A Nova Rosa escrita por Koini


Capítulo 2
O cachecol vermelho


Notas iniciais do capítulo

Olá, aqui estou eu. Não recebi nenhum review (sad), porém vi algumas visualizações a mais, então seguimos firme. Escrevi esse capitulo com muito carinho e o achei muito fofo, espero que gostem. E vamos de leitura!



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Você suspira, desvia o olhar
Consigo ver claro como o dia
Fecha os olhos, tão receoso
Esconda-se atrás desta carinha de bebê
Procurando pelas respostas na chuva que cai
Você quer encontrar paz interior.

(Cigarette Daydreams – The Neighbourhood)

. : : .

Alexia pediu mais um novelo de lã para a mãe e tornou a colocar mais fios no tear, estava quase terminando um cachecol. Era final de março e a estação começava a mudar, os dias tornavam-se cada vez mais nublados e regados à ventania, de forma que ele seria muito útil para ela. Sua mãe manuseava a máquina de costura com maestria, completamente imersa em seu trabalho, enquanto o pai estava fora, provavelmente trabalhando em alguma nova obra da vila para conseguir mais dinheiro. De repente, a mãe parou de cantarolar a música, deixando a máquina de lado:

— Alexia, minha filha! – exclamou exasperada – Hoje é quinta-feira?

— Sim mamãe. – respondeu a morena, sem tirar os olhos do tear.

— Stela me pediu um vestido, para hoje! Me esqueci completamente!

A mais velha levantara-se e começou uma busca desenfreada pelo vestido. Havia muitas peças no pequeno ateliê, e Alexia apressou-se em ajudá-la, pois sabia como Stela era uma cliente desagradável, que com certeza excomungaria sua família até a quinta geração se a roupa não estivesse perfeita. Marina, a mãe de Alexia, por fim desenterrou o vestido de seda com detalhes em cetim, que demorara semanas para terminar, pois era delicado, e entregou-o embrulhado para a filha.

— Vai ter uma festa importante de família para eles hoje. – contou a mãe – Precisa correr!

Tudo que ela menos queria era correr, mas era preciso. Pegou a sacola da mão de  sua mãe e saiu porta afora. Alexia não se sentia muito animada nos últimos dias, estava na verdade muito insatisfeita por sua cabeça a incomodar constantemente com a lembrança de certos olhos azuis. Praguejou para si mesma na rua, querendo evitar de entrar naquele ciclo de pensamentos mais uma vez. Foi quando passou pela Taverna de Gaia e ouviu o grito de uma mesa de jogos, sendo seduzida à jogar uma rodada. Se a festa de Stela era à noite, uma rodadinha não faria mal, e com certeza melhoraria seu humor.

Sentou-se, deixando o embrulho no colo. Pediu as cartas ao velho que já iniciava outra rodada, e Lucca, o jovem homem que também estava à mesa, sorriu de canto, com malícia. Alexia sempre se esforçava muito para ignorá-lo, pois suas investidas eram realmente muito inconvenientes.

— Você só pode estar trapaceando. – resmungou o velho na mesa depois de alguns minutos.

— Não, é apenas saber jogar. – retrucou ela, rindo presunçosa enquanto dava as cartas mais uma vez..

— A ragazza é boa, Kiar. – afirmou Lucca, usando de seu sotaque fortemente italiano.

O velho torceu o nariz e então voltaram a jogar, e várias rodadas se passaram sem que Alexia percebesse. Esqueceu completamente da entrega, e só quando ganhou novamente e o velho Kiar começara a praguejar contra ela foi que se lembrou que Stela deveria estar igualmente furiosa. Levantou-se da mesa num pulo, esquecendo-se até de recolher as fichas que poderia trocar por prêmios mais tarde.

O sol já estava se pondo, e se Stela não a matasse, com certeza a mãe mataria. Começou a correr muito, pois a casa de Stela era do outro lado da vila, quase chegando ao Santuário. Corria tanto que começava a sentir as pernas dormentes, quando virou mais uma esquina e trombou com alguém, indo de encontro ao chão. O pacote do vestido também foi longe, e Alexia sentia raiva de si mesma por ter sido tão irresponsável e sentia vontade de chorar, tudo parecia conspirar contra ela. Mal pensou nos ralados que ganhara nos joelhos, orava aos céus que o vestido não tivesse estragado, pelo menos.

— Você está bem?

