Capítulo III

Tormenta

Dois dias se passaram sem nenhuma mudança no estado de Loki. Ele não estava dando nenhum sinal de que iria acordar, mesmo com suas feridas já cicatrizadas exceto pelas terríveis manchas e veios negros que pareciam cada vez pior com o passar do tempo. Thor passava a maior parte do seu tempo ao lado de Loki, as vezes sussurrando incentivos para ele acordar ou falando sobre seu dia e coisas que estavam acontecendo em Asgard. Ele se sentia exausto como se a visão de Loki lutando por sua vida estivesse sugando um pouco de sua própria força vital.

O fantasma da perspectiva de que Loki já pudesse estar morto há muito tempo e que seu corpo estava apenas sendo alimentado por magia ainda assombrava os pensamentos do príncipe herdeiro. Mesmo com Eir e a jovem curandeira que ele descobriu se chamar Annika dizendo ser pouco provável, o estado do seu irmão caçula parecia mostrar o contrário.

Um dia quando Thor veio fazer sua vigília rotineira no leito de seu irmão, ele foi incapaz de conter um grito de alegria.

Os olhos de Loki estavam abertos.

Finalmente! Pensou Thor.

Em dois saltos ele estava ao lado cama e segurou Loki pelos ombros, mas seus orbes verdes continuavam fixos no teto sem nenhum brilho ou expressão.

“Irmão, você está acordado! Você está me ouvindo Por favor, responda!”

Nenhuma reação.

Annika que estava na sala ao lado preparando algumas poções veio checar o motivo de tanta agitação e se deparou com Thor segurando Loki nos braços e acariciando seus fios negros enquanto sussurrava incentivos para ele responder. Com relutância o príncipe herdeiro soltou seu irmão caçula para que Annika pudesse examina-lo. Ela lançou uma luz nos olhos de Loki e lentamente ela observou suas pupilas se contraírem. Após isso ela se virou para Thor com um sorriso triste.

“Despertar de um sono profundo como esse não é algo fácil. É como estar no fundo de um lago e tentar nadar até a superfície.” Disse ela. “Os olhos dele estão abertos, mas ele ainda não está consciente.”

Todo o brilho de euforia no rosto de Thor se desfez com essas palavras.

“Eu sinto muito, sua alteza.” Respondeu Annika.

“Oh! Não, por favor!” Respondeu Thor. “De qualquer forma, isso significa que ele vai acordar? Um dia.”

Annika mordeu o lábio antes de responder.

“Provavelmente sim... um dia. Não há nada que o impeça de despertar, suas feridas já estão curadas e o veneno está contido. Apenas precisamos de tempo.”

Isso foi o suficiente para alegrar Thor novamente e ele se sentou novamente no seu lugar ao lado de Loki e começou a contar quais foram as últimas aventuras dos Três Guerreiros. A jovem curandeira deixou os dois a sós e voltou para seu trabalho nas poções.

Mais tarde, Annika apareceu para colocar um campo de cura ao redor da cama de Loki, muito similar ao que Odin usava durante seu sono. Ela tinha esperanças de que isso reforçasse a magia do jovem príncipe para que ele consiga reunir forças para acordar.

A tarefa de se dedicar ao caso de Loki não estava se mostrando particularmente cansativa, mas isso se devia ao fato de não haver muito a ser feito pelo seu paciente se ela não descobrir uma forma de remover aquela estranha infecção do seu corpo. Ela gastou a maior parte do seu tempo em cima de livros e mais livros tentando achar alguma forma de ao menos diminuir os efeitos das substâncias que eram usadas naquelas lâminas, o que não estava sendo fácil já que a espécie fora dizimada na guerra e não houve muito tempo para estuda-las.

Foi em uma madrugada, duas semanas depois de ter sido trazido de volta a Asgard que Loki acordou.

Tinha sido um dia bastante cansativo para Thor. Depois que o furor de descobrir que o Príncipe Caído sobrevivera à expedição para Svartalfheim, Odin exigiu que seu herdeiro retomasse suas funções como príncipe e futuro rei. A coroação fora adiada por tempo indefinido, mas o velho rei estava se sentindo cada vez mais cansado e não iria demorar muito para que ele caísse no Odinsleep novamente. Com isso, Thor fora obrigado a passar horas e mais horas entediantes com compromissos diplomáticos e negociações comerciais.

