Abro meus olhos. Era outro sonho, tinha certeza disso. Mas dessa vez, ele estava diferente.

Eu não estava mais em um lugar sem nada, eu me encontrava em uma floresta, amarrada em uma cadeira de madeira que aparentava ser velha.

O céu estava escuro, e era impossível de ver qualquer coisa além de uma lua coberta pelas sombras de nuvens. E, apesar da noite parecer quieta, eu conseguia escutar o vento uivando.

“Zoey-Chan, onde está você?” Uma voz, parecida com a de Kylie, chamava por mim “Eu me perdi na floresta, me ajuda, por favor!”

Uma silhueta se aproximava, e era ela mesma.

“E-Eu estou aqui! Posso te ajudar, só preciso que...” Tento respondê-la, mas a Kylie à minha frente apenas me encara em confusão.

“Eh? Mas você não é a Zoey-Chan, é~?” Ela se aproximava de mim, e conforme chegava mais perto, eu conseguia ver que seus olhos estavam vazios, e sangue deslizava pelas suas bochechas “Você é só uma covarde”

Ela pousa as mãos nos meus ombros, e me empurra para um abismo. Risadas maníacas começam a ecoar pelo nada, e eu escuto o vento sussurrar a palavra “imprestável”
Até eu cair no vazio

.           .           .

Levanto em um pulo, suando frio e respirando pesadamente.

—AH! –Alguém grita, e eu consigo ouvir o som de uma lâmina cair no chão. Rapidamente acendo a luz do abajur ao meu lado, e a pessoa do meu lado era...Annie?!

—Zoey, você...! –Ela olhava para mim como alguém que tinha visto um fantasma –Você...tá...

—Como você entrou na casa da Amelia? E por que você tava segurando uma faca?!

Annie continuava a me olhar assustada, tremendo incansavelmente.

—Você...tá...viva –Ela gaguejava, enquanto respirava pesadamente.

—É sério, o que tá acontecendo aqui? –Me levanto da cama, ainda defensiva.

—Eu... –Annie para por alguns segundos para recuperar o fôlego –Eu tinha visto você...m-morta...

—Do que você tá falando?

—Eu e-estava saindo da sala do conselho estudantil, e...a-alguém tinha te matado, c-cortado a sua cabeça, e...p-podia ter sido a Amelia, não é...?

Ela olhava para o chão, aparentando estar completamente frágil. Como assim ela tinha me visto morta? Eu tô entendendo cada vez menos disso...

—Annie, você tá passando bem? Eu estou aqui na sua frente, e estou viva! E por que você tem tanta implicância com a Amelia? Ela não te fez nada!

—Mas...ela...ah...-Lágrimas rolavam pelo rosto dela –Ela podia...

—Ela não podia nada, você que tem essa paranoia doente pra cima dela! Você ia matar ela!

Annie respira fundo, mas continua a tremer. “O que tem de errado com ela?” eu pensava.

—De...descul—

—O que está acontecendo? –Amelia surge atrás de Annie, com uma arma apontada para a cabeça dela.

—AH! –Annie se assusta, e se vira para ela –D-Desculpa, e-eu não...!

—Como você entrou na minha casa? –O revólver continuava na mira da cabeça da Annie.

—Eu...eu achei que...

—Quer saber, não interessa! –Eu conseguia ver que a mão de Amelia tinha ficado mais firme sobre o gatilho –Vai embora agora, antes que eu estoure os seus miolos!

Trêmula, Annie sai do quarto o mais rápido que conseguia, e Amelia fecha a porta, analisando a tranca.

—Eu esqueci de trancar, não acredito –Ela suspira, enquanto segura a arma na outra mão –Pelo menos foi tudo bem.

Amelia tranca a porta, e depois volta até o seu quarto, com eu fazendo a mesma coisa até o quarto de hóspedes.

Tento voltar a dormir, mas uma dúvida não queria calar.

