Passo correndo pela escola, sem querer que ninguém me veja. Incontáveis minutos de correria se arrastam até eu chegar a um banheiro e me trancar em uma cabine.

“O que raios aconteceu noite passada?” Era a única coisa que se passava na minha cabeça.

Eu não queria falar com ninguém, e ao mesmo tempo queria que eu tivesse algum amigo nesse inferno para me encher o saco perguntando se eu estava bem, porque eu acho que só o fato de alguém se importar comigo assim já me consolaria demais.

Agora a pergunta é: Me consolaria do que?

Não consigo processar o que aconteceu lá em casa. Aquela piranha obcecada em cima da minha melhor amiga. Eu estou com medo do que ela pode fazer com a Kylie...

Eu queria poder bater naquela cabeça de vadia dela com uma frigideira bem grande. Mas o jeito que ela age... Ela é tão... Assustadora...

Nos tempos que meu pai era professor de psicologia, eu aprendi algumas coisas olhando o material de aula dele. E eu tenho quase certeza que Ashley tem uma doença mental muito fodida pra ela agir como uma obcecada possessiva sobre a Kylie. Mas, acima de tudo, eu sei que se eu agir, eu posso não... Ter história para contar depois...

DROGA! Por que isso foi acontecer justo comigo? Sinto vontade de quebrar a porta vagabunda da cabine do banheiro. Em tantas pessoas no mundo, porque justo eu fui esbarrar em uma siliconada obcecada como essa piranha da Ashley? As perguntas eram tantas, que eu decidi que ficar sentada na cabine de banheiro não ia resolver merda nenhuma. Abro a porta, lavo o rosto, e vou para a aula.

Passo o tempo todo sem prestar uma mísera atenção à aula. Quem precisa saber como se resolvem equações complicadas quando você está na mira de uma garota doentia e obsessiva?

No fim da aula, eu estava completamente esgotada de tanto pensar no que podia acontecer comigo, e principalmente com a Kylie.

Não me interessa mais se ela é uma pervertida retardada, ela não merece ficar nas mãos daquela vaca da Ashley!

Quando eu estava saindo para pegar meu almoço miserável na mochila, com a sala completamente vazia e a professora já tendo saído, percebo que a mesma maldita loira oxigenada se aproximava de mim rapidamente, fazendo o barulho de sua bota de salto ecoar pela sala vazia.

Tento escapar, mas ela novamente me empurra contra a parede, e me força a encarar aqueles olhos castanhos escuros, sem vestígio algum de brilho ou humanidade. Percebo também alguns traços avermelhada perto de sua pupila, o que a dava uma aparência ainda mais aterrorizante.

Ashley, enquanto me prende na parede com uma mão, ela fecha a porta com a outra, e tira um canivete do bolso, me fazendo recuar covardemente contra a dura parede.

—Vocês planejaram tudo, não é? –Ela libera a lâmina do canivete- NÃO É?

Não respondo nada, apenas me prenso contra a parede covardemente.

—Escute as minhas palavras, Zoey. Se você sequer respirar o mesmo ar que ela, eu vou saber, e vou vir até você, para retalhar essa sua carinha de trouxa. ME OUVIU? –Ela me ameaça, deixando a pequena, porém afiada, lâmina do canivete ainda mais perto do meu corpo.

—Se a Kylie não vir para a escola de novo, eu vou te matar também. Não ouse ficar no nosso caminho, você sabe muito bem as consequências.

Nos finais milésimos de segundos que Ashley me forçaria a encarar aqueles olhos ameaçadores, no intervalo de tempo que ela já estava indo embora, chuto sua perna esquerda com tudo, e saio correndo da sala em disparada, sem olhar para trás.

Eu não fazia ideia para onde ir, só corria o mais rápido possível, até colidir contra alguém.

O impacto não nos fez cair, mas foi consideravelmente dolorido. Não fazia ideia de quem era até abrir meus olhos e ver Sam, provavelmente a única pessoa que me considerava uma amiga nessa escola.

