Ele tem pendurado ao rosto um óculos que lhe pesa e pairando sobre a cabeça uma densa nuvem com os nomes de Todorov, Propp e Carpeaux. Nos montes de livros empilhados sobre a mesa, ele procura nas palavras daqueles homens antigos as respostas para as suas perguntas filosóficas. Contudo, ele está sozinho e sente frio, o nosso homem moderno. Seus ossos enregelados dentro da carne fazem-no sentir como morto. Morto dentro daquele quarto num dos andares mais altos.

Ilhado em si e no mundo.

O homem moderno e suas convicções um tanto céticas. Ele enrola-se melhor no cobertor e caminha pela casa em busca de calor. O sol que entra pela janela da área de serviço é ralo e quase invisível, um sol que não aquece. Há o barulho da vida mecânica movendo-se lá em baixo, os carros bafejando fumaça e os humanos caçando-se uns aos outros naquele jogo sem fim. O homem moderno respira o ar com cheiro de fuligem que vem da rua e de todos os cantos e pensa no cursor piscando na tela do computador, no trabalho que precisa ser feito, nos homens antigos esperando para serem lidos.

Ele ainda está com frio quando se senta novamente na velha cadeira que não range mais.