Série Titânio: Henrique Cruz escrita por Lallolaz, Frankie


Capítulo 1
Série Titânio: Henrique Cruz.


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá! Bem, não sabemos se alguém realmente lerá isso aqui, mas estamos tentado, não é? Bem, vamos explicar: Titânio é uma série que falará sobre super humanos, e coisas do tipo. Faremos sete one's, com contos dos personagens. Essa é a primeira. Se gostarem, ou detestarem, comentem, é muito importante. Aceitamos críticas e opiniões. Obrigada por nos dar essa chance e ler.
Beijos da Frankie e Nick.



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Dizem que meus pais morreram num acidente de carro, mas isso não importa, o que realmente importa é que eu fui jogado num orfanato aos dois anos de idade. Eu apanhei muito quando era mais novo, até que, aos sete anos, resolvi bater de volta e mandei um menino três anos mais velho para o hospital.

Na época não me importei realmente com aquilo. Não liguei para o fato de nunca ter entrado numa briga, ou até mesmo que o garoto era muito mais forte que eu. E então eu virei aquele garoto. A raiva em mim era tamanha que, todas as brigas em que eu entrava, me deixavam inconsciente de meus atos. Eu simplesmente apagava e deixava que aquilo me consumisse, a fúria. Tinha uma leve impressão de que meu corpo todo formigava, mas, quanto mais eu batia, mais disposto me sentia. Não parecia me cansar, apenas me fortalecer.

Isso, é claro, chamou a atenção do governo, que me tirou do orfanato e me levou para um centro de treinamento, fariam de mim um atleta profissional. Aos meus quinze anos de idade, estava em um programa para boxeadores, era um dos melhores. Nunca perdera uma luta, mas já ganhei tantas advertências por descontrole que não saberia contar.

Aí, garoto, você é bom, mas vai começar a fazer ioga. Pois, se for para Olimpíadas com esse descontrole, será desqualificado. — Meu treinador avisou depois de uma sessão intensiva de treino, eu arrebentara uns cinco sacos de pancadas.

Eu estou bem, não se preocupe. — Rosnei, respirando fundo para controlar minha raiva.

Segui para o vestiário, onde logo me enfiei debaixo do chuveiro com água quente. Em pouco tempo, todo o espaço ali estava repleto da neblina da água. Meus músculos estavam contraídos, eu estava tenso e minha raiva demorava a passar, deixando meu corpo tão inerte que formigava.

A cada treino, a cada luta, minha pele formigava cada vez mais e, quanto mais eu treinava, mais forte eu ficava. A princípio, eu estranhava tal sensação, mas com o tempo eu me acostumei e passei até a esperá-la

Não sou aqueles caras muito sentimentais. Bem, não se pode ser quando você é sua única fonte de sobrevivência. Desde pequeno, apanhando dos valentões, sem uma mãe ou um pai. Então o governo de Cuba se interessou no “garoto problema”. Hoje ele banca meus treinos e até o pequeno quarto na pensão onde vivo. Logo completarei vinte anos, e talvez até saia dessa vida de brigas e encrencas em que me meti.

***

Aquilo era totalmente loucura! Não estava acostumado com tantas pessoas em um só lugar, e meu autocontrole estava indo todo pelo ralo, me deixando com uma irritação evidente o rosto. Segui de cabeça baixa e dentes trincados para dentro do vestiário, onde meu treinador me lançava olhares preocupados, que eu fiz questão de ignorar.

Afinal de contas, me resgataram e me treinaram para ser um campeão de boxe. E é isso que eu vou fazer, para, talvez, ter um pouco de paz

Se você ganhar essa, amanhã pode tirar o dia. Aproveite a Itália, campeão, você precisa. — Ele me aconselhou, apertando meu ombro num gesto que ele considerava amigável, mês que me deixava muito desconfortável.

Logo eu me encontrava no ringue, me desligando das pessoas ao meu redor. Depois bater as minhas luvas nas do boxeador inglês e o ouvir o som do gongo, eu me senti em casa, pois a luta, ali no ringue, era meu lugar.

