Rebel escrita por Blake


Capítulo 17
Burn




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Rússia era exatamente como Taylor imaginou que ela seria. Fria. Cinzenta. Poluída. Se pensasse bem, não era muito diferente de New York, quase se sentiu em casa... Talvez devesse, afinal, aquela era realmente sua casa.

– Finalmente – Bishop se alongou ao seu lado e ficou praticamente o dobro do seu tamanho ao esticar aqueles músculos largos. Era quase inumano existir um homem tão robusto.

– Tenho que concordar com o grandão, já estava ficando enjoada – Riley e Alexia surgiram, muito bem empacotadas em seus casacos.

– Ao trabalho bando de incompetentes, acham que essa base vai se montar sozinha? – Ward bradou, girando o indicador no ar para exigir maior agilidade.

Taylor sorriu fracamente, aquele era o Grant Ward que ela conhecia e gostava. Não o babaca sentimental.

– Que bom que ele está retornando a si – avaliou e desfilou a frente do grupo, sendo a primeira a dar uma boa olhada no lugar. Mais um prédio abandonado... Pelo menos tinham um padrão. Parecia uma antiga fábrica de produtos químicos e aquilo deveria emitir mais radiação que Chernobil, mas quem se importava?

– Gosto do estilo rústico de vocês – Alexia comentou, um pouco incerta de que tipo de elogio deveria tecer, quiçá se deveria tecer um.

– Isso é uma porcaria que vai nos dar câncer, não tente ser educada com esse lixo – Taylor retrucou sem muita paciência.

– Pensei que você adorasse cantos escuros, Daminha – Ward sussurrou ao ouvido da mais nova, maliciosamente.

– Você é um cretino – empurrou o homem para longe de si, embora aquele fosse o jeito “Taylor” de brincar.

Todos sorriram, inclusive ela, que expôs um mínimo sorriso.

– Agora é sério, temos três horas até a troca, temos que decidir quem é que vai, quem é que fica – declarou e parou diante do grupo. Avaliando-os.

Alguns levantaram as mãos, se voluntariando, outros estavam cansados demais da viagem e preferiam ficar nas instalações, fazendo um trabalho mais braçal.

– Nenhum de vocês vai se juntar? – indagou, apontando para o grupo de Inumanos.

Todos deram de ombros ao mesmo tempo, um tanto entediados.

– Kyle, Marcus, Riley e Taylor – ditou igualmente entediado – Lisa e Alexia fiquem aqui, as coisas podem sair um pouco do controle por lá – falou protetoramente.

– E a gente que vá a merda né? – óbvio que Riley externaria seus pensamentos, era tão impulsiva quanto um adolescente.

– Cala a boca, Carter, desde quando é medrosa? – Taylor a provocou e a puxou pela mão, não queria ver nenhuma briga entre ela e Ward, estava cansada daquelas disputas. Caminharam até um local reservado. – Cadê aquele óleo? – questionou por fim, realmente ansiosa.

– Eu pensei que nunca fossemos tomar – a outra rebateu, cruzando os braços sobre o torso.

A loira revirou os olhos, como se estivesse lidando com uma criança mimada e necessitasse de muita paciência para tal.

– O que te deu hoje, Rey? Cadê o maldito negócio? – inquiriu impaciente.

– Mas você não tem sido uma boa menina, não sei se merece... – sussurrou, levando as mãos até as alças da blusa da garota.

Taylor bufou contrariada, não estava afim de foder, era muito difícil compreender que até seu libido tinha limites?! Segurou no pulso de Riley com voracidade, empurrando-a contra a parede mais próxima, embora não tivesse o intuito de machucá-la. A morena reclamou do impacto, mas rapidamente se calou enquanto prosseguia encarando a loira com olhos cobiçosos.

– Cadê o óleo? Eu não estou brincando e eu não quero foder após viajar por mais de dez horas nessa lata gigante – falou entre dentes, realmente ameaçadora. Toda sua postura dedurava que aquilo não era um pedido, era uma ordem, e Taylor sempre tinha suas exigências sanadas.

