You escrita por PepitaPocket


Capítulo 26
Decisões


Notas iniciais do capítulo

Meus sinceros agradecimentos, para quem acompanhou a fic, em especial ao Androide 17 que foi aguardou pacientemente o término de um hiato que durou cinco anos. Aos demais leitores que favoritaram e acompanharam, obrigada pelo apoio silencioso. Mas, se quiserem se manifestarem agora, nunca é tarde xD
Boa leitura a todos!!!



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O tão aguardado dia da viagem tinha enfim chegado.

Três dias haviam se passado, desde que ela vira a mensagem e Rangiku, e ela ainda não sabia o que fazer.

”Inoue-san, eu errei. Ichigo estava beijando Senna, sim. Mas, era uma despedida. Eles terminaram tudo.”

Mas, o que era para ajeitar as coisas, acabou piorando tudo. Porque para Inoue não mudava o fato dele ter beijado outra, quando eles estavam começando um relacionamento.

Além do mais, havia o modo escroto que Ichigo havia agido, com Ishida-kun. E, para completar ele nem se dignara a procura-la naqueles dias.

Por isso, ela estava lutando com seu coração idiota, para não ceder e ir atrás dele. Mas, a vontade ainda estava lá, atormentando-a, e nublando sua capacidade de racionar.

”Acabou, Kurosaki-kun”. – Ela disse mais para convencer a si mesma, que tudo tinha terminado de uma vez.

— Está tudo bem? – Tatsuki perguntou a olhando com intensidade, mas Inoue não queria estragar a viagem que nem tinha começado ainda oficialmente.

Visitar a mãe de sua melhor amiga em outro país, seria uma experiência única para Orihime. O que estragava é que ela estava com o coração quebrado, mas não dava para ter tudo na vida.

...

Uryuu enfim estava instalado em seu novo apartamento, que ficava apenas uma quadra do prédio de Tatsuki, ainda assim não era perto o bastante.

Ele queria a chance de vê-la, falar com ela, convidá-la para tomar um suco, apenas para ficar olhando-a. Não precisava nem dizer nada, mas ele sabia que ela precisava de um espaço, e ele estava dando a ela, o tanto que podia.

Mas, era doloroso ser a parte enxotada da relação.

Ele nunca foi uma pessoa emocional, sempre agiu pela razão, mas aquilo estar acontecendo com ele, era totalmente ilógico.

Para ele quando duas pessoas se gostavam, era só ficar juntos.

Não havia porque se colocar empecilhos, mas Tatsuki arranjara um que ele não conseguia nem mesmo entender.

Então, só lhe restava esperar. Não o faria a vida inteira, é claro.

Mas, algum tempo... E, isso já seria tortuoso o bastante.

Ele pensara olhando sua espaçosa sala, ainda desprovida de móveis. Estava aguardando o retorno de Tatsuki, para eles escolherem os  móveis juntos.

Ele nem trabalhava com a ideia de ele não querer ainda.

Seria um duro golpe para ele.

Preferia tentar pela primeira vez, e ser otimista, pois racionalmente ele tinha tudo sobre controle, e o resto dependia da tonta da Arisawa.

Foi quando seu celular tocou, e uma chamada inesperada mudou seu modo de pensar.

Ele não poderia mais esperar.

...

— Isso foi tão repentino. – Urahara dissera depois de estacionar o carro, e olhar seu afilhado pelo retrovisor.

— Nada dá certo para mim aqui, Urahara-san. – Ele disse ainda mais carrancudo.

— Preciso encontrar meu caminho, caminhar com minhas pernas... – Ichigo disse coçando a cabeça. – Você tem sido maravilhoso, mas não posso continuar dependendo de sua bondade.

Ele disse em referência, ao fato que era Kisuke quem pagava o tratamento de Isshin, com a promessa que ele e suas irmãos iriam reembolsá-lo, mas isso parecia cada vez mais fora de realidade, para os três.

Ainda por cima, ele ajudava a custear seus estudos, e lhe dera a oportunidade de estágio, quase de bandeja, sendo que ele nem preenchia metade dos requisitos.

Se tinha uma coisa que o seu relacionamento com Orihime havia lhe ensinado, é que perto dela ele era um fracasso.

E, dizer isso em voz alta seria humilhante.

Mas, nem precisava, pois isso estava em seu olhar.

— Ichigo, um ser humano pode perder qualquer coisa no mundo, menos a capacidade de acreditar em si mesmo.

Kisuke disse levando a mão ao ombro de seu afilhado, querendo muito que ele recuperasse a capacidade de se levantar dos tombos e seguir em frente.

Afinal, a vida era isso.

Porém, tudo que recebeu de volta, foi um olhar de incredulidade.

— Prometo, não demorar.

Ichigo disse tragando com força o ar, pois precisava de coragem, para o que iria fazer.

Mas, não poderia ir embora, sem se despedir de seu velho.

Ele pensou quando parou em frente ao sanatório que havia sido a casa de seu pai nos últimos anos.

...

Seguiriam de carro até Tóquio, e levariam cerca de 4h de viagem. Depois, pegariam um avião, direto a Los Angeles, e ficariam quase 12h no ar.

Depois, a mãe de Tatsuki pegaria elas no aeroporto, e teriam mais 6h de viagem até Sacramento, que era a cidade que Tsume Arisawa estava morando, há alguns anos.

Quanto mais se aproximava, do aeroporto, mais a barriga de Orihime doía, por causa do nervosismo.

Ela assistira centenas de filmes, em que viagens de avião não terminavam bem. Já se imaginava uma personagem, da série Lost, presa em uma ilha deserta, sem poder carregar seu celular, para olhar a foto do Kurosaki-kun com as orelhinhas de Mickey.

Quase chorava pensando nessa hipótese, mas então o anuncio do horário do embarque chamou, e ela foi só se dar por conta, quando os braços carinhosos de Unohana haviam a envolvido.

Ao seu lado, estava sua filha Isane Retsu, que talvez era parte do motivo dela gostar tanto de si, ambas se pareciam, tanto que Inoue sentia que tinha ganhado uma nova amiga. Além do mais, ela percebeu que sua chefa não estava usando sua aliança de casamento, só que Unohana parecia feliz com isso, diferente dela que só conseguia pensar em Kurosaki, mesmo sabendo que não devia.