—Zoey! V-Você está bem? –Sam pergunta meio envergonhado, enquanto eu tinha ofegava por causa da falta de ar de tanto correr. Minhas mãos ainda tremiam, e meu coração disparava tanto que eu achava que ia ter um ataque. Visto que estávamos em um corredor com câmeras, eu provavelmente estaria mais segura. Acabo caindo praticamente em cima de Sam, e ele fica muito acanhado por isso, mas eu não ligo.

—S... Sam... -Digo enquanto recupero o fôlego respirando pesadamente- Me ajude...

Lágrimas vêm aos meus olhos, não apenas pelo fato deu estar com medo, mas também pela vergonha de estar tão perto de um garoto.

—Z-Zoey... O que houve? –Ele me pega pelos ombros, e me afasta um pouco, também visivelmente envergonhado.

—A Ashley... Ela é louca... Ela estava ameaçando me matar na sala de aula agora a pouco... Ela é obcecada pela minha amiga Kylie... Ela... Ela...

Começo a me sentir mal, provavelmente pelo excesso de adrenalina de ser ameaçada por uma psicopata dos infernos e chutá-la logo em seguida.

—Zoey, o que aconteceu? Você tá pálida...

—S-Sam... Se eu te contar, você promete que acredita em mim? –Continuo dizendo em meio de lágrimas de nervoso.

—Eu acho melhor você relaxar um pouco antes, vamos lá pra fora, pra você tomar um ar.

Sam me leva para fora da escola e nós nos sentamos em um dos bancos do pátio, que estava vazio. Respiro fundo, para estabilizar o nervosismo.

—O que aconteceu com você, Zoey? –Ele me pergunta com um ar preocupado.

—A Ashley... Aquela garota loira com mechas rosa nas pontas do cabelo... Ela tá namorando a minha amiga...

Sam parece ligeiramente chocado por alguns segundos.

—C-Certo, ela está com a sua amiga... O que tem de mais?

—Elas passaram a noite no sofá, eu não sei o que aconteceu... Mas em resumo, ela é perigosa, louca e doentia... E-Ela me ameaçou...

No instante em que disse as últimas palavras, tapo minha boca e fico completamente vermelha. Por que eu estava contando isso para alguém que eu não conheço?

—Você... Não vai contar o resto?

—N-Não! Por que eu contaria? Nós nem nos conhecemos direito!

—Zoey... Você provavelmente não quer ouvir isso... Mas se você quer que eu te ajude, vai ter que me contar o que aconteceu... –Sam cora suavemente e diz. Respiro fundo, e olho para ele.

—D-Desculpa... Eu acho que eu nunca nem tive amigos direito... –Digo completamente envergonhada.

—Eu tenho certeza que você já teve amigos sim. –Ele diz, o que me faz corar e sorrir. –Olha, se a Ashley é tão doentia sobre a sua amiga, porque você não denuncia ela?

—E-Ela ameaçou me matar... Ela... Pode machucar a Kylie... –Digo, sussurrando a última parte, que mesmo assim foi ouvida por Sam.

—Você... Por acaso gosta dessa Kylie? Meu rosto imediatamente começa a brilhar em vermelho.

—N-NÃO É DA SUA CONTA! -Grito, por puro reflexo- Ah...! D-Desculpe...

Sam olha para mim e sorri.

—Zoey, eu sei que deve ser terrível discutir sobre isso com um cara que você mal conhece, mas... Se você gosta dela assim, você deveria arrumar um jeito de proteger ela da Ashley...

Fico encarando as árvores que ficam em volta do pátio, um pouco envergonhada, mas ainda assim consolada por ter conversado com Sam.

Eu ainda não sabia como as coisas vão prosseguir, com uma psicopata doentia atrás de mim, e o fato deu estar correndo risco de vida.

Mas pelo menos, uma coisa deve estar certa nisso tudo.

Talvez eu realmente goste da Kylie...