Luna escrita por Shay Omura


Capítulo 1
Luna


Notas iniciais do capítulo

Bem, essa one-shot é meio que uma visão minha da música Saturday Night - Misfits.

Boa leitura.



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Oh, o calor das madrugadas que passamos juntos, dois bêbados vagando pelas ruas desertas da cidade, rindo de si mesmos. Todos os beijos que tive de roubar, todas as rosas que entreguei depois das nossas discussões sem motivo, esses momentos todos estão, para sempre, marcados em minha pele: Julie, minha rosas e os meus espinhos – me beija com esses lábios vermelhos e me morde com a sua ironia. A saudade que sinto de você marcará meu coração, tal como a agulha fere a minha pele, para sempre me lembrar do que somos, nunca do que não podemos ser.

Mas o banco de trás do drive-in é tão vazio sem você.

Então, eu, este lobo solitário, estive chorando pra Lua, pra sempre magoado – ferido de amor. Até que outra bela flor veio ao meu encontro, tão bondosa e segura, para me lembrar que além das noites frias existem os dias cheios de sol. Amy, meu girassol, seus cabelos dourados e sorriso cativante são como armas – conseguia o que queria de mim e depois me fazia esperar para tê-la... sua obsessão em alcançar o estrelato me fazia sentir tão pequeno. Mas suas palavras quentes sempre me acalmavam. Você também está em minha pele, girassol, perto do meu coração, lançando luz e calor, mas ainda me sinto tão vazio.

Eles estavam tocando a nossa canção.

Oh, as marcas de amor que cobrem minha pele... “tão feio, tão estranho” eles dizem, me repudiam. Não entendem que tipo de homem eu sou, não conseguem ou não querem compreender o que eu sinto. Um longo período a sós com as minhas lembranças... tantos uivos dedicados à Lua. Antes de tudo eu era só um garotinho perdido e feio, muito feio – esquecido no canto como um brinquedo problemático. O único lugar em que me encaixava era o colo da minha mãe, tão macio, tão alvo, enxugava as minhas lágrimas pacientemente.

Há sempre mais de um modo de machucar alguém.

Apesar dos olhares crueis das pessoas, eu tenho orgulho das flores na minha pelagem, cada uma dessas pétalas são parte de mim e carregam minhas almas. Com elas, eu me sinto mais orgulhoso, mais imponente... pronto para caçar mais uma vez. Mas foi de repente, quando nossos olhos se cruzaram, que ela se deixou capturar. Minha aparência fora do comum não a afugentou, ao contrário, sua curiosidade quase infantil a trouxe, sem que ela percebesse, cada vez mais perto do meu covil.

Tal como uma criança, seus olhos pequenos brilharam com as cores e os desenhos em minha pele. Eu fiquei também tão fascinado, encorajado, talvez, por já ser mais experiente... mas não deixaram me aproximar para conhecê-la, minha criança, para desvendar o enigma da flor com a qual ela se parecia, os tolos guardiões desse meu amor proibido alimentaram o meu desejo, a minha angústia, ao dificultarem o nosso encontro. Mas não é essa a dor que eu quero vivenciar!

Eu a procurava e eles a escondiam. Eu a chamava e eles chamavam os caçadores para virem atrás de mim. Ela me queria, eu podia ver em seus olhos lacrimosos, ela queria estar ao meu lado! Mas eles só faziam atrapalhar e colocar armadilhas no meu encalço... eu sempre escolhi não agir violentamente, mas eles não me deram outra escolha. Precisei chegar tão próximo do penhasco para colher... minha pequenina e misteriosa flor. Eles não imaginaram que eu iria tão longe por ela, contudo não demorariam para me encontrar... oh, dessa vez, eu teria tão pouco para lembrar...

Levei minha criança até o quarto, a Lua tão alta no céu, oferecia a única iluminação de que precisávamos. Tão inocente e imatura, minha dama estava com medo dos caçadores malditos que, naquele momento, perseguiam nossos rastros furiosamente. Para acalmá-la, contei sobre Julie, sobre como ela gostava de rir de mim e como era ácida e inteligente. Contei também sobre Amy e seus sonhos ambiciosos, sua confiança arrogante e beleza. E falei da minha mãe, sobre como ela cuidava dos meus machucados e me dava conselhos preciosos.

Confessar todas essas memórias pela primeira vez era terrível demais para suportar. Minha pequena dama me abraçou complacente... um aconchego que só senti quando eu era um menino feio. Seria somente essa a lembrança que eu teria dela, mas já me satisfazia, preenchendo o vazio em meu peito... algo que nenhuma delas conseguiu fazer. Tão lancinante a dor de eternizar minha pequena criança de modo tão vil... e justamente com as que não mereciam eu as induzi, gentilmente, ao sono da morte. Acabei deixando marcas na pele dela, mas não teria tempo para fazer as marcas na minha.

Então você foi, maliciosamente, calmamente, embora.

Os protetores da menina e os caçadores com armas na mão arrombaram a porta do quarto. Eu me sentia completamente bem. O homem que a gerou gritou o nome dela, o som que faltava para mim! Ele abraçou seu corpo frio enquanto os policiais me algemavam. Eu me sentia completamente bem. Aquela alma doce estaria sempre em meus pensamentos, este único e letal momento, meu verdadeiro amor, eternizado na saudade que ficará apertando o meu peito.

Mas havia algo que eu esqueci de dizer a ela.


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Notas finais do capítulo

Bem... é isso. A visão perturbada de um assassino que mata por amor. Os simbolismos presentes no texto escondem como essa obsessão começou.

Obrigada por ler :)