“Meu irmão, não vai gostar”.

Inoue fechara os olhos fazendo uma oração sincera, a memória daquele que mesmo morto, continuava sendo seu alicerce.

...

Ele estava sentado no jardim, em uma cadeira olhando para o horizonte. Seu cabelo preto bagunçado, ainda era muito característico, e lembrou-lhe quando ele era criança e queria ter o cabelo igual ao dele.

Isshin havia envelhecido, mas seus olhos estavam serenos, como nunca estiveram.

Como sempre, Ichigo sabia que seu corpo estava ali... Mas, sua mente já não mais estava.

De certa forma, morreu no mesmo acidente que matou Masaki. Depois daquilo ele tornou-se uma carcaça estranha que se locomovia como Isshin, falava como Isshin, mas não era ele.

Nas pequenas atitudes, ele deixou de existir... Até que nas grandes, também já não era ele.

Ali sentado naquela cadeira, agarrado ao retrato de sua esposa e de seus três filhos, o homem era como uma projeção do que ele próprio poderia se tornar, se continuasse fazendo tanta merda com sua vida.

— Perdão, meu jovem, mas eu conheço você? – Ele olhou para Ichigo e doeu  não ser reconhecido por seu próprio pai.

Lembrava quando era criança, e ele o carregava em seus ombros.

De quando ele ia vê-lo lutar nos campeonatos de caratê. De quando eles iam juntos assistir partidas de basebol.

Mas, seu pai não lembrava de nada disto.

O olhava apenas como um estranho, quase como um intruso em seu banho de sol.

Ichigo não conseguiu responder, apenas ficou o olhando estático. Ainda doía, as lembranças do último e derradeiro surto que Isshin tivera. Eles tentaram cuidar do pai deles... Mas, eram jovens, órfãos, e estavam em uma idade que não conseguiam carregar ninguém sozinhos. Não alguém com esquizofrenia agravada por um sério quadro de estresse pós-traumático, ocasionado pela morte de Masaki.

Certamente, Inoue teria conseguido carrega-lo.

Mas, ele não conseguiu.

Ichigo pensara, sentindo-se ainda mais inadequado perto da jovem, a ponto de se sentir insignificante.

Aqueles dias tentando falar com Orihime, o remeteram ao fracasso com Senna e o levaram a uma ponderação profunda de sua vida.

E, Ichigo chegou a conclusão que não merecia Orihime.

Não enquanto fosse o universitário fracassado, que não conseguia nem concluir o curso de literatura, e que tinha um estágio meia boca, enquanto a garota que ele queria era formada, tinha profissão, casa própria e um futuro melhor sem ele.

Por isso, resolveu tentar a sorte de ir ao Canadá.

— Seu cabelo lembra o de minha Masaki. – Isshin dissera com os olhos marejando-se, e aquilo partiu o coração de Ichigo.

— Mas, seu sorriso, o que fizeram dele, meu jovem? – Os olhos do ruivo se arregalam diante daquelas palavras. – Você tem a vida inteira pela frente... Minha Masaki, ia querer que você fosse feliz... Ichigo.

Um arrepio percorreu a nuca e os braços de Ichigo, que olhou seu pai incrédulo, pelo homem ter o reconhecido, mas quando ele deu um passo, para se aproximar, Ichigo se retesou, olhando-o com desconfiança.

— Eu conheço você? – Foi sua pergunta, antes de um enfermeiro dizer que acabara a missão.

E, mesmo não tendo podido dar um abraço de despedida, Ichigo sentiu no fundo de seu coração, que aquele era um bom sinal, pois seu pai mesmo que indiretamente, lhe deu um bom motivo para ir em frente.

...

Tatsuki nunca achou que iria ver Orihime tão pálida como naquele momento.

Mas, talvez ela estivesse com a mesma cor da Orihime, já que sempre teve medo de avião.

Entretanto, poder segurar a mão de Orihime, mais o pensamento de que em poucas horas veria sua mãe, depois de tanto tempo, foi um alento.

Já Orihime, pensava que iria ficar mais longe de Ichigo, e que quando voltasse certamente a relação entre eles não teria retorno.

Mas, ela não contava com a ajudinha de alguém.

...

— Ichigo, vai te matar, mulher! – Urahara estava na cama nu, abraçado a sua noiva com quem tinha acabado de ter um sexo quente.

Rangiku por sua vez apenas deu um sorriso misterioso.

— Não vai ser a primeira vez.

Ela dissera com um sorriso de canto, enquanto dava uma piscadinha para Urahara que arqueou a sobrancelha, surpreso pela tranquilidade dela.

— MALDITA, RANGIKU! – Enfurecido Ichigo, bateu forte no volante, enquanto se debatia, com irritação.

Ele havia acabado de checar a passagem, e ele não estava indo para Toronto, Canadá e sim para Los Angeles, Estados Unidos.

Ele deveria ter suspeitado quando Urahara disse que quem compraria as passagens era Matsumoto, como era seu padrinho a lhe fazer só mais esse favor, ele nem disse nada.

Não tinha rancor de Rangiku.

Ela o ajudara em muitos outros momentos difíceis.

Além do mais, sua atitude livrou Orihime do fardo que seria carrega-lo naquelas condições.

Mas, agora que ele começava ter esperanças de que estava encontrando seu caminho, aquela louca vai e muda tudo.

Ele soube por Ishida que Inoue foi viajar para os Estados Unidos.

Mesmo que ele aceitasse embargar naquele avião, ele ainda tinha dúvidas de que adiantaria alguma coisa.

Ele talvez nunca mais encontrasse, Orihime de qualquer maneira.

Ficara ali algum tempo parado, quando seu celular começou a vibrar, e era uma mensagem de Rangiku, ficou hesitante em abrir, pois fulo do jeito que estava iria acabar xingando aquela intrometida até não poder mais.

Porém, acabou não resistindo a tentação e abriu a mensagem, e se deparou com uma foto de Orihime, e seu coração apertou.

Era do dia do aniversário e ela estava simplesmente linda.

