O Livro Preciso escrita por L G Bida


Capítulo 6
Seu Rufino




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Desceu do ônibus devagar, o ponto ficava longe, levaria um tempo para chegar em casa. Logo no primeiro dia de aula, já tinha se metido numa encrenca dessas, qual seria seu castigo? Um ano sem TV, talvez ficar preso no quarto resto da vida, ou então, vai saber o que a cabeça imaginativa de sua mãe ia pensar. Não podia chegar em casa com o olho daquele jeito. Como queria não ter brigado, mas foi culpa daquele Nícolas, ele não podia deixar quieto, ele o ofendeu e a Tomi também, se pudesse voltar atrás... Quem ele tava enganando se, pudesse voltar, faria exatamente a mesma coisa, não melhor, agora, com certeza, ele surraria ainda mais aquele bóyzinho.

Faltando duas quadras pra chegar, avistou reflexo na janela do bar do seu Rufino, pela primeira vez desde a briga, Murano falou que tava feio mas não imaginou que fosse tanto, o olho direito tava do tamanho de uma bola de tênis roxa como ele deixou aquele cara fazer isso? Logo ele, que se achava o carinha, que se criou nas ruas, apanhar assim dum playboy como Nícolas? Uma vergonha.

Suas costas doíam um pouco. O banco tava ali exatamente como antes. Então ele sentou para pensar o que falaria para sua mãe quando chegasse em casa. Sem ele ver de onde, veio um senhor e sentou do seu lado, de idade avançada, meio careca, com um casaco marrom velho e grande que ia até o joelho. Era seu Rufino, um velhinho dono um pequeno bar, ele era meio engraçado, usava uns sapatos de um tipo que Mike nunca havia visto antes, da cor verde, com o bico levantado em direção ao céu, tinha uns desenhos que pareciam ser aves e estrelas. Mike cumprimentava-o todos os dias quando passava ali cedo indo até o semáforo nas férias, ou indo pra escola, mas de tarde na hora que voltava pra casa ele não estava mais lá, além disso nunca tinha trocado mais que duas palavras com ele. O velho Rufino olhou para o menino devagar, com cara de alguém que estava preocupado

— O aconteceu com seu rosto — falou o senhor.

— Um pequeno acidente — falou contando uma pequena mentira, sua mãe sempre falava que era vergonhoso mentir, mas ele achou não haver problema era mais vergonha contar que apanhou.

—Quantos anos você tem menino? — Seu Rufino olhava estanho pra ele, como se não entendesse algo, ou alguma coisa que ele fez.

— Dez—Respondeu sem entender muito porque da pergunta. Rufino o fitou durante um longo tempo. Mike olhando para ele sem entender o que o Velho queria.

— Por que, senhor?

— Desde quando você vem aqui e senta nesse banco aqui? — Respondeu a pergunta de Mike com outra pergunta. Mike fez a mesma coisa.

— Como assim? O senhor mandou colocar hoje, não foi ?

—Hoje? A claro sim hoje! — falou atrapalhando-se, Mike não entendeu nada, não conseguia decifrar o que o velho queria, se não tinha mandado por hoje, quando foi? E de onde veio o mato? Ele não resistiu e começou a perguntar.

— Estava mesmo curioso, sobre o banco! Onde o senhor comprou um banco tão bonito? E como fez pra crescer mato tão rápido? E...

O velho mudou a expressão na hora e soltou uma gargalhada muito estranha e alta. Mike se surpreendeu mas achou muito engraçado e deu uma risadinha de canto de boca também, ainda meio inseguro com aquele estranho.

— Você faz muitas perguntas garoto! Já tinha me esquecido como as crianças são curiosas. Onde vai com aqueles doces todos os dias? — Mike achou a pergunta estranha, achava que todo mundo já tinha o visto na esquina do semáforo. Mas pensando bem agora nunca tinha visto seu Rufino passar lá. Para falar a verdade nunca tinha o visto em outro lugar que não fosse na frente do bar.

— Vo vender lá no semáforo. —Mike ergueu o braço e apontou, como se desse pra enxergar o semáforo dali— O senhor nunca me viu lá? — Sr Rufino passou a mão pela barba branca, não muito grande do queixo.

— Pra falar a verdade não, nunca ando por estes lugares .

Mike ficou pensativo, como pode alguém ir ate o centro e nunca passar pelo semáforo? Têm outras ruas paralelas, mas a avenida era a principal, todo mundo pegava aquele caminho, estanho.

—Uma criança como você não devia trabalhar, isso é coisa de adulto! Você não devia estar na escola? — falou seu Rufino erguendo uma sobrancelha.

—Eu estudo sedo e depois do almoço eu vendo doces pra ajudar a comprar comida pro meu irmão e minha mãe—Mike olhando pra cima fazendo uma careta por causa do sol que batia em seu rosto.

—E seu pai?

—Nos abandonou quando eu era uma criança de colo, mas não gosto de falar disso.—Mike olhou pra baixo colocando as mãos na frente do corpo.

— Sinto muito— falou Sr Rufino, olhou para o céu e ficou assim por um certo tempo.—tinha me esquecido que estamos nas férias de inverno, está muito quente.

Mike ficou em silêncio pensando em seu pai, e no sonho que tivera ainda pouco. Percebeu um volume no bolso do seu Rufino, era um livro, parecia bem grande. Ergueu cabeça e colocou a mão na frente dos olhos pra proteger do sol

— Que livro o senhor tem aí?

O senhor Rufino o olhou durante um tempo, parece que demorou pra entender a pergunta, olhou pra baixo colocou a mão enrugada no bolso por cima do casaco— Ah isto aqui! É um livro. Estava tentado ler, quando vi você aqui.

