Fazem dias desde a última vez que Zoey-Ch...quer dizer, Zoey, voltou para casa antes do jantar.

Suspiro enquanto preparo um miojo. Desde que ela arrumou um emprego naquele café, a Zoey que eu conhecia...A garota fiel e gentil de quando eu tinha oito anos...

Ela desapareceu.

Nós quase não trocamos palavras mais. Ela só chega em casa com um sorriso grande...E vai para o quarto dela.

O que aconteceu...? Me pergunto se foi culpa minha. Será que foi? Mas eu não me lembro de ter feito algo errado...

A menos que...

Será que foi outra pessoa? Tem que ser. Mas o que será que essa “outra pessoa” fez? Será que...

Zoey estava fazendo algo pelas minhas costas?

Assim que esse pensamento brota na minha cabeça, todos os anos de amizade, todo o amor e confiança...Tudo o que eu sentia pela Zoey, pela Zoey-Chan, pareceu desaparecer. Com a mão trêmula, aperto o colar que ela me deu quando começamos a namorar. Não, eu preciso tirar isso a limpo.

Pego o meu celular e observo a hora. Zoey sairia do trabalho em dez minutos. Se eu corresse, eu ia conseguir chegar na hora que ela sai.

É isso que eu faço. Calço meus sapatos, e disparo para fora do apartamento. Eu só preciso ser um pouquinho mais rápida do que normalmente sou, e aí eu...

...e aí eu...

A corrida logo terminou quando eu vi a cena que acontecia na frente do café. Eu não conseguia mais sentir meu corpo. Eu não conseguia sentir nada. Era como se eu estivesse morta.

Logo, as lágrimas começam a se formar nos cantos dos meus olhos. Meu corpo inteiro ainda insistia em falhar, mas dessa vez, eu conseguia sentir os tremores, a fraqueza, em todos os meus membros.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo.

Zoey, a pessoa que eu mais amava e confiava no mundo, estava forçadamente encostada na parede, com seus lábios se encostando nos de outra garota. Para minha infelicidade, eu consigo reconhecê-la. Era Amelia. A garota do olhar frio. A irmã mais velha da Alice.

Consegui sentir meu sangue ferver ainda mais assim que Zoey volta seu olhar para mim quando Amelia a solta e desata a correr. Eu ainda não conseguia acreditar.

—De...Depois de tudo que nós fizemos juntas...? –Era a única coisa que eu conseguia dizer no momento –D-Depois de tanta coisa que passamos...? Você ainda tem coragem de me trocar por uma garota que você mal conhece...?

As lágrimas desciam dos meus olhos com tanta velocidade que eu não as sentia cair. Quase desabo no chão, mas não, não poderia jogar fora o orgulho que eu ainda tinha. Eu iria ficar em pé, mesmo que toda a tristeza me consumisse...

—E-Espera, você entendeu errado! Foi ela que—

—Ela que te beijou, certo? Ha...ha... –Meu ódio se transformou em um sorriso –Você nem se incomodou em empurrar ela para longe, não é? Patético...

—Kylie, não foi minha cul— Ela tenta tocar em mim, mas eu afasto sua mão por um tapa que ecoa por toda a rua. Por que havia tão poucos carros agora...?

—Covarde –A respondo, amargamente –Você é uma covarde. Até para me trair você precisou de alguém para tomar a iniciativa. Se não fosse eu, você nem estaria aqui, porque apesar de todos os seus esforços...

Zoey estremecia e chorava em silêncio, parada no mesmo lugar. Mas eu não me importava. No fundo, eu estava triste e com medo de perder ela, e esperava que alguém aparecesse para me ajudar de alguma forma. Mas, obviamente, ninguém veio. Então eu só continuei lá, despejando minha raiva nela. Me afogando no meu próprio orgulho.

—...apesar de todos os seus esforços, você é uma imprestável.

Sinto mais tremores percorrerem meu corpo assim que a palavra normalmente dita por Annie sai da minha boca. Era como uma facada.

—...está tudo acabado, não vou continuar com isso para te ver me trair de novo... –As lágrimas não paravam de deslizar pelas minhas bochechas, então me viro de costas, e puxo o colar de coração do meu pescoço até o arrebentar. Sinto a pele no lugar onde ele estava arder, mas não me importo.