Somente durante a noite ele pode passar nas Salas de Cura para ver seu irmão.

“Olá, Annika.” Cumprimentou Thor que já havia se afeiçoado a jovem curandeira que se dedicava tanto ao seu irmão. “Como ele está?”

“Ele está indo bem hoje.” Respondeu ela. “As manchas não estão diminuindo tanto quanto antes, mas hoje irei lhe dar uma poção que pode ajudar a regredir ainda mais o avanço do veneno.”

Loki ainda abria os olhos esporadicamente, mas já se faziam dias desde a última vez. Annika se sentiu um pouco preocupada com isso, mas era esperado que suas últimas poções e feitiços fossem perdendo o efeito e o príncipe iria precisar ainda mais de suas forças para se defender da infecção.

Thor acabou ficando ao lado de Loki até adormecer. Ele sentia exausto demais para caminhar até seus aposentos e as Salas de Cura eram tão calmas que se sentia melhor ali do que em qualquer outro lugar do palácio.

Ele acabou acordando no meio da madrugada sem saber exatamente o que lhe tinha despertado até sentir sua mão sendo apertada com alguma força.

Loki estava novamente com os olhos abertos e eles não tinham o olhar cego de antes, mas também não pareciam estar focando em algo.

“Loki? Irmão?” Disse Thor cautelosamente sem querer que a euforia tomasse conta de seu espirito precipitadamente.

Loki pareceu responder ao chamado, mas seu corpo se contraiu como se tivesse tomado um choque fazendo seus olhos se fecharem.

E então ele começou a gritar.

Foi um golpe de sorte o fato de que Annika havia adormecido em cima de livros na sala dos curandeiros. O som de gritos, tanto os de Loki quanto os de Thor, a fizeram acordar e ela correu o mais rápido possível para o leito de seu paciente.

Loki se contorcia em posição fetal na cama enquanto gritava em agonia. Thor circundava o leito tentando fazer Loki responder e cada vez que ele tocava seu irmão era respondido com mais gritos de dor. Ele nunca tinha visto Loki em tal estado, mesmo quando ele fora empalado pela lâmina que quase ceifou sua vida, ele não fez nenhum som de dor.

Annika chamou mais alguns curandeiros e eles tiveram que lutar para afastar Thor e segurar Loki em uma posição fixa para que ele pudesse ser sedado. Eles conseguiram fazê-lo voltar a adormecer, mas sua expressão não era mais pacifica como antes. Cada traço de seu rosto parecia contraído em uma expressão de profundo sofrimento e sua respiração estava fazendo sons que pareciam soluços de choro.

Após acalmar o príncipe caçula, ela teve que acalmar o príncipe mais velho.

“Sinto muito, meu senhor, mas isso foi necessário.” Disse ela após conseguir deixar Thor calmo o suficiente para ouvir. “A infecção responde de forma dolorosa quando está sendo atacada pelo organismo do príncipe. Infelizmente ele terá que passar por isso para poder se curar, esse é o único tratamento que está fazendo algum efeito. Ele está sofrendo, mas também está voltando para nós.”

Thor concordou relutantemente. A ideia de que Loki seria obrigado a passar por mais dor e sofrimento era terrível demais para suportar. Depois de tudo que ele passou para sobreviver, ainda haveria mais essa provação em seu caminho.

“Eu farei o possível para aliviar a dor e fazê-lo se sentir melhor.” Disse Annika timidamente antes de se virar e continuar a tratar seu paciente.

Cerca de uma hora depois, Thor juntou coragem de se sentar novamente, mas agora a paz havia desaparecido e sido tomada pelos soluços e gemidos de Loki que ainda sofria em seu sono.

“Resista, irmão.” Sussurrou Thor apertando uma das mãos gélidas de seu irmão caçula. “Você é forte e irá passar por isso.”

Ele continuou a murmurar palavras de força e incentivo para seu irmão, até que o cansaço o tomasse novamente e quando os primeiros raios de sol saíram, ele fora capaz de cair num sono leve.

Um movimento ao seu lado o fez despertar poucas horas e quando ele abriu os olhos, fora recepcionado com Loki o observando fixamente e com um leve sorriso em seus lábios.