Foi uma noite especial, se ele tivesse o poder de voltar no tempo, voltaria para aquela noite e depois faria tudo diferente.

Envolver-se nos assuntos de Ishida e Karin foi um erro, embora ele ainda não se conforme o modo como aquele crápula largou sua irmã.

Mas, ela estava seguindo em frente. E, ele também queria ir para frente.

Mas, vendo a foto da garota ali sorrindo, com aqueles olhos gentis, ele sabia que não haveria guinada sem pelo menos mais uma tentativa.

Ele não tinha como saber se não tentasse.

“Boa Ichigo, deixa a garota ir para o outro lado do mundo, para enfim tomar uma atitude”.

Já que não tinha nenhum amigo pra fazer piadinha ruim a esse respeito, ele mesmo fazia.

...

Quando o avião pousou, Inoue se sentiu tão aliviada, que deu um gritinho de alívio. Aquilo despertou Tatsuki, que enfim tinha cochilado, depois de passar muito nervoso.

Mas, segurar a mão de sua melhor amiga e pensar em Uryuu aliviou as coisas que no fim pegou no sono, diferente de Orihime que comeu bolachinhas durante todas as horas de voo, e pensou em Kurosaki-kun, com suas orelhas de Mickey será que ela estava com algum fetiche estranho.

Mas, se eles se casassem, ela ia querer que ele usasse orelhinhas de Mickey e ela usaria das de Minnie, mas depois desistiu da ideia, porque se não seria o casamento dos dois famosos ratos da Disney e não o de IchiHime.

Seus olhos se marejaram, mesmo assim ela se forçou a sorrir.

Chorar sem motivo, era para pessoas ingratas ao milagre da vida. Tinha esse pequeno mantra, como um mantra pessoal.

Mas, a tristeza de Inoue era quase tão tangível, que Tatsuki se sentiu mal por ela.

Deveria ter insistido para que ela fosse falar com Ichigo. As coisas entre eles ficaram com um “que” de inacabadas. E, isso não era legal.

Mas, quem era ela para querer falar alguma? Pensar em Uryuu apertou seu coração.

Pois, ela mesma havia deixado as coisas entre eles em suspenso. Depois de muito pensar, chegou a conclusão que falaria com sua mãe primeiro. Ouviria seus conselhos. E, dependendo do que ela lhe dissesse tomaria sua decisão.

Não sem isto.

Já Orihime estava resoluta em aproveitar a viagem, e usar isso para preencher as lacunas de saudade em seu peito.

— Venha, vou te apresentar minha mãe.

Tatsuki disse puxando sua amiga, assim que avistou uma cabeleira negra e arrepiada como a sua.

Era incrivelmente semelhante com sua amiga, mas havia algo de mais maduro em seu rosto, e talvez selvagem.

Era alguém que tinha passado por coisas difíceis, mas que tinha superado, e hoje colocava o dedo do meio, para o que antes a atormentava.

— Minha garotinha magricela, não anda comendo direito. – Foram as primeiras palavras de senhora Arisawa, que abriu os braços para receber sua filha, que praticamente saltou ali.

Orihime ficou olhando comovida a cena, lamentando nunca ter tido isso de sua própria mãe. E, o nó de saudade em seu peito apertou-se porque isso a fez pensar automaticamente, em seu pai, sua mãe, seu alicerce... tudo isso na figura de seu irmão.

— Você deve ser Orihime? – Tsume olhou para a jovem ruivinha que sorriu com o braço ainda na tipoia, e concordou com a cabeça.

A mulher também abriu os braços, e Orihime ficou feliz em poder tirar uma casquinha da mãe dos outros, já que não tinha mais a sua para lhe dar colo.

Uryuu-san e Tatsuki-chan, eram muito legais por lhe proporcionar isso.

Ela pensou agradecida, mas não conseguindo ficar feliz.

“Porque deixar um amor para trás era tão doloroso?”

Orihime pensou esboçando um sorriso.

— Então vamos pegar as malas, planejei algumas coisas legais, para a gente fazer.

Tsume disse dando um sorriso, e Tatsuki olhou com desconfiança para sua mãe.

— Não precisa se preocupar em gastar grana conosco mãe. – Tatsuki murmurou em meio a um gemido de receio, pois sua mãe era uma pessoa bem extravagante quando queria.

— Não seja boba! Trabalhei a vida toda para isso, agora posso mostrar as coisas de Los Angeles para meu bebê. – Ela disse apertando as bochechas de Tatsuki de um jeito engraçado.

Orihime acabou dando até uma risada, principalmente pela carranca que a moça fez.

— Cadê a tia? – A moça dos cabelos curtos perguntou olhando para todos os lados, e não enxergando a querida irmã gêmea de sua mãe.

— Ah, ela tinha umas coisas para resolver... Disse que ia se juntar conosco no hotel. – Tsume disse puxando sua filha, e também a amiga dela e as duas ficaram no meio do salão do aeroporto em Los Angeles sem acreditar que estavam colocando seus pés naquela cidade famosa, mesmo?

...

Elas tinham pegado o voo das dez da manhã e chegaram dez da noite passada. Quando chegaram ao hotel já era quase meia noite.

E, estavam cansadas, queriam dormir.

Mas, a mãe de Tatsuki a arrastou para uma hamburgueria, e mesmo Arisawa sendo adepta de comida saudável, ela não conseguiu resistir, estava se sentindo triste e ia amenizar isso comendo comida gordurosa, nem que tivesse que compensar nos exercícios no dia seguinte.

— Vou te engordar que nem porco, você vai sair daqui com mais peito e bunda, para fisgar um peixão. – Tsume dissera enquanto mastigava seu hamburguer, sem muita cerimônia.

Ela era a única que estava tomando cerveja, pois Orihime estava tomando Fanta e Tatsuki tinha optado por uma vitamina, para não ficar com muito peso na consciência.

— Okaa-san... – As bochechas da moça avermelharam, mas ela acabou dando uma risada baixa.

