Alice no País Florido escrita por Bruna


Capítulo 9
Hamartía


Notas iniciais do capítulo

Oi...
Estou aqui de volta, depois de tantos anos. A última atualização foi em 2016. Nunca foi a minha intenção abandonar essa história, mas de um bloqueio criativo, fui para um desânimo total com tudo e depois eu já não sabia como retornar. Amo muito essa história e eu sempre pensava em continuar "um dia"... Fui dizendo a mim mesma que uma hora eu continuava, e nisso se passou mais um bom tempo. Esse mês, enfim, tomei atitude.
É um momento histórico. Finalmente é o "um dia"...
Para isso, reli a história toda e percebi que tem muitas coisas que eu gostaria de melhorar (nada que afete a história em geral, mas mesmo assim). Porém, se eu fosse partir para um trabalho de reescrita, sabe-se lá quanto tempo isso iria levar. Não quero demorar mais pra partir pra ação e correr o risco de desanimar no caminho sem nem ter feito um real progresso. Então, por enquanto, vou só dar continuidade do ponto em que eu parei.
Esse capítulo é especialmente dedicado à leitora Fofura, que fez vários comentários nessa história uns tempos atrás, em 2018. Foi uma coisa que me deixou muito feliz mesmo. Nunca cheguei a responder porque eu não sabia como dizer que eu não tinha a menor ideia de quando eu postaria um novo capítulo e nisso, acabar com o entusiasmo. Sei lá.
Enfim... sem mais demoras, aqui está o tão esperado capítulo (pelo menos por mim mesma). Boa leitura.



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            O País Florido estava calmo. Algumas horas tinham se passado. O céu estava um pouco mais escuro do que quando o grupo tinha chego, mas já mostrava sinais de estar clareando àquele mesmo estado de antes. 

No acampamento portátil que Bianca tinha trazido, tudo estava em silêncio. Nos arredores, porém, havia uma outra criatura se aproximando. Seus passos eram silenciosos em meio à camada florida do terreno. Era uma fada nativa, cujo nome era Hamartía. 

Ela chegou mais perto dos desconhecidos com muita cautela. Os reconheceu como estrangeiros recém chegados, pois sabia que ninguém morava por aquelas bandas. Presumiu que tivessem vindo por um portal intermundos, que era uma forma de deslocamento relativamente comum.

Havia várias barraquinhas, mas a fada notou que uma garota dormia do lado de fora, em meio às flores. Ao seu lado, também adormecido, havia um pequeno animal preto de um tipo que Hamartía nunca tinha visto antes.

O felino, que era muito perceptivo, logo notou a presença da fada e abriu os olhos. Ligeiro, ele levantou e se colocou em posição de defesa, com as costas arqueadas e os pelos arrepiados.

Com a agitação, Alice também despertou. Se deparou um uma bela mulher, de pele clara, cabelos loiros e olhos cor de rosa. Ela usava um vestido curto e com grande decote. Era delicado, composto pelo que pareciam ser pétalas rosa bem grandes. Não deveriam ser de verdade, ou talvez fossem importadas, visto que naquele lugar havia somente flores de coloração arroxeada.

As asas da fada foram o que mais encantou Alice. Eram rosadas e brilhantes como o vestido e as extremidades eram translúcidas. Tinham o formato e posição igual às de uma borboleta, apenas muito maiores. As pontas passavam da cintura dela até a cabeça.

Embora ela já tivesse visto muitas coisas mágicas no País Perdido, sempre se surpreendia com esses elementos. Ah, como tinha sentido falta de ver maravilhas assim. A menina não sentia falta nenhuma do seu mundo, que parecia tão insípido em comparação aos que ela estava conhecendo.

— Olá... - falou Hamartía, com doses iguais de simpatia e desconfiança. - Meu nome é Hamartía, sou protetora de alguns dos muitos campos floridos do País Florido. Quem são vocês?

— Ah... Eu me chamo Alice. E o gato aqui é o Kitty.

— Gato? - ela indagou, confusa. - Não conheço esse tipo de animal.

— Não é perigoso. Os gatos são dóceis, mas podem se tornar ferozes se você os ter motivo. São bem comuns no meu mundo.

Hamartía assentiu. Olhou por cima de Alice, inspecionando as barracas. 

— De onde vocês vem? E o que vieram fazer aqui? - ela deixou a enrolação de lado. - Porque se estiverem aqui para causarem problemas, podem ter certeza de que não precisamos de mais.

— Não, não. Nós somos... ãh... somos todos do País Perdido. Eu e alguns outros viemos aqui para resgatar um amigo nosso. Ele foi capturado por um feiticeiro das trevas, o Rei Sombrio.

A fada reagiu de imediato àquele nome. Foi tomada por raiva, ressentimento e temor.

— Sei muito bem de quem você fala. Este sujeito tem causado extrema destruição por aqui. Ele matou toda a família real. Atacou vários vilarejos, matou muitas criaturas... E não parece que ele vai parar tão cedo. Eu... eu sou a única fada que sobrou.

