Alive escrita por Polaris


Capítulo 2
Suposta princesa


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desculpe a demora, infelizmente a inspiração para Alive tardou a vir depois que terminei o prólogo. Mas aqui estou. E espero que gostem!
Boa leitura!



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1926

 

Já fazia 10 anos desde o ataque à família real, onde a princesa do Império Russo desapareceu como fumaça. Eu ainda não entendia como que a Imperatriz perdera a neta, embora a confusão daquele dia fosse extremamente caótica.

Cresci pulando de emprego em emprego e aprendi que na vida, ou se é esperto ou os outros pisam facilmente em você. E eu escolhera ser esperto.

Aquele teatro que Vlad arranjara era mais do que perfeito. Era suntuoso, embora uma camada de pó o cobrisse.  Havia luz no palco, bem como assentos confortáveis e o frio da Rússia não congelava meus ossos ali dentro. 

Bem, o lugar era sim ótimo, espetacular... entretanto, as entrevistadas eram terríveis.

Há alguns anos, a Imperatriz anunciou que pagaria uma fortuna àquele que encontrasse sua neta, e desde então, eu e Vlad investimos o pouco que temos para encontrar uma princesa apropriada.

Acontece que aquelas candidatas à nossa princesa Anastasia eram as piores possíveis. Mulheres altas demais, ou baixas demais, mulheres que não possuíam um só fio ruivo na cabeça. Eram falsamente educadas para parecer da realeza, mas não exibiam classe alguma, outras, nem ao menos poderiam citar os nomes da família real. Uma delas nem ao menos era uma mulher. E eu acho que a uma avó perceberia caso sua neta não fosse mais uma moça.

— Ela está aqui em algum lugar – falei para Vlad, a fim de acalmá-lo, enquanto deixávamos o teatro. Ele lamentava o fato de que estávamos perdendo dinheiro tentando encontrar uma garota apropriada. – Está bem debaixo do nosso nariz.

Tudo o que eu queria era levantar o humor dele e talvez, também o meu. Estávamos ficando sem dinheiro e sem paciência. Naquele frio cortante das ruas de St. Petersburg eu só conseguia pensar no momento em que poderia enfim descansar.

— Ouviu algo? – perguntei para Vlad.

Estávamos no antigo palácio, lugar onde eu usava como residência. Depois do ataque e assassinado dos Romanov o local fora deixado às moscas. E eu como um bom menino, vi a oportunidade de usar o Palácio como lar. Mas naquele momento eu ouvia vozes e imaginei se o lugar finalmente estaria cercado de fantasmas.

Não— Vlad respondeu.

Eu novamente ouvi vozes e levantei-me. Não era possível! Eu não acreditava em fantasmas. O mais provável era que alguém tivesse invadido o lugar. Comecei a checar cômodo a cômodo, mas a cada local que eu checava, não havia nada e imaginei se eu estaria ficando louco e ouvindo coisas que não deveria.  Não. Eu não podia estar louco.

Desci as escadas, pronto para correr se fosse preciso, se repentinamente um ser de outro mundo me ameaçasse. Uma voz melodiosa cantava e me arrepiavam os pelos do braço. Será que algum fantasma Romanov estaria por ali?

E foi quando a vi. Uma figura no centro do salão de festas, parada, como se fosse parte da mobília. O corpo pequeno demais para as roupas que vestia.

— Você! O que está fazendo aqui? – eu gritei e a figura misteriosa assustou-se.

Ela correu numa velocidade absurdamente grande para um ser tão magro.

— Pare! Pare! – eu pedi, tentando alcançá-la, mas ela apenas continuava a correr, subindo degrau a degrau, longe de mim – Espere um minuto! Espere!

Quando eu achava que ela não fosse parar, vi diminuir o ritmo, para enfim ficar de frente para mim, no mais alto degrau.  

— Como você entrou a-aaqui? – eu gaguejei, sem ar e mal acreditando no que via.

Aquela figura estranha, prostrada ali naquela escadaria, estava próxima do grande retrato dos Romanov. Seu rosto perto do de Anastasia quando criança. E eram exatamente iguais! Uma o reflexo da outra, porém numa versão de idades diferentes, obviamente.

— Desculpe, menina... – Vlad foi dizendo, sem fôlego, assim que nos alcançou.

— Vlad – eu o toquei, assustado – você está vendo a mesma coisa que eu vejo?

— Não.

Olhei para meu amigo e percebi os óculos em sua cabeça, longe dos olhos. Prontamente coloquei-os no lugar e Vlad piscou, agora enxergando bem através das lentes grossas.

