Étoiles Perdues escrita por Gabe


Capítulo 5
Turning Around


Notas iniciais do capítulo

hello, vocês!
feliz natal atrasado e boa leitura :)



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Grantaire

Todas as coisas parecem surreais de uma hora pra outra. Meus dedos teimam comigo querendo encostar nos cabelos dela ao meu lado. Querendo andar por entre os fios escuros e segurá-la inteira na palma da mão pra nunca mais sumir. Por instantes tenho medo de estar meio louco, obcecado ou qualquer outro adjetivo que explique o porquê de estar tão feliz que os fogos estão explodindo dentro do meu peito.

– psiu!

– Oi – Comb responde do outro lado do corredor do ônibus.

– será que sua mãe deixa você levar ela pra casa?

– Ela quem?

– Adivinha, Combeferre. Minha mãe.

– Você não tem mãe, idiota – ele coça os olhos por baixo dos óculos. – Posso tentar, mas não garanto nada.

– Merci.

Quando olho outra vez pela janela, já estamos em Paris.

******

2 anos depois

Éponine

Comprei mais cedo uma saia nova com o dinheiro que Babet me deu porque hoje faço 19 anos. É xadrez e vermelha. Lã. Fazia tanto tempo que namorava ela no manequim de um brechó por aí que não aguento de felicidade por agora ela ser minha.

Quanto ao Babet, eu juro que tentei fugir. Corri tanto que meus pulmões queimaram, mas parei quando não aguentei mais. Fugir, correr. Passar fome. Eu não aguentei o sono que tomou meu corpo depois de tantas noites mal dormidas ao sereno pensando que ele poderia me achar e me matar. Eu não podia dormir.

Passei quatro noites na casa da mãe do nerd dos óculos quando cheguei a Paris dois anos atrás. Ele morava com o pai.

– Amanhã eu vou passar na igreja pra pegar algumas roupas das doações. Com certeza alguma vai te servir – a mãe dele disse com um sorriso e dando dois tapinhas no meu joelho. Uma droga eu ter sido estúpida a ponto de ir dar uma volta na rua. Foi aí que comecei a correr.

O dia não está nada mal hoje. Falta apenas um ano pra eu conseguir pagar minha divida (sim, aquela de mil e quinhentos anos atrás que nem sei de onde saiu) e então talvez eles me liberem. La Maison Vert é como eles chamam o lugar onde fazemos o serviço. Onde moramos. Onde morremos a cada cliente que sai. Mas, hoje está sendo um bom dia. Eu saí da toca, não saí? Eu comprei minha linda e glamorosa saia de brechó que nunca vou poder usar porque não tenho aonde ir. Eu não tenho nada.

Mas hoje é meu aniversário de 19 anos e talvez eu já possa não ser mais considerada tão idiota assim. Hoje vou usar meu presente e fazer o que bem entender. Hoje eu não devo nada a ninguém.

Enjolras

Tuuu. Tuuu. Tuuu.

Desligo o celular.

– Onde é que esse desgraçado se meteu agora?

– Calma.

– Calma, Combeferre? Como é que eu vou ter calma quando o idiota do Grantaire some e não atende o celular por nada no mundo? Parece que ele faz de propósito de vez em quando.

– Sim, calma. A gente passou tempo demais reclamando que o Grantaire sumia quando era pra estar com a gente, mas quando ele ficava muito você era o primeiro a mandar ele embora. Caso não lembre, um belo dia ele apare...

– Saco! Já sei.

Passei o dia ajudando na mudança. Estamos sujos, cansados e com fome. Sei que não sou o único que quer desistir de tentar, porém sei também que não devemos.

Tento ligar de novo. De novo. De novo. Dou o celular para Combeferre e depois de um tempo ele passa pra Courfeyrac que repete o processo todo andando de um lado pra outro enquanto sentamos no chão.

– A bateria acabou.

