada, que ótimo! – falo, reclamando.

- Pensasse antes de querer ir para o mar. – fala Maggie, irritada.

- Maggie, que irritação é essa? – pergunto chegando enfim ao primeiro andar.

- Eu não aguento mais você querer fazer com que engulamos o fato de que você é a suprema agora. Um ano sofrendo isso é demais, Serena. Demais. – fala Maggie, jogando para trás sua trança de Katniss Everdeen.

- É isso. Acabou o Halloween. Vamos todas para a academia. Agora! – falo, gritando com todas. Como é isso de que eu sou uma suprema exigente?

- Acho que não. – fala Abby, fechando a porta da frente com telecinese. Olho para a porta de madeira velha, e depois olho para minhas amigas. Todas olham para mim de forma muito estranha.

- Gente... O que aconteceu com vocês? – pergunto, olhando para todas.

- Estamos cansadas de você, Serena. – fala Angie, e percebo seu olho com uma coloração estranha. Parece que sua íris está branca.

- Angie... Seus olhos... – falo, olhando para ela fixamente.

Olho ao redor e percebo todas minhas amigas com o mesmo olhar demoníaco. Elas fizeram uma roda, me cercando. Não acredito nisso. Ainda agora elas estavam boazinhas. Espera...

- É a casa! – falo. – Gente, a casa está fazendo vocês ficarem assim...

- Acho que não, Serena. – fala Kathy. – Somos nós mesmas.

Sinto alguém me prender pelos braços, e percebo que essa pessoa é Maggie por conta da jaqueta de Katniss.

- Me desculpem... – falo, e com pirocinese queimo os braços de Maggie, fazendo com que ela se solte.

Corro até um cômodo vazio e empoeirado. Não há nada nele além de uma cadeira de balanço com uma boneca muito esquisita em cima. A porta se solta, e voa para dentro do quarto. Vejo as meninas aproximando-se de mim, cada uma com sua fantasia, numa espécie de “quarteto fantástico”.

- Gente, isso não é normal. – falo, ficando sentada no chão empoeirado do quarto.

- Claro que é. – fala Angie. – Tão normal quanto isso.

A figura de Angie vestida de Marilyn Monroe desaparece, e instantaneamente uma Cordelia Foxx aparece. Apavoro-me. Não me importa mais nada. Tento fazer elas irem embora com telecinese, mas acho que meu pavor não me deixa fazer isso. Tento ao máximo, mas não consigo.

- Ora, Serena. – fala a imagem de Cordelia, com sua voz. – Você nunca será uma verdadeira suprema.

- Não! – grito, fechando meus olhos e me empurrando mais ainda para a parede de madeira velha. – Parem! Por favor!

Sinto as lágrimas escorrerem de meus olhos. Abro-os e vejo Cordelia aproximar-se de mim lentamente, e acocorar-se para ficar com seus olhos bem aliados aos meus.

- Ora, Serena. – fala ela, pegando meu rosto com uma mão. – Você nunca chegará aos pés de uma verdadeira suprema. E por isso iremos fazer com que o ritual satânico a leve para o inferno.

- Inferno? – pergunto, enquanto sinto mais lágrimas escorrerem de maus olhos e vejo Cordelia levantar-se.

- Sim. Está vendo aquela boneca? – fala Cordelia, apontando para a boneca assustadora na cadeira de balanço ao lado do quarto. – Ela é sua passagem para o inferno.

Olho para a boneca, e sua cabeça se vira, fazendo com que ela olhe diretamente para mim. Lentamente, ela se levanta da cadeira de balanço, e paira sobre a sala. Vejo-a se transformar em pó enquanto eu grito incansavelmente. Vejo seu pó pairar sobre o quarto e chegar bem perto de mim, formando com esse pó uma imagem de um gato sorridente, parecido com o de “Alice no País das Maravilhas”. De repente, em meio aos meus gritos, o chão de madeira parece se abrir e o pó sorridente cai no buraco feito por ele. Grito mais ainda, com as lágrimas escorrendo de maus olhos.

Abro meus olhos, e só vejo as meninas gargalhando á minha frente. Angie, Kathy, Abby e Maggie sorrindo e batendo as mãos. Não entendo nada. Lentamente, me levanto, e digo:

- O que aconteceu?

- Você caiu! – fala Angie, gargalhando mais do que nunca.

- Caí? – pergunto, contornando o braço feito no chão.

- Travessura de Halloween, Serena. – fala Kathy, gargalhando mais do que nunca.

- Eu abri o buraco no chão. – fala Maggie, sorrindo. – Kathy transformou a boneca em pó e Angie ao mesmo tempo que fazia a ilusão da Cordelia pairou a boneca na sala. Abby imitou a voz da Cordelia.

- O quê? – pergunto, indignada. Não acredito que isso aconteceu.

- Uma pegadinha, Serena. – fala Abby. – Pega leve.

- Não, Abby! – falo, gritando com todas. Elas param de rir. – Não pego leve. Isso não teve graça nenhuma! Nunca façam isso comigo. Nunca! Eu não gosto! Ok?

Todas parecem assustadas com minha bronca.

- Ok? – grito, enquanto mais lágrimas escorrem de meus olhos.

- Ok. – falam todas em coro.

- Muito bem. Agora vamos voltar para a festa. – falo, passando por todas e abrindo caminho com Concilium, fazendo-as saírem de minha frente.

Não gosto dessas brincadeiras. Nunca gostarei. Sou uma bruxa, mas não quero pegadinhas de Halloween. Nunca as deixo verem meu lado mau, pois se virem iriam se arrepender muito.