Aquele dia na escola escrita por Duda Bitar


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Rélou, leitores!
Mais uma oneshot pós-revolução, pois é... daqui a pouco vocês me matam por eu só postar oneshot, eu sei. Mas essa é legal, eu juro! Na verdade, essa foi a primeira fanfic que eu escrevi e eu achei que seria legal compartilhar esta pequena ideia que se passou em minha cabeça há cerca de uns dois anos atrás.
Eu não tenho muito mais o que dizer, apenas espero que gostem e desejo uma boa leitura a todos!



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Há cerca de dois anos atrás houve a revolução e houve o fim da guerra civil. Estou em minha casa, na Aldeia dos Vitoriosos do Distrito 12, a qual divido com Katniss há uns meses... A vida não tem sido tão fácil para nós dois – os traumas ainda estão aqui, nossos fantasmas não vão embora e nos lembramos de tudo com mais clareza do que queremos –, mas tentamos seguir em frente com a promessa de que o dia de amanhã pode ser melhor.

Estamos com 20 anos e eu só consigo pensar no quão jovens somos e em toda a vida que ainda temos pela frente. Não podemos simplesmente desistir de tudo porque o passado foi duro demais conosco e porque os traumas parecem difíceis de superar. Nós lutamos por um mundo melhor e o conseguimos, mesmo que por meio de vários sacrifícios; logo, qual seria o ponto em desistir e não usufruir da tão esperada paz? É isso que penso nos dias mais difíceis, por assim dizer, nos quais lembro-me de tudo e luto para reprimir o que a Capital pôs de ruim em mim; nos dias em que desistir parece muito mais fácil que continuar aqui por mais tempo.

Ainda que Katniss e eu não gostemos de reviver todos os acontecimentos dos últimos anos, vez ou outra ainda nos chamam na Capital para darmos entrevistas com Caesar Flickerman – afinal, o homem continua com seu programa de entretenimento e notícias, apesar de agora ser algo renovado. Entretanto, ainda não entendo porque focam tanto em nós; quero dizer, não fomos nós dois que lutamos e fizemos tudo sozinhos, apesar de termos sido – melhor dizendo, de Katniss ter sido – o motivo para as rebeliões e levantes nos Distritos começarem.

Apesar deste meu pensamento, é comum que crianças nos apontem para seus pais ou nos parem nas ruas pedindo umas fotos e, em casos raros, até mesmo autógrafos... Agora somos como celebridades e isso não me agrada. Eu só gostaria de viver o resto de minha vida em paz, longe das câmeras e dos holofotes. Porém, mesmo com o novo governo e mesmo que eu não queira ser reconhecido, as pessoas ainda precisam de heróis. Pessoas em quem elas acreditarão; rostos que lhe darão inspiração, coragem e esperança. Eu penso que poderiam ter escolhido outras pessoas para essa função e Katniss concorda comigo neste ponto; apesar disso, fomos nós que estivemos em evidência desde o começo: os dois adolescentes, os amantes-desafortunados, que se opuseram ao sistema. Katniss que foi o rosto da revolução, o Tordo. Nós estivemos na guerra. E eu sei que nunca nos livraríamos disso... Agora éramos parte da história da nação e conheceriam nossos nomes séculos à frente.

Mesmo que eu não queira nada disso, esta é a minha vida e, no fim das contas, não há nada que eu possa fazer para que seja diferente. Ao menos eu ainda posso tentar seguir os planos que sempre tive... posso tentar continuar com o negócio dos meus pais, reabrindo a padaria, e quem sabe ter minha própria família um dia.

