A Dinastia Decapitada. escrita por Luana Bankersen


Capítulo 1
Capítulo Único: A Dinastia Decapitada.


Notas iniciais do capítulo

He-ey!
Como prometido, nessa madrugada de 31 de outubro eu venho trazer a vocês uma one baseada na música Emperor's New Clothes do Panic! At The Disco. Para melhor compreensão da história, assista ao clipe: https://www.youtube.com/watch?v=7qFF2v8VsaA

Queria agradecer a todos os que me deram o maior apoio para que eu trouxesse essa história hoje. E também queria agradecer imensamente a Sarah Líbna por causa da capa e dos banners maravilhosos que ela fez pra mim. ^^ Thanks, Sarah.
Sem mais delongas, sejam bem-vindos ao fim das eras.



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Levanto-me e olho ao redor. Onde eu estou? Como vim parar aqui? Sinto o medo tomar conta de mim, começo a lembrar de todas as coisas que vivi e percebo que não há nenhum sinal de vida no lugar onde me encontro. Lembranças passam pela minha mente e por um momento a imagem dos meus amigos de infância invade meus pensamentos. Achado não é roubado, quem perdeu é relaxado.

Sinto mãos agarrando meu corpo e o desespero torna-se presente, a única coisa que eu quero nesse momento é a liberdade. Achado não é roubado, quem perdeu é relaxado. As vozes das crianças que um dia foram meus amigos ganham uma força inexplicável e temo pela saúde dos meus ouvidos. Quando sou atingido pelo silêncio, tenho a nítida impressão de que meu desejo foi atendido. As mãos que me agarravam anteriormente não existem mais, sinto-me livre. O medo de se desmoronar. Está tudo tão quieto, tudo tão claro. Corro, consumido por uma felicidade que nunca me pertenceu. Paro e encaro a Luz à minha frente. Sorrio e concluo o que ocorreu; estou morto e isso não me entristece.

Cumpri meu tempo e minha sentença, estou aqui agora e meus pecados se esvaem aos poucos. Meu sorriso é verdadeiro, porém meus pensamentos são sujos. Se você me ama, deixe-me ir. Uma sensação de derrota e enganação me consome e eu sei que meus pecados não se foram por completo. Uma das coisas que fiz em vida parece ser imperdoável, e como eu bem sei, algumas coisas são impossíveis de perdoar. Achado não é roubado, quem perdeu é relaxado. A escuridão toma conta de tudo e eu não sinto o chão aos meus pés; minha queda é inevitável.

Em determinado acontecimento da minha vida, uma moça loira extremamente bonita e misteriosa me dissera que sempre há algo belo e trágico na queda. E devo admitir que nunca em vida eu captara o significado verdadeiro dessa mensagem. Porém, hoje isso faz sentido. É algo belo, porque da minha inocência forçada ao desespero... Há algo a mais. É como se a união entre o Céu e o Inferno tivesse me causado toda essa enganação. É tudo um tanto quanto trágico.

Grito com todas as forças que ainda me restam. Deixe-me ir. Ouço risos altos a minha volta e não sei mais o que está acontecendo, sinto-me estranho. Isso se assemelha a um caso de alguém que está completamente vestido e nu ao mesmo tempo. É uma metáfora confusa e eu sempre amei esse tipo de coisa. Meu corpo atinge o chão e eu não consigo acreditar no fato de que ainda sinto todos os membros que me pertencem.

Esse é o fim de todos os que são um tanto quanto rebeldes em relação às suas vidas e ao que as pessoas consideram ser certo ou errado, esse é o fim dos mentirosos que se fixam em tomadas e dos imperadores que exigem suas roupas novas. Essa é a porra de uma dinastia decapitada, onde a sucessão de reis e rainhas é cortada e traz o início de uma nova geração, uma nova política na qual todo e qualquer ser humano vai ter um encontro especial com as Trevas.

Bem-vindo ao fim das eras.