Deixei que o ritmo daquilo me levasse. Esquiva, esquiva, soca. Era um ciclo, cujo o qual eu repetia sempre no automático. Não precisava me concentrar naquilo, a euforia era grande, sempre. Algumas poucas vezes ele conseguia me acertar, mas minha risada de escárnio soava no mesmo instante.

Os aplausos da multidão que torcia pelo jovem prodígio estavam começando a me afetar, minha pele formigava e meus sentidos ficavam cada vez mais entorpecidos.

Empenhei mais força no meu objetivo, eu precisava acabar com ele. Aquele garoto não era nada, por que torciam para ele? Por que nunca depositavam sua esperança em mim? A raiva me consumia cada vez mais, me levando a não enxergar nada além do garoto todo machucado em minha frente, já encurralado nas cordas do ringue e sem forças para se proteger.

Três pares de braços tentavam me puxar para longe do meu adversário, mas eu não entendia o porquê. Eu estava lá para vencê-lo, não é? Por que simplesmente não me deixavam cumprir minha meta? Me mexi bruscamente, me virando para trás e deixando com que o corpo do garoto caísse sem forças no chão, enquanto me voltava para aqueles que me dispersaram. A raiva fluía abundantemente de mim, fazendo meus ouvidos zunirem e meu corpo chegar a tremer, tamanha era a formicação nele.

Estava me preparando para partir para cima deles, mas meu treinador se colocou entre mim e os três outros caras, seus olhos estavam arregalados e sua expressão era amedrontada. Recuei no mesmo instante, não seria capaz de machucar o homem que me treinara e sempre foi o mais próximo de uma figura paterna que eu tive. Dei dois passos para trás, mas acabei esbarrando em algo, que logo percebi ser o corpo ainda caído de meu adversário.

Por que aquele idiota continuava lá? O cutuquei com um pé, mas ele não se moveu, então repeti o ato com mais força. Toda a gritaria sumira, dando lugar para um silêncio ensurdecedor. Só então entendi o que acontecera, eu o havia matado. Caí de joelhos no momento em que processei isso.

Mãos se fecharam ao redor de meus ombros, e sabia que eram as de Bruno, meu treinador. Deixei que ele me levantasse e me tirasse dali, enquanto várias pessoas fechavam minha visão do corpo inerte.

Henrique, vamos para o hotel. — Sussurrou, desviando-nos do vestiário e me levando direto para o estacionamento. — Precisamos sair daqui para você se acalmar. — Mas a verdade é que eu já não sentia mais nada, o formigamento passara, assim como a raiva. Eu estava vazio.

***

O circo dali era totalmente diferente daquilo que eu estava acostumado. Ao contrário do que eu pensava, tudo estava escuro e uma única luz se concentrava no meio da tenda, onde apareceriam aqueles que realizaram o show.

O acidente na luta ocorrera duas semanas atrás. E, de algum modo que eu desconheço, o advogado contratado por Bruno fora bom o suficiente para justificar meu descontrole. Porém, eu não poderia voltar a participar de competições. Isso me arrasou, fiquei realmente deprimido e nem o tamanho de minha raiva foi capaz de se sobressair à minha tristeza. Passei todo esse tempo no hotel, sem sair. Até que meu treinador meio que me arrastou para esse espetáculo idiota.

Senhoras e senhores, nós, do Circo Coliseu, temos o prazer de apresentar a Dama Elementar, nossa maior atração. — Disse o mestre de cerimônias, antes de se retirar.

As luzes se apagaram. Todos puderam ouvir passos no picadeiro e segundos depois a luz fraca de um isqueiro acesso iluminou o lugar. De repente a luz começou a ganhar força e tamanho. O silêncio ali era tão grande que pude ouvir o isqueiro cair ao chão enquanto uma jovem loura brincava com o fogo, literalmente.