É claro que antes de tudo, eu tinha meus sonhos. Esperava que eu, ou alguém de minha família, nunca fosse selecionado para os Jogos; esperava poder me aproximar de Katniss Everdeen – sempre meu amor platônico – e, quem sabe, ter uma chance com ela; se isso não desse certo, o que era bem provável de acontecer, eu esperava conhecer uma garota tão encantadora quanto e me apaixonar, quem sabe casar e ter filhos... hoje, isso parece mais difícil do que nunca, mesmo que eu tenha me aproximado consideravelmente de Katniss e mesmo que, parte de mim, continue apaixonado por ela. Afinal, a nossa relação não é especial e preciso ser realista quanto a isso; nós nos entendemos e ajudamos um ao outro, sim, vivemos e dormimos juntos porque é mais fácil superar tudo estando com o outro, mas não há um romance real entre nós. E, depois de tudo, acho extremamente difícil ter uma família e conhecer alguém que se torne importante para mim ou que realmente entenda tudo que passei. Katniss é a única que compreende minha dor, já que experimenta de sentimentos e traumas semelhantes aos meus.

Odeio saber que ela está tão mal, mas não sei se há muito que eu possa fazer, já que, até para mim mesmo, levar uma vida boa e em paz, sem medos e abalos, é um desafio.

Eu realmente gostaria de ainda estar na época em que não existiam tantos sentimentos e lembranças ruins, apenas meus sonhos inocentes de uma criança de cinco anos, que se apaixonara por sua coleguinha de turma. Nunca me esqueceria do dia em que tive certeza do meu amor por Katniss, decerto saber isso mudou minha vida e influenciou boa parte de minhas ações e escolhas.

Naquele dia eu não esperava que algo de importante fosse realmente acontecer, mas tudo já começou diferente a partir da conversa que tive com meu pai sobre a menina de duas tranças e vestido vermelho. Mesmo tendo apenas cinco anos e sendo uma criança emburrada, Katniss Everdeen conseguia ser encantadora e seus olhos já eram incríveis. Ela sempre fora linda, não há como se negar este fato.

Estávamos em sala de aula, cada um sentado em seu lugar esperando a professora. Todas as crianças conversavam animadamente e meus amigos de escola brincavam, tacando bolas de papel uns nos outros.

Para variar, Katniss estava retraída, rabiscando algo em seu caderno. Ela não era amiga de muitas crianças. É claro que sorria e brincava, tinha também suas amiguinhas, mas parecia ficar muito bem sozinha e, às vezes, ela era realmente carrancuda. Na verdade, eu só via aquela garota alegre de verdade quando estava acompanhada de seu pai... junto dele, ambos cantavam, sorriam e brincavam; Katniss pulava e falava sem parar. Ao menos era isso que eu via todos os dias, antes de minha mãe aparecer para me buscar, sempre atrasada, minutos após o término das aulas.

A professora entrou na sala. Como era uma turma de crianças e ainda estávamos no primário, sendo alfabetizados, sempre começávamos o dia com uma música. A senhora anunciou que, naquele dia, iríamos aprender a "Canção do Vale", uma cantiga um tanto diferente das outras que cantávamos, sempre infantis. A mulher perguntou à turma se alguém já conhecia a música e, surpreendendo a todos, Katniss levantou sua mão no ar com um sorriso. Ela costumava não participar das aulas, mas, desta vez, parecia orgulhosa por estar participando e por ser a única que sabia.

Lembro-me que eu nunca tivera a chance de ouvir a música e lembro-me que a professora pediu que Katniss cantasse a canção, a fim de ajudar a ensinar os colegas. A criança teve o rosto tomando por um forte rubor, mas foi à frente da classe, junto da professora, e subiu num banquinho, para que todos a vissem com clareza. Limpou a garganta e começou a cantar.

Katniss era apenas uma criança e nunca tivera nenhum tipo de treinamento com a voz, estava cantando sozinha, sem o apoio de instrumentos; porém, cantava de forma magnifica. O som de sua voz propagou-se pela sala e ninguém era capaz de falar uma palavra sequer, nem mesmo os alunos mais baderneiros. Era quase como um pecado ouvir uma voz tão linda e interrompe-la, não escutá-la.

Ainda posso jurar que até mesmo os pássaros pararam para ouvir, tão absoluto era o silêncio. Se não me engano, os mesmos eram tordos... Passados uns minutos que a canção parou, pude jurar também que os animais começaram a recriar a melodia.

