A verdade está nas sombras escrita por Victória


Capítulo 1
Prólogo: A cor da discórdia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/654025/chapter/1

Vermelho. Era tudo que ela via. Não importava o quê, não importava onde, tudo o que ela via parecia possuir a terrível cor vermelha. Nunca gostara daquela cor, não era uma cor que lhe trazia bons sentimentos, talvez seria esse o motivo de só conseguir enxergá-la.

O homem retornou à cela, desta vez acompanhado por outro, um bem mais alto, trajando vestes longas e uma máscara que ocultava seu rosto, andava de uma forma autoritária e sóbria, seu comparsa ia à frente girando uma grossa chave de metal nos dedos gorduchos.

– Por favor entre, meu Senhor. – disse ele ao abrir o grande portão enferrujado.

O homem não respondeu, apenas seguiu seu caminho. Os passos do homem

mascarado ecoavam nas paredes da câmara abafada. Não havia janelas e tampouco luz. A única fonte de luz presente era uma tocha que fora colocada recentemente na entrada do cubículo de pedra.

– O que quer comigo, seu maldito? – uma voz calma ecoou pelas paredes de pedra da prisão.

Os olhos do homem gorducho giraram para a fonte da voz

– Vai aprender uma lição! Pessoas como você não têm o mínimo direto de insultar ao senhor...

– Cale-se Renwick – disse pela primeira vez o homem mascarado.

Os dois homens se aproximaram. Pouco a pouco ficou visível a imagem de uma garota presa com os pulsos acima da cabeça por algemas de metal. Ela levantou levemente o rosto para olhar nos olhos do estranho forasteiro.

Possuía cabelos longos castanhos que derramavam-se pelo chão frio de pedra, seus olhos verdes estudavam o homem mascarado com cuidado. Se não fossem as feridas que se espalhavam por sua pele alva, não se saberia dizer o porquê de uma dama como aquela estar em um lugar tão deplorável.

– Ah! Eu entendo, você é o Rei deste país, não? – Disse a garota com um sorriso irônico ainda com a voz extremamente calma - Eu repito a minha pergunta: O que quer comigo, seu maldito?

Renwick não pareceu confortável em ouvir as palavras da garota algemada insultando o seu senhor, mas homem mascarado se aproximou ainda mais até ficar alguns centímetros de distância do rosto da garota.

– Acredito que você saiba exatamente o que quero contigo, escória. – disse o homem com a voz abafada pela máscara branca – Me responda se não quiser sofrer: onde está “aquilo”?

A garota olhou nos olhos do homem por alguns segundos e respondeu:

– Me desculpe, eu não sei do que você está falando.

O homem se levantou calmamente, se aproximou do portão e recostou-se nas barras de metal.

– Renwick, traga o outro.

Na mesma hora, o servo saiu da cela. Voltou arrastando um garoto de longos cabelos castanhos pelo pescoço. A voz da garota algemada não parecia mais tão irônica quanto antes.

– E..esse é o meu...

– É ele sim. O seu doce e amado irmão mais velho que jurou lhe proteger até o amargo fim, custe o que custar – disse o homem mascarado – ele também não quis responder a minha pergunta. Acredito que não seja necessário revelar-lhe as minha intenções ao trazer ele aqui.

– Se...seu monstro! – disse a garota enfurecida – você não pode fazer isso! Não com o sucessor do...

– Mas é claro que eu posso! – interrompeu o homem – eu sou Deus aqui, não sou? Assim como esse aqui um dia será... ou seria...

O garoto preso por Rewick começou a abrir os olhos lentamente, tentando raciocinar o que acontecera. Ao endireitar sua própria vista enxergou a irmã presa na parede à sua frente, ela estava gritando... gritando... à beira das lágrimas, não queria deixar a irmã chorar, mas... por que ela estaria gritando?

– Veja senhor! – gritou Renwick – O moleque acordou!

– Que seja! Assim a garota poderá ouvir os gritos dele à beira da morte! – Respondeu o homem

– Por favor pare! Eu não sei onde está... eu não sei nem mesmo o que é! – gritou desesperada a garota - Poupe meu irmão! Por favor! Eu imploro!

Ele entendera... estava prestes a morrer na frente dela. Como chegara a este ponto? Não conseguia se mover, precisava fazer alguma coisa! Sentia o sangue escorrer por seu corpo.

Era inevitável, era vergonhoso, não queria morrer daquela forma! Não na frente dela... Mas não iria implorar, não iria dar satisfação alguma àquele gorducho... Ele precisava fazer aquilo que vivia para fazer... Ainda podia falar, precisava dizer à ela. Se não dissesse, seria o fim para todos.

– Renwick... Faça! – Ordenou o mascarado

O garoto sentiu a faca se aproximar cada vez mais de sua garganta, mas antes dela cortar-lhe proferiu suas últimas palavras:

– Não se renda, Jane! Você é nossa última esperança!

O sangue já espirrava. Espirrava nela, tingindo seu vestido branco de vermelho. O maldito vermelho. Tudo que podia se ver, agora, estava verdadeiramente tingido de vermelho.

Renwick soltou o corpo sem vida aos pés da garota algemada, agora vidrada com o que acabara de presenciar.

– E agora? Vai nos dizer onde está? – disse o homem que, mesmo mascarado, parecia estar sorrindo diabolicamente.

O silêncio predominou, mas a garota não tirava os olhos do corpo inerte do irmão.

– Eu...Eu já disse pra você – respondeu a garota vidrada – Eu não faço a mínima ideia de onde esteja... ou do que seja...

O homem não aguentou, retirou a luva branca de sua mão e desferiu um violento tapa no rosto da garota.

– Você ainda acha que isso é brincadeira?! – gritou o homem – O seu país já morreu! Não há mais para onde ir!

A garota permaneceu séria e quieta, lutava contra as lágrimas que teimavam em cair.

O homem se levantou rapidamente e, antes de sair portão afora disse:

– Rewick, faça o que quiser com ela, pegue o que quiser dela! Torture-a! Faça-a falar!

O homem se foi. Renwick esperou até os passos do homem cessarem no fim do corredor para virar seu olhar para a garota.

Os olhos da garota não saíram do corpo do irmão por nenhum momento sequer. Não importava quantos socos, chutes ou tapas levava, sabia que aquilo tudo iria evoluir para algo bem pior. Lembrou das últimas palavras de seu irmão: “Não se renda, Jane!”.

Era verdade, ela não podia morrer. Não queria morrer. Queria honrar o último pedido de seu irmão mais velho.

Ela não iria morrer.

Os olhos da garota ganharam vida, tomados por uma luz alva cegante. Os cabelos castanhos se esbranquiçavam e o vestido manchado de vermelho retornava à cor branca. Pentagramas de oito pontas tomavam o lugar de suas pupilas. As chamas brancas e azuis que envolviam seu corpo lançaram Renwick nas grades da prisão, que se contorceu de dor.

Renwick ergueu-se com dificuldade, olhando estupefato para a garota que se erguia no ar.

– Aquilo que procuras não pode pertencer-lhe. – Disse a garota antes de seu corpo encher o cubículo da prisão com uma luz cegante.

A garota havia desaparecido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A verdade está nas sombras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.