Meu nome é Veronika e isso não é um diário. Ela se foi. Ela se foi e a culpa é minha. Minha unica família se foi.

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Hoje é o dia. O dia que finalmente nos livraremos dessa merda toda. Eu e minha namorada finalmente iremos nos mudar de cidade. Por que? Simples. Nós somos perserguidas por todos os merdinhas homofóbicos daqui. Nós já fizemos várias artes marciais, então na maioria das vezes escapamos, mas sempre cheias de hematomas. Teriamos ido embora antes mas estava realmente dificil encontrar um apartamento longe daqui. Fora que tínhamos que explicar o motivo de nos mudarmos...

– Está pronta? - Pergunta Naomi, minha namorada. Ela estava vestindo uma camiseta do Rolling Stones, saia jeans, meia calça e botas de couro. Seu cabelo comprido castanho a fazia lembrar uma boneca asiática. Exceto que bonecas asiáticas não tinham cortes nem um olho roxo.

– Eu estou. Tem certeza que deseja ir agora? - Perguntei me levantando do colchão onde estava sentada. Senti um pouco de atordoação pelo golpe que levei na cabeça ontem a noite, mas tentei disfarçar. Eu usava uma camiseta dois numeros a mais que o meu do The Ramones, calças jeans rasgadas sujas de sangue e all stars pretos. Cabelos negros, curtos e raspados do lado esquerdo. Piercing no nariz, pele parda e olhos com heterocromia. Eu tinha algumas cicatrizes a mais que minha namorada, isso eu sabia. Ela assentiu.

– Nos achamos um bom apartamento e o meu irmão pode nos ajudar. O que aconteceu ontem... Não pode se repetir mais...

Ela olhou para o chão, não pude ver sua expressão mas mesmo assim sabia o que significava: Medo. Ela estava com medo. Mas eu não... Não... Eu só queria me vingar deles. De todas aquelas pessoas que ja machucaram alguem como nós. Mas eu sabia que não podia. Ela me lembrava disso todos os dias. Eu levantei seu rosto e beijei sua testa.

– Vai ficar tudo bem... -Sussurrei, tentando convencer mais a mim mesma que a ela.

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Descemos do busão na rodoviária, prontas para embarcarmos em outro, para a Capital. Ela foi comprar as passagens e eu me sentei em um banco, observando aquele lugar. Uma pontada de esperança encheu o meu peito. Iriamos embora desse inferno, pensei. Porém essa sensação foi substituida por pavor ao olhar para onde Naomi estava. Dois garotos a puxavam para o banheiro enquanto ela se debatia e chorava. As pessoas a volta nem ao menos se importaram com aquela cena. Abri minha bolsa e a vasculhei atras da minha faca. Logo que a achei corri para o banheiro. Lá estavam outros 3 garotos, todos espancando e xingando a minha Naomi. Eu surtei. Tudo virou um borrão e eu ouvi de um grito vindo de um dos garotos e de Naomi.

– Vamos ensinar essas vadias a terem respeito! - Eu ouvi, logo após um barulho de cinto. Eu apaguei.

Acordei sentindo arder todas as partes do meu corpo, principalmente minha intimidade. Abri meus olhos devagar e olhei para o lado. Os garotos haviam sumido e havia uma poça de sangue e Naomi em cima dela. Tentei gritar por socorro mas a minha voz não saia. Eu apenas podia observar o rosto de minha amada, quase sem vida. Seus lábios formaram as palavras " Eu te amo." sem emitir nenhum som.

– Eu te amo... - Sussurrei. - E eles pagarão pelo o que fizeram a nosso amor... Eu olhei dentro de seus olhos e vi a vida sair deles por completo. Eu segurei sua mão e deixei que as lágrimas rolassem.

– Eu te juro... Eles pagarão...

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Eu e todo aquele banheiro nojento estavamos limpos. Limpos de qualquer vestigio de sangue. Até mesmo Naomi. Eu a deitei reto, com as mãos cruzadas no peito segurando uma flor de plastico que eu achei na pia do banheiro. Eu havia fechado seus olhos e arrumado suas roupas. Ela parecia bonita ali, como sempre fora. Só que agora estava morta. Sabia que iriam me culpar pela morte dela, não importasse o que eu dissesse. Eu a amava e agora seria conhecida como sua assassina. Mas isso não importa. Não importa agora. Ela sabe a verdade. Sabe que eu a amo. Segurei em meu colar, a metade de um coração, a outra estava com ela. Eu espero que essa corrente vá para o tumulo com ela. Minha pequena Naomi, eu irei vingar o nosso amor. Eu me olhei no espelho, la fora a chuva ja começara. Coloquei o gorro do meu moletom e a minha faca no bolso. Eu sorri. Me desculpe querida Naomi, mas eu preciso fazer isso.

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Sentei-me no sofá e liguei a televisão. Estava passando um noticiário.

''Um assassinato foi notificado essa manhã. Victor Smith foi encontrado morto em sua casa com marcas de facadas por todo o corpo. Em sua parede estava escrito em sangue ''Você matou o meu amor''. A policia acredita que é uma possível amante querendo se se vingar...''

– Amante? Jura? Bom, acho que eles pensarão diferente depois de você, não acha?

Olhei para o chão e sorri para o homem deitado, já morto.

– Bem, não importa agora.

Eu escrevi a mesma mensagem na parede com a minha faca, cheia de sangue e sai da casa. Tenho muito o que fazer ainda.