Alice não sabia o que dizer. Só lhe restava encarar os olhos marejados da fada. Após alguns segundos de silêncio, a menina disse:

— Isso é terrível... Eu sinto muito. Escute, eu e meus amigos viemos aqui para dar um jeito nessa situação. Vamos derrotar o Rei Sombrio e libertar todos os que foram capturados por ele.

— Mesmo? Mas nunca ninguém conseguiu enfrentar o Rei Sombrio... - Ela parecia dividida entre esperança e descrença. Tudo o que já tinha ouvido sobre o vilão era que ele deixava apenas destruição por onde passava. Se ele chegasse a um mundo, ele já estava fadado à derrota.

— Eu já consegui expulsá-lo do País Perdido.

— Isso é verdade? Como?

— É sim. Meus amigos me ajudaram a usar magia. E eu também sei chutar. Eu vim resgatar o meu amigo Pinclyn, e não vou sair daqui até que eu tenha conseguido.

 Hamartía estava impressionada. Com esses aliados, talvez o País Florido ainda tivesse uma chance.

— Bem, se você está disposta a lutar contra o Rei Sombrio, é muito bem-vinda aqui. Posso apresentar o local para o grupo de vocês.

— É mesmo?

A fada assentiu.

— Pois então, não temos tempo a perder. Vou acordar o pessoal agora mesmo! - Ela saiu correndo para as barracas, deixando Hamartía e Kitty sozinhos. 

— Ela é sempre assim tão enérgica? - ela perguntou casualmente para o gato. Era acostumada a animais falantes.

— É. - o filhote miou, tímido.

Alice começou acordando Heitor. Ele já saiu da tenda pronto para a ação, mesmo que um pouco confuso. Perdidum e Perdidee foram os próximos alvos, depois Antônio, Bianca e o Mamute Fumante. Quando a menina ia entrar na barraca de Roberta, foi alertada pela Rainha do Chocolate Branco.

— É melhor deixar ela dormir mais um pouquinho. Ela não gosta de ser acordada cedo, acredite em mim. Experiência própria. 

            - Tudo bem, podemos esperar mais. - Alice concordou, mesmo a contragosto. Ela voltou para onde todos já estavam de pé e apresentou Hamartía para todos do grupo e explicou o que tinham conversado.

Perdidum e Perdidee pareceram imediatamente rendidos pela beleza de Hamartía. Ficaram encarando ela com fascinação. Bianca foi a mais simpática de todas, ficando profundamente afetada pela notícia dos massacres. Ela assegurou a fada remanescente que fariam tudo que estivesse no poder deles para reestabelecer a ordem no País Florido. 

Heitor, por outro lado, parecia desconfiado. Uma fada aparece do nada, toda linda e pacífica, justo quando mais precisavam da ajuda de alguém que conhecesse o local? Conveniente demais. A hiena decidiu ficar de olho nela. Não descartava a possibilidade de que ela fosse uma armadilha plantada pelo Rei Sombrio.

— Existe a possibilidade de mais criaturas daqui quererem lutar ao nosso lado? - perguntou Bianca.

— Ah, não tenho certeza. - Hamartía se desanimou. - Muitos tentaram se revoltar contra o Rei Sombrio, mas isso só levou à desgraça. Depois que perdemos a família real, a desesperança se espalhou. Não havia mais nenhuma resistência organizada, então todos acabaram recuando, pelo menos por agora. Cada um lambendo as feridas em seus cantos, escondidos. Têm medo de serem os próximos a...

O final da frase ficou no ar. O Mamute Fumante fez um "hmm", como se não esperasse nada diferente. Para um oráculo, ele poderia ter sido mais informativo quanto ao que estava acontecendo por aí, mas pelo menos ele estava junto na missão, acompanhando. Era mais do que outros da sua profissão costumavam fazer.

— Entendam, o povo daqui nunca teve que lidar com guerras, por menores que fossem. Então, fomos todos pegos despreparados. Nunca pensamos em como reagir em situações assim.

Os estrangeiros assentiram.

O País Florido era conhecido justamente pela paz e harmonia que prevaleciam por lá há séculos. Era comum encontrar refugiados por lá, que buscavam uma vida mais calma, longe dos conflitos caóticos de seus próprios mundos.

— Não é que vocês sejam fracos. - Perdidum se pronunciou. - Vocês apenas não foram condicionados a essas circunstâncias. Têm muito potencial.

— Falou e disse. - Perdidee deu uns tapinhas no ombro do irmão.

Hamartía sorriu para eles, tocada pela compreensão.

— É. Isso aí.

— Bem! - disse Alice. - Então é bom que estamos juntos agora. Vamos dar um jeito nessa situação toda. Agora, aquela apresentação que você ofereceu? Vamos conhecer o terreno, pessoal!