Nesse momento, eu só queria ir para casa.

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Que horas eram? Eu não tinha ideia. Mas com o silêncio do apartamento, eu conseguia ouvir alguém fracamente bater na porta.

Permaneço deitada no sofá. Será que era Zoey, querendo voltar para casa? Ah, Deus, o que eu fiz? Eu tranquei o apartamento assim que cheguei, então ela não poderia voltar para casa...Ah, droga! Por que eu tinha que ser tão orgulhosa? Zoey eu...e-eu já sinto a sua falta...

A pessoa que estava na porta continuava a bater, cada vez mais fracamente. Com altas esperanças de ser Zoey, eu a abro.

Mas não era ela.

Na minha frente estava uma garota de aparência fraca, com longos cabelos pretos e um tapa-olho que cobria o olho direito. Ela usava roupas surradas e escuras que cobriam quase seu corpo inteiro, e sua pele era bem pálida, de um jeito não muito saudável, provavelmente.

—De...Desculpe p-por bater na sua casa agora, mas... –Ela prosseguia, com a voz ainda mais fraca que a batida na porta –E-Eu realmente preciso de um lugar para p-passar a noite...

Seguindo o que eu normalmente faria, eu abro a porta para a garota, e a entrego um cobertor para que ela dormisse no sofá da sala, desapontada por ela não ser Zoey.

Assim que eu me dirigia de volta ao meu quarto, a garota chama pela minha atenção.

—E-Espere...! –Assim que me viro, ela se encolhe um pouco –Um...E-Eu vi você brigar com a outra g-garota na rua...

Continuo a encarando a visitante estranha, que se encolhia e evitava olhar nos meus olhos.

—P-Perdoe ela...V-Vocês não sabem com quem vão ter que lidar...Vocês serão mais fortes j-juntas... –Poucos segundos depois de falar essas palavras, ela se encolhe ainda mais e consigo vê-la estremecer.

—U-Uhm... M-Meu nome é Maika, se quiser saber... –Maika se indireita um pouco –Olha, eu prometo que vou ir embora antes de você acordar para ir para a escola, mas... E-Eu sei de algumas coisas, e queria pode ajudar...

Maika me entrega um pequeno papel com um número de telefone e depois pede desculpas pelo incômodo. Eu simplesmente vou ao meu quarto e volto a me deitar.

Mas quem disse que eu ia conseguir dormir com tanta coisa pesando na minha cabeça?

.           .           .

No dia seguinte, eu acordo ao som do meu alarme. Eu tinha demorado muito tempo para dormir, e não tinha descansado mais do que duas horas.

Entro no banheiro e lavo o rosto. Levanto minha cabeça para me olhar no espelho, e sinto um calafrio por uma fração de segundo.

Eu jurava que ao invés do meu reflexo, eu tinha visto o rosto de Ashley.

Começo a respirar com dificuldade, e olhar para todos os lados do banheiro, com medo de ver outra coisa pior. Decido sair do banheiro e olhar a sala.

Surpreendentemente, não tinha nenhum vestígio da garota que apareceu aqui noite passada. Maika era o nome dela, certo?

Suspiro. Provavelmente era uma alucinação.

O que está acontecendo comigo?

Eu não tinha vontade de fazer nada, mas mesmo assim me visto e vou para a escola. Zoey tinha que estar lá, certo? Eu sentia que se eu falasse com ela, eu ia me sentir melhor...

Mas como eu estava errada.

Eu simplesmente a vi na distância, junto da Nikki. Sem vontade nenhuma de me aproximar delas, eu continuo meu próprio caminho.

O caminho que não me levaria a lugar nenhum.

Ah, eu sou realmente uma idiota. Eu nunca deveria ter brigado com a Zoey. Eu ainda amo ela, é a minha culpa que tudo isso está acontecendo, eu tenho certeza.

Além dela e Nikki, não tem mais ninguém que eu possa contar aqui. Ninguém é meu amigo como elas. Ninguém aqui se importa comigo...

Subitamente, sinto alguém me puxar pela manga do meu casaco.

—H-Hey, idiota, v-você não está sozinha.