Tiago não tentou nenhum contato comigo. E eu também não. Achava que ele deveria estar bravo comigo por ter o deixado lá, então não conversamos.

Se eu lembro-me bem, naquela sexta, a mãe de Tiago passou lá em casa falando que o pequeno grupo havia sido cancelado e ela perguntou como eu estava e pediu desculpas.

A semana seguinte, fora a das provas. Eu recebi, no dia da prova de Matemática, o teste. Tirei noventa por cento, nem tinha acreditado, mas eu senti falta de falar com Tiago e vê-lo feliz por mim. E depois, saíram os resultados e as minhas notas foram a terceira maior da sala! Para uma pessoa que tinha acabado de chegar, foi muito bem. A primeira pessoa foi o Tiago, mas durante a semana de provas eu não o vi.

O esquema na semana de provas era separar os alunos em salas diferentes, mas Tiago não foi nenhuma vez na minha. Eu precisava manter o foco para passar bem o segundo ano.

Eram as últimas provas do ano. Já estava respirando o ar do terceiro, o último ano do ensino médio.

Estava ajudando a minha mãe a levar a compra do carro para casa e foi ai que ele veio conversar comigo.

—Pode deixar, daqui pra frente é comigo.- Minha mãe disse levando as sacolas para dentro.

—Está com medo?- Perguntei a ele.

—Morrendo.- Ele sorriu.

—Para, isso não é engraçado.- Eu falei com autoridade.

—Eu tenho medo de não ficar com você.- Lágrimas começaram a rolar nas bochechas dele.

—Vem aqui.- Ele se aproximou de mim e nos abraçamos.- Isso não acontecerá.- Nós choramos juntos.

**

Os ensaios aconteceram muito bem. Todos os atores melhoraram de forma muito produtiva. Tiago estava muito feliz.

Foi num domingo que saímos mais uma vez. Fomos passear na lagoa.

—Você está bem?- Eu perguntei a ele, por mais que ele esteja doente.- Pode parecer uma pergunta estúpida.

—Não. Está bem. Eu me sinto melhor. Você tem me ajudado a ficar mais saudável.- Ele me deu um selinho.- Agora, sem mais notícias ruins.

—Posso te pedir uma coisa?- Eu perguntei, me lembrando que estava louca para ouvi-lo cantar.- Canta para mim?

—Agora?- Tiago ficou surpreso.- Sério mesmo?

—Sim.

—Qual?

—Qualquer uma.- Eu disse, sorrindo. Estava muito feliz.

—Ok, vou cantar.- Ele tossiu.

A música era:

“Triste estou por ter perdido

A inocência pura que vivi

Pedaços que de mim caíram

Pareciam ter caído no vazio.

Mas Deus ouviu

Quando eu clamei

Quando pequei

É feliz quem já chorou

Ao perceber que é pecador

 Ao clamar por perdão

Meus pedaços, Deus juntou.

Tão longe caminhei sem ter Deus

Até o respeito próprio eu perdi

Tentando procurar saídas

Na mesma armadilha, eu cai.

Mas Deus ouviu

Quando clamei

Quando pequei

E a fórmula de vida

Que resiste a tentação

É buscar por Sua palavra

Se render em oração

Eu nem mesmo tenho forças

Pra enfrentar quem já perdeu

Minha armadura é Deus.”

—Gostou?- Ele falou quando terminara de cantar.

—Amei!- Eu disse e dei um abraço e um beijo nele.- Eu aceito o seu convite de um dueto.

—Sério?- Ele deu o seu lindo sorriso.- Fico muito feliz. Agora você canta.

—E-Eu? Não sei nenhuma música gospel.- Eu respondi.

—Canta qualquer uma então.- Ele estava pedindo com uma linda cara.

—Vou fazer o seguinte: vou ensaiar uma música que tocar o meu coração, ok? E cantarei para você.

—Para mim será muito bom ouvir você cantar.- Ele me deu um beijo na boca.