Realidade surreal parte 2, ou 1 escrita por Alexis Coffee


Capítulo 6
A casa da Loucura Parte 1,5




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Abria a porta, outro quarto, mesmo quarto

Fugia pela janela, apenas quebrava a do outro novo mesmo quarto

Dentro do armário, nada além de coisas disformes e escuras dançando no ar, seriam ótimas para alimentar meus pesadelos por uma eternidade, mas não eram uma saída, definitivamente

Embaixo da cama dois olhos brilhantes vermelhos espreitavam, tentei me aproximar, uma mão rapidamente pula e arranha o chão com sua garra, tentando pegar meu pé, mas passando apenas no ar

Em cima da cama um ser esquelético, com a pele da cabeça rasgada, estava sentado, ele me observava, tranquilamente

Tento novamente sair pela porta

O ser que estava na cama agora aparece em pé ao meu lado

Eu normalmente estaria surtando a essa altura do campeonato, mas não, eu não estava, já havia feito isso o suficiente nos primeiros três meses preso lá

Por mais que todos fossem agressivos, eram inofensivos para mim, havia percebido isso, pois, o contato com eles era inevitável, visto que não havia como fugir

Não bastasse isso, todo dia, às 3 da manhã, a 4º parede ficava escura, como se várias sombras a escalassem gradualmente, serpenteando através dela, e uma nova “coisa” tão indescritível, ou até mais, quanto as anteriores saía dela, enquanto a parede lentamente recuava para trás

Pouco a pouco aquele lugar se tornava um corredor, cheio dos meus figuras inexplicáveis, incompreensíveis e inimagináveis a não ser que você estivesse no lugar para ficar em estado contemplativo, olhando-as, observando-as, e pouco a pouco se tornando a coisa em cima da cama sentada em posição fetal que te encarava ao mesmo tempo que você a encarava, como um mero jogo para ver quem pisca primeiro, e você ganha, por mais que sua fisionomia exija que você pisque antes e a dele não, você ganha pois não precisa mais ligar pras funções que seu próprio corpo exige que você cumpra e ele não precisa mais ligar de tentar de enlouquecer te observando com aqueles olhos profundos, pois ele já conseguiu a muito tempo

Eles se comunicavam também, eram como sussurros, barulhos, “toc toc”s na porta, batuques na parede, código morse batendo as unhas na cabeceira de metal da cama

“shhhh shhhhh shhhh”

“clang, cling, cleng”

“tum tum tum, tuuuuum tuuuuum tuuuuum, tum tum tum”

Talvez com três meses eu tenha exagerado, mas não tinha a mínima idéia, noção, ou qualquer coisa sobre como o tempo passava do lado de fora, tudo o que eu tinha para medir o tempo era um relógio, ou quase isso, pois usualmente ele deveria ser uma bússola, porém o norte naquele lugar não era fixo, era cíclico, em tal hora do dia o norte era 45º mais ao leste do que uma hora antes, depois de outras 3 horas ele passava a ser um ângulo reto com o que ele seria daqui a duas horas, e por aí ía… não era como se o lugar girasse, ou o mundo girasse ao seu redor, pois eu sentiria a inércia, as descargas de energia cinética com a troca brusca de direção da órbita do lugar em torno de si mesmo, era como se o próprio sentido de “direção” não fosse constante, mas sim, uma constante inconstância

Havia identificado esses padrões por volta da 3º “semana” lá dentro, por falta de algum hobby para praticar ou alguém que falasse algo compreensível comigo, e graças a isso pude ir anotando a passagem de tempo na 3º parede, que sempre tinha mais espaço graças à expansão gradual dela conforme a 4º se afastava da 2º

Claro que, agora, isso não era mais uma desculpa, pois eles começaram por volta de um “mês” atrás a falar algo próximo da minha língua, eles se comunicavam através de pequenas frases ou citações que eu sempre sabia de onde vinham, como se eles tivessem entrado na minha mente para saber todo e qualquer livro que eu já possa ter lido na minha vida, e todo e qualquer que eu possa não ter

Eu não conseguia definir exatamente o que eles talvez sentissem por mim, se é que o cérebro deles possuía uma área responsável por cuidar de sentimentos, se é que eles tinha algum cérebro, se é que eles conseguiam sequer ter algo, pois não havia ainda tido a total certeza se eram sequer reais ou não, mas acredito que variava muito entre antipatia, simpatia, empatia, ou qualquer coisa terminada com patia

Pelas suas frases que mudavam entre “se mate” e “me mate” ou “pule” e “amarre essa corda em volta dos nossos pescoços” ou coisas que não tinham a mínima aplicação lógica de acordo com a situação como “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que te cativas” eu podia definí-los como criaturas que de certa forma acompanhavam meu humor, pois não me encorajavam a nada que eu não estivesse com vontade de fazer no momento

Creio que já havia citado todas as paredes menos a 1º, não é?

Isso tem seus motivos

E o mais plausível de todos é que ela é a mais inútil de todo o lugar

Ao invés de seguir a lógica básica que diz que ela devia alongar junto à 3º parede, não, ela continuava sempre do mesmo tamanho, e não possuía nenhuma espécie de ângulo em relação às outras além do que toda parede normal possui, o de 90º, sempre

Ela não tem em si nada além de uma porta, que não me leva a lugar nenhum além de para ela mesma, alguns quadros pendurados, um prontuário, que tentava decifrar ainda, mas não havia achado a “pedra de roseta” que eu precisava para tomar como base para a decodificação daqueles símbolos, e, por fim, um espelho, que não refletia a mim, aos seres, e a nada de especial, ele mostrava meramente o quarto, e hora ou outra um pequeno vulto passando pela janela da sua versão distorcida porém bem mais plausível daquele quarto, tomava aquele espelho como a única e última conexão que eu tinha com a sanidade e o mundo real, mas pouco a pouco ele rachava, e eu sabia que quando se partisse eu não seria nada além de mais uma figura distorcida daquele lugar, sem noção dos próprios pensamentos, perdido num próprio mundo que nem sequer lhe pertencia, mas sim a quem ele confiava, e agora nem sabia mais se um dia existira ou havia sido um mero personagem interpretado por uma psicopata que não esperava dele nada além da dor, do sofrimento e da distopia que sua mente estava se tornando.


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