Foi uma das melhores experiências que tive. Eu me senti bem, no entanto, tão bobo e sem ação, com meus pensamentos embolados. Também havia um calor tomando conta do meu peito, que me fazia achar que Katniss era a pessoa mais incrível que eu já tinha conhecido. Naquele momento, eu não tive mais dúvidas dos meus sentimentos pela Everdeen. Eu soube que eu gostava daquela garota, mesmo que ainda fosse algo fraco e infantil.

Relembrar tais fatos, relembrou-me de tudo que eu ainda sentia por ela, apesar de tudo. Agora amava-a de uma forma mais madura e sincera, mesmo que meu amor continuasse sendo algo quase unilateral.

Mas eu não reclamaria disso daqui para frente. Talvez algum dia superaremos tudo e, quem sabe, conseguiremos uma centelha de felicidade. Conseguiremos ficar juntos... Não era tão impossível, se eu pensasse com meu lado sonhador. Afinal, Katniss não procuraria-me tanto se não tivesse sentimentos por mim; ainda que os mesmos ainda sejam indefinidos e estejam confusos na mente dela. Sendo realista, porém, o melhor que faço é levar a vida dia após dia sem me importar com tais coisas. Isso são apenas detalhes dos quais o tempo vai se encarregar de cuidar.

Não sei, mas, talvez por uma incrível coincidência, quando desço as escadas e me dirijo ao quintal, para ver o pôr-do-sol, encontro Katniss cuidando de algumas prímulas que pegara de sua casa e plantara ali em nosso quintal.

Estranhamente, reparei que, pela primeira vez em tempos, sua expressão era suave. Já havia me habituado tanto à sua constante expressão pesada, desanimada, que vê-la parecendo tranquila causou-me certo choque.

Katniss não parecia assombrada por seus fantasmas ou cansada por mais uma noite de pesadelos; parecia tão em paz quanto pudesse estar e parecia estar mais determinada, esperançosa... Como se, de algum modo, ela tivesse acordado hoje e percebido que a vida ainda pode valer à pena.

A morena cantava a Canção do Vale do mesmo modo, suave e  tranquilamente, acompanhada de alguns tordos que recriavam a melodia, que já deveria ter sido cantada antes, para ensiná-los. Como aquela voz trazia-me paz...

Enquanto a melodia se espalhava e dominava o momento, eu só conseguia ficar parado na soleira da porta ouvindo e apreciando todo aquele espetáculo. Era bom e raro ver Katniss nesse estado de espírito.

— Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro; um leito de grama, um macio e verde travesseiro. Deite a cabeça e feche esses olhos cansados. E quando se abrirem, o Sol já estará no alto dos prados.

"Aqui é seguro e aqui é um abrigo. Aqui as margaridas te protegem de todo perigo. Aqui seus sonhos são doces e amanhã serão lei, aqui é o lugar onde sempre lhe amarei."

"Bem no fundo da campina, bem distante; num maço de folhas, brilha o luar aconchegante. Esqueça sua tristeza e aquele problema estafante, porque quando amanhecer de novo ele não será mais tão pujante."Este verso, em especial, trazia-me uma paz maior ainda. A voz de Katniss pronunciando tais palavras reacendia minha esperança e fazia-me realmente acreditar na promessa de uma vida feliz. Trazia minha vontade de sonhar, que eu perdera depois de tantas tragédias, de volta.

"Aqui é seguro, e aqui é um abrigo; aqui as margaridas te protegem de todo perigo. Aqui seus sonhos são doces e amanhã serão lei, aqui é o lugar onde sempre lhei amarei. Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei."

Mais uma vez, fico perdido quando a canção acaba. Enquanto eu sorrio e procuro o que dizer, com a impressão de que pareço um bobo, Katniss repara em mim. Vejo suas bochechas tomarem cor e percebo que o encanto do momento se quebrou.

— Há quanto tempo você está aí, Peeta? – ela pergunta.