Eu me senti nauseado, mas não sabia o porquê. Minha pele formigava e eu estranhei, pois, junto com o formigamento vinha a raiva. Mas ela não estava lá, e as pequenas vibrações em minha pele não parecia vir de dentro de mim, como sempre. O foco não era eu, e não estava tão forte. Voltei minha atenção para aquela apresentação quase impossível, em tempo de ver a face totalmente pintada, como uma máscara, ser iluminada pelas chamas. Em um movimento brusco de seus braços, a jovem fez com que o fogo brincasse ao seu redor, se dissipando e então tudo ficou negro novamente.

O formigamento continuava sobre meu corpo, me fazendo remexer desconfortável na cadeira. De repente, um vento forte atingiu toda a plateia, vindo do centro do picadeiro, e sabia que a coisa que o gerara fora a tal Dama Elementar. Muitos ao meu redor tiveram de se segurar nas cadeiras, e eu quase ri com isso, já que minha força me mantinha no lugar.

Pena que não posso mostrar tudo que sei. — Sua voz era melodiosa e grave, firme, e podia sentir o sorriso em suas palavras. — Por isso, quero propor um jogo. Quem aqui é corajoso o suficiente para brincar com a natureza? — Concluiu, reacendendo as chamas ao seu redor, que dançavam em volta do seu corpo jovem. Notei que ela não podia nem mesmo ser maior de idade com aquela estatura.

As luzes se acenderam novamente para que pudéssemos enxergar melhor. Eu fui o primeiro a me levantar. Caminhei até o picadeiro, com os olhos de todos sobre mim. A garota veio ao meu encontro no meio do caminho e colocou uma de suas delicadas mãos na minha, me guiando para o centro palco.

Escolha um dos quatro elementos. Água, fogo, terra ou ar? — Questionou ela, com a voz suave e melódica, enquanto me olhava nos olhos.

A terra me parece melhor. — Ofeguei, sentindo a vibração de sua mão me deixar zonzo. Com certeza aquilo vinha dela, mas eu não podia me certificar, já que estava muito fraca. — Terra, Senhorita. — Falei com mais firmeza, olhando para a maquiagem, que não me permitia ver seu rosto.

Pois bem, espero que não tenha medo de altura. — A jovem se concentrou e, de repente, ela começou a diminuir de tamanho, ao mesmo tempo em que a formicação aumentava em minha pele e eu me sentia cada vez mais alto.

Merda. Mil vezes merda. Esse era meu único medo, altura. Fechei os olhos com força e me concentrei em me manter calmo, mas estava sendo em vão. A raiva já estava me consumindo e o formigamento se tornando insuportável, emanando dela e de mim.

Num ato de puro desespero, me agachei naquela rocha que se erguera abaixo de mim e a soquei com toda a força que conseguia reunir, fazendo com que uma grande rachadura no meio se formasse, enquanto eu descia rapidamente, a garota me olhando com os olhos arregalados.

Desculpe. — A ouvi balbuciar, meio atordoada.

Você... — Ia perguntar se ela também havia sentido aquilo, quando a multidão rompeu em aplausos e o apresentador voltou ao seu posto.

Ela apenas olhou para mim assustada e negou com a cabeça, como se dissesse para que eu não comentasse algo. Seu olhar transmitia medo, enquanto o revezava entre mim e o dono do circo, que me olhava com interesse. Entendi na hora o que estava acontecendo, e percebi que precisava sair dali o mais rápido possível.

Eu e Bruno saímos o mais rápido possível do circo, torcendo para não sermos notados. Passamos pelo pátio dos trailers e eu ouvi o mestre de cerimônias gritando e coisas se quebrando.

Não faça isso. — Meu treinador me pediu, como se já soubesse minhas intenções.

Mas eu não conseguia prestar atenção em suas palavras, não quando comecei a ouvir um choro feminino, de dor e medo. Corri até uma das casas móveis que havia ali e espiei pela janela. A Dama Elementar estava encolhida num canto, enquanto o homem gritava a plenos pulmões, desferindo, às vezes, um ou dois golpes nela com o chicote que tinha em sua mão.