Quem diria que anos atrás, o divórcio quase destruiu sua mãe, a ponto de ela querer cometer suicídio? Por sorte, sua tia veio passar um tempo com elas, e a incentivou procurar ajuda, enquanto cuidava dela, da casa, e lidava com a pressa de seu pai, em assinar os papéis do divórcio, já que a amante não queria ter o filho, não estando casada.

Foram tempos de dificuldade financeira. Instabilidade emocional. A sensação de que todo o mundinho que ela conhecia estava desmoronando e arruinando.

Ela tinha seis anos, e não entendia porque seu pai não ia mais busca-la. No começo ela tinha uma necessidade tremenda de telefonar para ele, de ouvir sua voz, de ter certeza que ele era seu pai, apesar de não estar com sua mãe.

Entretanto, não demorou muito para que ele parasse de atender suas ligações. Ele foi aquele tipo de homem que se separou da mulher e também dos filhos.

E, nas poucas vezes que se viam ele sempre culpava sua mãe. É culpa de Tsume, que confunde as coisas. É melhor eu me manter afastado de ti também.

Não fosse a orientação de sua tia, e até uns bons cascudos também, ela teria se revoltado com sua mãe, teria a sobrecarregado ainda mais.

No período pós-divórcio, sua mãe engordou muito, só chorava, e ficava olhando a porta, como a espera de seu pai voltar, mas ele nunca voltou é claro...

Mas, quando ela estava na terceira série, um milagre aconteceu. Tsume saiu da cama, cortou os cabelos, a abraçou e disse que nunca mais voltaria a chorar.

E, ela cumpriu.

Agora estava mais magra, tatuada, com um cabelo negro e rebelde propositalmente. Voltou a trabalhar com fotografia, que era o que fazia antes de se casar e optar pela vida do lar. Começou a ganhar grana, com fotos que vendia pela internet, até que um olheiro que trabalhava em uma grande empresa publicitária, começou a contratá-la individualmente.

E, a partir dali as coisas melhoraram... E, quando ela estava para entrar na faculdade, Tsume resolveu ir para Los Angeles, não havia lugar no mundo melhor para ganhar a vida como fotografa, e ela era muito boa.

Tanto que quando cansada daquela vida agitada, escolheu uma cidade pequena, largou tudo para o alto e foi viver uma vida tranquila por lá, mas ela não queria voltar para o Japão e Tatsuki associava isso ao fantasma de seu pai, a quem não via, desde sua formatura do ensino médio, nem o convidou para sua formatura na universidade, pois não ajudou em nada.

Quem pagou seus estudos foi sua mãe e seus tios, e ela própria com o suor de seu rosto.

Pensar em tudo isso a deixou um pouco deprimida.

Por isso, quando uma música eletro dos anos 80 começou a tocar, ela não pensou duas vezes em puxar Orihime, para uma dança desajeitada, mas despretensiosa também.

...

Bastou colocar os pés no grande Aeroporto Internacional de Los Angeles, para que Kurosaki Ichigo se arrependesse miseravelmente de sua escolha. Isso porque ele foi iludido de achar que bastava pegar o avião e atravessar o mundo, que ele encontraria Orihime e daria um jeito de pedir desculpas e tentar convencê-la a ficar com um Zé Mané como ele.

Sentiu o telefone de seu celular vibrar em seu bolso, suas irmãs estavam preocupadas e com razão.

Ele apenas disse que por motivos pessoais ele estava indo a Los Angeles, sendo que ele era o tipo de cara, que não tinha motivos justificáveis para ir a Los Angeles.  

Mas, quando ele passou pelo portão de desembarque, ele notou algo cômico e vergonhoso ao mesmo tempo. Pois, uma versão mais alta, de cabelos arrepiados e grandes seios de Tatsuki, estava com uma grande placa com um invejável desenho de um morango.

Ichigo era extremamente lento.

Mas, até ele percebeu que aquilo era para ele.

Aproximou-se cautelosamente, daquela linda moça, já sabendo que era a tia de Tatsuki.

Ela mesma havia mostrado uma foto, e Orihime ficou deslumbrada.

“Muitos seios, pouco cérebro e um coração generoso”.

Foi assim, que Tatsuki a descreveu e agora ele sabia porque, era uma versão de Rangiku, com sorriso afetado e tudo.

— Ichigo? – Ela perguntou em tom alegre, enquanto se aproximava do rapaz, que ao contrário dela fora se chegando com cautela.

Primeiro, porque não queria que as pessoas que ali estavam e olhavam para aquela cena vexatória, tivessem certeza que ele era a pessoa presenteada com aquele simpático, mas não menos vergonhoso morango desenhando.

E, depois porque ele não era bom falando com estranhos.

— Sim. – Ele disse receoso do que viria.

Ainda mais quando ele se viu envolvido em um abraço e mergulhou entre um par de seios perfumados. Se ele não estivesse com o pensamento tão fixo em Orihime, teria gostado daquilo, mas ele só pensava em sua musa dos cabelos vermelhos.

— Pronto para falar com sua doce Hime? – Tara perguntou olhando-o com um sorriso deslumbrante, e ele ficou ali estático, imaginando como Rangiku conheceria Tara... Tentou ligar um ponto a outro, e não conseguiu entender totalmente o que estava acontecendo.

— Ande, parece que não tem iniciativa. – Tara disse o puxando pela mão como se fosse uma criança, e ele não conseguiu entender nem saber...

Que a iniciativa foi de Unohana, que ficou sabendo o destino de Orihime, e conseguiu o contato da mãe de Tatsuki nas redes sociais. Ela tinha Ichigo como um filho postiço e queria que ele se acertasse na vida, e também queria que isso inspirasse Tatsuki, para que ela abrisse os olhos e enxergasse que o amor só vem uma vez na vida, e que é bobagem deixa-lo ir embora.

...

Inoue desceu do táxi totalmente cambaleante e com a barriga estufada. Havia comido demais, com toda certeza.

Ela sabia que Tatsuki queria conversar com sua mãe. E, era justo elas terem um pouco de privacidade.

Arisawa disse que era bobagem, mas Orihime podia ser um tanto avoada, distraída e gostar de tirar casquinha da mãe dos outros, mas não era abusada.

— Hum, estou ansiosa para experimentar a textura do colchão do hotel. – Inoue disse simpática, e era verdade... Ela queria deitar, e certamente iria adormecer.