— Desde o começo da música. – Dei de ombros. Meu tom era distante, um tanto embasbacado. Como eu deveria parecer um idiota...

Katniss não responde nada. Apenas levanta e limpa as mãos sujas de terra na roupa, evitando contato visual comigo.

— Já vai entrar? – pergunto. Finalmente estava achando palavras coerentes.

— Acho que é melhor eu me limpar. Estou suja de terra. – A morena deu de ombros, ainda tentando evitar-me.

— Você podia ficar e ver o pôr-do-sol comigo – sugeri, antes que pudesse me dar conta do que estava dizendo.

Não estava tentando uma aproximação repentina ou algo deste tipo, entretanto. Apenas queria aproveitar a companhia de Katniss num momento tão bom como esse. Momentos pacíficos e leves, onde praticamente nos esquecemos de tudo que há de ruim em nossas vidas, são raros.

— Tudo bem. Eu fico, então – ela falou, vindo para perto de mim. Não soube identificar se a mesma estava pouco confortável com a situação, se estava indiferente ou se, ainda, estava gostando de poder passar um instante ao meu lado.

Sentamos na relva baixa do quintal, ouvindo os gansos de Haymitch chiarem de seu cercado, a algumas casas de distância. Era primavera e fazia um calorzinho gostoso; os pássaros das poucas árvores que se enraizavam ali piavam como se ainda fosse começo de dia, mas, deixando claro que esse não era o caso, o Sol se punha à nossa frente, nos proporcionado um espetáculo de cores e brilho. O céu tinha tons de azul, roxo e laranja. Aquele era o tom de laranja que eu amava.

Katniss tinha uma prímula na mão e rodava a flor entre seus dedos, de maneira distraída. Para a minha surpresa, ela deitou-se em meu colo e permaneceu ali, apenas olhando o horizonte. Continuei sentado, sem evitar sorrir por estarmos num instante tão bom, e me permiti brincar com as mechas de seu cabelo solto. A mesma não pareceu incomodar-se.

— Isso me lembra aquele dia no antigo Centro de Tributos; no jardim. Lembra disso? – Katniss falou de repente, quebrando o silêncio.

— Lembro como se fosse ontem. – Sorri, de fato lembrando-me bem daquele dia.

Katniss virou-se no chão, ajeitando-se, e continuou girando a flor nas mãos, parecendo sem jeito com minha resposta, enquanto eu ainda brincava com as mechas de seu cabelo. Sem dizer mais nada, continuamos assistindo ao Sol se pondo de forma preguiçosa entre as árvores, bem à nossa frente.

Ao mesmo tempo que o silêncio era tranquilizante, era incômodo; eu podia perceber que Katniss gostaria de falar alguma coisa e eu também gostaria de dizer algo, porém não tinha nada naquele momento.

— Sabe – Katniss começou, então –, eu andei pensando e acho que poderíamos trabalhar juntos naquele livro do meu pai, como fazíamos antes.

— Aquele das plantas? – perguntei. O que ela teria na cabeça?

— Sim. Pensei em registrar nossas lembranças sobre cada pessoa importante que conhecemos, já que a nossa memória pode não ser o lugar mais confiável para guardar informações. Coisas que seriam um crime esquecer.

Me surpreendi com sua ideia e mais ainda com seu tom animado. Empolguei-me também, conforme ela contava-me todas as ideias que tinha. Era um plano simples: haveria uma foto ou pintura da pessoa no começo da página e todos os detalhes que não podem ser esquecidos logo abaixo.

— Eu gostei da ideia – falei, por fim. – Mas nós conhecemos muita gente e podemos chamar Haymitch para ajudar também. Não seria melhor fazer um livro novo, especialmente para isso?

Katniss pareceu ponderar.

— Será que se eu ligasse para o Dr. Aurélius, e comentasse sobre isso, ele poderia nos ajudar? Ele mora na Capital, pode ser que consiga materiais para um livro totalmente novo.

— Então você liga para ele amanhã.