Ele me devolve o celular desligado. Apenas balançamos a cabeça e vou embora. Antes de sair, Combeferre me agradece pela ajuda.

A caminho de casa fico pensando onde ele está agora e o que pode estar ou não fazendo. O garoto que não leva nada a sério, mas nunca falta. O único que ouve e não precisa nem falar nada pra ajudar. Ele abraça. Imagino que, se ele passar aqui e agora por mim, eu posso simplesmente abraçá-lo também.

Grantaire

Eu giro, giro e giro de novo. A música alta parece se debater na minha caixa craniana me dando dor de cabeça. Tô rindo a toa há tanto tempo que nem lembro que dia cheguei aqui e com quem vim.

Cadê meu celular?

Procuro no bolso, dentro da camiseta, pergunto pra quem estiver a minha volta se alguém viu, entretanto pareço estar apenas cuspindo palavras confusas e vomito no piso preto com branco. Branco com preto. Cinza.

Que cor é essa? Droga, por que tem tanta luz aqui?

Eles dão risada alto, alguns me xingam e eu xingo de volta, mas ninguém tem força suficiente pra começar uma briga.

Começo a correr em círculos pelo salão conforme a música. Tanto que meus pés se confundem e eu caio em algum canto do outro lado do salão. Com a cara no piso sujo e frio, consigo ver meu celular caído perto do bar, mas não tenho certeza. Pode ser um sapato, uma barata, o computador velho do Enjolras. Quê? Rio de bobeira observando a tela piscar. De novo. De novo. De novo. Infinitas vezes, infinitas vozes. O ritmo do som martelando louco no meu cérebro. A tela já parou de piscar. Me levanto e vou pedir outra bebida.

Onde tá minha carteira? Merde.

Falo sem parar sobre coisas aleatórias e irrito o barman, mas eu só queria uma bebida. Só uma, por favor. Só mais uma.

X

Quando acordo já não há mais festa. Minha cabeça dói e sinto como se minhas costas tivessem sido pisoteadas (o que, infelizmente, pode ser verdade. Já aconteceu uma vez). Sento na calçada em que dormi e procuro o celular outra vez. Toco o bolso da calça encontrando dessa vez o celular. Não lembro da noite anterior, só sei que preciso de um banho e um cigarro. Procuro a carteira, porém ela parece ter desaparecido e agradeço por ser irresponsável o suficiente pra te esquecido a identidade em casa.

Casa.

Me levanto em um pulo e corro feito doido até perceber que não sei onde tô indo e paro pra pensar.

– Lado totalmente contrário, Grantaire. Acorde. Mude.

X

Nós vamos nos mudar pra um apartamento legal e mais perto da universidade. Combeferre, Courfeyrac, Jehan e eu.

– Courf!

Chamo na frente da casa. Assobio.

– Courfeyrac!

A mãe dele aparece na janela ainda usando roupão.

– Grantaire, onde é que você se escondeu? Os meninos estão te procurando há dois dias.

– Quê?

– Sim, te ligaram mil vezes, mas você não atendia. Eles já foram, mas você pode entrar e tomar um banho se quiser.

– Como assim? Foram aonde?

– Se mudaram, querido. Ontem. Entre aqui, são seis horas.

– Quê? – repito e olho pro céu – Manhã ou tarde?

– Manhã.

Me afasto aos poucos do portão e agradeço enquanto ela ainda fala.

Como é que você consegue fazer isso, Grantaire? Você é mesmo um merda como aquele desgraçado do seu pai dizia.

Corro o quanto posso até chegar ao novo endereço.

Viciado de merda. Pintorzinho de merda.

Grito por eles fazendo outros moradores do prédio colocarem as caras pra fora gritando sobre o horário. Um velho resmunga que “esses jovens de hoje em dia não tem mais o que fazer”.

Ser humano de merda.

Volto mais tarde.

Éponine

– Sabe moço, hoje é meu aniversário! Me-u. Opa! Quase cai.

