Por Uma Noite escrita por Naschpitz


Capítulo 1
Capítulo 1




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"Xena e Gabrielle tinham arranjado uma pequena pousada para passar a noite, porém, a barda parecia perturbada com algo..."

Aqueles pensamentos estavam tirando completamente a concentração que eu não possuía. Há dias não conseguia concentrar-me por causa do que aconteceu. Larguei a pena e o pergaminho em que escrevia e passei os dedos pelos cabelos, numa tentativa frustrada de recuperar a calma.

Levantei e olhei minha face refletida no espelho, ato que era simplesmente incomum para mim. As olheiras estavam cada vez mais visíveis sob minha pele, resultado de seguidas noites em claro perturbada com pensamentos. Ou tentando pensar. Tomar um ar talvez fosse a melhor saída para tal situação.

Caminhei até a porta de meu quarto e desci as escadas, aparentemente sem saber ao certo para onde meus pés me levavam.

O vento que soprava não me incomodava, apesar de estar meio frio e eu trajar apenas uma roupa de tecido fino. Apoiei os cotovelos sobre uma cerca e passei a fitar as inúmeras estrelas espalhadas pelo céu sem nuvens daquela noite.

Os lençóis pendurados em um varal iam e vinham, como se dançassem ao sabor do vento, tão brancos como a luz das estrelas que brilhavam forte.

Mesmo tendo toda a calma que aquele lugar transmitia, não conseguia deixar que os pensamentos que estiveram me atrapalhando saíssem de minha cabeça. Parecia que o lugar deles era ali, não me permitindo pensar em mais nada.

Um estranho som fez com que eu parasse de fitar as estrelas e me virasse. Era algo como pessoas se movendo, não sabia dizer ao certo.

Amaldiçoei a mim mesma por não ter trazido comigo meu cajado, mais uma vez a distração havia tomado conta de mim.

Entretanto, quando fixei meus olhos sobre o que estava produzindo tais ruídos, fiquei completamente sem ação.

Meus joelhos insistiam em dobrar-se, fazendo com que eu quase caísse ajoelhada no chão. Levei inutilmente uma das mãos à boca, contendo uma exclamação que nunca veio. Em vez dela, meus olhos encheram-se de lágrimas que não tardaram a escorrer por meu rosto.

Eu sabia exatamente o motivo pelo qual tais reações ocorriam, contudo era algo que eu jamais quis que ninguém soubesse – pelo menos não naquele momento. Mesmo que minha busca tenha sido sobre ele, não estava preparada ainda. Tratava-se de uma grande força capaz de mudar o sentido das coisas, e por muitos denominado amor.

Isso apenas mostrava como o destino era injusto. Eu, uma sonhadora, que rezava para que os deuses me tirassem de algo tão comum e me entregassem a estrada, agora, nada mais almejava do que um lar, uma vida comum ao lado del... Por que simplesmente teve de ser desse jeito, e justamente por essa pessoa?

Mas não eram exatamente esses pensamentos que me passavam pela cabeça no momento. Eu só pensava em sumir daquele lugar, da minha vida.

Quando pensei que estava longe da cena que estivera presenciando, notei que meus pés não haviam me levado à parte alguma. E por mais que quisesse, não conseguia mover-me.

Nem meu olhar conseguia desviar a atenção de tal cena.

Não sabia por quanto tempo permaneci a apenas observar, os segundos tornaram-se minutos, os minutos horas, as horas dias...

- Que falta... de respeito... - as palavras apenas escaparam-me dos lábios, em meio aos soluços que invadiam meus pulmões.

Nenhum dos dois havia notado minha presença no local, mas ambos interromperam o que estavam fazendo e agora me fitavam surpresos.

Xena passou a me observar perplexa, a mim e as lágrimas que escorriam por meu rosto.

Ela esticou um dos braços e tentou me alcançar, todavia, dei alguns passos para trás, a fim de evitar o toque. Assim que notou meu ato, recuou seu braço para junto de si novamente.