Foi decidido que era melhor recolher o acampamento para não precisarem voltar àquele mesmo ponto. Hamartía informou que eles tinham aflorado em um lugar meio longe, tanto de onde o grupo de criaturas mais próximo estava abrigado quanto de onde se sabia que o Rei Sombrio estava estabelecido - energia tão negativa quanto a dele não era fácil de disfarçar.

Roberta foi acordada e resumiram as novidades para ela. Passou os olhos por Hamartía, sem parecer impressionada. O tal do mal humor mencionado por Bianca realmente era um caso sério, mas logo todos entenderam que era melhor não ficar muito em cima dela.

A Rainha do Chocolate Branco recolheu o acampamento, cujos itens encolheram novamente para o tamanho de moeda. Da bolsa dela, ela também tirou vários sanduíches, que foram distribuídos para todos, até Hamartía. Com um alimento em mãos, Roberta parecia menos emburrada. Antônio comia o seu muito a contragosto, resmungando sobre como pastéis teriam sido uma opção melhor.

— Ai, deixe disso, Tony. Já tivemos essa conversa várias vezes. Não dá pra viver só de pastel. 

O Pasteleiro Maluco abriu a boca para rebater algo, mas pareceu pensar melhor e concluir que não era um momento ideal para um debate assim. Talvez ele não fosse tão maluco assim.

Logo, todos estavam rumando para os montes que se via ao longe. Hamartía ia na frente, como guia, seguida de perto por Alice e Heitor, depois os outros.

A jovem garota segurava o seu gato preto nos braços e dava a ele alguns pedaços de sanduíche, que ele devorava o mais rápido que conseguia com sua boquinha pequena.

— Hamartía. - chamou.

— O que foi? - A fada se virou para ela, parando por um instante para que as duas estivessem caminhando lado a lado.

— Desculpe perguntar isso, mas... sobre os que foram perdidos para o Rei Sombrio... Todos eles morreram? Ou alguns estão desaparecidos?

A fada abaixou o olhar para o pasto de flores que se espalhava por todo o chão.

— Muitos morreram mesmo. Mas também tem uma grande parte que está desaparecida. Ainda não encontramos pistas do que pode ter acontecido com eles... Só podemos torcer para que eles estejam vivos, provavelmente com o seu amigo. Era por isso que eu estava andando por aqui, na verdade. Eu me voluntariei para sair em busca de sobreviventes aos ataques, mas não encontrei ninguém.

— Mas só você, sozinha? Não achou perigoso? 

— Acho que não. Eu perdi toda a minha espécie, assim do nada. Precisava de um tempo para mim mesma, para pensar.

— E você chegou a alguma conclusão? - Alice perguntou, para manter a conversa. Hamartía parecia ótima, era realmente uma pena que estiverem se conhecendo sob circunstâncias tão ruins. A menina queria saber de tudo da vida da fada e sobre o País Florido. Era um lugar maravilhoso, sem dúvidas.

— Eu não sei bem. Sempre estive acostumada a ver diversos tipos de criaturas chegando aqui depois de fugirem de alguma ameaça. O povo daqui é bastante acolhedor, eles falam. Muitos tinham perdido a família ou mesmo todos os seus semelhantes. Eu sempre estive do lado dos que consolam... Agora, eu estou na outra posição. Eu nunca teria imaginado que algo assim aconteceria aqui.

Kitty, ainda nos braços de sua dona, começou a se remexer. Alice estava prestes a perguntar o que ele queria, mas logo viu que ele apontava com o focinho para a Hamartía. A garota direcionou seu olhar para ela e percebeu que lágrimas escorriam pelo rosto dela. A fada não se dava ao trabalho de secá-las, focada em seguir andando para o destino do grupo. 

            - Vamos fazer o Rei Sombrio pagar por tamanha maldade. Ele não é invencível e nós não vamos parar de lutar até que ele não seja mais uma ameaça. - Alice assegurou, tentando transmitir sua determinação. - E vamos resgatar todos que conseguirmos.

— Obrigada. - Hamartía disse. Em um momento difícil como aquele, era bom ter um apoio vindo de fora, daqueles que ainda não tiveram suas esperanças esmagadas. Ela não estava em posição de recusar aliados, mas ainda assim, ela se perguntou se tudo aquilo não seria um erro. Talvez criar uma frente na guerra contra o Rei Sombrio trouxesse ainda mais destruição do que se os habitantes do País Florido tivessem se submetido completamente e esperado até que o invasor tivesse algo melhor para fazer - outro mundo para atormentar - e desistisse deles. Só o futuro diria.


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Notas finais do capítulo

Novamente, não sei dizer quando terei mais um capítulo pronto para postar. Mas digo com certeza que eu estou mais empolgada com essa história do que em qualquer outro momento dos últimos três anos e pouco...
Bem, é isso aí. Pra quem chegar até aqui, eu adoraria um comentário. É isso, tchau.



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