Não consigo nem parar em pé direito então me seguro nele. É tudo tão engraçado por aqui. Não parei de rir nem por um segundo. Esses rapazes foram tão simpáticos ontem à noite. Pagaram minha bebida, me deram uns beijinhos. Vários. Rapazes e beijos. Tantos que ainda não consegui contar.

– Olha só, você é tão gatinho. A gente podia casar não acha?

Uma vez ouvi que a gente devia ter um filtro pra saber o que se deve ou não falar, mas no momento sinto como se o meu tivesse derretido em algum lugar e se misturado na bebida. Tropeço mais umas três vezes enquanto andamos. Céus! Ele é um borrão tão lindo!

– O quê tá fazendo?

Eles estão com um celular apontado pra mim e não param de dar risadinhas.

– Me deixa ver! – protesto gritando e fazendo manha igual criança. Acho a coisa mais hilária do mundo a gravação de mim mesma. Tem da noite anterior também. Dancei em cima de algum muro. Dancei com eles.

– Awn, que linda! Falei em um dos vídeos apontando uma lixeira e me abraçando nela choramingando de repente. É deplorável, mas tão engraçado.

Rio muito. Acendo outro cigarro. Um dos rapazes está me beijando de novo. Ele não beija bem, mas eu o deixo continuar mesmo assim. Olho o céu enquanto ele passa as mãos por dentro da minha blusa

– Essa vadia não usa sutiã! – ele grita pros outros que gritam de volta como se fosse incrível.

– E por que eu usaria?

Falo na minha voz provocativa. A que uso com aqueles babacas que preferem a droga de uma ninfeta a se deitar com as pobres coitadas com quem se casaram. Pobres, ricos, feios e bonitos. Todos eles nos amam quando tudo está escuro.

Outro deles chega perto de mim. O bonito. Por algum motivo eu mesma pego a mão dele e a coloco nos meus seios. Eu sinto nojo de tudo isso, mas parece minha obrigação fazê-lo. Ele vai me pagar depois, não vai? Eu vou pagar a divida, eu vou ser livre.

Com uma mão ele me toca, passa os dedos gelados pelas minhas costas, me machuca apertando forte demais. Na outra ele tem uma garrafa com resto de bebida que derrama em mim sem querer. Não no meu cabelo ou no meu rosto ou qualquer outro lugar. Ele derrama na droga da minha saia.

– Que merda é essa que você fez?

Eu tô muito, muito furiosa.

– Seu desgraçado, filho da puta!

A garrafa quebra no chão quando eu dou o primeiro soco. Vários.

Rapazes e beijos.

Ele caiu na calçada e eu pareço ter caído também. Tudo gira ao redor, tem sangue na minha língua e tô cansada. Não só de brigar porque um imbecil sujou minha saia nova e linda, mas de todas as coisas na minha vida. Desisto de soca-lo e o problema é que ele não se importa nem um pouco em se cobrar. Sorte estar tão bêbado.

X

Já são 6h24 da manhã. Minha visão parece meio embaçada, meu lábio inferior está um tanto quanto inchado de um lado depois da briga e pareço uma prostituta semimorta atirada desse jeito na calçada. Bem, parte é verdade.

Espero passar a tontura e levanto tentando me ajustar o quanto for possível. Enquanto brinco de me equilibrar de pés descalços no meio-fio, fico planejando fugir. E se eu ligasse pra policia avisando da Maison Vert? Se eles fossem presos eu estaria liberta, não estaria?

Os carros estão girando, a rua, os prédios, o cachorro na esquina. Nada para de dar mil voltas ao redor de mim.

E

se?


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Notas finais do capítulo

é isso. eu ia colocar mais coisa, mas queria postar logo pra não demorar muito.
então, feliz 2016 adiantado, migos! muitas bençãos na vida de cada um e que seja melhor que 2015 :D

bjsss



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