Estava cansada.

A barriga pesada.

E o coração despedaçado.

Um combo perfeito, para uma noite de sono, sem sonhos.

Ou para uma noite de insônia cheia de pensamentos sonhadores.

...

Conforme ia se aproximando, Ichigo ficava mais nervoso.

Agora que era real o encontro com Orihime, ele ficava ensaiando mentalmente o que ia dizer.

Mas, ele não sabia como proceder.

Talvez ela nem quisesse vê-lo.

Tenha ido para tão longe, justamente ficar longe.

Quem sabe ele indo até ali, acabe invadindo o espaço pessoal dela.

Conforme se aproximava de seu destino, mais próximo de uma decisão ele estava, e ele realmente temia descobrir qual seria ela...

...

— Hime tenho uma encomenda para receber, se importa de ficar aqui. – Tsume dissera para a garota que piscou sonolenta, a tentada a dize não.

Mas, seria uma tremenda desconsideração de sua parte se recusar, então obedientemente a moça dos cabelos ruivos, fez que sim com a cabeça.

Tatsuki se prontificou a esperar com Orihime, mas foi quase puxada pelas orelhas por sua mãe.

Ao ver a expressão que sua progenitora estava fazendo, Arisawa entendeu que ela tinha algo em mente, só não conseguiu deduzir o que era até um táxi estacionar em frente ao hotel.

E, dali saltar sua tia acenando escandalosamente para ela, e também mais alguém e a boca da carateca se abriu de surpresa, ao ver o Ichigo ali, ela bem que suspeitou das caras e bocas que Unohana estava fazendo, mas nunca pensou que fosse algo tão incrível como aquilo.

Apertou os olhos esperançosa de ver mais alguém sair do carro, mas para sua decepção ele não estava lá.

...

Orihime olhou para uma moça muito bonita, que tinha muitos dos traços físicos de Tatsuki, só era mais chamativa de corpo e também de gestos.

Ela gesticulava tanto que a garota nem viu Ichigo vindo bem na linha detrás daquela moça, ela deu uma piscadinha charmosa para Orihime e moveu seus lábios para dizer sutilmente alguma coisa.

Entretanto, Orihime nem prestou sentido, porque talvez por intuição, ela notou que vinha mais atrás e olhou de canto de olho, e isso foi o bastante para que ela não só o reconhecesse, em meio a um tremor de ansiedade, e algo mais profundo que parecia que faria sua pulsação explodir a qualquer momento.

 — Não pode ser. – Os dois disseram ao mesmo tempo.

Ichigo deixara cair sua mochila e a pequena mala remendada que carregava, e ficou ali embasbacado em ver Orihime, usando um vestidinho estampado amarelo, com uma jaqueta jeans por cima, e tênis all star de um azul pálido.

Mesmo em uma cidade cheia de glamour ela continuava sendo a linda garota por quem se apaixonou.

Ela quis dar um passo para frente, mas acabou dar um passo para trás, de nervoso.

Ele por sua vez quis ficar parado no mesmo lugar, mas se viu caminhando até ela, que a encarava com seus olhos castanhos, e repletos de lágrimas.

— Perdoa-me. – Foi o que ele conseguiu balbuciar, milhares de palavras congestionando sua mente, enrolando sua mente, porque ele estava embevecido demais, pela visão de Orihime ali a sua frente, tão palpável. Tadinha, estava machucada.

Seria esse o motivo dela não ter lhe atendido?

— Céus, está machucada. – Ele disse olhando para a tala, querendo imediatamente tirar aquilo dela, tomar sua dor para ele, por mais bobo que fosse.

Não suportava vê-la machucada, e ainda assim... Ele a feriu quando não queria.

— Perdoa-me. – Ele gemeu mais uma vez, permitindo que as lágrimas escorregassem por suas bochechas, sem preocupar-se com o que ela iria achar.

Já Orihime, não acreditava que era ali na sua frente. Teve de levar sua mão hesitante até seu rosto, só para se certificar.

Os cabelos desgrenhados, os olhos castanhos, o vinco no meio da testa, tudo remetia a seu precioso...

— Kurosaki-kun! – Ela murmurou em meio a um sorriso bonito.

Ele por sua vez, tentou sorrir, mas a aflição do devir não deixava.

Ela novamente deu um passo para trás, não vendo o canteiro atrás de si, só não caiu, porque Ichigo foi mais rápido e enlaçou-a pela cintura.

Puxando-a para junto de si, imediatamente seu rosto foi em direção a ela, que ainda não acreditava que ele estava ali, como tinha a achado, como... Como? Era a pergunta que mais estava em sua mente.

Vendo seu rosto, vindo em sua direção ela morreu de vontade de aceitar o gesto, mas sentiu que não seria certo.

— Precisamos conversar, antes. – Ela disse mordendo os lábios, com medo que ele pegasse o primeiro táxi e desse volta.

Mas, a verdade é que ele nem saberia como voltar. Chegou ali de favor, tudo por ela... Correu um risco, que nunca pensou, abdicou de uma escolha, só para tentar mais uma vez... E, se tudo desse errado. Oh, céus, que seria dele? Mas, não quis pensar nisso, não enquanto estivesse com Orihime diante de seus olhos a lhe olhar..

Aliviou-se quando a mão dela tocou a sua, e a segurou firme, como se não quisesse deixa-lo escapar, aquilo foi um bom sinal, teria de ser.

...

Da janela de seu corpo, Tatsuki observou Ichigo e Orihime caminharem em direção ao interior do hotel.

Ficou um pouco preocupada, com o que poderia acontecer. Com o que aqueles dois poderiam fazer, mas logo confiou no juízo de sua amiga.

Seus olhos castanhos percorreram a imensa avenida, olhando todos os táxis, que iam e vinham.  

Quando dois ou três pararam na frente do quarto, seu peito encheu-se de esperanças tolas... Mas, ele não viria. Porque não fazia sentido, ela mesma pediu que ele esperasse.

— Parece que está esperando alguém. – Ouvira a voz de sua mãe dizer, olhando-a com aquele olhar que mães fazem, quando acham que entenderam tudo.