Sinto-me enganado pela Luz, pois tudo agora faz sentido. Eu aceito o meu destino e tudo o que ele representa, eu aceito a minha verdadeira forma e o que realmente sou. Eu nunca fui uma pessoa correta e não seria nos meus últimos dias de vida que eu me tornaria decente. Talvez eu seja um perdedor de merda, mas nada disso importa agora; eu vou pegar minha coroa de volta.

Eu derreto como gelo e, isso é como meu retorno à vida. Tento me levantar e visualizar o espaço ao meu redor, eu posso dizer que meus ossos estão intactos e não sinto dor alguma. É como um milagre de forma errada, eu caí da Luz para as Trevas, então é um tanto quanto irônico o fato de eu me sentir tão vivo. Vestiram-me e viram-me morrer, ninguém teve piedade de mim. E eu não terei pena das almas atormentadas que irão me perseguir durante minha jornada pelas sombras.

Se a sensação é boa, se o gosto é bom; tem que ser meu.

Nunca pensei que seria capaz de me desapegar do passado, que poderia esquecer os erros que cometi e as mentiras que tive de contar. Eu fui um louco apaixonado, um amigo leal e talvez um traidor. As pessoas me julgavam por coisas que nunca fiz e isso me tornou um tanto quanto frio. Não me arrependo dos meus atos e dos meus pecados e talvez seja por esse motivo que o Céu recusou minha entrada em suas portas. Eu sou o fantasma dos pensamentos impróprios, dos pecadores que lutam pela liberdade. Eu sou o único fantasma que você poderá ver esta noite.

E é uma grande ironia o fato de que todos mentem; até mesmo a moça julgada como a mais santa, a freira que diz suas preces e jura que seus pecados serão absolvidos quando ela encontrar seu fim e o padre que coloca sua vida sobre o altar em nome de Deus. A situação na qual me encontro é o começo de uma nova era e uma homenagem a como tudo começou. E se você não sabe, agora sabe. Sinto-me diferente e isso parece ser bom. Observo minhas mãos enterradas em poeira e constato a coloração azul e as garras que nunca fizeram parte de mim. Eu estou me transformando no monstro que disseram que eu era.

Estou pegando minha coroa de volta.

As novas roupas do imperador são invisíveis, apenas os de bom coração são capazes de enxergá-las, pelo menos é o que diz a lenda. Ou o que eu acho que a lenda diz. Isso não importa. Eu posso concluir em meio a minha confusão de pensamentos que eu sou o imperador exibindo suas vestimentas. Estou completamente vestido e nu. Eu vejo o que é meu e pego, mas se não for meu, logo será. Achado não é roubado, quem perdeu é relaxado.

Minha coroa, meu reinado... Tudo parece estar tão perto, e está. Tão perto que eu posso sentir seu gosto. Eu a quero para mim, quero o reino do Inferno sob minha posse. Eu sou o pior demônio com o qual você poderia brincar. Depois de ter passado por tantas coisas nessa merda que chamam de vida, perdi minha coroa quando meu coração foi partido pela primeira vez. Mas agora eu a terei de volta. Oh, sim.

Ergo minha camisa e percebo que minha barriga e peito estão completamente azuis, essa revelação e a dor de cabeça que teima em prevalecer sobre meus pensamentos imundos fazem com eu grite. Da minha boca saem xingamentos e eu expresso todo o ódio que eu sinto por todas as coisas ruins que aconteceram a mim e às pessoas que amei. Eu não quero mais sofrer, eu vou assumir minha nova existência.

Novas lembranças afastam um pouco da dor que sinto e eu me recordo dos homens ricos que eu sempre achei serem interessantes quando era pequeno. Eles me tratavam mal, eram arrogantes e me despertavam uma curiosidade absurda sobre saber o que fazia com que eles fossem tão infelizes. Eles tinham mansões extravagantes e coleções de vinhos antigos, puxa-sacos em sofás de veludo e taças de cristal. Mas quando esses homens tiveram seu encontro com a morte, nada do que lhes pertencia foi com as almas deles para onde quer que tenham ido.