— SIM. SIM! – ele comemorou, tão espantado quanto eu.

— Você é Dimitri?

A voz viera lá de cima, próxima do retrato e percebi que a misteriosa garota era quem falava.

— Talvez. Depende de quem procura por ele – respondi o mais gentil que podia, subindo degrau a degrau até que me vi próximo dela, percebendo pouco a pouco suas características. Seus cabelos ruivos presos de qualquer jeito, as roupas folgadas, como se ela estivesse acabado de mendigar na rua. Os olhos azulados.

Eu não podia deixá-la escapar.

— Meu nome é Anya – a garota falou. – Preciso de um visto. Eles disseram que é o homem que eu deveria procurar, embora eu não possa revelar quem disse isso.

Eu mal a ouvia, apenas conseguia ficar prestando atenção em cada detalhe. Os olhos, os cabelos ruivos. Sem nem perceber eu dava voltas ao redor dela, pronto para capturar cada parte daquela mulher. – Por que está me circulando? Era um abutre em outra vida?

— Desculpe, Anneya.

— É Anya – ela falou irritada, soando cada sílaba com fúria.

— Anya – disse cuidadosamente, com certo medo de tirar-lhe mais ainda de sua calma. – Você se parece muito com...  – olhava dela para o retrato e do retrato pare ela, pensando qual seria sua reação se lhe dissesse que era tão parecida com Anastasia. – Bem, esqueça. Você falou em algo sobre visto?

— Sim. Eu quero ir para Paris.

— Você quer ir para Paris?

Eu mal podia acreditar em suas palavras. Anya era a cara da princesa e queria ir para Paris? Eu sabia! Sabia que nossa princesinha estava mais perto do que imaginava. Nós só iríamos precisar ensinar etiqueta para ela e muitos modos. Ela era uma selvagem, mas poderia muito bem tornar-se Anastasia.

— Olha, ele gosta de mim – Vlad falou se divertindo com o cachorrinho que perseguia Anya.

— Belo cão... – falei sem prestar muita atenção, tudo o que eu via era a minha chance de sair da pobreza. – Deixe-me perguntar algo... Anya, certo? Aliás, você tem sobrenome?

A garota pareceu considerar por um instante minha pergunta.

— Na verdade... Isto vai soar louco, mas eu não sei o meu sobrenome – louco ou não, aquilo me parecia algo extremamente bom de ouvir. – Eu fui encontrada vagando quando eu tinha oito anos.

— E antes disto? Antes dos oito?

— Olha eu sei que é estranho, mas...  – Anya parecia nervosa, como se o assunto não a agradasse e eu a entendia. Devia ser difícil para alguém remoer um passado que não compreendia. – Eu não me lembro. Eu tenho poucas memórias do meu passado.

— Isso é perfeito – eu sussurrei e busquei Vlad com o olhar.

— Bem, eu tenho uma pista... Paris— a ruiva falou, enquanto remexia uma medalha que carregava no pescoço, seus dedos finos mexendo cuidadosamente no artefato. – Então vocês podem me ajudar ou não?            

Seu olhar penetrante me deixava completamente sem saber o que fazer.

— Vlad, Vlad – chamei-o. – Os bilhetes.

Vlad remexia seus bolsos a procura dos tickets de viagem.

— Claro, nós gostaríamos – eu comecei, sentindo o papel do bilhete ser finalmente colocado em minhas mãos por Vlad – na verdade, curiosamente, nós vamos para Paris. Bem, eu tenho três bilhetes. Mas infelizmente o terceiro é para ela... Anastasia.

Anya encarou os bilhetes que eu exibia, para depois fixar seu olhar no retrato da duquesa que eu lhe apontara.

Vlad de um dos seus lados a puxava para as escadas, assim como eu, do outro lado.

— Vamos reunir a Grã-Duquesa Anastasia à sua avó – meu amigo disse-lhe, bem convincente.

— Você é parecida com ela.

Anya encarou-me, apenas por um segundo, para depois fitar Vlad.

— Mesmos olhos azuis.

— Os olhos dos Romanov!

— O sorriso do Nicholas.

— O queixo de Alexandra.

— Olha. Ela tem as mãos da avó!

— Mesma idade, mesmo tipo físico.

— Vocês estão tentando dizer que acham que eu sou Anastasia? – Anya riu-se, como se estivéssemos dizendo bobagens apenas.

