A escolha escrita por slytherina


Capítulo 8
Sabá




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Sam estava se sentindo ridículo, com uma coroa de flores na cabeça, um camisolão branco e descalço, andando em fila com outras pessoas idiotas, que usavam a mesma indumentária. Seu pai ia lá na frente, com um grande manto dourado que lhe dava uma aparência de super herói. Mas Sam sabia melhor. Ele não era um herói, apenas um homem branco, rico e excêntrico, que gastava rios de dinheiro e perdia seu tempo com uma seita neo-pagã. A enorme escultura do bode de barro no fim do caminho, apenas salientava a estranheza daquilo tudo.

A fila parou de andar ao chegarem ao local da celebração do sabá wiccano, um local já utilizado outras vezes na grande propriedade de seu pai. Havia um grande círculo pintado no chão, contornando um enorme pentagrama. Em quatro pontos daquele círculo havia desenhos simbolizando pontos cardeais e os elementos da natureza. Seu pai afastou-se dos fiéis, dirigindo-se a um pequeno altar no centro do círculo. O grupo de algumas dezenas de pessoas dispôs-se em volta e passou a murmurar "Azazel". Este era o nome pagão de seu pai, e isso o fazia sentir-se especial. Sam também tinha um nome pagão, "Gelehrig", que para ele não significava nada, mas seu pai tinha muito orgulho disso.

Após uma preleção inicial em que exaltou a natureza e a misticidade que os cercava, Azazel iniciou uma cantoria seguida de dança. Isso era o mais ridículo de tudo. Sam era obrigado a dançar também, mesmo usando um camisolão, e a música não sendo exatamente um sucesso da MTV. Seu pai deu início ao ritual, com poses e movimentos estudados, usando objetos místicos do altar: um cálice, uma faca, uma vara. Todos o felicitavam e elogiavam como em transe, mas Sam era imune a tudo isso. Depois disso começou a ladainha como em uma missa católica, para depois atirarem flores aos pés da estátua. Por fim seu pai cumprimentou e abraçou a todos, então voltaram para casa.

"Você deveria vir também no festival do Solstício de verão, Sam. Há muitas atividades, danças e comidas exóticas. Você iria gostar." O empresário falou a seu filho, já no carro, de volta para casa.

"Como queira, pai. Eu não tenho mesmo uma vida social intensa, mas não vou mentir pra você, eu não acredito em nada disso." Sam respondeu acabrunhado e algo entediado.

"Não precisa acreditar na Wicca, menino-rei, basta apenas acreditar em mim." O pai falou com um sorriso compreensivo, ao que Sam concordou com a cabeça.

Longe dali, Dean Winchester voltou para casa, após uma noite de farra, procurando encrenca em bares de periferia. Ele até apresentava um olho roxo, mas acreditem, o outro cara estava bem pior. Não que ele fizesse isso freqüentemente, mas uma vez ou outra em um semestre, quando queria liberar alguma estamina, chutar alguns traseiros e quebrar alguns narizes. Ele não tinha medo de enfrentar valentões no muque, e quando estava em desvantagem, sempre podia sacar sua pistola, que lhe permitia uma saída digna, sem ser quebrado de pau.

Por outro lado, seus pais não aprovavam suas escapadas e proezas de bar.

"Dean. Chegando tarde outra vez." Seu pai, John Winchester, reclamou.

"Sim, Senhor. Desculpe, Senhor." Dean respondeu como se estivesse em um quartel. Ele sabia que seu pai tinha nostalgia da vida militar, e adorava ser tratado como um sargento.

"O que é isso filho? Andou brigando de novo?" Sua mãe, Mary Winchester, se aproximou, vestida em roupa de dormir, e tocou em seu olho roxo. Dean nem piscou.

"Eu lhe garanto, mãe, que o outro cara ficou pior." Dean respondeu gaiato.

"Não aprovamos isso, filho. Está cansado de saber, que não apoiamos brigas de bar, provocações na rua, ou discussões com os vizinhos." Seu pai reclamou.

"Sinto muito, pai, mas ... eu já sou maior de idade. Posso tomar minhas próprias decisões e decidir como viver minha vida." Dean falou o mais calmo e compenetrado que pôde, para não descambar para um bate-boca com os pais.

"Queremos o melhor para você filho … Cale-se e me escute. Sua mãe e eu abrimos uma poupança em seu nome, quando era um bebê, para poder custear sua faculdade, quando chegasse a hora. A hora chegou. Este é seu último ano escolar. Queremos que você preencha os formulários para entrar em algumas faculdades. Uma delas deve aceitá-lo para que você tenha um título universitário." O pai se calou esperando para ouvir a resposta do filho rebelde. Ele estava pronto para debater aquele ponto, inclusive apelar para força física, se fosse preciso.

Dean colocou as mãos na cintura e andou daqui pra lá, com a cabeça baixa, considerando suas opções e resolveu ser honesto com os pais.

"Eu não quero ir pra uma faculdade, pai. Isso não faz minha cabeça." Dean falou ainda com as mãos na cintura.

"Ora, seu idiota! O que você pensa que está fazendo, hã?" John Winchester rosnou.

Mary colocou as mãos no peito do marido, até que ele olhasse para ela e os dois tiveram uma conversa muda, feita de olhares. Ela então se virou para o filho e perguntou: "Diga-nos quais são seus planos para o futuro, Dean."

"Eu não sei. A única coisa que não quero é me enfurnar no meio acadêmico agora. Eu quero viajar um pouco, conhecer lugares, trabalhar por conta própria, provar um pouco de liberdade. Simplesmente viver a vida. Por algum tempo, até que … eu seja obrigado a assumir responsabilidades e ter que abdicar da minha liberdade."

"Mas que fanfarrão! Seu preguiçoso, manhoso, aproveitador, irresponsável … que porcaria de filho eu criei?" John grasnou.

"Um exatamente à sua imagem e semelhança." Dean respondeu de bate-pronto.

John não contou pipoca e lhe desferiu um soco forte. Dean já esperava por isso, mas não se esquivou, caindo estatelado no chão.

"John, por favor, não!" Mary gritou.

"Esse menino não me respeita, Mary! Viu só o que ele me disse?" John reclamou.

"Vi. Acalme-se, por favor. Estamos todos de cabeça quente, cansados e é melhor falarmos sobre isso um outro dia. Está bem? Tudo bem pra você, Dean?" Mary perguntou tentando parecer razoável.

"Tudo bem, mãe." Dean respondeu se levantando e tocando de leve no rosto que já começava a inchar. Ele se dirigiu à cozinha e pegou uma bolsa de gelo no congelador, que aplicou direto sobre o rosto inchado.

Seu pai foi levado a contra-gosto pra o leito conjugal, e sua mãe fechou a porta com calma. Dean se dirigiu a seu quarto e se atirou com roupa e tudo sobre a cama, tendo apenas o trabalho de tirar as botas. Ele ficou admirando o teto, tentando acalmar o ânimo exaltado, e engolir o nó em sua garganta.


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