Devaneios de Rodzeye escrita por Rodrigo Silveira
O anjo no elevador
Ele já estava lá quando eu entrei no elevador. O menino estava apontando o dedo do meio para mim. Suas bochechas estavam vermelhas – contrastando com o tom branco de sua pele – e cheias como se estivesse furioso.
Surpreso com tal atitude, eu virei para a porta tentando não encará-lo. O garoto não aparentava ter mais de doze anos. Eu tinha me decidido por não me dirigir a ele, mas ele fez primeiro.
- Sabe o que acontece se você se jogar daqui de cima? – Eu me virei para ver do que ele estava falando. Estávamos em um elevador externo do prédio. Era possível ver quase a cidade toda dali.
- Acho que eu morreria – respondi sem jeito – Você também.
Ele balançou a cabeça negativamente e seus cabelos perfeitamente loiros e cacheados seguiram o movimento frenético.
- Os motivos são diferentes. Meu pai é chato. Eu morreria por obediência. Acho que ele se importa mais com você.
Eu me aproximei da parte de vidro do elevador. Já havíamos subido trinta metros.
- Desculpe. Eu conheço seu pai?
O menino me olhou de cima a baixo. Seus olhos eram azuis de uma forma cristalina como eu nunca tinha visto antes. Nesse momento ele me dirigiu um olhar tão serio que parecia que o garotinho de doze tinha se tornado um senhor de setenta.
- Não sei. Acho que não. As pessoas que dizem que conhecem ele viram idiotas que ficam esfregando frases velhas na cara das pessoas.
- Tá – Eu realmente tomei por verdade o fato de que eu não fazia ideia do que ele estava falando. – E ele, seu pai está aqui?
Ele deu de ombros e caminhou pelo elevador. Agora tinha voltado a parecer um garotinho.
- Dizem que sim. Lá fora também.
- E sua mãe? – Certo. Eu definitivamente tinha quebrado meu voto de não falar com ele. – Sabe onde ela está? Ela trabalha aqui?
Um grito de dúvida misturada com incerteza passou pelo rosto do menino. Ele fez uma careta e voltou a parte de onde se podia ver a cidade.
- O que você tá fazendo aqui? – Eu perguntei.
- Sei lá só vim ficar longe do meu irmão. O Miguel. Ele é chato. Não me deixa brincar com os meus primos.
- E eles moram aqui? Digo, os seus primos?
- Ah. Não eles moram mais para baixo.
- E para que andar você está indo?
Ele me dirigiu um olhar traquino como todo garoto de doze anos deveria ter.
- Lugar nenhum. Primeiro eu vou pra bem alto. – Então seu sorriso se alargou quase como se ele fosse um diabinho. – E depois eu vou lá para baixo. E vou ficar lá.
Depois de finalmente chegar ao meu andar, eu deixei o garoto sem a formalidade de me despedir, pois achei que não seria relevante para uma criança. E eu nunca mais vi o garoto.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!