— Sobre o que é o livro. Gosto muito de ler! — Mike ia sempre que podia à biblioteca já havia lido várias obras, como As reinações de narizinho, As cronicas de Nárnia a feiticeira, o leão e o guarda-roupa, O senhor dos anéis e muito outras obras. Sonhava um dia fazer parte de alguma aventura como daquelas histórias fantásticas. Ele tirou do livro do bolso e colocou no colo realmente era muito grande até mais do que Mike imaginou, como cabia no bolso dele um livro tão grande. Tinha uma capa grossa na cor vermelho escuro, um desenho de um lobo prateado em relevo, parecia muito antigo. Um livro muito bonito.

— Posso ver? —Mike estendeu as mãos.

— Claro! Mas não sei se você poderá ler, apenas algumas pessoas no mundo conseguem ler este livro—E entregou o livro nas mãos do menino

Sem intender muito bem, Mike pegou o livro, muito pesado, um dos mais pesados que tinha segurado na vida, abriu-o, as dez primeiras páginas mais ou menos estavam em branco, depois tinha um desenho, era uma pintura de quatro jovens, abraçados e sorrindo, vestidos com capas pretas que cobriam todo o corpo, cachecóis listrados de vermelho e amarelo.

mas com exceção de algumas figuras todas as páginas estavam em branco. Olhou para o seu Rufino.—Só tem figuras nesse livro? O resto é um monte de páginas em branco.

—Figuras?—Seu Rufino que parecia muito surpreso, —Tenho que entrar agora, pra casa—já estava de pé e olhando para o céu, apressando foi andando na direção ao bar.

—O livro!—falou alto Mike

—Pode ficar, ele pertence a você agora!

—Por que as páginas estão em branco ?E o banco? — perguntou.

—O que quer saber sobre o banco? —Falou já perto da porta do bar.

—Quando colocou esse banco tão bonito aqui? e como cresceu mato tão rápido nos pés? E… — Mike já estava de pé, falando rápido e alto.

— O banco está aqui a muito tempo, foi um homem muito poderoso que o fez ! E sim ele está cheio de mato, mas a é culpa minha, a muito tempo não cuido dele, já tinha até me esquecido que ele estava aqui em frente ao meu bar. Mike olhou pro banco, ponderando o que Sr Rufino tinha falado.

— Mas – falou ela enquanto o homem, sumia dentro do bar, a porta já estava fechada.

Mike chegou já era mais de meio dia. Parou na frente do portão, relutando em entrar, mas, no fundo sabia, tinha que enfrentar as consequências. Abriu o portão e entrou devagar, na esperança que sua mãe não estivesse em casa e desse tempo pra pensar em alguma coisa. Empurrou a porta estava só encostada “não ! ela tá em casa! por que eu fui brigar por que?”

Abriu a porta sua mãe estava lavando a louça ele ficou ali parado com os olhos fechados, sem fazer nada só esperando o momento que ela ia perguntar o que tinha acontecido, e começar o sermão. Esperou um minuto até sua mãe falar

—Mike? O que foi?—O tom de voz dela era calmo muito diferente do que tinha imaginado

—Por que taí, parado? entre logo e feche aporta! — O que? ela não falou nada sobre seu olho? Ele abriu os olhos ela tava parada a uns dois metros dele.

—Mike?você está bem?

Ele olhou pro quadro com a foto de um padre que tinha sido famoso a tempos atrás, com as bordas espelhadas que sua mãe tinha na parede, e não acreditou no que viu, seu rosto tava perfeito sem um roxinho se quer, nem um arranhão. mas como?

—Mike?

—To—respondeu com um enorme alívio e saiu correndo pro quarto. Morava numa casa de madeira velha, parte comprada de segunda mão, parte doado ou até achado num lixão perto dali, a casa tinha de apenas dois cômodos, um era sala e cozinha juntos, e o outro era o quarto que ele e o irmão Caio, ou como era chamado Cai, dormiam, a mãe dele dormia num sofá-cama na sala. jogou a mochila em cima da cama e pegou um pedaço de espelho que ele tinha quebrado com uma bolada, pra ter certeza que seus olhos não estavam pregando uma peça, realmente não tinha nenhum vestígio da briga achou até que algumas manchas que tinha ganhado por ficar muito tempo no sol tinham sumido. como aconteceu isso?

Mike entrou no quarto, só pensando em abrir de novo o livro pra dar uma boa olhada desta vez. Tinha mais quatro figuras além daquela que já tinha visto, todas preenchiam uma página inteira. Uma tinha um dos jovens, só que nesta estava sozinho, com um sorriso largo nos lábios, era um rapaz de loiro cabelo cumprido, a outra figura era de algo que parecia uma batalha entre os outros três jovens contra alguém assustador, de roupa toda preta e flutuando, uma cara cinza quase branca com olhos que não passavam de uma bola vermelha, atrás um símbolo que parecia uma estrela toda torta ou dois triângulos se cruzando, ou algo assim. Não sabia de onde, já tinha visto aquele símbolo em algum lugar. Os jovens em vez de usarem espadas ou alguma arma para combater a criatura, eles empunhavam varas que saía da ponta fogo. Como um lança chama. A próxima figura estava escura era mais sombria e triste, tinha uma lapide, com o céu nublado escuro no fundo, escrito:

AQUI JÁS UM DOS MAIORES MAGOS E MELHOR IRMÃO DO MUNDO CORMMAC INIMI

1579-1599.

“O Jovem que morreu era um... mago?” leu de novo e de novo pra ter certeza que seus olhos não o enganavam. Até que virou a página algumas a frente tinha a última figura, era de um castelo muito bonito, parecia desses de conto de fadas, marrom com varias torres tinha um ar de importante, ficou muito curioso pra saber mais, mas não tinha nada, só um monte páginas amareladas sem nada escrito.


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