Ela conhecia aquela voz, grave mas tão mansa, não havia como se esquecer. Afastou a franja dos olhos e a luz do sol refletiu num brilho dourado contra a silhueta alta que se erguia diante de si, vestida com uma armadura de ouro, e então ela compreendeu porque havia sido um esbarrão tão dolorido. Ali estava Albafica, o tão perfeito e temido cavaleiro de ouro. Ele a fitava com seu olhar sério, mas naquele momento Alexia jurou que pôde vê-los ligeiramente preocupado, e ele estendeu a mão para ajudá-la a se levantar. Ele parecia receoso, se desfazendo do toque rapidamente.

— Sim, não foi nada. – respondeu, torcendo para que não estivesse mais com cara de choro, ela sempre ficava toda vermelha.

— Ótimo. Me desculpe o inconveniente. – respondeu com a habitual falta de emoção, sem a deixar responder, já que ele se afastava.

— Espere! – exclamou, pronta para ir atrás dele.

A essa altura, pouco lhe importava Stela. Havia pensado naquele homem por dias e queria falar com ele, mesmo que não soubesse exatamente o quê, e não poderia desperdiçar esse acaso. No entanto, outra pessoa gritara seu nome, desviando sua atenção do cavaleiro que se distanciava. Alexia voltou-se para trás, chateada, e encontrou uma Stela muito estressada.

— Já estava indo atrás de sua mãe para reclamar! Meus convidados estão para chegar, e nada do meu vestido aparecer! Que falta de responsabilidade de vocês, onde já se viu?

—  Desculpe Stela... – murmurou, entregando a sacola em suas mãos.

A mulher continuou resmungando, mas entrava em um ouvido e saía no outro. Os pensamentos de Alexia haviam ficado com o cavaleiro de Peixes.

: :

Os dias se passavam lentos, sem que Alexia conseguisse esquecer o cavaleiro de Peixes. Agora, mais do que nunca, ele permeava seus pensamentos e até a visitava em sonhos, estava se tornando insuportável. Era final de mais um dos dias de entrega, já era fim de tarde e algo a impedia de ir embora: a chuva. Caia aos montes, lavando a vila inteira, de forma que teve de se abrigar em baixo de uma tenda, esperando ao menos que ela ficasse mais fraca, não queria correr o risco de pegar um resfriado.

A paisagem toda era cinzenta por conta da chuva, e nas ruas desertas uma figura se destacou. Alexia reconheceria aqueles fios azuis em qualquer lugar, e se perguntou o que Albafica estaria fazendo por ali num momento como aquele. Ele caminhava vagarosamente, vestia roupas comuns e não se protegia da chuva, de forma que estava inteiramente ensopado, e não parecia se importar com isso. Ele poderia ser confundido com qualquer habitante daquela vila, e mesmo em sua postura mais simples, continuava encantador aos olhos da morena.

— Queria saber o que tanto o senhor faz por aqui. – disse, a voz um tom acima do barulho da chuva, a língua acabou sendo mais forte que seu pudor.

O cavaleiro olhou para a dona da voz, e seu olhar parecia mais triste que de costume, ainda mais anuviado que aquelas nuvens carregadas. Alexia sentiu um aperto no coração e seu sorriso de garota petulante vacilou. Peixes virou-se para continuar seu caminho e ela estava começando a pragueja-lo internamente, quando ele parou e voltou-se para ela, aproximando-se.

— Apenas checando se tudo está correto. – afirmou, entrando debaixo da tenda e imitando a garota que estava encostada na parede.  

— E está? - perguntou, ajeitando o cachecol sob o pescoço, sentindo-se subitamente nervosa.

— Temos uma moça perdida na chuva.

— Não precisa se preocupar, ela vai ficar bem. – sorriu em resposta  – E o senhor, não vai pegar um resfriado?

Seu olhar se perdeu no céu acinzentado, antes dele responder um simples “não”.  Então um trovão rugiu no céu, causando um clarão e um barulho que fez Alexia se sobressaltar.  Droga, aquela chuva nunca ia parar? Albafica, que estava há menos de um braço de distância, virou-se para ela sereno como se estivesse numa tarde de primavera, não no meio de um temporal.

— Talvez não seja prudente deixá-la aqui sozinha.

— Obrigada, não quero te… incomodar. – agradeceu.

A chuva parecia não se importar em dar licença para que fossem embora, e o silêncio incomodava demais a garota agitada. Albafica não pôde deixar de notar a forma inquieta como ela mexia nos cabelos, alternava os pés e cutucava o cachecol, muito bonito por sinal.

— Você não é de falar muito, Albafica. – disse ela, querendo quebrar aquele gelo que se formava entre eles.