– Ok, ok, estressadinha – Carter soltou-se do aperto e caminhou para longe da garota, com nítido ressentimento sobre o ocorrido. Parou diante das próprias malas e tirou de lá a tal lata, entregando-a com mau humor nas mãos da jovem. – Agora vai embora – aconselhou friamente.

– Não vai tomar comigo? – Taylor parecia genuinamente surpresa, sabia que Riley havia ficado chateada, mas não era para tanto. Todos sabiam que ela não era exatamente uma pessoa delicada, ou com muito tato.

– Não – foi a resposta fria que a mulher lhe lançou.

A garota ainda passou mais alguns instantes sob o frio massacrante, observando Riley desaparecer entre os demais integrantes do grupo e só então fez o caminho contrário, distante de toda movimentação que ocorria. Achou um local recluso o suficiente para se sentir confortável para testar sua teoria. Após ouvir o que Rosalind dissera tinha 95% de certeza de que era uma Inumana também... Só faltava levar a teoria à prova.

Sentou-se num dos cantos e abriu a lata com certa pressa, olhou-a por um segundo e num ímpeto de coragem (ou estupidez), bebeu o conteúdo. Aquilo era nojento, nunca gostou de peixe. Quando achou que nada iria acontecer, notou seu corpo ser envolvido por um invólucro negro, que serpenteou sobre sua pele, como se tivesse vida. Até que tudo ficou escuro, sua visão perdeu o foco, seu coração acelerou a uma velocidade que não achou ser possível, o oxigênio não parecia chegar aos seus pulmões e quando achou que fosse morrer, o casulo rompeu, a libertando das suas amarras. Sorte a sua que já estava sentada, pois sentia-se tonta e estranha, como se estivesse recebendo microchoques de todas as células do seu corpo. Chutou o casulo para longe e fitou as próprias mãos, apalpando o rosto em seguida, por sorte ele continuava igual, aquilo era um alívio, mas qual era seu poder? Não fazia ideia, nada se manifestou.

Não criara garras, nem espinhos, não tinha olhos-lasers, nem superaudição, nem superforça... Nem todos os outros poderes que pensou. Seu dom era tão idiota que nem um poder real era? Sentia-se minimamente frustrada, como se alguém a tivesse iludido.

– Grande merda – falou com irritação e chutou a lata para longe. Voltando para a base novamente.

Deparou-se com Riley jogando seu charme para Lisa e aquilo, de alguma forma, fez as entranhas de Taylor contorcerem-se em ciúmes. Odiava dividir, muito embora exigisse isso de todos. Usava Carter, usava Ward, mas não gostava da sensação de ser trocada por nenhum dos dois. Quem compreenderia a mente dela?

Passou reto, fingindo ignorar a cena e caminhou até a cela improvisada onde Rosalind Price estava, precisava saber se existiam Inumanos sem poderes. Taylor parou diante da cela e ficou a encarar os dois brutamontes que estavam ali estáticos, impedindo a sua passagem.

– Licença? – pediu com falsa educação quando eles não se moveram para lhe dar passagem.

– O chefe está lá dentro e ele disse que ninguém poderia entrar – um dos capangas respondeu.

– Sorte a sua que eu não sou ninguém – retrucou com frieza e o lançou seu olhar mais ameaçador, dando um passo para frente, deixando bem claro que ela entraria ali.

Novamente eles se puseram em seu caminho, com as armas em riste dessa vez. Se permitiu um mínimo sorriso em diversão.

– Ok – sussurrou com certo tédio.

