Não pensei que seria assim. Nunca me vi em uma situação como aquela.

Lembro-me como se fosse hoje quando decidi tomar aquela atitude e de como foi surpreendente a maneira como ocorreu.

Após aquele dia, percebi que você era — sempre foi — minha. Tanto como eu era seu.

~~5 anos antes~~

Sakura caminhava pelas ruas de Konoha tão lindamente...

Seu cabelo estava preso, porém com poucas mechas soltas, que deixavam seu pescoço a mostra e lhe dava um ar inocente e sensual, simultaneamente.

Sakura era assim: delicada e extremamente forte.

Sua pele alva reluzia ao sol do amanhecer. Seus olhos verdes destacavam-se, brilhantes e chamativos. Coisa que me enfurecia muito, pois via como chamavam a atenção de quem a olhasse.

Por vezes, pegava-me pensando em inúmeras maneiras de aniquilar o homem cujo olhar caísse sobre Sakura.

Se ela sabia disso?

Hn. Nem pensar!

Eu me odiava por isso.... Por não deixar transparecer tal sentimento que, na verdade, nem eu mesmo sabia o que significava. Só tinha a certeza de que era forte.

Contudo, não me sentia digno de tê-la para mim. Manchar toda a sua pureza, juntando sua luz à minha escuridão, parecia-me algo extremamente errado.

Por isso decidi que renegaria tal sentimento.

Decisão que aliás, tomei há anos, desde a época da academia, quando todas aquelas meninas ficavam me perturbando.

Porém Sakura, sempre foi a que mais me irritou. Entre todas, ela era a única que me irritava ao tentar chamar minha atenção. Eu não conseguia compreender o porquê.

Tentava ignorá-la, fazer o mesmo que fazia com as outras.... No entanto, eu não conseguia. No fim, tinha que abrir minha maldita boca, soltando um “você é irritante”. Porque ela era. E continua sendo.

Confesso que com passar do tempo apesar de ter raiva, divertia-me ver a careta que se formava em sua linda face quando eu a chamava de irritante. E bem mais aliviado quando ela compreendeu que isso não era, de todo, uma ofensa.

Observava Sakura seguir pelas ruas em direção à sua casa.

Ao que me parecia, ela acabara de sair de uns de seus plantões no hospital. O cansaço era visível em seu rosto, porém a satisfação de dever cumprido era mais evidente ainda.

Por onde passava, era cumprimentada e sempre retribuía com um lindo sorriso.

Como eu poderia ter algo tão celestial em minhas mãos?

Como eu poderia ser o que ela sempre quis?

O que ela merecia?

Não consigo dar um passo sequer e dizer o que sinto.... Dizer que a quero em minha vida. Que todo esse tempo fui um estúpido, egoísta e egocêntrico. Mas que agora, aqui, onde tudo parece estar em seu lugar — exceto nós dois — sei que é o correto a se fazer.

Por Kami! E como parece correto!

Eu sei que ela ainda chora. Que ainda se sente menosprezada por mim...

Mas que inferno, Sakura!

Você nunca percebeu os sinais?

As coisas mudaram.

Antes, era você que vinha até mim. Fazia questão de seguir o caminho de casa comigo e de sempre sentar ao meu lado, tentando puxar assunto.

Você não vê que agora é o contrário?

Ultimamente, sou eu que estou correndo até você. Exatamente como faço agora.

Você está vermelha, com os olhos arregalados.

É tão difícil imaginar que eu estaria a essa hora em sua porta?

Sob seu olhar, fiquei embaraçado.

Não sabia o que fazer, nem o que dizer, enquanto você apenas me observava, com a face surpresa e coração ansioso por uma resposta para o porquê de eu estar aqui.

Foram longos segundos, que mais pareceram horas.

Um encarando o outro.

Abri a boca para dizer alguma coisa, mas antes que pudesse emitir algum som, você ergueu sua mão até minha face e pôs um dedo em meus lábios, silenciando-me.

Olhei-lhe confuso, mas você apenas balançou a cabeça, sorrindo fracamente e se aproximando.

Assisti enquanto você ergueu-se ao máximo, até alcançar meu ouvido.

Então, apoiou-se com uma mão em meus ombros e com a boca próxima sussurrou: “Finalmente, Sasuke-kun.”

A compreensão do momento me alcançou de tal forma como nunca antes.

Você sabia todo esse tempo. Apenas me deu a liberdade de descobrir isso sozinho.

A sensação que me inundou foi completamente nova.

Sentia o bater de nossos corações, sua respiração irregular na base do meu pescoço, o calor de seus braços em minha volta.

E então, senti algo quente e molhado em meu pescoço.

Você chorava, tentando abafar os soluços.

Senti-me perdido.

Por que estava chorando?

Não deveria estar sorrindo e pulando de alegria?

Mas então, você levantou o rosto e eu vi as lágrimas sobre os seus lábios — agora repuxados em um lindo sorriso que só você conseguia ter.

Seus olhos refletiam uma felicidade sem igual e no calor do momento, não pude fazer nada além de me entregar, também.

Segurei seu pequeno e lindo rosto em minha mão, passando meus dedos por suas bochechas coradas,

Apreciei a textura de sua pele suave e quente.

Você fechou os olhos, provavelmente, para sentir meu toque.

Em seguida, abaixei-me para beijar o topo de sua cabeça.

Levei minha mão à sua testa, para fazer aquele simples gesto que você já conhecia e que significava tudo o que eu queria dizer.

Você sorriu mais ainda, em meio às lágrimas.

Lentamente, aproximei-me mais, encostando meus lábios em sua bochecha e sentindo o gosto de suas lágrimas.

“Não chore mais. ” Sussurrei. “Eu estou aqui, agora. Sempre estarei aqui para você, Sakura. ”.