Em qualquer situação normal, ela iria negar veementemente e dizer que era coisa de sua cabeça, porque é isso que filhos fazem. Tentam despistar suas mães, achando que é fácil enganá-las.

Mas, naquele momento ela queria ter uma conversa com ela, e saber sua opinião verdadeira.

Seu futuro com Ishida dependesse disso.

— Mãe, estou gostando de alguém. – Tatsuki disse com as mãos atrás do corpo, e fitando o chão, como se o que ela estava dizendo era uma travessura, que ela tinha de justificar.

— O problema é que... – A moça mordeu os lábios, olhando bem para o rosto de sua mãe, vendo ainda no semblante de sua mãe, nos traços mais sutis de seu rosto, aquela mulher sofrida, e acabou por um instante associando isso tudo a Karin e sua atitude desprezível de ter se apaixonado por um homem comprometido.

Um homem que terminara tudo, alegando que a amava. Ela não pediu, mas também não conseguia sentir-se triste com isso. E, isso era errado.

Uma mulher estava sofrendo, como sua mãe sofreu um dia. Ela, ia ser o tipo de mulher terrível que a amante de seu pai havia sido, e quem sabe isso... de alguma maneira decepcionasse sua mãe.

Sempre trabalhou duro para impressioná-la e orgulhá-la em tudo.

— Bem, esperei 23 anos para ouvir de sua boca que estava apaixonada, agora me conta pela metade? – Sua mãe disse de um jeito dramático, apenas para quebrar o gelo.

Era fato que Tsume sempre se preocupou com seu desinteresse por meninos.

Achou que ela talvez fosse homossexual, e disse constantemente que estaria bem com isto, mas ao invés de Tatsuki ficar feliz com sua boa vontade, ela ficou envergonhada e irritada as vezes.

Mas, agora olhando em retrospecto, tinha vontade de rir da própria atitude.

As duas se sentaram no sofá, Tatsuki bem perto dela, ficaram sentadas na posição seiza, frente e afrente. Olhando-se, olho no olho, o que tornou tudo mais difícil para Tatsuki, que via sua mãe encarando-a, enquanto esperava o que ela tinha a dizer.

— Ele tinha namorada. – Ela falou de repente, com os olhos marejados. – Eu não queria, mas aconteceu. Eu me apaixonei por ele, e ele por mim.

— Agora ele terminou tudo, dizendo que quer ficar comigo, mas não posso aceitar. Não as custas da felicidade de outra pessoa, eu tenho certeza que a senhora não me criou para isto... Para ser que nem aquela mulher horrível que tirou o papai de você, eu sinto muito, mãe... eu...

Antes que se desse por conta, Tsume a puxou para seus braços em um gesto que pegou a moça de surpresa, era o mesmo gesto que sua ela fazia quando o pai dela foi embora de casa. E, as duas choravam abraçadas, a espera de quem não iria chegar.

— Eu que lhe peço desculpas. – Senhora Arisawa dissera olhando-a com seus olhos, que ainda guardavam resquícios da mesma gentileza de outrora, com a diferença é que essa gentileza era dada a quem merecia, segundo ela própria.

A moça quase engasgou ao ouvir isso, não imaginava que motivo haveria para sua mãe pedir desculpas.

— A forma que eu reagi ao término de minha relação com seu pai, lhe deixou marcas que poderiam terem sido evitadas, se eu não tivesse jogado tanta coisa em cima de seus ombros.

Tatsuki arregalou os olhos surpreendida, com aquilo, pois nunca imaginou que sua mãe fizesse assim, pelo contrário sempre se sentiu orgulhosa de ser seu esteio.

— Tem coisas que os filhos não devem saber. – Tsume disse dando de ombros. – Mas, não dá para voltar atrás.

Ela disse colocando a mão nos seus ombros, e a encarando de um jeito olhando-a de um jeito que ela sabia que sua mãe, não aceitaria interrupções.

— Tatsuki, eu levei muito tempo para aprender, mais de cinquenta anos para dizer a verdade, que o que torna uma relação valiosa não é o tempo que ela dura, mas a qualidade com que ela dura... Eu e seu pai fomos felizes, tivemos você, mas o amor é um sentimento com prazo de validade, alguns mais tempo outros menos, mas cedo ou tarde ele acaba, entende<!-- [if !supportAnnotations]-->[JM1]<!--[endif]--> ?

Tatsuki balançou a cabeça, porque nunca foi boa com metáforas filosóficas.

E, pelo jeito sua mãe também não, porque ela deu um suspiro.

— Eu levei muito tempo culpando aquela mulher, e lhe falando coisas que não deveria, quando ainda era uma criança de seis anos. Mas, eu não me dava por conta, que independente de haver outra ou não... Meu casamento com seu pai iria terminar, cedo ou tarde... – Tsume disse com uma calma e controle assustadores.

Desde que ela se recuperou da depressão, e começou a trabalhar, e o pai dela sumiu de suas vidas, elas nunca mais tocaram no assunto.

— Você não pode querer assumir a culpa de algo que era entre esse rapaz, e a moça com quem ele namorava.

— Mas, ele disse que foi por mim. Se eu ficar com ele... – Tatsuki não resistiu mais, ficar quieta. – Eu vou estar concordando que ele a abandonasse.

— Ele vai voltar para ela? – Tsume perguntou calmamente.

Tatsuki abriu a boca.

— Eles vão reatar, se você desistir dele? – Tatsuki achava aquela ideia tão terrível, que não conseguiu concordar nem discordar. Óbvio, que não queria nem imaginar Uryuu com Karin ou outra mulher.

— Está vendo? Tem coisas que não dependem de você... – Tsume disse acarinhando a cabeça de sua filha.

E, olhando-a com ternura.

— Mas, é minha culpa ainda. – Ela disse com amargura.

O que serviu para que Tsume rolasse os olhos com aborrecimento:

— Não seja teimosa, menina. – Ela disse com insistência. – Não sei porque está se martirizando desse jeito, querendo projetar o que houve entre mim e seu pai, sendo que vocês são uma história diferente. E, todos temos um passado amoroso... Você que é uma exceção rara, de não ter com essa idade. – Tsume disse dando um sorriso de novo para quebrar o gelo, o que serviu para aquecer o rosto da mais jovem das mulheres.

