“Eu não poderia te dizer
Porque ela se sentia daquele jeito
Ela se sentia assim
Todos os dias”

Thalia observava o local destruído a sua frente.

Pequenas chamas queimavam em diversos cantos. Destroços se encontravam em todos os lugares. Corpos jaziam mortos no chão.

E a filha de Zeus nunca se sentira tão vazia.
Abandonara tudo. O Acampamento Meio-Sangue quase nunca foi seu lar. Óbvio, passara metade de sua infância tentando fugir das loucuras da mãe, e a outra metade fugindo, agora literalmente, da loucura de monstros. E então, passou mais uma grande parte de sua vida sendo uma árvore. E quando acordou, pouco tempo passara no acampamento, e depois, partira numa missão em busca de uma amiga e acabou não voltando.

Thalia não saberia dizer por que estava se sentira daquele jeito.

Ela foi para o grupo de Caçadoras para poder ser livre. Mas por que não se sentia livre?

Então, deixara tudo para trás outra vez. Apenas para voltar e ver as pessoas que amava.

Mortos.

Todos eles.

“Eu não podia ajudá-la
Então apenas observei
Ela cometer os mesmos erros novamente”

O coração de Thalia batia rapidamente. No ritmo em que recebia as informações como socos no estômago.

Estava tudo acabado.

Gaia havia acordado.

E não havia nada para se fazer.

Observava a quadra de vôlei em que costumava jogar com os filhos de Apolo antes de ser uma Caçadora. Os campos de morango em que colhia as frutas com os filhos de Deméter. A arena em que treinava com os filhos de Ares.

Ela nunca mais faria isso novamente.

Andou por entre os destroços. Campistas estavam deitados no chão, alguns com a face serena, outros nem tanto. Vários deles haviam sido amigos de Thalia.

Tropeçou em algo e caiu em cima de um semideus morto. Thalia teve vontade de chorar. Se levantou e procurou o objeto em que poderia ter tropeçado. Pegou o resíduo com a mão e mais uma vez a sensação de vazio a atingiu novamente. Era uma placa.

“Αγροικία 1”

Chalé 1.

Basicamente, sua outra casa.

Olhou para o meio-sangue no chão e reconheceu seu rosto.

Seu cabelo loiro estava bagunçado e sujo de fuligem. A mão segurava a espada de ouro imperial. Em seu pescoço encontravam-se profundas e grandes marcas de garra.

Um lobo.

Jason Grace.

Seu irmão.

Lutou contra o seu orgulho idiota e chorou.

“O que está de errado agora?
Muitos, muitos problemas
Não sabe onde pertence
Onde pertence”

Saiu correndo. Largou a placa no chão e saiu a procura de um lugar.

Ela queria sua casa.

Que diferença faz?

Ela não tinha uma casa.

“Ela quer ir pra casa
Mas não há ninguém em casa
Para secar seus olhos
Destruída por dentro”

Ela estava tão perdida.

Sua mente parecia feita de papel. Corria por entre a própria destruição sem achar um abrigo. Chorava feito uma criança que havia perdido o doce. Até que ela desabou.

Sentou-se no chão sujo e limpou os olhos.

“Você é uma filha de Zeus. Você é mais forte que isso.”

Até que viu o próximo corpo.

No fim, Thalia não era tão forte quanto pensava.

“Abra seus olhos
E olhe ao redor
Encontre o porquê
De você ter sido rejeitada
E agora não encontra
O que deixou pra trás”

O corpo era de Nico di Angelo.

Nada mais, nada menos que a razão de Thalia ter voltado.

Ele morrera de olhos abertos. Os olhos negros encarando Thalia. Os olhos que mais pareciam rios negros percorrendo as veias da garota.

No meio de seu tórax havia uma faca. Uma faca cravada perto do coração.

Alguém o esfaqueara.

E Thalia também se sentia assim.

“Seus sentimentos, ela esconde
Seus sonhos, não encontra
Ela está perdendo a mente
Caindo pra trás”

Ela não podia chorar. Não de novo.

“Por favor, lágrimas, não caiam. Não agora.”

Se ajoelhou diante do corpo do garoto. Abaixou-se e beijou os lábios gelados e finos dele. Um beijo não retribuído.

Acariciou seus cabelos e distribuindo beijinhos pela sua face gélida.

–Eu te amo. – sussurrou. – Eu amo você. Não amava ou amarei. Eu amo você.

“Ela não consegue achar seu lugar
Está perdendo a fé
Está caindo por graça
Está em todo lugar”

Ao longe, ainda ajoelhada do lado do corpo do menino, a garota observava os outros meio-sangues mortos ao seu redor.

Annabeth. Percy. Piper.

A neve caía intensamente no Acampamento.

Mas Thalia não sentia frio.

“Ela está perdida por dentro”

Arrancou a faca do peito de Nico, ainda chorando.

–Perdida por dentro. – sussurrou para si mesma.
Sentindo as lágrimas quentes descerem por suas bochechas, Thalia posicionou a faca diante de seu peito.

E sem hesitar, sentiu a dor alastrante percorrer seu corpo.

Segundos depois, tudo ficou preto.

“Ela quer ir pra casa
Mas não há ninguém em casa”