— Eu estou querendo dizer que vi milhares de garotas por todo o país – falei, ela retraindo-se sob a minha voz mais grossa, levemente alterada. Se ela iria nos esnobar, que esnobasse. Mas eu estava pronto para convencê-la de que ela era Anastasia. Assim que ela acreditasse, eu teria minha princesa para ganhar a recompensa. – Nenhuma delas se parece tanto com a grã-duquesa como você parece. Veja o retrato!

— Eu pensava que vocês eram loucos... – Anya falou, sua voz tão mais firme que a minha. – E agora tenho certeza!

A garota saiu andando, cruzando os braços, como se fosse uma criança que descobrira algo realmente inteligente.

Por quê?— conteste a seguindo. – Você não se lembra do seu passado.

— Ninguém sabe o que aconteceu com a princesa – Vlad emendou.

— Você procura sua família em Paris.

— E a família da princesa está em paris – eu e Vlad, cada um ao seu modo tentando dobrá-la.

E eu não tinha tanta certeza assim mais se a convenceria. Mas ela era a minha melhor chance até agora.

— Já pensou na possibilidade?

— Que eu possa ser da realeza? – Anya parecia muito confusa. Encarava o retrato ávida por respostas. – Bem, eu não sei. É difícil imaginar que eu possa ser uma duquesa quando se dorme no chão molhado – falou, soando amargurada. – Mas talvez... eu acho que qualquer garota solitária deseja ser uma princesa.

Assim como um menino da cozinha deseja desesperadamente uma vida melhor, pensei.

— Bem, em algum lugar, uma garotinha é. – Vlad ementou. – O nome Anastasia significa “Ela surgirá novamente”.

Aquele lenga-lenga estava me irritando já. Ficaríamos o dia todo nesse passa-repassa tentando convencer aquela garota. Eu teria que ser mais enfático.

— Eu queria ajudar, mas o terceiro bilhete é para a grã-duquesa Anastasia – anunciei puxando Vlad comigo. – Boa sorte.

Deu-lhe as costas, ignorando qualquer reação que a garota tivesse.

— Porque não falou para ela o nosso plano brilhante? – Vlad perguntou, já quando estávamos na escadaria, andando para longe de Anya.

— Ela só quer ir para Paris... – comentei. - Porque desperdiçar um terço da recompensa?

— Estragamos o plano – ele choramingou.

— Não se preocupe – falei, sabendo que nada seria estragado. – Está tudo sob controle. Ande mais devagar.

Vlad diminuiu o passo, acompanhando-me mais lentamente. Eu estava apostando na sorte, apostando que ela entenderia que éramos sua melhor saída para ir para a França. E que consideraria a possibilidade de realmente ser uma princesa. Ela viria até nós.

— Três – comecei a contar – dois, um...

— Dimitri! – Anya gritou e eu só pude sorrir. – Dimitri, espere!

— Chamou?? – virei-me, parecendo surpreso, inocente.

— Se eu não me lembro de quem sou – Anya começou a falar, muito animada e eufórica – quem pode dizer se eu não sou princesa ou duquesa ou o que quer que seja?

— Continue... 

— E se eu não for Anastasia – a garota falou mexendo as mãos, como se aprisionasse cada ideia consigo, capturando-as no ar – a Imperatriz vai reconhecer. E será apenas um erro.

— Parece plausível – comentei.

Vlad aproximou-se, também eufórico.

— Mas, se você for a princesa, finalmente saberá quem você é e voltará a ter sua família.

— Ele tem razão. – disse eu, soando óbvio, certo de cada palavra. – Seja como for, podemos ir para Paris.

Certo.

Anya apertou minha mão, como se estivéssemos fechando um acordo, e aquilo doeu mais do que qualquer coisa que eu pudesse me lembrar nos últimos dias.

Ai!

Céus! Aquela garota bruta precisava de sérias aulas de como se comportar. Como ser uma lady.

Mas isso demoraria mais alguns dias. Finalmente eu tinha uma princesa. E ela resolveria meus problemas, me daria riquezas!

Eu estava mais do que feliz, girei no meio do salão.

— Posso apresentar-lhe a Sua Alteza Real, a Grã-Duquesa Anastasia?

Anya parecia realmente animada agora e acho que eu nunca vira um sorriso mais puro e belo.


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Notas finais do capítulo

Bem, nos próximos capítulos já vou advertir... haverá cenas que não fazem parte do filme. Quero desenvolver de uma forma diferente, mas sem destoar muito do enredo original.
Os diálogos foram retirados do filme.
Não vou colocar meta para postagem, mas qualquer coisa, acompanhem o cronograma que há em meu perfil, caso eu mude de ideia.