— O que mostra que ele é especial. – Tsume disse com um sorriso.

— Estou ansiosa para conhecer meu futuro genro... – Tsume disse com ternura.

— Então, você não se importa? – Tatsuki perguntou com aflição e ver isso nos olhos da sua filha a surpreendeu.

— Não ouviu o que eu disse? – Ela perguntou com uma pontada de perplexidade.

— Não. – A outra respondeu fazendo um biquinho, e a resposta da Tsume foi saltar em cima de sua filha, e rolar com ela no chão, enquanto bagunçava seus cabelos.

Entre risos e protestos, elas ficaram assim um tempo, até que pararam fitando o teto.

— Quero que você seja feliz. E, quero que você também conheça as dores e alegrias de amar e ser amada. – Tsume disse de repente, e por alguma razão as palavras dela tiraram um peso de seu peito.

Quer dizer, a vergonha pelo que houve ainda estava dentro dela ainda estava lá. E, talvez nunca desaparecesse.

Mas, a única pessoa com quem se importava, dizia que ela podia dizer em frente, agora...

— Eu quero o Uryuu-kun, aqui. – Ela disse com os olhos marejando-se.

— Cruzes, que nome é esse? – Tsume protestou com certa implicância.

— Nem vem, que você não tem gosto muito melhor para nome... – Tatsuki dissera com certo ressentimento, mas no fim mãe e filha caíram na risadas.

— Espero que seu gosto seja melhor que o meu, e você não coloque esse nome de “Pavu”, no meu filho.

— Okaa-san... -Tatsuki ficou horrorizada com o que ela disse, e a mulher caiu na risada.

...

Já Ichigo e Orihime se encaravam, estavam na varanda do hotel vendo as luzes ofuscantes da cidade, enquanto lidavam com o turbilhão de emoções que sentiam.

Ambos olhavam para baixo, vendo carros por toda parte, em meio a uma barulheira que não era nada romântica.

— Sabe se fechar os olhos, mesmo aqui eu acho que consigo ouvir o som do mar. – Ele disse em alusão ao passeio que eles deram na praia. – Posso até sentir o cheiro, se insistir um pouco mais.

— Eu também. – Ela disse com as bochechas rosadas.

— Mas, sabe o que não sai de minha mente? – Ele disse. – Você. A forma como você me tocou naquele dia, com suas palavras, com seus gestos, com seu toque... Tudo em você.

— Está querendo se declarar? – Orihime perguntou com ansiedade, porque eles já tinham passado por essa parte, e foi lindo... Mas, demorou para que o que era lindo, ser borrado, por atitudes que não foram legais.

— Eu sei que não estou a altura de você. – Ele disse vendo-a ficar um pouco reticente. – Você é calma, é gentil, é meiga. Eu não sou assim, sou bruto, impulsivo, e as vezes... Perco o controle. – Ele admitiu envergonhado.

— Mas, cada dia eu luto para melhorar Orihime. Luto de verdade, embora quando nos conhecesse eu tivesse em um beco, sabe? Não tinha para onde ir, foi você que me mostrou um pouco de luz.

— Em contrapartida, você me jogou em um turbilhão. – Ela disse fazendo um beicinho. – Eu não sei muito sobre me relacionar com alguém, você é o primeiro por quem eu senti isso, o primeiro a me beijar e... – Não terminou a linha de raciocínio porque o resto ainda era uma incógnita.

— Me fez ter ainda mais medo, agindo daquela maneira bruta e agressiva.

— Por isso preciso de você.

— Eu não quero me relacionar com alguém para isso. Eu não quero ser o seu freio, porque não quero viver aterrorizada com o medo de não conseguir, Ichigo.

As palavras dele foram como um soco na boca do estômago.

— Então, não me queres é isso? – Ele perguntou com agitação. – É o fim da linha para gente.

E vendo-o assim partiu seu coração, mas ele precisava entender, o que ainda não estava entendendo.

— Acho que o que precisamos é de um recomeço. – Ela disse depois de ponderar algum momento. – Quanto a Senna...

— É passado. – Ele disse com expectativa.

E, os olhos dele brilharam.

E, ela se viu hesitando.

— Não é passar um pincel no que passou, não é isso... Mas, um compromisso de que tentaremos nosso melhor. – Ela disse com serenidade, e ele não quis pensar em mais nada, só quis tocá-la, e felizmente era isso que ela também queria, e antes que pensasse os lábios deles se tocaram, e nem parecia que eles tinham feito uma viagem interminável e atravessado o mundo, porque naquele momento o mundo um do outro, estava ali bem diante de seus olhos e eles queriam aproveitar.

...

Dois dias se passaram, e Tatsuki se via agitada no carro, rezando que ele andasse de uma vez.

Se tivesse como, ela correria toda aquela avenida.

Só para chegar de uma vez onde queria.

Se sentia tola, mas depois de segurar vela por dois dias, para Ichigo e Orihime que estavam levando a sério aquela coisa de recomeço... Ela também queria o seu.

E, para isso ela precisava de outra parte, porque aquele tipo de recomeço, não dava para ser feita a sós...

Se bem que ela ainda não tinha começado nada.

Estava usando um macaquinho verde militar, e sandálias de saltos, porque queria impressionar certo alguém quando chegasse.

Correra com agitação, pelo saguão do aeroporto, as pessoas olharam mal-humoradas, para uma figura pequena de cabelos curtos, que andava saltitante em meio a multidão de viajantes.

E, ela só parou quando o viu ali.

Ela não acreditou que ele iria fazer isso... Mas, ele fez.

Porque ela pediu.

E, ele se atreveu a fazer a mesma viagem de Ichigo.

De inicio Uryuu resistiu, mas quando soube que o energúmeno número um de Karakura tinha feito isso por sua garota, ele não ficaria para trás.

E, ali estava ele.

Oficialmente, desempregado porque o seu chefe não foi compreensivo, mas também ele estava cansado daquele emprego, queria um recomeço.

E, porque não nos Estados Unidos?