Ela assentiu, com um verdadeiro sorriso em seu rosto. Katniss parecia alegre naquele dia e, de alguma forma, aquilo me contagiou. Logo, me sentia tão bem quanto ela aparentava estar.

Após constatar que eu a ajudaria com o tal livro até nos mínimos detalhes, Katniss sentou-se e abraçou-me.

— Obrigada, Peeta.

Eu sorri, retribuindo seu abraço, mesmo que sem jeito, por ter sido pego de surpresa.

— Não precisa agradecer.

Ela separou-se de mim, ainda sorrindo, e apenas me fitou.

— O que foi? – perguntei, erguendo uma sobrancelha.

— Eu estava pensando nisso agora... eu quero ser feliz, Peeta. Não quero ficar chorando e me lamentando a vida toda. Sei que mal começamos, mas, no dia em que terminarmos o livro, eu quero que nós dois honremos cada uma daquelas pessoas, prometendo sermos felizes. Nenhuma das pessoas que penso em colocar nas páginas deste livro gostariam de nos ver assim.

Penso em suas palavras por alguns segundos.

— Você tem total razão, sabe? Acho que devemos isso a cada uma das pessoas com as quais nos importávamos.

— Sim – ela assentiu. – Mas o que quero dizer é que eu realmente quero que nós dois sejamos felizes. Acho que merecemos isso, depois de tudo.

"(...) Eu realmente quero que nós dois sejamos felizes". Não paro de me perguntar o real sentido destas palavras. Ela quis dizer nós dois juntos ou cada qual com sua felicidade? Ela realmente se importava com minha felicidade? Realmente queria ver-me bem? Geralmente ela é tão indiferente a mim, mas, então, há momentos em que diz ou faz coisas que sugerem que se importa. Como esse tipo de coisa me confunde...

— Sim, merecemos – eu disse, simplesmente. Ainda estava preso àquela sentença, imaginando o que Katniss quisera dizer, mas sem me arriscar a perguntar-lhe.

— O que foi? – Ela parece perceber que eu fiquei calado e perdido em pensamentos.

— Nada. – Dei de ombros. Contudo, me sentia mais confuso.

Confusão. Isso não tinha como ser bom; para mim se tornara um enorme perigo. Era sempre num piscar de olhos e com coisas insignificantes que eu me descontrolava.

— Peeta? – Katniss pergunta, tocando em meu ombro. Seu tom era preocupado.

Me dei conta que eu havia abaixado a cabeça e estava encolhido, abraçando minhas próprias pernas. Mas eu não conseguia endireitar-me com esta luta interna. Sentia uma parte sombria de mim crescendo cada vez mais.

"Ela realmente se importa?", comecei a questionar-me. "Depois de tudo que me causou, ela merece ser feliz?", pensei e senti a raiva subindo. "As torturas, a dor, minha família morta... tudo é culpa dela!", uma parte de mim gritava. Todavia, não posso deixar que esse lado sombrio tome conta de mim agora; não num momento como este, tão em paz. E eu não quero sentir isso novamente. Não quero.

— Você realmente se importa comigo agora, apesar de todo o modo como me tratou no passado. Real ou não real? – questionei. Esse lance de "real ou não real" era o que mais ajudava quando eu estava prestes a perder o controle.

— Real – ela diz, com a voz tornando-se alarmada. Parecia ter ficado com um medo repentino; um medo de que eu cedesse ao lado que acreditava nos flashbacks falsos que invadiam minha mente – Peeta, eu me importo com você desde sempre. Só era idiota e fria demais para admitir isso para mim mesma.

Lampejos de sua frieza atravessaram minha mente, pondo-me mais confuso. Então agora eu apertava os olhos com força e fechava as mãos em punho. Nada disso podia ser real.

— Peeta, fique comigo – Katniss falou. Senti suas mãos correndo pelo meu cabelo, o que era um tanto tranquilizante.

