Alguém se importa? escrita por Alex


Capítulo 1
Alguém se importa?


Notas iniciais do capítulo

Uma história bem curta, eu sei. Escrevi isso num momento em que eu estava muito triste comigo mesma... Mas a vida continua. Temos que crescer e lidar com essas coisas.



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Chuva; noite gelada. Uma mulher corria com os pés descalços sob as poças d’água nas ruas de São Paulo. Quase nenhum carro passava por ali; era tarde e muitos preferiam o calor de suas camas.

Loira, cabelo bagunçado, com olhos assustados e cansados. Corria ofegante, com os lábios pálidos, sutiã à mostra e uma jaqueta. Olhava a cada 30 segundos para trás, na esperança de não ver aquela pessoa.

Quando finalmente encontrou-se na frente de seu prédio, parou e sentiu-se aliviada. Até ficaria ali por mais alguns segundos, mas o vento começou a passar por suas pernas, fazendo com que seus dentes batessem e as pontas dos dedos ficassem mais geladas. Pegou as chaves e entrou no prédio.

Ao entrar em seu apartamento, suas pernas começaram a falhar e ela desabou no chão. Aproveitou esse momento para absorver tudo que aconteceu nas últimas horas. Estremeceu. Com as mãos trêmulas, vasculhou os bolsos da jaqueta para pegar seu celular e, quando o encontrou, ligou para o número que ela guardava com muito carinho na memória.

- Ei... – disse uma voz do outro lado da linha – São 3:12 da manhã... Se você estiver me ligando só porque está bêbada e quer uma carona, já vou desligando na sua cara – riu, com um ânimo sonolento.

- Natália... – soluçou a loira, com a voz meio rouca e aterrorizada – Me ajude... Por favor, me ajude...

- Mari? – estranhou Natália, um pouco mais desperta – O que houve?

- Natália... – começou a suar frio e lágrimas rolavam sob sua face. Não conseguia parar de gaguejar – Eu... Eu...

- Mari, acalme-se. Aconteceu algo? Sua voz está horrível.

Por um momento, houve silêncio. Maria respirava com dificuldade. Então, olhou para seu corpo. Vestia apenas roupas íntimas e uma jaqueta. Estava suja e havia marcas em seus braços. Cenas do ocorrido e tudo que ela havia sentido passaram a assombrar sua mente. Começou a tremer mais ainda, a voz estava quase vacilando e ela podia sentir a bile subindo sua garganta, mas não podia falhar agora. Precisava contar o que havia acontecido.

- Natália, eu... Eu... – tentou falar do jeito mais breve que pôde – Eu fui estuprada.

Quando ouviu essas palavras saírem de sua própria boca, imediatamente vomitou na pequena planta que estava ao seu lado. Ela nunca se sentiu tão horrível em toda a sua vida.

No celular, só conseguia ouvir sua amiga gaguejando, tentando entender o que acabou de ouvir. Então, quando notou que estava perdendo tempo, esforçou-se para falar algo que fizesse sentido e disse, com firmeza:

- Estarei aí em 10 minutos! Tome uma ducha ou algo do tipo. Não abra a porta para ninguém até eu chegar! – e desligou.

Maria continuou com o celular na mão, sem saber o que fazer. Apenas abraçou suas pernas e segurou-se para não entrar em pânico. Seu corpo doía e sentia algo pegajoso em suas partes íntimas. Não conseguia parar de tremer.

Depois de um tempo, Natália chegou. Maria simplesmente abraçou sua amiga com força e chorou. Tentava falar, mas os soluços atrapalhavam. Quando finalmente acalmou-se, explicou tudo: como o sujeito abordou-a com uma faca, levou-a para um beco sem luz e aproveitou-se dela. Natália ouvia tudo, indignada. Olhou seriamente para amiga e prometeu cuidar do caso, afinal, era policial.

Na manhã seguinte, foram à delegacia prestar queixa. Maria esforçou-se para não vacilar enquanto descrevia o sujeito. Depois de um tempo, ela finalmente pôde sair daquele lugar. Queria ir para casa. Não se sentia confortável sozinha.

Enquanto andava pelas ruas, notou que não conseguia andar calmamente. Estava o tempo todo atenta, como se algum sujeito fosse abordá-la. De repente, esbarrou com alguém. Ela tremeu. O homem que esbarrou com ela pediu desculpas e continuou conversando animadamente no telefone. Ela achou aquilo estranho. Então, olhou a sua volta. Viu algumas pessoas rindo, outras apressadas e várias com sono. Todas estavam indo para algum lugar; seja trabalho, colégio ou um simples encontro. Estavam vivendo suas vidas, como se nada fosse incomodá-las. Maria começou a sentir ódio por cada um que passava. Ela foi vítima de estupro e estava ali no meio daquela multidão, se remoendo por dentro e agonizando, enquanto essas pessoas simplesmente passavam por ela, sem se importar. O mundo dela virou de cabeça para baixo, mas ninguém sequer ligava. Ninguém sabia que ela sofreu e talvez nem precisasse saber, afinal, se sua história virasse notícia de jornal, a vida delas continuaria do mesmo jeito, sem nenhum problema.

“Eu fui estuprada. Nada importante.”, pensou.

Continuou andando, dessa vez, um pouco mais calma. Mais uma vida com seus problemas.

Mary Collins


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Notas finais do capítulo

"Mais uma vida com seus problemas". Essa talvez seja a frase que me deixou chocada comigo mesma, como se eu não ligasse pra ninguém. Sim, tem muitas pessoas nesse mundo e não dá pra cuidar de todos, eu sei, mas a vida é preciosa.
Conheço várias pessoas, mas as poucas com quem tenho mais afinidade são muito importantes para mim e eu faria de tudo para que elas fossem felizes (ok, quase tudo... Um terço de tudo...).
Todos nós temos uma boa razão pra estarmos nesse mundo. E quando eu falo isso, não estou querendo falar de Deus. Eu quero que todas as pessoas do mundo aprendam primeiro a amar umas as outras ou, no mínimo, respeitar as diferenças. Sou cristã, mas acredito que a religião criou muitos muros entre as pessoas. Por favor, não seja um desses religiosos. Respeite as pessoas independente da raça, orientação sexual ou religião. Obrigada.

PS: Quando eu estava relendo essa nota, notei que fiquei mudando de assunto toda hora... Desviei-me muito do assunto, mas não farei mais mudanças, afinal, isso foi um grande desabafo meu e eu queria muito que alguém soubesse disso haha