Fim de festa escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 1
All we do is sit in silence waiting for a sign


Notas iniciais do capítulo

Então, eu fiquei entediada durante uma aula de educação física...
(Tradução do nome do capítulo: "Tudo o que fazemos é ficar sentados em silêncio esperando por um sinal", traduzido livremente. Da música "Drive", da Halsey.)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/654146/chapter/1

Is so simple, but we can't say

Overanalyze again

Would it really kill you if we kissed?

É tão simples, mas não conseguimos dizer

Analisando demais de novo,

Realmente te mataria se nós nos beijássemos?

Halsey - Drive

Cathy gosta de como Alyssa fica no fim das festas, sempre gostou. O suor a torna humana, a maquiagem borrada real e o sorriso cansado a torna vulnerável, e esses são três dos adjetivos preferidos de Cathy. Os outros são “fantástica”, que Alyssa sempre é, “efêmero”, que ela não aplicaria a pessoas, e “maquiavélico”, mas só porque ela gosta da palavra. No fundo, ela gostaria de poder utilizar “no-fim-das-festas” como adjetivo para Alyssa, mas nunca percebeu isso.

Mais do que da aparência, Cathy gosta da personalidade de Alyssa nessas horas, porque parece mais com a Alyssa de antigamente, principalmente quando elas voltam de carro para casa. Nessas ocasiões, elas não bebem, o que significa sem conversas constrangedoras sobre sentimentos, e isso significa sem beijos, e sem beijos significa sem o turbilhão rodopiante de sensações – não sentimentos, não exatamente, porque Cathy não sente as coisas assim – tentando devorá-la de dentro para fora.

Hoje é uma dessas noites, e Cathy está esperando do lado de fora. Elas vão a muitas festas juntas, embora nem sempre seja o mesmo tipo de festa, e ela sabe onde esperar. Também sabe que Alyssa nunca demora, então não se surpreende ao vê-la se aproximando. Elas não falam nada; apenas entram no carro.

Alyssa tem dezenove anos, a chave do carro dos pais e nenhum toque de recolher, então é ela quem dirige, nunca rápido demais. Cathy tem um ano a menos, as mãos livres e uma certa tendência a deixar a mente vagar para lugares onde não deveria, então é ela quem normalmente escolhe a música, mas não dessa vez. Dessa vez, ela deixa que o silêncio as torture até que uma das duas não aguente mais e diga alguma coisa.

Alyssa é a primeira a ceder.

- Tinha algum conhecido na festa? – Ela pergunta, por fim.

Cathy demora para responder, porque está pensando na última vez em que pegou carona com Alyssa. Na conversa constrangedora e sóbria. No beijo.

- Alguns. Mas nenhum amigo, eu acho – Ela faz uma pausa. – Além de você. Eu acho.

Os olhos de Alyssa continuam fixos na rua, mas seus dedos apertam o volante com mais força.

- É. Idem – Outra pausa. – É meio chato, às vezes.

- O quê?

Alyssa dá de ombros, desconfortável e arrependida de ter falado.

- Sei lá. Tudo isso.

Cathy percebe, pela maneira como ela fala, que é uma resposta simplificada para uma pergunta que não se pode responder com facilidade. Ela acha que entende, porque também acha que está ficando chato, mas não sabe se as duas estão falando da mesma coisa. Então, pergunta:

- As festas? Ou as pessoas?

- Ambos – Alyssa dá um sorriso, mas o gesto parece doloroso. Ela olha rapidamente para a amiga. – Não estou te incluindo nisso, é claro.

- Não está?

A pergunta sai sem permissão e paira entre elas como gás venenoso. Nenhuma das duas quer aspirar esse gás, mas elas estão prendendo a respiração há tempo demais. Portanto, Alyssa suspira.

- Não, Cat. Não estou.

Cathy percebe vagamente que elas se desviaram do caminho de casa, mas sua atenção está concentrada na garota ao seu lado. Ela gostar de dirigir sem rumo, de qualquer forma. Então, fala:

- Bem, isso é ótimo – E acrescenta, com certa acidez: - Eu acho.