Aproveitou o fuzil apontado na sua direção e num movimento meticulosamente calculado o puxou com toda sua força, fazendo o homem o soltar e se desequilibrar, pendendo para frente. Usou o cabo do fuzil para acertar o outro abobalhado, que caiu no chão após ouvir-se um “crack”, possivelmente provindo do seu nariz. O primeiro capanga já havia levantado e agora apontava uma semi-automática na sua direção, incerto se deveria ou não atirar, ouviu-se um clique metálico. Ele havia atirado. E então, como se seu instinto de proteção tivesse sido ativado, tudo congelou. TUDO CONGELOU. A bala ficou a centímetros do seu braço, podia vê-la, tocá-la, mas ela estava imóvel a sua frente. Pelo menos ele não atirou para matar, seria realmente estúpido se o fizesse. Saiu da frente do negócio, não queria abusar da sorte que estava tendo. Olhou ao redor, ainda tentando compreender o que estava acontecendo e deu um soco no rosto do homem que havia atirado contra si, só para ver se ele acordava daquele transe, mas nada aconteceu, ele apenas caiu para o lado, na mesma pose que estava antes do soco.

Aquilo era tão louco, mas tão fodasticamente legal. Será que eles lembrariam quando acordassem?

Não compreendia muito bem como conseguira congelar o tempo, então não fazia ideia de como “descongelá-lo”. Decidiu apreciar um pouco mais aquela oportunidade. Primeiro separou Riley de Lisa, depois matou os dois capangas e em seguida entrou na cela, pegando o celular de Ward, checando suas mensagens.

Hm... Bae e Alex haviam sido pegos... refletiu com amargura. Alex era um bom recruta, acharia uma forma de tê-lo de volta. Devolveu o celular para Ward, não achou nada relevante ali, e, sem outra opção, ficou esperando... E esperando... Começava a achar que aquilo era irreversível, então, após longos cinco minutos, todos descongelaram. Não tinham a mínima noção do que havia acontecido e aparentemente não recordavam de nada, os únicos que poderiam lembrar agora jaziam mortos, então... Não dava para ter absoluta certeza.

– O que você faz aqui? Como entrou? – Ward indagou, realmente confuso.

– Não se preocupe, já matei aqueles idiotas por você – respondeu naturalmente – O que eu não posso escutar? – exigiu saber num ar prepotente.

– Você os matou, você está louca?! – bradou com exasperação, erguendo as mãos no ar em pura descrença – Você não pode ser normal – constatou o óbvio e abandonou a cela, deparando-se com os cadáveres.

– Eles atiraram contra mim, eles que não são normais! – retorquiu e virou-se para Rosalind que a encarava como se ambas compartilhassem um segredo muito importante. – Por que está me olhando assim? – a pergunta saiu mais brusca do que pretendia.

– Essa sensação de jet lag que eu acabei de ter... A mesma sensação que tinha quando saia do domínio de Kevin quando estávamos testando o antídoto, todas as vezes que o efeito dele acabava eu sentia essa mesma sensação de agora – falava de forma apressada e sussurrada – Você mudou, esse é seu poder? – indagou e Taylor ficou mais pálida do que papel. E se Rosalind contasse para todos? Não, aquele era seu segredo, ninguém mais poderia saber. A mulher parecia saber o que se passava na mente doentia da jovem, pois a sorriu tranquilamente – Me ajude a sair daqui e eu não contarei a ninguém – sugeriu, barganhando sua soltura.

– Que tal eu não te matar? – a mais nova rebateu, não cedendo àquela chantagem. – Você mantenha o bico fechado, sou sua única vantagem aqui, e quando chegar a hora eu espero que saiba como me recompensar – aconselhou num tom ameaçador.

– Porra, Taylor, olha a bagunça que você já fez! – Ward esbravejou mais uma vez. Parecia realmente irritado, o que era bom, era bom tê-lo de volta e toda sua ira. – Saia daí e venha limpar isso antes de partirmos – ordenou e a garota acatou, lançando um olhar de aviso para Rosalind antes de abandonar o cômodo.

– O que queria que eu fizesse? Você sabe que tenho problemas para controlar minha raiva – tentava se explicar, ignorando os cadáveres aos seus pés. Os malditos choques não a davam trégua.

Pegou um dos caras pelas pernas e arrastou seu peso morto até a parte externa, deixando um rastro de sangue pelo novo covil.

