Os quatro irmãos escrita por Akira Sgiach


Capítulo 1
O conto dos quatro irmãos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/653932/chapter/1

Há muito tempo, bem antes dos seres humanos existirem neste mundo, uma grande árvore nasceu no centro do mundo, dessa árvore cresceram quatro frutos.

Depois de um tempo os frutos amadureceram e caíram. Desses frutos saíram quatro formas humanoides, dois meninos e duas meninas. Todos tinham cabelos e olhos negros como a noite, estavam nus e não possuíam umbigos.

Todos se levantaram aos poucos e abriram os olhos, eles olharam uns aos outros e compreenderão que eram irmãos.

Eles olharam ao redor e identificaram a terra em baixo de seus pés descalços, o Sol quente em cima, o céu azul e sem nuvens...

Eles caminharam juntos pelo mundo em busca de formas e sensações. Eles conheceram as árvores, o mar, os animais, e toda a beleza que a natureza tinha para dar.

Aos poucos cada um foi se desenvolvendo, crescendo e amadurecendo diferente do outro.

O primeiro menino ficou com os cabelos e olhos da cor do por do sol, ele começou a falar com o fogo, com a terra e os com animais e dobrá-los as suas vontades.

O segundo menino ficou com os cabelos e olhos da cor de uma ameixa, ele começou a mover as coisas sem precisar tocá-las, a criar palavras e ensiná-las a seus irmãos.

A primeira menina ficou com os cabelos brancos como a neve e olhos prateados como a lua, ela começou a falar com a água e o ar e a movê-los conforme a sua vontade.

A segunda menina ficou com os cabelos e olhos dourados como o Sol, ela começou a fazer perguntas e imitar tudo o que seus irmãos faziam.

Os quatro irmãos continuaram sua jornada pelo mundo, explorando suas novas habilidades e conhecendo ainda mais o mundo.

Um dia eles se depararam com uma coisa muito diferente, parecia um animal, mas esse “animal” falava e pensava como eles.

A coisa olhou para eles e perguntou:

- Quem são vocês?

- Somos irmãos – respondeu o menino de cabelos roxos

- Mas quem são vocês? De onde vieram? – a coisa olhou para eles de um jeito estranho, a menina dourada ficou inquieta, mas não entendeu direito por que, tinha alguma coisa muito estranha no olhar daquela coisa...

- Viemos da Árvore, e somos irmãos como já te dissemos – respondeu a menina dourada. Enquanto a albina e o ruivo só encaravam a coisa, com a mesma inquietação da menina dourada.

- Da Árvore? – a coisa inclinou a cabeça, como se estivesse confusa, mas como os irmãos não responderam ela mudou a pergunta – Mas quais são seus nomes? Vocês não têm nomes?

- Nomes? Nós não temos nomes, o que é isso? - a curiosidade da menina dourada venceu a sua inquietação e seus olhos brilharam como sempre acontecia quando conhecia alguma coisa nova.

- Nome é o que te identifica e diferencia de outras pessoas – explicou a coisa.

Os irmãos pensaram naquilo, tentando entender, a menina dourada foi a primeira a compreender, ela sorriu e decidiu criar nomes.

- Eu sou a Dourada – ela aponta para a irmã albina – você é a Branca – ele aponta para o irmão ruivo – você é o Vermelho – ela aponta para o último irmão – e você é o Roxo.

Os irmãos sorriram e concordaram com ela, quando eles olharam novamente para a coisa ela tinha mudado, agora tinha a forma de um homem com os cabelos longos e negros, e olhos inteiramente negros, sem íris nem nada. Ele sorriu friamente para os irmãos.

- Belos nomes, mas deveriam ter guardado para si mesmos, pois, infelizmente para vocês, eu estou com muita fome.

Antes que os irmãos tivessem tempo de reagir, o homem atacou Dourada, mas Vermelho entrou na frente e ganhou um buraco no peito que imediatamente começou a sangrar, a dor era insuportável, e ele cuspiu sangue e começou a cair no chão. Dourada o pegou antes que caísse e soltou um grito de fúria e dor pelo irmão, e antes que o homem pudesse machucar mais alguém ela ergueu a mão e desintegrou-o sem hesitar.

Ela abraça o irmão e começa a chorar. Branca aperta o ombro de Dourada e aponta para a ferida de Vermelho que estava se fechando sozinha. Quando a ferida se fecha Vermelho abre os olhos e sorri como se nada tivesse acontecido.

- Estou bem - ele limpa as lágrimas de Dourada gentilmente.

Todos os irmãos sorriram e suspiraram aliviados. Naquele dia eles tinham descoberto a fúria e a dor de perder um irmão, o desespero da perda. Eles se amavam como se os quatro tivessem uma só alma, e não queriam ter que perder ninguém novamente.

Eles não falaram nem encontraram mais ninguém por algum tempo, mas continuaram sua jornada. Roxo e Dourada se perguntavam o que era aquela coisa, mas nunca descobriram.

Depois de um tempo eles encontraram várias outras Coisas, todas tentavam mata-los, chegavam a ter de fugir de um exército de deles, eles poderiam mata-los, mas Dourada era contra, ela nunca se esqueceu da primeira Coisa que matou...

- Não importa o que eles são ou o que querem, matar é errado, não importa o motivo – ela dizia.

Eles fugiram e fugiram por muitos e muitos anos, e as Coisas nunca param de persegui-los.

