Eclipse escrita por Shadow


Capítulo 1
Puro e Obscuro


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem!



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Puro e obscuro

“Ei, alguma vez, na sua vida, você desejou algo a mais? Como coisas que, todos dizem, não existem? Bem, eu já, mais de uma vez, agora eu desejaria nunca ter feito isso. ”

°~°

Antes de tudo, havia apenas quatro coisas, o Céu, o Inferno, a Terra e o caos. O caos era a pura escuridão que reinava na Terra, preenchido por criaturas que seguiam apenas uma simples regra: os fortes comandam, os fracos obedecem, Deus cansado da desigualdade e da escuridão que reinava na Terra criou o dia, para clarear aquele mundo e fazer reinar as boas criaturas, o Diabo, feliz com o antigo estado da Terra, criou a noite, para trazer de volta o caos da escuridão então Deus criou o Sol e a Lua, opostos e iguais, para reinar sob o dia e a noite, iluminando a Terra com sabedoria, conhecimento e justiça, mas ocorreu uma calamidade, algo que jamais poderia ocorrer, um amor proibido entre o Sol e a Lua, e deste amor nasceram um rei e uma rainha, para reinar perante o dia e a noite, Rei Die e Rainha Nox, apesar do amor intenso que sentiam, jamais poderiam ficar juntos, dia e noite jamais poderiam se encontrar, e por milênios foram consumidos por este sentimento, estabeleceram seus reinos, Urbem Luna e Urbem Solis, dividiram o antigo caos em criaturas diurnas e noturnas, e por mais de dez mil anos conviveram em paz, escondidos da humanidade, enquanto estes se achavam as únicas criaturas racionais da Terra, sem ver o que estava diante dos seus narizes, a incrível cultura escondida logo abaixo do solo. Escondidos no núcleo da Terra, opostos conviviam em paz.

Após tantos anos de amor impossível, Deus apiedou-se de Die e Nox, e permitiu então o Eclipse, um evento raro em que dia e noite se uniam, em que poderiam partilhar de seu amor, e neste evento, ambos perdiam suas forças ao atingirem o clímax, e ele repetiu-se diversas vezes, até que os desertores descobriram, e mais uma vez, em um eclipse Die e Nox se uniram, a noite deitou-se na cama que era o céu, o dia tomou ela, os meros segundos de união foram o suficiente, suficiente para que o caos voltasse com força total, aqueles meros segundos foram o suficiente para que Nox soubesse da filha, assistiu, em silêncio, seu amor ser morto diante de si, pelos seus próprios súditos, fugindo pela terra, chegou a superfície, e durante nove meses se escondeu de caçadores, sobreviveu escondida em florestas, e, ao final de nove meses, deu a luz a criança proibida, e morreu no parto. O trabalho estava feito.

°~°

“Criança abandonada na floresta é encontrada por mulher, agora passa bem no Orfanato da Senhora Grienstood, desejamos o melhor destino possível para ela”

—Destino... – prendeu uma risada engasgada na garganta e sorriu, lendo a manchete parcialmente rasgada e com manchas do tempo – Isso não existe.

Resistindo ao impulso de amassar e rasgar aquela folha infinitamente, guardou-a na gaveta novamente, fechou e encarou o pequeno quarto ao qual estava dando adeus.

—Porque todas as pessoas insistem em me abandonar? – Sussurrou a ninguém em especial, enquanto se dirigia a entrada, mas assim que saiu de casa para o calor do sol e sentiu brisa de verão, poderia até dizer que viu a dor ser carregada pelo vento.

Fechou os olhos bem firme, não queria ficar olhando o ônibus que a levaria para uma casa completamente diferente, na qual ela ficaria, sozinha, por muitos anos, andou a passos lentos até a porta, entrando como alguém que vai a um funeral, e ela acabara de sair de um.

°~°

— E então? Onde ela está? – Os passos calmos reluziam a face do homem, pesados e duros.

— Morta, senhor.

O dito “senhor” sorrira para a seguidora, e com um simples movimento de mãos mandou-a sair do aposento, não queria ninguém o incomodando naquela noite, era uma noite especial, afinal, quantas vezes somos capazes de ver a Lua em sua forma mundana?

— Você sabe que não deveria fazer isto, Shoá, sabe que não. – A voz calma e serena, como deveria ser a da própria Lua.

— Porque tinha de ser ele? Eu lhe amava tanto! Por que me obriga a isto?

— Amor é algo confuso, Shoá, algo confuso demais para que sequer os deuses possam lhe compreender por completo, não posso responder tais perguntas, nunca pude e nunca poderei, sabe disso.

— Você nunca entendeu o que sente? Por que mente para mim? Quer me fazer sofrer mais? – A voz calma do demônio se alterou, o tom grave da raiva preencheu a sala, Nox apenas se calou enquanto o observava. – Por que nunca pode me amar?! O que eu lhe fiz?!

— E todos diziam que demônios não possuíam sentimentos. – Nox sussurrou, olhando para si mesma brilhando no céu escuro.

— Nem ao menos se importa comigo?! – A voz continuou a se elevar, os olhos brilhando com a cor do sangue derramado em guerras, o sangue impuro, causado pelo ódio e pela discórdia, e no reflexo daqueles olhos Nox pode ver e entender mais uma vez o que lhe faltava, naqueles olhos ela podia se ver refletida, a luz cálida iluminando todo o seu corpo nu, os cabelos negros esvoaçando com o vento soprado pelas longas janelas do lugar. – Alguma vez se importou com o que eu sentia?! – Catástrofe. Novamente libertou a ira de si, a luz negra de vidas vividas em vão brilhando em volta de seu corpo, andando em círculos intermináveis, jogando coisas no chão, desperdiçando a vida de outros, assim como sempre fez e como sempre fará. – PORQUE NÃO PÔDE ME AMAR?! – Os passos saíram do rumo e ele correu para a luz da Lua, querendo abraça-la e tranca-la, para que não fosse de ninguém mais além de sua, e antes sequer que pudesse toca-la, evaporou no ar, deixando apenas o escuro em seu lugar, novamente ficou sozinho, podendo apenas ver o seu amor a brilhar em um lugar inalcançável.

Afinal, é isso que o amor é, completa e totalmente inalcançável.


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