Acordei 6:30, quinta-feira. Abri a janela, uma névoa estranha cobria a cidade, pássaros voavam ao norte, parecia um dia comum. A cama de minha irmãzinha ainda estava ali em meu quarto. Alguns meses atrás ela foi morar com nossa avó. Ainda sentia muita falta dela.

Me vesti com uma calça jeans, uma blusa preta e minha jaqueta dos Yankees. Sai de meu quarto, como de costume meu pai estava dormindo no sofá, com muitas garrafas de bebida ao redor dele. Ele estava nu, esse era um dos motivos de minha vó ter tirado minha irmã daqui. Tomei o café-da-manhã e peguei a mochila. Enquanto andava pelo longo corredor, ia virando as fotos de meu pai com minha mãe. Nas fotos ele era um homem totalmente diferente, era um homem feliz. Minha mãe morreu em meu nascimento. Mais uma coisa para meu pai me culpar... quando cheguei no final do corredor, olhei para trás. Milhares de quadros e porta-retratos virados. Será que algum dia iria ser feliz como meu pai naquelas fotos?

Sai de casa e fui caminhando lentamente até a escola. Cheguei na escola no momento em que o sino tocou, subi as escadas em direção à minha sala, a sala estava vazia. Fui para o corredor para ver qual seria a próxima aula. Primeira aula, Educação Física. Ótimo. Na maioria das vezes quando se fala de Educação Física, a maioria das pessoas imagina um monte de adolescentes cheios de espinhas correndo em círculos, mas naquela escola, não. Lá, Educação Física se trata de uma “aula intervalo”, cada um fazia o que quisesse, o que para mim era sempre ler. Retornei para a sala sentei na última carteira da última fileira, onde era meu lugar, peguei meu livro e continuei a lê-lo. Nas seguintes aulas? Nada interessante.

O sino toca e lá vou eu seguir o caminho de sempre para casa. Como na rotina, pensei. Ter uma rotina não é nada legal, você acorda, vai para escola, volta para casa, passa o dia inteiro no computador e na TV (ou lendo) e no dia seguinte se prepara para repetir tudo novamente, e no outro dia também, e no outro, e no depois do outro e assim vai até... bom até sempre, eu acho. Desde que me conheço por gente, eu tenho uma rot...

BUM!!

Um Pégaso! Tinha algo no meu café? Eu usei drogas? Eu não sei, a única coisa que sei é que um Pégaso pousou em cima de um Honda, e acabou destruindo-o. O Pégaso era lindo, a plumagem de seu corpo era escura, mas suas asas, eram brancas como papel higiênico, antes de ser usado, é claro. Ok, tenho que admitir que essa não foi uma comparação muito legal. Espere, um sátiro estava o montando! Ok, eu só posso ter fumado. Continuei andando, como se nada estivesse acontecendo. Até que o sátiro saiu correndo atrás de mim.

– Ei! Espere, você é Charlotte Collins?

Um sátiro estava falando comigo?!

– É.... sim

Eu estava quase desmaiando.

– Ótimo, voei toda a cidade te procurando!

Como se a cidade de Temecula fosse muito grande. SIM! O nome da cidade em que moro é Temecula, é estranho, mas fazer o que, né? Espera, porque o sátiro estava me procurando?

– E quem é você?

– Eu sou Hedge. Gleeson Hedge!

– Como você me conhece?

– É uma longa história...

– É.. Então... me diga uma coisa, eu estou bêbada?

– Eu não sei. Acha que sou adivinho? Você bebeu algo?

– Não.

– Então você não está bêbada.

– Mas então porque eu estou falando com um sátiro?

– Ah, entendi. Quando chegarmos no Acampamento alguém te explicará tudo. Suba no Pégaso.

Decidi que eu estava sonhando. Vamos explorar este sonho. Subi no Pégaso e decolamos, sabe-se lá para onde esse sonho vai me levar...

Como estava muito cansada acabei dormindo. Espera. As pessoas dormem enquanto sonham? Mais uma pergunta: As pessoas sonham enquanto sonham? Pois eu estava sonhando! DENTRO DO SONHO! E não foi um sonho lá muito legal.

Começou com o planeta Terra, milhares de estrelas e galáxias flutuavam ao redor. Depois, foi dando zoom, até mostrar minha familia. Todos estavam lá, meus avós, primos, tios..., mas a única pessoa que me importava no meio de todas aquelas pessoas era minha irmãzinha. Tão pequenina no meio de gigantes. De repente todos começaram a desmanchar... em sangue. Depois, foi tirando o zoom e todo o planeta, o universo estava desmanchando. Tudo ficou escuro. Abri os olhos. Estava sentada em uma cadeira de madeira, a sala em que estava era toda escura, a única iluminação era um lustre em cima de minha cabeça. Tentei sair, mas notei que minhas mãos estavam amarradas atrás da cadeira. Olhei ao redor e não vi ninguém, estava tudo preto.

– Você os abandonou! – Gritou uma voz grossa e distante – Eles precisavam de você e você os abandonou!

Acordei. Ainda estava montada no Pégaso. O sátiro a minha frente.

– Se você dormir mais uma vez em minhas costas, juro que te jogo desse Pégaso!

O Pégaso relinchou.

– Foi mal. Estava cansada.

– Percebi. Já passamos da metade do caminho, mais alguns minutos e chegamos.

– Onde estamos indo?

– Para o acampamento.

Ok, ajudou muito. Comecei a me questionar se aquilo era que era mesmo um sonho.

– E onde fica esse tal de acampamento?

– Nova Iorque.

– Ata. – Falei como se fosse algo normal, como se o maior sonho da minha vida não fosse ir para Nova Iorque – No Brooklyn?

– Não, em Long Island.

– Achei que lá só tinha mato.

– Toma. – Ele me deu um pacote do Mc Lanche Feliz.

– Valeu. – Apenas quando comecei a comer notei a fome que estava sentindo. Devorei tudo em uma velocidade incrível.

A mensagem daquele sonho ficava ecoando em minha mente. E se aquilo não fosse apenas um sonho? E se eu tivesse realmente abandonado minha familia? Bom ainda não saímos do país se caso eu quiser voltar, eu volto, pronto. Se bem que eu acho que não sentirei falta da minha familia, nunca fui muito apegada a eles. Exceto à minha irmã.

De repente o Pégaso começa a descer.

– Já estamos chegando?

– Sim.

– Qual o nome desse acampamento?

– Acampamento Meio-Sangue.