Alyssa para o carro tão bruscamente que Cathy se pergunta por um momento se elas atropelaram alguém, e se vira para encarar sua passageira. É óbvio que o gás entrou em contato com seu sistema nervoso, e agora ela pretende aspirá-lo até que suma do ambiente.

- O que você tem, Catherine? – pergunta ela.

Cathy estreita os olhos ao som de seu nome completo. Ela decide que, se Alyssa vai estourar, ela vai permanecer calma e fingir que não foi quem estourou a bomba.

- Acho que sou eu quem deveria perguntar isso.

A acidez ainda está lá, pingando da voz dela como veneno, e é o suficiente para transmitir o recado. Elas definitivamente estão falando da mesma coisa, e sabem o que a frase significa. Significa que foi Alyssa quem começou, embora pareça que vai ser Cathy a terminar. Foi Alyssa quem a beijou primeiro, mesmo que Cathy tenha beijado de volta.

Naquela hora, não pareceu grande coisa. Foi numa noite qualquer: elas haviam ido a uma festa de aniversário, se divertido juntas da forma mais comum possível, cochichado sobre as pessoas em um dos cantos, e estavam voltando para casa juntas. Havia música naquela noite, preenchendo os espaços vazios com a música mais popular de uma estação de rádio ruim.

Ainda era cedo, e elas não queriam voltar ainda; então, estavam dando voltas a esmo pela cidade, rindo da música, das pessoas nos cantos das festas e das estrelas. Alyssa parou no estacionamento de um supermercado prestes a fechar, Cathy desligou o rádio e elas ficaram ali em silêncio, respirando fundo o ar noturno.

Alyssa disse:

- Eu gosto de garotas.

A declaração foi tão repentina quanto o momento em que ela percebeu sua veracidade. Quando se imaginava contando aquilo, ela achava que suas mãos estariam tremendo. Não estavam.

Cathy disse:

- Tudo bem.

Ela não precisou pensar na resposta; era melhor do que a alternativa – eu sei. O próximo silêncio foi, ao mesmo tempo, aliviado e carregado, e foi suportável até Cathy perceber que Alyssa a estava fitando. Ela quis ligar o rádio, colocar algum CD para tocar, fazer alguma coisa. Optou por encará-la de volta.

Seus olhares não chegaram a se encontrar, porque Alyssa já estava a meio caminho de beijá-la, e beijava de olhos fechados. Cathy manteve os seus abertos enquanto retribuía, e, quando acabou e Alyssa a levou para casa, a resposta certa – eu também – dava voltas em sua mente.

Elas se ignoraram por algumas horas.

Agiram estranho uma com a outra por dias.

Prenderam a respiração.

Agora, estão ambas respirando fundo, mas Alyssa ainda sente como se estivesse sem fôlego. Efeitos colaterais de estar próxima demais a alguém por quem se tem sentimentos – e são sentimentos, porque é assim que Alyssa é. Não estão no estacionamento, mas as estrelas e o silêncio ainda estão lá até ela dizer:

- Eu gosto de você.

A raiva de antes desapareceu, e há apenas um desejo inevitável de aceitação. Ela não se imaginou dizendo isso, mas não acharia que suas mãos estariam tremendo dessa forma.

Cathy não pensa na resposta, porque não há uma. Dessa vez, os olhares se encontram antes dos lábios, e isso é um sinal de rendição. Rendição vale mais do que aceitação aqui, porque implica que nunca houve possibilidade de isso ser negado.

Dura mais tempo do que antes, e, quando acaba, Alyssa repete, temerosa:

- Eu gosto de você.

Dessa vez, Cathy responde:

- Eu também.

Alyssa sorri e arqueia uma sobrancelha:

- Também gosta de você?

Cathy sorri de volta. É uma coisa boa que elas estejam se falando, porque ela sentiu falta disso, da amizade delas. E sentiu falta do que elas podem se tornar agora.

- Gosto de você.

Elas ligam o rádio no caminho de volta para casa, embora não seja realmente necessário. Elas não temem mais o silêncio, agora que todas as palavras foram ditas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguma opinião? Se eu tiver deixado passar algum erro, por favor, digam-me, que eu corrigirei ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fim de festa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.