Worlds Apart escrita por kalliope


Capítulo 1
Capítulo Único




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No meio de uma floresta fria e vazia, debaixo de infinitas estrelas, sob um leito de terra úmida e folhas secas. É ali onde descansa uma doce garota. Os cabelos ruivos e a pele pálida são sua marca.

Logo após um súbito despertar, ela fixa seus olhos acinzentados no céu negro e estrelado, e então passa a se perguntar como veio parar aí, pois ela não lembra. Ela não lembra nem do próprio nome. Não lembra de nada. Nada.

De repente, e, sutilmente, ela se levanta, deixando cair ao chão pequenas flores de tecido que adornavam sua saia branca de cetim.

Ela está confusa, porém, decidida a buscar por respostas. Acha qualquer caminho e, determinada, o toma. Alguns ruídos são produzidos durante seu vagaroso caminhar, pois seus pequenos sapatos pretos e bem lustrados vão quebrando, sem dó, pequenos galhos e outras coisas pelo chão.

Por exceção da luz das estrelas, está tudo muito escuro, o clima é fresco e úmido. Não tem como explicar o temor de vagar sozinha por uma floresta fria e vazia, mas, quem sabe ela e a floresta ainda possam ser amigas, afinal, as duas compartilham do mesmo estado. Ambas estão frias e vazias.

É assim que a doce garota se sente. Uma lata qualquer sem rótulo, uma criancinha ingênua perdida no escuro. Só mais uma doce garota ao acaso.

Sem lembranças, sem propósito.

Na saída da floresta um extenso mar é avistado. Ela desce até a praia, chega mais e mais perto da água, deixa que o saldo das ondas molhe seus sapatos bem lustrados. Um suspiro profundo, e depois outro, menos intenso. Os olhos acinzentados da garota vislumbram toda a beleza do mar e do céu aberto.

"As estrelas parecem mais brilhantes vistas daqui" – Pensa.

Além das estrelas exageradamente brilhantes, ela não pode deixar de notar a presença de dois grandiosos planetas no céu negro – sendo um deles um pouco menor, por isso quase o sobrepõe –, tão grandes que é impossível passarem despercebidos.

Olhando para os grandes e notáveis astros, ela começa a refletir, meditar, sobre algo que nem ela sabe exatamente.

Um planeta. Um mundo. Mundos diferentes, distantes...

Subitamente, a doce garota começa a juntar partes de suas possíveis memórias.

Elas – as memórias – estão voltando, pouco a pouco.

Seus sentidos se afloram, sua pele arrepia e suas pálpebras quase se fecham quando a imagem de um homem – que lhe parece tão familiar – passa em sua mente. Os lábios entreabertos atestam uma iminente perda de fôlego.

Esse misterioso homem pode ser a resposta para tudo. Ela precisa encontrá-lo!

"... Lucy" – Sussurra de forma suave uma voz feminina em sua mente.

– Lucy! Agora eu lembro. Este é o meu nome! – Ela pensa alto, feliz com a insignificante descoberta.

[...]

–- ♦ –-

Enquanto Lucy se perde vislumbrando o céu, lá, em um dos planetas, se encontra um jovem guerreiro amargurado.

Semblante decaído e olhar frustrado pelo coração deteriorado de saudade.

A história é a seguinte: ele se apaixonou pela linda menina de cabelos ruivos. Ela era de um mundo diferente do dele. Os pais do jovem guerreiro viram aquela inocente união como uma abominação imperdoável; acenderam em ira, apagaram a memória dela e a lançaram para muito longe... de volta ao seu próprio mundo – lugar de onde não deveria ter saído –, deixando para trás toda a memória da paixão.

– Oh, Lucy, como sinto tua falta. Minha doce Lucy. – Suspira em dor o jovem guerreiro – Por que somos de mundos diferentes?

Ele não quer deixar seu amor por ela minguar até que se esgote.

De repente sua única esperança está na esfera de luz azul-celeste que se expande por entre suas mãos, usando quase toda a magia que lhe resta. Ele envia a esfera ao mundo de sua amada, na esperança de algum contato.

–- ♦ –-

Ao fim de seu louco devaneio, Lucy passa a fitar o movimento das ondas do mar com certa magia nos olhos.

Ela nota que o mar a puxa para dentro, cada vez mais. E mais. É aquela voz misteriosa em sua mente que a convida para se lançar de vez às águas.

Se jogar, afundar, afogar.

A doce garota não resiste ao chamado e mergulha sem medo. Tem certeza de que a dona da voz estará lá a sua espera. E ela a encontra.

Seus olhos encontram uma espécie de ninfa das águas, que a aguardava no fundo do gigante mar. Feições delicadas, pele demasiadamente clara e longos cabelos loiros, adornados com conchas e pedaços de corais, que dançam lentamente debaixo de toda aquela água, assim como os finos tecidos brancos que a vestem.

Lucy está hipnotizada pela beleza da criatura a sua frente, quando de repente, uma esfera de luz azul-celeste corta as águas e surge entre as mãos da bela ninfa. É um sinal!

Lucy é pega pela mão e puxada para mais perto pela bela ninfa. É só aí que ela nota não estar se afogando.

Com olhares sutis e gestos leves, a ninfa se comunica, e a doce garota parece compreender.

A esfera iluminada sobe água afora, retornando ao planeta do jovem guerreiro, e Lucy se apressa em fazer o mesmo, pois agora, ela tem uma missão.

Desajeitada, ela nada até a superfície. Os sapatos pretos e bem lustrados definitivamente não lhe dão nenhuma vantagem para o nado.

Finalmente, a ruiva rasteja até a areia salgada da praia.

Meias ensopadas, cabelo pingando água salina e areia molhada bordando a roupa. Ela se apoia em um dos joelhos antes de reunir forças para se levantar completamente.

Lucy olha para o imenso mar em movimento a sua frente e depois fita o céu, em toda sua magnitude.

Ele está lá, e ela precisa chegar até... lá.

Os olhos dela, por graciosa sorte, avistam uma humilde canoa de madeira, o que a dá uma esperança de locomoção.

Ela precisa encontrar aquele homem, ela precisa passar pelo mar, ela precisa da canoa!

As mãos pálidas e gentis da ruiva puxam a canoa para o mar, as ondas batem na proa de madeira; o vento intensifica, beija aquele rosto pálido, lambe os cabelos ruivos.

A promessa de uma aventura a deixa ansiosa. Sua busca pelos porquês está chegando ao final.

Lucy, já dentro da pequena embarcação, respira fundo e começa a remar na direção de seu apaixonante destino. Os olhos acinzentados fitam – e temem – o horizonte. A vontade de amar aumenta em seu peito a cada centímetro alcançado enquanto, no silêncio do fundo do mar, a bela ninfa faz sua prece pelo inocente casal.

Não importa aonde isso a leve, não importa se não faz sentido.

Agora, a doce garota não está fria e vazia.


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