– Já batizamos o lugar? – Bishop brincou, como se matar alguém fosse sinal de boa sorte ou sei lá.

O ignorou e apenas jogou o cadáver sobre a neve, tingindo-a de vermelho, era quase uma afronta à natureza lesar algo tão imaculado, fez o mesmo com o segundo e começava a cavar suas covas quando Riley surgiu ao seu lado.

– E então, você tomou o óleo? – questionou como quem não quer nada.

– Agora está interessada? –

– Estranho sabe – iniciou, ignorando o mau humor da loira – Eu não lembro de ter me afastado da Lisa, como também não lembro de ouvir a luta entra vocês – apontou para os mortos – É quase como se o tempo houvesse congelado – jogou verde e encarou Taylor longamente.

– Tive a mesma sensação, foi algo muito estranho – saiu pela culatra.

– Hm... Curioso – a mulher abraçou-se ao próprio corpo e expirou, numa tentativa frustrada de se aquecer.

– Vá para dentro, aqui está muito frio – aconselhou com um quê de preocupação.

– E desde quando você se importa? – Riley parecia genuinamente surpresa.

Taylor não tinha uma resposta para aquilo, realmente, desde quando se preocupava? Franziu o cenho um pouco confusa. Primeiro estava com ciúmes de Lisa, agora isso? Só torcia para aquela transformação não ter sido intensa demais. Poderia ser estranha, mas gostava da sua frieza, gostava de pôr-se acima dos demais reles mortais.

– Não quero pegar algum resfriado que você venha a ter, esqueceu que trocamos muitos fluídos? – piscou maliciosamente – E se eu me importasse com você, o que teria de mais? –

Riley encolheu os ombros, ainda fitando a loura com certo receio, como se estivesse diante de uma estranha e apenas deu as costas, voltando-se para dentro das instalações, sem responder nada. Taylor prosseguiu na sua escavação, considerando-se uma idiota por ter dito aquilo.

**

– SHIELD está na nossa cola, mas sabe de uma coisa? Estou ansioso para nosso encontro, tenho assuntos pendentes com muitos deles – Ward carregou a pistola e sorriu friamente.

– Eles já devem saber onde estamos – Bishop concordou e ambos sorriam sadicamente.

– Eu ouvi dizer que nosso anfitrião odeia convidados – todos sorriram, menos Taylor, que entendeu muito bem o que Ward insinuou e Rosalind, por questões óbvias.

A garota abaixou os olhos, se pondo a fitar as próprias mãos. Para todos os efeitos, Ward acreditava no que havia lido nos relatórios da SHIELD, que Taylor havia crescido em orfanatos. Nunca cruzou por sua mente que ela pudesse ser filha de Coulson e May, sorte a dela.

– Só a título de conhecimento, quanto foi oferecido pela minha cabeça? – Rosalind quebrou o clima estranho.

– 100 milhões – Grant respondeu e sorriu de canto – 50 adiantados – se gabou.

Ual, era uma considerável quantia.

A agente suspirou pesadamente e cerrou os olhos – É... Com certeza vai rolar tortura antes da minha morte – pensou alto e calou-se em seguida.

– Olhe pelo lado positivo, você tá valendo uma bolada, tirando o grandão aqui – apontou para o líder – O resto de nós não vale nem dez pratas – Riley sempre tinha uma frase “positiva” para oferecer, por mais bizarra que fosse a situação.

Price fitou Taylor do outro lado da van e quase conversaram telepaticamente. Pelo olhar que a garota a lançou era melhor continuar calada caso desejasse ver outro pôr do sol.

Então iriam pegar cinquenta milhões na hora da entrega? Aquele dinheiro seria mais do que suficiente para sumir e iniciar sua caçada pelo desgraçado do Kevin. Deixaria todos para trás e nunca os veria novamente e, se estivesse de bom humor, libertaria Rosalind durante o processo... Era uma pessoa de palavra, na maioria das vezes.

△REBEL


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