Os seus passos, ainda que em ritmo rápido, pareciam ficar cada vez mais e mais pesados enquanto o Sannin fazia uma corrida de volta para a sua antiga aldeia. Não estava à espera de se sentir tão…indignado, não depois de tantos anos, tantas experiências e tantas…

Mudanças…

O seu olhar vagou até pousar sobre a maior mudança que toda a sua existência alguma vez sofreu, como se a verificar se ele ainda ali estava, protegido nos seus braços. Protegido…o seu sangue começou a fervilhar e sinais de arrependimento começaram a ficar visíveis nas suas esferas douradas enquanto a pele de Mitsuki, o seu menino, já por si pálida ficar cada vez mais branca a cada segundo que passava, criando um contraste feio com o corte no seu abdómen e as marcas de queimadura no seu peito. Se ao menos ele tivesse chegado mais cedo…se ao menos tivesse passado mais tempo com ele…é claro que havia alturas em que ele se esgueirava pela aldeia dentro só para se certificar que o seu rapaz estava bem. Caramba, ele devia-lhe isso, aquele pirralho do Naruto era realmente uma pessoa decente, de vez em quando permitia-lhe ver Mitsuki…

Não fora o suficiente…

Sentimentos que ele antes nunca tinha experimentado ameaçaram vencê-lo quando olhou nos olhos do seu filho…olhos como os dele. Mitsuki estava a olhar atentamente para ele, e literalmente magoava o Sannin ver a vida a desaparecer aos poucos das suas íris. Quando o seu filho era pequeno, Orochimaru gostava de comparar os seus olhos com os dele. Os seus eram mais como o dourado frio e imposto, enquanto os de Mitsuki…os seus olhos eram quentes e brilhantes, como…o Sol. Doía-lhe fisicamente, o só pensamento de o seu Sol desaparecer…

O seu aperto ficou ligeiramente mais forte e um novo vigor apressou o seu passo. Iria arranjar a ajuda necessária. E então…haveria consequências.

Sentiu um leve aperto na frente da sua camisa, e através do ar repentinamente muito quieto, um fraco sussurro chegou aos seus ouvidos. “Pai…”

Imediatamente olhou para baixo. Mitsuki piscou os olhos somente uma vez, tentando aguentar o seu aperto enquanto as suas mãos tremiam. Orochimaru sentiu o seu coração perder um batimento, mas tentou manter a calma. “Não desperdices a tua força. Estamos quase na fronteira.”

O rapaz de cabelo azul entreabriu os seus lábios ligeiramente mais uma vez, e o seu pai teve de se inclinar um pouco para a frente para poder ouvi-lo corretamente. “Por favor…poupa…a aldeia…”

Orochimaru recuou ligeiramente, chocado com as palavras “O quê…?”

“Por favor…promete…” murmurou Mitsuki, as palavas ficando mais tensas enquanto a sua respiração falhava “Não é…culpa deles…”

Ele tinha as suas dúvidas quanto a isso. Queria dizer-lhe que eles pagariam. Pagariam por terem colocado o seu menino no meio do fogo perigoso, sem sequer pensarem duas vezes. Queria dizer-lhe que iria extinguir o Fogo da Vontade de Konoha, assim como eles fizeram o seu Sol afundar.

No entanto, olhando para aqueles olhos, essas mesmas palavras não se formaram. Em vez disso, a sua fúria afogou-se na compaixão que apenas sentia pelo seu filho, e em breve sussurrou “Vou deixá-los em paz. Eu prometo.”

Sentiu Mitsuki relaxar nos seus braços enquanto um pequeno e suave sorriso se formou nos lábios da criança. A sua seguinte palavra foi tão fraca que Orochimaru não conseguiu ter certeza se era um truque do vento. “Obrigado…”

Dedos pálidos deslizaram pela camisa enquanto o jovem rapaz deixava-se cair completamente contra o seu pai. O Sannin observou, horrorizado, como o Sol se punha com somente um suspiro.

“Mitsuki…?” sussurrou ele, incapaz de compreender o que estava a acontecer mesmo à sua frente, e de repente o mundo parou por completo. “Mitsuki!!!”