Eu havia esquecido como se rezava o Pai nosso e me perguntava se isso era normal, ao mesmo tempo não dava a mínima. Em um papel que eu achei jogado no chão dessa casa eu escrevia uma música.

Dei o nome de Miss Nothing, pois era isso que eu era. Eu acendia uma vela atrás da outra a fim de trazer luz para a casa. Havia um vestido preto jogado no chão, e eu sabia como ele era apertado e curto mas como já estava de lingerie e meia calça, o coloquei.

Mais uma vez eu arrasto para a igreja mais próxima com meu salto na mão. Eu conhecia muito bem o padre Phillip e ele insistia para que eu me tornasse freira, eu ria dele e dizia que era impossível.

-Padre, eu sou atormentada. -choraminguei colocando meu salto

A igreja estava vazia a não ser por mim e o padre.

-Taylor, volte para sua casa, vista roupas normais e reze, se converta. É minha dica.

-Ah, padre, eu não de onde eu vim. Não sei o que eu significo. Eu não sei o que eu fiz comigo.

-Taylor. -ele suspirou, já era acostumado comigo-Volte para sua casa.

-Por que não quer me fazer companhia? Tem que voltar para casa e implorar para que sua mulher foda com você?

-Jesus, salve essa alma. -ele disse olhando para a cruz na parede depois se virou para mim- Taylor, você sabe que eu não tenho mulher.

-Padre, não é minha culpa. Eu ser assim. Eu sou atormentada -ri acendendo um cigarro -Me acompanha?

-Taylor, se quiser ficar trancada aqui na igreja, tudo bem. Mas eu tenho que ir. E não, não quero nenhum cigarro, estou limpo a dois anos.

Soltei a fumaça do cigarro para cima.

-Eu vou. -me aproximei dele- Mas amanhã eu volto aqui, prometo.

-Volte um pouco mais cedo, para acompanhar a missa, prometo que ninguém falara nada de você.

-Eu vou voltar -sorri

A verdade era que eu gostava da companhia do padre Phillip, ia a missa e ficava no fundo só ouvindo ele falar. Era um cara com mente aberta. Qualquer outro padre já teria me exorcizado a muito tempo. Phillip me deixava frequentar a igreja e me defendia quando me olhavam torto. Ele era um ótimo amigo.

Sai da igreja, mas não voltei para casa. Sai pelas ruas da fria cidade em que morava. Cheguei no lugar onde eu queria ir e bati na porta. A mulher loira abriu a porta. Ela tinha um belo sorriso mas eu nunca o via, era uma vaga lembrança de sorriso. E quando ela me vê, a raiva toma de conta dela.

-O que você quer?

-Minha irmã está?

-Você não vai falar com ela e te tirei daqui para que ela ficasse longe de você.

-O padre Phillip gosta de mim, mamãe. Por que você não?

-Taylor, saia daqui!

Meu único erro foi nunca querer deixa-la triste.

-Taylor? -era minha irmã

-Oi. -eu disse

-Mamãe, está tudo bem. Eu só vou falar com Taylor um minutinho.

-Só um minutinho já basta para essa daí infectar sua mente.

-Mamãe, por favor.

Assim que nossa mãe saiu relutante, minha irmã veio até mim e me abraçou.

-Taylor, mamãe já esta disconfiando. -ela disse me entregando sua mesada

-Ou eu faço isso ou morro de fome.

-Tome, está frio -ela me entregou seu casaco- É melhor eu entrar, tchau.

Ela fechou antes que eu pudesse falar que a amo. Vesti seu casaco xadrez vermelho e preto e sai andando sem rumo novamente. Eu não podia andar sem que as pessoas me encarassem.

Esse era o único local que eu conhecia direito, o longo corredor branco me levava diretamente para o local onde eu ia de vez em quando. Bati na porta e logo Jenna atendeu. Sempre sem blusa e sutiã. Pobre alma perdida, Phillip diria. Entrei sem mesmo pedir licença, eu tinha perdido minha educação na puta que pariu junto com o amor da minha mãe. Me sentei no sofá acendendo outro cigarro.

-Quer alguma coisa, Taylor?

-Tem comida?

-Essa é a última coisa que me pedem. -ela suspirou-Mas vem.

A segui. Eu sabia o que costumavam pedir a ela, não era decente. Passamos por pessoas se drogando, fazendo tatuagens e fazendo varias outras coisas. Entramos na dispensa que ela usa para se trocar e me entregou comida. Parecia mofada e meio antiga.

-Se eu fosse você, tratava e tentava arranjar um emprego, mesmo que seja como o meu -ela disse e saiu

Eu queria que Jenna ficasse comigo um pouco, mas pessoas vem e vão. Elas nunca ficam comigo. Elas não conseguem me amar. Elas tem nojo de mim. Talvez eu seja uma alma perdida que precisa de Deus.

A casa não era minha, era dos avós de Phillip, mas ele me deixava ficar aqui. Tinha um tv que só prestava quando queria então enquanto ela não queria pegar eu lia o grosso livro de capa preta. Phillip disse que se tratava da Bíblia Sagrada e ficou feliz em me ver lendo aquilo. A casa não tinha muitos moveis. Era antiga, era escura, era vazia.

Eu me contentava em apenas ficar aqui sem ninguém, ler, e ser uma alma perdida. Se você convive a muito tempo com isso, você passa a não ligar.

Então eu perco meu tempo e queimo minha mente sendo uma Miss Nada.