Por que a Amelia parecia tão diferente enquanto segurava a arma?

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Os dias tem passado rápido, mas fora isso, poucas coisas mudaram desde aquela noite em que a Annie apareceu do nada na casa da Amelia.

Percebi que além de andar com a Lucy, a Annie estava andando com a Kylie também, esses dias. Isso me dava um sentimento estranho... E me fazia me sentir culpada de todas aquelas brigas que já faziam dois meses desde que aconteceram.

Mais uma vez, o ano já estava chegando ao seu fim. Isso me deixava ansiosa, e...meio nostálgica?
Eu me lembro da minha última noite de ano novo. Ah, se eu me lembrava. Aquilo tinha sido a melhor noite da minha vida...

De repente, começo a sentir um sentimento de culpa enorme. Ah meu Deus, o que eu fiz? Eu joguei todas aquelas memórias no lixo. Os abraços, as conversas, a amizade, a confiança, o amor...

Levo minhas mãos à cabeça. O que foi que eu fiz?

Não é possível. Como eu fui tão idiota? Eu era tão feliz com a Kylie, mas acabei me seduzindo por uma qualquer, uma garota que eu nem conhecia! Eu não acredito...

Eu precisava acabar com isso. Parar de ver a Amelia. Pedir desculpas para a Kylie. Recuperar a confiança dela. Pedir desculpas à Annie, por ter ignorado todas as vezes que ela demonstrava se importar comigo. Eu precisava destruir esse ciclo de desgraça que eu tinha criado.

A Kylie estava certa. Eu sou uma covarde. Eu sei que eu já me sentia arrependida de tudo isso desde o início, afinal, nunca pareceu certo ficar com a Amelia. Mas eu fiquei com medo de saber o que a Amelia iria pensar de mim. Fiquei com medo de não saber pedir desculpas, e tudo só foi se aprofundando e aprofundando, tanto que eu comecei a pensar que era assim que ia terminar, e que eu deveria me contentar com isso.

Mas agora, eu iria consertar tudo. E eu vou começar isso por pedir desculpas para a Kylie.

Eu respiro fundo, enchendo meus pulmões de ar. Energia se espalha pelo meu corpo. “É hora de fazer a coisa certa” Eu pensei.

Começo a correr. Meus passos ecoavam pelos corredores da escola, enquanto eu procurava pela Kylie.

Finalmente, eu a encontro, no meio de Lucy e Annie, conversando sobre algo.

—Kylie, espera! –Chamo pela sua atenção, e o grupo para.

—Zoey-Chan! –Seus olhos azuis se enchem de esperança, mas ela logo muda sua expressão, tentando parecer séria –Quer dizer...oi, Zoey.

—Olha, eu sei que eu falei um monte de coisa estúpida pra você. E eu me arrependo mesmo disso tudo, eu ainda gosto de você, Kylie. Eu vim aqui para dizer que eu realmente, do fundo do meu coração, quero que você me perdoe.

Os olhos de Kylie se enchiam de lágrimas, e ela parecia estar cheia de felicidade novamente. Seu sorriso semi-escondido me enchia de esperança. Esperança de que eu conseguiria ser perdoada.

—Ah meu Deus, Zoey, eu... –Ela começa uma frase, mas Annie a encara com um olhar gélido, capaz de congelar fogo –Quer dizer, eu...Não consigo confiar em você ainda, desculpa. Eu preciso saber que você terminou toda a sua relação com a Amelia primeiro.

—C-Certo, eu vou fazer isso! –Respondo, determinada –Me espere!
Consigo ver Kylie sorrindo em resposta, para depois sair andando. Pego o meu telefone, a mandando uma mensagem para Amelia, pedindo para encontrá-la no pátio depois da aula terminar.

“Ok, a gente se vê lá :)” Ela responde.

E eu, mais uma vez, respiro fundo.

Tudo vai dar certo de novo.