— Conversar com desconhecidos nunca foi dos meus dons... – respondeu  – Nunca sei o que dizer.

— Talvez devesse praticar. Ou apenas dizer o que tem vontade, sabe, ninguém pode te recriminar por isso. As pessoas confundem com arrogância e o julgam mal. – falou a morena, olhando para o céu cinzento  – Gosto de pensar que estão erradas. – concluiu, agora o fitando com um sorriso sincero nos lábios.

Aquele gesto tão simples deixou o cavaleiro desconcertado. Ela tinha razão, afinal. E aquele sorriso, tão honesto, expressava um cuidado ao qual ele não estava habituado, e a deixara linda. No dia em que ela foi até a casa de Peixes seu medo impedira de reparar, mas ali, ele pôde reconhecer a beleza natural daquela jovem. Tinha os olhos cor de mel e cabelos negros como carvão, que estavam soltos formando ondas suaves, a franja rebelde combinava com sua personalidade. O rosto era de traços tão perfeitos que ela parecia ter sido esculpida pela mão da própria Afrodite. Zeus! Albafica virou o rosto novamente para fitar a chuva e ignorar aqueles pensamentos.

Aquele dia, especialmente, ele encontrava-se mais vulnerável que de costume, e atribuiu à isso os pensamentos sobre a moça. O fato é que era seu aniversário de vinte e quatro anos. Apesar de tanto tempo morando sozinho no Santuário, a solidão se tornava insuportável nesse dia do ano. As duas únicas pessoas que se lembravam da data eram Manigold e Shion, e depois de muito insistir, os dois pararam de aparecer na casa de Peixes para confraternizar. Albafica era perigoso, e por isso erguia ao redor de si muros tão altos, mas às vezes, do alto de sua torre de confinamento, sentia vertigem. Sentia vontade de cair, de fugir de sua prisão, como naquela tarde que resolveu caminhar. Não tinha ido à Rodorio por conta da vigília semanal, queria apenas espairecer, e o acaso lhe entregara novamente aquela garota, tão tempestuosa quanto o dia chuvoso que se encontravam.

— Hoje é meu aniversário. – acabou pensando alto, e tentou não se recriminar, como a moça havia dito. Queria que alguém se importasse com aquele fato, embora soubesse que desfrutar de companhia não era um luxo dos cavaleiros de Peixes.

— Mesmo?! – perguntou ela, subitamente empolgada – Feliz aniversário! – ela fez que ia abraça-lo, mas o olhar dele a fez recuar – Ah sim, entendo. Não pode tocar.

— É melhor não.

— Sinta-se abraçado, então. Aniversários são datas importantes! Não deveria passar esse dia sozinho e tomando chuva, isso é um pouco... triste.

— Eu me acostumei. – ele sabia que estava mentindo.

A chuva começou a amenizar e Albafica sabia que a hora de ir estava chegando.

— Acho melhor eu ir andando. Você vai ficar bem? – perguntou, já desencostando da parede.

— Sim, vou sim. Você é que me preocupa.

Alexia ficou surpresa ao ver que o pisciano esboçava um leve sorriso. Sua expressão estava mais leve e ela se irritou com a forma como ele sempre conseguia ficar ainda mais belo. Ele fez um maneio de cabeça para se despedir e começou a andar na chuva já fina.

— Espere! – ela gritou, o fazendo voltar-se para ela, que caminhou rápido para chegar até ele. – Aceite como presente de aniversário, já que não pude te dar um abraço.

Ela se soltou do cachecol, deixando os cabelos caírem pelos ombros, e ficou na ponta dos pés para ajeitá-lo ao redor do pescoço de Albafica, que ficara estarrecido diante daquele gesto. Não poderia afastá-la naquele momento, seria extremamente rude de sua parte, e era a primeira vez que ganhava um presente. Seu coração sentia-se aquecido como há tempos não ficava, e não sabia como reagir. A moça o fitava com os olhos de mel sorridentes, enquanto a garoa formava gotinhas sob seus cabelos, e ele soube que seria difícil tirá-la de seus pensamentos a partir dali.

— Obrigado. – disse, o coração batendo acelerado, de uma forma boa que ele pensou que nunca mais sentiria.


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Notas finais do capítulo

Sim , teve referência à Orgulho e Preconceito, porque gente, o Albafica e o Sr. Darcy não são parecidos? Sou apaixonada pelos dois. Enfim, próximo capítulo semana que vem, e plisss, me deixem saber o que estão achando!



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