Lampejos borrados de todas as vezes em que ela precisou de mim e parecia realmente querer-me por perto, de todas as vezes que ela se importou comigo, vieram à minha mente. Me agarrei a isso. Era real, ela acabou de me dizer que era real... Preciso focar-me. As lembranças falsas da capital são claras e nítidas demais.

Sinto a onda de angústia passando, sinto meu lado sombrio adormecendo mais uma vez. Levanto a cabeça e enxergo a íris cinza de Katniss encarando-me.

— Fique comigo – disse num tom baixo. Parecia quase com medo de que eu não fosse eu.

— Sempre – respondi, por fim.

Vejo Katniss sorrir e tudo o que registro em seguida são seus lábios colando-se aos meus, num beijo desesperado, porém terno.

Sinto-me feliz imediatamente e compreendo que ela queria que nós dois ficássemos juntos e felizes, um ao lado do outro. Assim como eu não sei lidar com os pesadelos e os flashbacks sem ela, Katniss não sabe lidar com os pesadelos e traumas sem mim. Não podemos continuar um sem o outro e acho que sou idiota demais por ter duvidado disso.

— Katniss – começo a dizer quando paramos o beijo, fitando seus olhos. Sinto insegurança, mas resolvo terminar minha pergunta –, você me ama. Real ou não real?

Seus olhos encaram-me por longos segundos e sua expressão é indecifrável. Sinto-me tolo por ter perguntando isso pela primeira vez e sinto o desapontamento chegando, após tantos segundos de silêncio. Mas, então, Katniss sorri e deixa sua máscara misteriosa cair.

— Real – diz, de forma determinada. – Você já deveria saber disso sem precisar perguntar – completa, em um tom um tanto jocoso, sorrindo levemente.

Só o que sei fazer é dizer a ela o quanto a amo também, mesmo que Katniss saiba bem disso, enquanto dou-lhe vários beijos pelo rosto. Pela primeira vez em muito tempo, sinto a mais pura felicidade me dominando. Sinto a esperança de que posso, sim, ter uma vida boa ao lado de quem ainda amo.

Selo nosso amor com mais um beijo. Desta vez, porém, não temos escrúpulos ao nos beijar e é tudo muito intenso, quente e urgente.

Quando aquela mesma sensação que nos dominara na praia da segunda Arena nos domina aqui também, decidimos por meio de um acordo silencioso que já era hora de entrar e ter um pouco mais de privacidade em nosso quarto. Ambos sabíamos que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde, de qualquer forma.

O que mais me deixa feliz, no entanto, é saber que não há alguém capaz de nos separar; ou então algo que tenha força e poder para isso. Nós não iríamos simplesmente deixar o outro. Nem se quiséssemos, conseguiríamos isso; pois não se tratava apenas de amar e não querer perder a pessoa, é que nós realmente precisávamos um do outro para continuar vivendo um dia de cada vez. E como eu fui idiota por não ter tido certeza disso antes...


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Notas finais do capítulo

"That's all Folks!"
O que acharam da fic? Está boa? Ruim? Mais ou menos? Clichê? Maravilhosa? Chata? Incrível? Eu escrevi bem ou mal?
Tudo bem, não precisam responder todas essas perguntas! Eu só quero deixar claro o quanto conto com a opinião de vocês e o quanto adoraria receber reviews, mesmo que a maioria de vocês tenha preguiça na hora de comentar, principalmente em oneshots (não pensem que não sei disso, também sou leitora!). E, por isso mesmo, quando digo reviews, não precisa ser uma coisa enorme like resenha de livro, não; apenas um “Gostei.” ou até mesmo um “Não gostei.” alegrariam meu dia (sim, críticas são tão bem-vindas quanto elogios). Além de reviews motivarem esta autora aqui a postar mais fanfics, é ótimo ser reconhecida e é melhor ainda responder vocês (eu realmente adoro fazer isso)!
Enfim, desculpem-me por qualquer erro, mesmo com as minhas inúmeras revisões, e por qualquer outra coisa incômoda durante a fic que eu não tenha notado.
Beijão ♡



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