Noite da pizza escrita por Pufosas


Capítulo 3
Capítulo 3




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Cristal, por sua vez, encarava a cena apavorada, roendo todas as unhas. A julgar pelo tempo que devia estar fazendo isso, era provável que suas unhas nem existissem mais no dia seguinte (isso se houvesse um dia seguinte). Ela parecia em estado de choque, até que Lily e Alex a chamaram para um abraço. Nesse momento ela acordou de seus devaneios e fez a coisa mais provável vinda de uma pessoa como ela: berrou como se não houvesse amanhã.

Lily logo se adiantou mandando a outra ficar quieta. Falou em um meio sussurro:

– CRISTAL SUA LOUCA! Imagina se alguém nos encontra...

– Alguém quem??? – Cristal perguntou ainda mais apavorada.

–O responsável por tudo isso! – respondeu Lily, mais irritada do que assustada – Se não ficarmos quietos é provável que...

O resto dessa frase nunca saberemos. É possível que fosse algo do tipo: “morreremos” ou algo do tipo, mas acontece que nesse momento ela foi interrompida por uma faca cravada em seu peito, que veio voando da direção da cozinha. Como é de se esperar, Cristal deu um berro daqueles, e o menino, que mesmo ferido, levantou em um pulo para acudir a irmã. Tudo isso em vão, pois a menina já se fora. De repente, os dois últimos amigos começaram a chorar simultaneamente.

Se eles tivessem olhado na direção que a faca veio talvez tivessem visto o mesmo que eu e talvez se preparado melhor para o que estava por vir, mas não o fizeram. Lá estava ela: Uma garotinha que não aparentava mais de dez anos me observando. Fui hipnotizado pelos seus olhos: eram como imãs para mim, pois eu podia ver que sua história toda estava passando por eles revendo o porquê dela estar fazendo tudo aquilo.

Eu quis me aprofundar naquela visão, e fui tragado pelo passado.

FLASHBACK ON

Maria Clara, a menina a quem pertencia a visão, encarava a janela de um aeroporto. Não aparentava ter mais de seis anos de idade, e acenava entusiasmada a um avião. Ele já tinha atingido uma altura considerável quando uma das asas começou a pegar fogo. O avião não tardou a cair, assim como as lágrimas da menina. Seus pensamentos eram bem claros: seus pais a haviam deixado.

Os anos se passaram depressa depois daquilo, e a menina não parecia crescer nunca. Sua tia que vivia na Europa não quis arrastar a criança consigo, e ao invés de dar uma educação adequada à Maria Clara, preferiu mandar uma babá para cuidar da mesma; foi aí a primeira vez que que Maria Clara foi tomada por um sentimento em particular: o ódio.

Após se livrar de sua babá com o auxílio da mesma faca que usava agora, começou a dar um jeito de sobreviver sozinha. Durante o período de nove anos, ela não deixava uma única alma viva deixar o apartamento, e mergulhou na solidão.

FLASHBACK OFF

Não consegui entender o motivo da menina ainda parecer tão jovem, pois sua idade real era muito maior. Voltei para a sala, e dessa vez percebi que a menina olhava para mim, porém os humanos não conseguiam, no geral, me ver. Eu era apenas uma presença, algo que estava ali para mostrar o quão efêmera é a vida, mas mesmo assim ela me observava. Cheguei à conclusão, por fim, de que ela deveria estar olhando alguma coisa que estava atrás de mim.

Depois de uns bons cinco minutos de choro, os dois estavam prontos para prosseguir. Alex mantinha uma calma surpreendente e ajudava Cristal a se levantar enquanto lhe dizia o que fazer. Ela assentiu ainda em choque, e dirigiu-se lentamente até a porta. Como era de se esperar: trancada. Pela sua expressão o pânico já começava a dominá-la e teve que voltar correndo para perto de Alex. Eles conversaram um pouco e ela já chorava outra vez, dessa vez baixinho. Os dois andavam em direção ao corredor mal iluminado e espantaram-se com a extensão do mesmo. Começaram com passos hesitantes, mas desistiram dessa estratégia ao ouvirem um ruído proveniente de algum canto do apartamento enorme. Começaram a correr, mas como o menino não tinha mais forças (graças ao profundo corte nas costas), foi deixado para trás por Cristal, que nem percebeu ao fazê-lo. Ela corria o máximo que suas pernas lhe permitiam, mas o corredor não parecia ter fim. O menino, a essas alturas, já havia sido puxado para dentro das inúmeras portas do corredor, encontrando seu fim lá.


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