A garota pareceu se encolher ainda mais, antes que eu visse o homem voar para o lado do trailer. Mas, tão rápido quanto aquilo aconteceu, senti um pequeno formigamento em minha pela, e ela já estava em cima do homem, com lágrimas nos olhos e tentando ajudá-lo. Ela era louca?!

Por que você me machuca, padrinho? Tenho te feito ganhar bastante dinheiro com minhas apresentações. — Sussurrou ela, enquanto o levantava.

Menina insolente! — Ralhou, vermelho de raiva. — Como ousa me bater? — Desferiu um tapa em seu rosto. — Eu, que sempre lhe dei tudo! — E mais um tapa, e foi aí que perdi totalmente o controle.

Você me vende, só me mantém viva por isso. — Sussurrou ela, abaixando a cabeça.

Qual seu problema, sua idiota?! — Gritei em plenos pulmões, atraindo a tenção deles para mim.

Não esperei por uma resposta, e nem conseguiria. A raiva corria por minhas veias como o sangue, e a formicação em minha pele indicava que meu autocontrole se esvaíra de meu corpo. Arrombei a porta de súbito, fazendo-a cair para dentro do local. Em dois passos eu me encontrava em cima do mestre de cerimônias, apertando-lhe o pescoço com força, e, mesmo quando ouvi um grito da garota, ou senti alguns ossos do homem se quebrarem, eu continuei.

Por favor, pare. — A garota choramingou, antes de me tocar. Senti suas mãos delicadas em meus braços, ela me abraçava pelas costas e eu estranhei aquela sensação.

Eu... Não posso. — Ofeguei, mas meus olhos se fecharam no mesmo instante. — Ele está lhe fazendo mal. — Rosnei, contorcendo-me para tentar me controlar, mas o formigamento me incomodava demais, assim como toda a força que eu tinha de libertar.

Ele é a única família que me restou, por favor... — Ela começou a chorar. — Eu não posso ir para um orfanato de novo, eles são piores que ele. — Implorou ela.

E isso foi a gota d'água para mim. Eu sabia que era pior, e saber que ela teve que passar por isso também... Me parecia uma alma tão pura, tão inocente. Por que raios ela simplesmente não podia perceber que a vingança era mais fácil? Larguei o homem com força excessiva, fazendo-o cair do outro lado do trailer, inconsciente.

Ela correu até o mestre de cerimônias e o se abaixou, tentando fazê-lo reagir.

O que você fez?! — Questionou com raiva.

Eu não sabia, também. Estava com medo e com raiva, só sabia que tinha de salvá-la. Tirá-la dali. Andei rápido até ela e a puxei pela cintura, jogando-a por cima de meu ombro. Mesmo com seus protestos, saí correndo dali.

A jovem passou a se debater, enquanto socava minhas costas, com o que imagino ser todas as suas forças, mas aquilo só fazia cócegas em mim e eu me esforçava para não rir. Logo alcançamos um canto afastado do campo, perto de uma avenida. Quem visse a cena, provavelmente estranharia, mas eu apenas podia pensar em salvá-la dali. Avistei um táxi ao longe, e fiz sinal para que parasse.

Ela se debatia e gritava, mas não me importava. Também sabia que ela não usaria seu truque de elementos, porque estava nervosa demais para isso. O taxista nos olhou preocupado, mas apenas rosnei o endereço para ele e logo o carro deslizava sobre as pistas.

Aquilo era certo, tinha de ser. Ela era como eu, e não podia deixar que escapasse de mim. Pela primeira vez, eu não estava sozinho. E agora ela era minha. Nós éramos parte de algo muito maior, e eu não permitiria que se esvaísse.


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Notas finais do capítulo

E então? Qual sua primeira impressão de Titânio? Nos conte nos comentários e não deixe de visitar nosso perfil para ver se já postamos o próximo conto!
Spoiler: O próximo será o conto da Dama Elementar, onde todos vamos descobrir seu verdadeiro nome e história.
Obrigada pela oportunidade.



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