Longe do mal humor de Ichigo e das acusações silenciosas do que houve com Karin.

Mas, todos esses pensamentos foram interrompidos, por ruidosas passadas, e ele que estava lutando para tirar sua mala, da esteira de bagageiros, desistiu, porque tinha algo mais interessante diante de seus olhos.

Algo que fez seu coração palpitar.

Ficou com receio quando aquela louca pediu que ele fosse falar com ela, porque ela não ia aguentar esperar para lhe dar uma resposta, até que o prazo da viagem terminasse.

E, isso levaria tempo demais para dois apaixonados...

E, isso ficou implícito quando ela correu na sua direção, e se jogou em seus braços, e sem nenhum pudor ou receio do que as demais pessoas iriam pensar, eles se beijaram como se não houvesse amanhã.

Ele a segurou em seus braços, e todo seu amor emanou por todo o saguão, tanto que alguns que ali estavam olharam mais uma vez...

Sem que esperassem uma enxurrada de aplausos preencheu o saguão, para constrangimento e alegria do mais novo casal do pedaço.

Mas, de fato o amor era para ser celebrado dia após dia.

...

O vídeo de Tatsuki e Ishida se beijando, viralizou na internet, e acabou chegando até uma moça de cabeços negros e olhos castanhos que olhara a cena, com uma pontada de melancolia... Mas, já não chorava.

Essa fase tinha passado.

Agora era hora de olhar para frente.

Pensou Karin com determinação, enquanto sentia a mão de Toushirou pesar em seu ombro.

— Kurosaki Karin. – A moça de jaleco branco chamou, e os dois se olharam com expectativa.

E, a enfermeira perguntou com um inglês fluente, enquanto sorria para a jovem:

— Pronta, para ver esse bebê pela primeira vez? – Ela perguntou e Karin sentiu que era o que mais queria... Aquele bebê seria a lembrança perdida de Uryuu, e seria só dela.

...

Urahara e Rangiku, estavam abraçados enquanto aguardavam no saguão do aeroporto, os passageiros chegarem.

E, o casal sorriu com animação quando pela porta passara Orihime e Ichigo abraçados.

Um sorriso de reconhecimento, brotou nos lábios dos dois, que abraçaram os amigos com entusiasmo.

O que chamava a atenção era a imensa barriga de Orihime.

— Então é um menino, mesmo? – Rangiku dissera já por dentro das novidades.

— Hai. – O casal sorriu de orelha a orelha.

— Já tem nome? – Kisuke perguntou com interesse.

— Kazui. – O casal disse depois de trocar um olhar de cumplicidade.

— Gostei do nome. – Quem disse isso, foi uma versão de Rangiku, mais pequena com o cabelo de um loiro mais pálido.

— Céus, como ela cresceu! – Ichigo ficou abismado.

— Parece mentira, mas dez anos já se passaram. – Kisuke dissera levando a mão ao ombro de Ichigo que sorriu até com os olhos.

Nesse tempo, ele terminou a faculdade, começou a trabalhar como professor de língua japonesa nos Estados Unidos.

Unohana fora ousada, e decidira abrir uma filial de sua escola nos Estados Unidos, e deu certo... E, escolheu Orihime para administrar o negócio.

— E, Tatsuki e Uryuu? – Rangiku perguntou com euforia.

— Adivinha? – Os dois perguntaram.

— AHHHHHHHHH! – Um grito agudo escapou da garganta de Tatsuki, inconformada com a mãe natureza, que resolveu lhe pregar uma peça.

Quando ela e Uryuu, se conformaram com o fato de não conseguirem terem nenhum bebezinho...

— A natureza, decide mandar, dois... Logo de uma vez!

— Calma meu amor, vai passar. – Uryuu disse solicito, querendo focar o rosto de sua adorada esposa, enquanto puxava uma câmera com a mão trêmula querendo gravar mesmo estando cegueta.

Isso porque ela tinha quebrado seu óculos de um tapa.

— Vem para essa maca, sentir o que eu estou sentindo. – Ela choramingou, mesmo não sentindo tanta dor assim, mas queria incomodá-lo.

— Se pudesse fazer, eu faria, você sabe. – Ele disse com sinceridade, e aquilo enterneceu o coração da moça que sorriu.

Vendo isto, Tsume pensara inconformada.

“Pelo jeito o nome de meus netos vai ser “Pavu I e Pavu II”, Orihime e Ichigo tem mais bom gosto”.

Ela pensara com certa indignação.

...

Quando Orihime, falou daquele estranho desejo, Ichigo achou que era loucura.

Mas, vendo o rosto dela se iluminar, conforme eles iam avançando e o mar ia se descortinando, diante de seus olhos.

O mesmo cheiro de maresia, o mesmo quebrar das ondas... Era como se eles voltassem no tempo.

E a conexão que se iniciou lá atrás, ainda pulsasse trazendo a tona emoções, que atingiram o casal em cheio.

— Quero que o Kazui saiba desde a barriga, onde foi que começou o amor de seus pais... – Inoue dissera pegando a mão de seu marido, e caminhando pela orla da praia.

— Hum. Achei que tinha começado quando você me jogou dentro da lixeira... – Ichigo dissera coçando a nuca, e dando um sorriso zombeteiro.

— Não é romântico... – Ela disse fazendo um biquinho charmoso.

— Com você qualquer lugar fica romântico. – Ele disse com sinceridade, enquanto deslizava a mão por seu rosto.

— Então, prova... – Ela disse. – Quero que você me beije que nem naquela época.

— Isso vai ser impossível.

Ichigo dissera resoluto.

Para surpresa de Orihime.

— Porque? – A moça perguntou com uma risadinha contida.

— Porque dez anos de experiência, me tornaram melhor na arte do beijo. – Ele disse em um tom de falso convencimento.

— Bobo, aposto que é porque meus lábios são irresistíveis. – Ela disse com um real convencimento que pegou o rapaz de surpresa.

A convivência dela com Tsume, estava enchendo sua cabeça de ideias.

— Meu amor é você. – Ele disse com sinceridade.

— My Love is You. – Ela disse com um sorriso... E em uníssono eles disseram. – You!

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