Meus pés sustentavam-me com um enorme esforço. Para mim, nada mais importava.

Com as poucas forças que tinha, consegui cambalear até o primeiro lance de pequenas pedras que bloqueavam meu caminho. Quando dei por mim, já estava tirando as poucas peças de roupa que usava, e mergulhando meu corpo na água gélida do rio.

O frio pouco me importava naquele momento. Mergulhei totalmente, fazendo com que minha cabeça afundasse nas águas.

Fui nadando em curtas braçadas, enquanto minhas lágrimas salgadas misturavam-se à água na qual me banhava.

A sensação da água gelada contra minha pele quente cada vez mais se evidenciava. No começo o frio me era insignificante, mas a cada segundo aquela sensação parecia me ferir, tirando totalmente de mim o que me mantinha respirando.

Fechei meus olhos, para tentar conter as lágrimas. De repente, não consegui mais abri-los. Tudo se tornou escuro e eu não sabia mais onde me encontrava.

Não sentia mais a água em volta de meu corpo, muito menos o chão sob meus pés...

Foi quando senti duas mãos segurando-me pelos ombros e me sacudindo suavemente. Abri os olhos devagar, acostumando-me com a luz.

Lembrei-me devagar do que havia acontecido antes disso; ato que fez meus olhos encherem-se de lágrimas novamente.

Levei inconscientemente uma das mãos ao rosto para limpar meus olhos, que cada vez mais teimavam em chorar.

Uma brisa leve bateu contra meu corpo, lembrando-me de que eu não trajava coisa alguma. Olhei para cima, confusa, e vi que um profundo par de olhos azuis me fitava.

Sentei-me assustada, tentando tapar meu corpo com as mãos.

Esta que estivera a me observar levou uma de suas mãos a meu rosto, e retirou uma mecha de minha franja do meu olho, colocando-a para o lado. O toque fez com que minhas bochechas molhadas enrubescessem.

- Xena... O que está acontecendo...? - eu perguntei, aceitando a toalha que ela me oferecera para me cobrir.

Suas bochechas coraram.

- Eu descobri que... - levantou os olhos e lançou-me um olhar na qual nunca tive o prazer de desfrutar como fazia agora, repleto de ternura e sinceridade - Não é Marcus a pessoa que me completa...

Um frio percorreu minha espinha tamanha a intensidade do olhar que recebi. Mesmo se fosse o dia mais quente da estação, meu corpo não pararia de tremer.

Internamente, desejei com todas as minhas forças que a pessoa na qual ela se apaixonara fosse eu. Desejei poder ter nascido alguns anos antes e poder ter vivido tal experiência.

Então ela apanhou uma de minhas mãos e a segurou firme junto da sua. Seus cabelos desalinhados refletiam a luz da lua – suas belas feições reforçadas.

Meus próprios cabelos estavam ainda molhados, escorrendo por todo o resto do meu corpo.

Com sua outra mão, acariciou novamente minha bochecha. Eu apenas fechei os olhos, deixando que o rubor tomasse conta de minha face. Senti sua mão aproximar-se de minha nuca, puxando suavemente minha cabeça na direção da sua. Deixei-me ir, sabendo o que estava para acontecer. Por incrível que pudesse parecer, esse momento estivera presente em muitos de meus sonhos. Tais pensamentos fizeram com que mais uma vez minha face se tornasse rubra. Sua respiração batia levemente contra meus lábios, à medida que nos aproximávamos. Os entreabri, ansiando pelo que estava por vir...

- Gabrielle! O que está escrevendo aí? - perguntou Joxer, abraçando a jovem barda e roubando alguns pergaminhos de suas mãos.

Gabrielle acordou de seu transe e apanhou os muitos pergaminhos espalhados pelo chão.

- Eu não sabia que você escrevia romances tão bem... - disse novamente Joxer, saindo do quarto e levando consigo o último dos pergaminhos que a barda estivera escrevendo.

- ESCREVENDO?!?!


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