Num dia Roxo avistou estranhas construções, os irmãos foram ver, eles encontraram seres pequenos e com asas, presos no chão por bolas de metal que estavam acorrentadas aos seus pés.

- O que vocês são? – Dourada perguntou aos seres, um deles olhou-a nos olhos e falou com uma voz muito fina e delicada:

- Somos fadas, servas e escravas dos sanguessugas, se vocês não quiserem ter o mesmo destino é melhor irem embora daqui.

- Sanguessugas? O que é isso? E o que são essas construções? Que lugar é esse? – Dourada deixou-se novamente ser levada pela curiosidade.

- As construções são casas, e aqui é uma aldeia, as sanguessugas são os moradores, eles sugam o sangue de nosso povo, por isso chamamos de sanguessugas, mas eles chamam-se de vampiros. – a fada analisou os quatro irmãos atentamente – vocês não parecem vampiros, o que vocês são?

- Somos irmãos – respondeu Roxo.

- Sim, mas o que vocês são? – a fada perguntou novamente, e os irmãos não souberam responder, antes que dissessem alguma coisa, foram interrompidos quando um homem der repente sai de uma das casas, ele olha para a fada que se encolhe e se esconde depois ele olha para os irmãos. O olhar do homem era cheio de luxuria, e era principalmente dirigido à Branca e Dourada.

O homem era diferente das “Coisas”, seus olhos eram vermelhos e seus cabelos eram dourados e curtos, ele cobria seu corpo com panos. Branca achou-o lindo e elegante. Dourada ficou curiosa sobre os panos.

- Você deve ser o vampiro. O que é isso em seu corpo? – Dourada perguntou. Ele deu um sorriso de lado, e Branca ficou fascinada para aquele sorriso.

- Chamam-se roupas. E eu acho melhor as senhoritas vestirem também, é muito perigoso vagar nua pela floresta. – ele quase ignorou Roxo e Vermelho, que o olhavam desconfiados – e os cavalheiros também, claro. Entrem por favor.

Eles entraram e ganharam roupas e quartos, empregados ajudaram-nos a vestir-se e a banhar-se, Dourada e Branca adoraram seus vestidos, mas dispensaram os sapatos, Roxo e Vermelho não gostaram tanto, mas como suas irmãs insistiram, eles aceitaram vestir-se. Dourada elogiou-os.

O vampiro não disse seu nome, e não perguntou o nome deles, ele falou que enquanto estivessem na aldeia as Coisas não iriam persegui-los, ele também falou para não se importarem com as fadas, era uma pena ter de prendê-las, mas se não o fizessem elas seriam devoradas pelas Coisas, era verdade que os vampiros alimentavam-se delas, mas eles não faziam por mal.

Branca aceitou tudo o que ele disse, os outros não gostaram nem um pouco, mas quando tentaram argumentar o vampiro pareceu indignado, e Branca defendeu-o, eles não quiseram discutir com a irmã, então ficaram quietos. Eles decidiram ficar naquele lugar, e moraram junto com o vampiro.

Depois de um tempo eles ficaram fascinados com o lugar, eles aprenderam as boas maneiras, a civilização, conheceram os outros vampiros da aldeia e aprenderam sobre uma sociedade, eles conheceram os objetos que os vampiros usavam. Dourada e Roxo ficaram fascinados pelos livros, Vermelho se interessou pelas espadas e varias outras armas, que os vampiros usavam para espantar as Coisas, Branca se interessou só pelo vampiro, ela passava muito tempo com ele e com o tempo, descobriu que tinha se apaixonado.

Mas aquele vampiro era incapaz de amar, ele já fora tomado pela luxuria e pelo desejo, era o rei dos vampiros, e só o que desejava era o poder de Branca e seus irmãos, ele tentou drenar todo o sangue de Branca, para roubar o seu poder, mas antes que acabasse, Dourada sentiu o perigo e matou-o.

Os vampiros revoltaram-se com a morte de seu rei, sem escapatória, os irmãos decidiram lutar, os quatro exterminaram quase todos os vampiros e deixaram alguns fugir, eles libertaram as fadas, que voaram e choraram, finalmente livres.

Naquele dia eles foram odiados e amados.

O amor de Branca era mais intenso do que qualquer coisa que ela já sentira, mesmo sendo traída, ela não deixou de amar o vampiro, e desejou morrer com ele, ela perdera muito sangue, e suas feridas não se fecharam. O amor a matou. E levou junto parte da alma de seus irmãos, que choraram e gritaram de dor, enquanto o corpo de Branca se desfazia em brilhantes flocos de neve, que voaram livres na direção do céu.

Eles estavam cansados, tinham viajado muito, aprendido muito, sofrido muito, e estavam cansados de sua eterna jornada. Dourada nunca deixou de se culpar por todas as mortes que causou, e quase desejou ter morrido junto com a irmã, mas decidiu viver por ela.

Os três irmãos decidiram voltar para a Árvore onde nasceram, e assim o fizeram. Dourada decidiu fazer uma aldeia ao redor deles. Vermelho decidiu que eles não deveriam ficar mais na terra, então fez uma ilha em volta da Árvore e com a ajuda de Roxo, transformo-a numa ilha do céu.

E lá eles ficaram pelo resto de suas vidas, construíram um castelo, uma “escola”, e várias casas, passaram todo seu conhecimento para livros, e fundaram uma biblioteca.

E quando se cansaram e morreram, quatro novas frutas cresceram da Árvore.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os quatro irmãos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.