Sakura estava andando pelas ruas de Konohagakure, observando a recém-construída vila depois da invasão de Pain e a vitória de Naruto sobre ele. Refletiu uma vez mais acerca das batalhas que ocorreram, o quanto todos os que ela conhecia, amava, crescera junto, o quanto eles haviam lutado - com todos os significados da palavra - pelo seu lar, por Konoha. Lembrou do terror que havia sentido ao encontrar sua mestra, Tsunade-sama, em uma situação tão vulnerável, para logo depois vê-la cair em um coma tão profundo. Recordou-se da figura de Naruto, pela primeira vez tão imponente, sendo capaz de tudo ao lutar com um inimigo tão poderoso quanto Pain, do quanto ele havia evoluído e ficado mais forte. Também lembrou que havia pensado na vontade que sentiu em ter o Sasuke-kun ali para ajudar na invasão; em qualquer das formas, bélica ou emocionalmente, tudo seria mais fácil com ele do lado.

Ela odiava admitir para si mesma, mas ela sentia falta dele. Mesmo ele tendo demonstrado tantas e tantas vezes o quanto ele não merecia sua confiança, o quanto ele não era digno da sua amizade e da amizade de Naruto, o quanto ele havia machucado Naruto e feito tanto ele quanto ela sofrerem, a lembrança que mais insistia em surgir em sua cabeça não era a dele tentando matar a ela e ao seu melhor amigo, não era a frieza que ele demonstrou ao deixar Konoha de forma tão brutal, não era o estado no qual ele tinha deixado Naruto; a única lembrança que surgia em sua mente era o "Obrigado" que ele havia dito antes de desaparecer para sempre. Ou então, às vezes, o sorrisinho frio que ele exibia de vez em quando. Ou seus olhos tão cheios de solidão e rancor, mas que ainda assim tinham o poder de lhe deixar tão mais calma. Ou tantas outras coisas que a fizeram se apaixonar por ele de forma tão intensa.

Ela soltou um muxoxo e meneou a cabeça para se esquecer deste garoto que só fez trazer problemas para sua vida. Apressou o passo para ir ao ponto que tinha planejado se encontrar com Naruto – o Ichiraku Rámen.

Outra coisa que ela odiava admitir para si mesma era o quão importante aquele loirinho irritante era na vida dela. Ele era seu melhor amigo, que passou por tudo que um ser humano não merecia ter passado, mas mesmo assim não tirava aquele sorriso radiante do rosto. Sendo filha única e ainda assim tendo a oportunidade de ter um irmão para bater, cuidar, gritar e conversar, ela era muito grata a Naruto por tudo o que ele representava para ela.

Chegando no local indicado, ela encontrou o Uzumaki já engolindo o macarrão com fervor. Rindo por dentro, Sakura se aproxima e senta ao lado dele, já pedindo seu rámen.

- Yo, Sakura-chan! – Naruto cumprimentou, ainda engolindo a refeição.

- Não fale de boca cheia, Naruto!

- Foi mal. – Ele engoliu – Você tá pensativa hoje. Aconteceu alguma coisa? – Sakura olhou para baixo, reflexiva, se perguntando se deveria falar para Naruto a trajetória que tinha sido traçada por sua cabeça mais cedo.

- Eu estava pensando no Sasuke-kun. – Ela disse, e o clima mudou instantaneamente; Naruto pareceu ficar mais cabisbaixo – Quero dizer... O quanto ele poderia ter nos ajudado na batalha contra Pain? O quão diferente tudo seria se... Se ele ao menos estivesse aqui?

Naruto levou alguns segundos para responder, mas quando o fez, não tirou os olhos do chão:

- Se ele tivesse que estar aqui, ele estaria.

Sakura o olhou, espantada, como se ele tivesse dito a maior das loucuras – e talvez ele realmente o tivesse feito. Naruto continuou:

- Eu também estive pensando, desde que o Ero-Sennin morreu. Eu percebi que esse mundo é injusto. Se alguém como o Ero-Sennin se foi e tem tanta gente que não presta por aí, vivinha da silva, então não tem como esse universo ser digno. Então eu vi... Eu vi como fomos cegos em pensar que Sasuke era uma dessas pessoas dignas. Vi o quão injusta é a nossa situação com ele. Ele tentou matar você. – Ele a olhou com olhos tão frios que chegaram a assustá-la – Eu não sei se serei capaz de lembrar disso e pensar que é justo. Eu acho que... Acho que deveríamos apenas esquecê-lo.