Eu sou muito mais que a realeza.

Eu sempre me baseei nas pessoas que admirava para fazer as escolhas da minha vida, eu as chamava de heróis. Porém, esse talvez tenha sido o meu maior erro. Eu queria ser uma mistura de tudo o que eu gostava e achava incrível essa minha ideia de ser um misto. Eu acabei me tornando o que eu queria, sendo verdadeiro comigo mesmo e fazendo o que eu bem entendia. Porém, o fato de eu não me arrepender dos meus pecados foi o que me trouxe às Trevas.

Heróis sempre são lembrados, mas você sabe que lendas nunca morrem.

Pergunto-me se eu fui o herói de alguém, como várias pessoas foram pra mim. Minhas músicas já ajudaram alguém? Será que eu já influenciei alguém com as minhas letras? Temo nunca obter as respostas para essas perguntas. Sinto uma dor inexplicável tomar conta do meu corpo e em um movimento involuntário, arranco minha camisa. Encaro embasbacado o desenho macabro que se formou em meu peito. O que está acontecendo? Um pouco da minha sanidade retorna enquanto me contorço de dor e eu me lembro de minha esposa. Sarah, tudo seria mais fácil se você estivesse ao meu lado.

Parte do meu corpo ainda não se tornou azul e minhas tatuagens ainda são visíveis, me agacho para tentar conter a vontade de gritar e sinto como se algo pisasse em minhas costas. A dor de cabeça que eu sentia há pouco volta com uma força insana e temo que minha sanidade mental seja perdida por completo. Uma sensação estranha e dolorosa toma conta de mim; sinto algo nascer na minha testa. Grito com todas as minhas forças, nunca senti tanta dor na minha vida. Levo minhas mãos ao meu rosto e percebo que há algo como chifres em minha testa. Isso não pode estar acontecendo, eu estou ficando louco. Sinto todo o poder em minhas mãos, nada poderá me parar. O remorso não existe, não terei nada que pese em minha consciência. Estou pegando minha coroa de volta.

Meus pensamentos se mesclam e eu estou me tornando outro ser, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Há histórias que narram sobre reis mortais que dominam castelos, mas eu os acho muito fracos. De que adianta ter algo sob seu total domínio se você não poderá usufruir de seus frutos? Esses reis dominam castelos e após algum tempo adoecem e morrem; não há sentido. Devaneios misturam-se com a minha dor e transformação, eu não me lembro mais de quem eu era. A única coisa da qual eu ainda me recordo é meu nome; Brendon. Um dia eu fui um homem chamado Brendon Urie, mas não faço ideia do que eu fazia em vida. Eu não sou mais a mesma pessoa. Eu não sou mais uma pessoa. Não me recordo como era a minha aparência anterior e tenho total consciência de que minha memória foi apagada.

Meus dentes caninos parecem alongar-se e eu faço uma careta para disfarçar a dor. Mas a quem eu estaria enganando? Não há ninguém para me ver nesse momento. Sou apenas eu, um demônio que já nem mesmo recorda-se do próprio nome. Sinto-me verdadeiro e tenho uma vontade estranha de poder assistir ao sofrimento alheio. O meu eu anterior se repreenderia por pensar em algo assim. Sinto um peso nos meus ombros e passo minhas mãos no local para saber do que se trata; tem o mesmo formato dos chifres da minha testa. Asas crescem anexas às minhas costas e a dor finalmente cessa. Esse é meu novo eu.

Não tenho mais vida e agora sou o governante das Trevas; do Inferno. As almas amarguradas nunca chegarão aos meus pés. Eu tenho a minha coroa de volta e esse é o fim de todas as coisas. Passei de herói para uma lenda e nunca encontrarei o meu fim.

Bem-vindo ao meu mundo de diversão.


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Notas finais do capítulo

E aí, pessoas? O que acharam?
Deixem seus comentários!
Espero de coração que vocês tenham gostado dessa one.

Beijos, referências e chocolates!
Doces ou travessuras?

Luana Bankersen.