os aplausos surgem logo em seguida e posso ver que o céu que se abriu ali pertence unicamente à tinny cooper.

gideon: e ai? ainda com medo?
eu: não, não mais.

e essa é a verdade. ali, diante daquela multidão, pela primeira vez em minha vida patética, percebi que podia realmente sentir algo de bom sem ter que ingerir aquelas pílulas brancas apáticas.pela primeira vez, eu pude admitir que era capaz de amar, mas não amar qualquer um. eu era capaz de amar tinny cooper.

aos poucos, as pessoas se retiraram daquele lugar. os poucos que ficaram queriam parabenizar tinny pelo belo espetáculo que havia criado, produzido, dirigido e estrelado.

anda, vai falar com ele!

minha mente gritava, mas nada era assim tão fácil. acabo dando meia volta e me sento onde estava antes. estou esperando o momento certo para falar com ele. não quero só ficar no gesto, quero falar toda a verdade que guardei comigo, todo o sentimento que deixei de lhe mostrar, quando percebo estou em pé, bem na frente do palco. consigo ver as marcações no chão, alguns papeis prateados esquecidos por lá e é claro, o balanço.
subo no palco e me sento no balanço, as memórias retornam e meu peito começa a arder. penso que o que fiz não adiantará, que tinny não me perdoará, que terei que aceitar o mundo sem cor que é o meu, porque é assim que me sentia sem isaac e é assim que me sinto sem tinny.
vacilo um impulso, o balanço se move e range com o movimento, não quero chamar a atenção de ninguém, só quero poder me sentir capaz de voltar no tempo e mudar tudo, mas não posso, pois o passado não é o agora e o agora é um saco cheio de incertezas com um fundo repleto de dor.

eu: queria continuar meu futuro com você.

há lágrimas em meus olhos, não me importo com isso porque elas são o que restou dele em minha vida, elas são as lembranças que não poderei apagar de minha mente nem com o mais intensivo tratamento de choque.

eu: o sol de meu céu foi embora.
tinny: não, ele foi apenas coberto por uma nuvem de seu céu cinzento.

e quando ergo o olhar, o encontro.

tinny: posso me sentar?

afirmo com a cabeça e então ele se senta. o balanço arqueia um pouco e range mais do que quando o obriguei a produzir um movimento. tinny está olhando para baixo, suas bochechas estão vermelhas e uma covinha está aparente no canto que consigo enxergar de sua boca.

Por céus, como o amo!

inclino-me em direção de tinny, fecho os olhos e nossos lábios se tocam mais uma vez.
permito que tinny possa sentir mais de meu sabor, ele parece gostar, pois faz o mesmo comigo. As lágrimas voltam, são quentes e tomam todo meu rosto. tinny se afasta, há medo em seu olhar, mas antes que possa falar algo eu o abraço. nosso balanços se chocam levemente, minhas mãos tocam as costas largas daquele ser tão brilhante e quente.

eu: eu te amo tinny cooper.

e a resposta vem logo em seguida. tinny me aperta em seus braços, retribuindo meu abraço, o ar me falta, mas está tudo bem porque isso faz parte da coisa certa, isso faz parte de nós, isso faz parte do começo de nosso futuro, juntos.