Sakura o encarou com uma expressão incrédula no rosto. Esquecer? O Sasuke-kun?! Esse não era o seu Naruto falando, não podia ser. O Naruto que ela conhecia jamais diria essas coisas.

E por essa razão ela simplesmente se virou e acertou um soco no rosto dele.

- Quem é você? – Ela perguntou para o garoto que a olhava, assustado, do chão – Você não é o Uzumaki Naruto que eu conheço. O Uzumaki Naruto que é o meu melhor amigo nunca diria uma coisa dessas. Ele se importa com o Sasuke-kun mais do que qualquer um. Ele sabe que ele é uma boa pessoa, que bem lá no fundo ele ainda é aquele Uchiha que virou tão nosso amigo quando nos tornamos o time 7, o time Kakashi. O Uzumaki Naruto que eu conheço dá valor ao seu melhor amigo. Então me responda: - Ela pegou o loiro pela gola e o ergueu – quem é você?

Passaram alguns segundos apenas se encarando, um silêncio torturante pairando no ar. Mas esse clima foi cortado ao escutarem vozes impacientes passando na frente do Ichiraku, o que os fez pararem de se olhar e se virarem na direção daqueles sons. Quando saíram do restaurante, encontraram Nara Shikamaru e Temari discutindo sobre alguma coisa.

- Você é muito infantil. – Dizia a kunoichi – Eu já disse que você precisa logo se tornar um Jounin, assim como eu. O tempo está passando, Shikamaru. – Em resposta, ela ouviu um muxoxo:

- Mulheres são problemáticas, mas você é demais. – Ele olhou para ela com aquela expressão de tédio que a fazia ter calafrios de ódio – Assim que eu achar que estou apto para me tornar um Jounin, eu o farei.

- Shikamaru, você se formou na Academia e se tornou Genin aos 12. Sabe com quantos anos se tornou Chuunin? Aos 12. Você só está de implicância. – Então ela percebeu que estavam sendo observados – Ah, olá vocês. Perderam alguma coisa?

Naruto e Sakura imediatamente começam a negar, temendo que o estresse de Temari se voltasse para eles. Enquanto os 4 se envolvem em uma conversa, Sakura começa a refletir sobre as palavras de Naruto. O que tinha acontecido? Eles realmente deveriam tentar esquecer o Sasuke-kun?

O tempo passou e Sakura se encaminhou para sua casa, ainda pensando na conversa que tivera mais cedo. Se ela parasse para analisar, talvez no fundo Naruto estivesse certo. Será que a situação que o Uchiha os tinha colocado era mesmo justa? Veja tudo que ele os tinha feito passar. O sofrimento que causara, sem demonstrar nem um sinal de remorso ou arrependimento. Ele merecia que eles se martirizassem dessa forma?

Sakura sabia que a resposta correta era não. Sabia que o que Sasuke-kun tinha feito com sua cabeça e coração não era algo justo. Mas seu emocional insistia em gritar que ela não tinha o direito de desistir dele. Ele era o Sasuke-kun. O seu Sasuke-kun.

Deitada em sua cama, em seu quarto, ela chegou à conclusão que o mais saudável realmente era deixar que cada um seguisse seu rumo, por mais que isso fosse doer. Ela tinha que pensar nela, pela primeira vez.

Perdida em pensamentos, ela ouviu um movimento próximo à sua janela. Alarmada, pegou uma kunai e esperou que o invasor entrasse em seu quarto. Esperou enquanto uma silhueta se formava e passava pelas suas cortinas, se firmando de pé diante dela. Ela não conseguia ver seu rosto.

- Sakura? – Perguntou o invasor, e ela sentiu como se o mundo estivesse ruindo ao seu redor.

Ela conhecia aquela voz.

E pior: ela sentia falta daquela voz.

Era a voz do Sasuke-kun.