When two are actually one escrita por Nekoclair


Capítulo 2
Denial


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sinto que demorei mais do que eu gostaria, mas estou feliz por enfim terminar o primeiro arco desta história. Espero que gostem.
Boa leitura!
PS. Estarei passando algumas informações nas notas finais, para quem interessar.



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Eu tinha os olhos abertos, mas nada observava. As canetas jaziam na mesma posição desde o começo da aula, que foi quando eu as tirei do estojo. Minha sensação era a de que o tempo havia parado, congelado naquele instante específico e desimportante, mas o som dos ponteiros e a voz rouca de meu professor eram provas suficientes de que eu estava enganado. O tempo caminhava normalmente.

Movi os olhos cansados para a lousa e ajeitei-me na carteira, meu corpo dolorido. Mantive minha atenção no professor por alguns instantes, mas suas palavras não conseguiam capturar o meu interesse e, dessa forma, não demorou até que eu tornasse a perder o foco.

A maioria culparia a sonolência pelo meu estado, mas não era esse o caso, apesar de ser verdade que eu não dormia bem já há algumas noites. A minha impressão é de que quando eu fechava os olhos a fim de adormecer, o meu subconsciente se esforçava para manter qualquer tipo de pensamento longe, fazendo de tudo para evitar aqueles que seriam indesejados. E era justamente esse esforço extra que estava acabando comigo.

Cansado de encarar a brancura das folhas do caderno, deixei que meus olhos vagassem. Não me surpreendi ao vê-los se direcionarem à luz piscante de meu celular. Alguns hábitos são difíceis de abandonar… Sorri melancolicamente.

O sinal então tocou e de imediato me levantei. Sai porta afora sem olhar para trás, seguindo pelo corredor até uma das outras salas de aula daquele andar. Quando enfim alcancei meu destino quase fui jogado no chão, pois Seo corria para fora da sala sem prestar atenção no mundo à sua volta.

Fiquei alguns segundos apenas vendo a garota disparar pelo corredor, esbarrando com meio mundo enquanto tentava chegar à escada. Quando dei por mim tinha uma pequena garota usando um par de fitas ao meu lado, preso em seu cabelo ruivo e comprido.

— Bom dia, Mikorin.

— Dia. – Cumprimentei-a com um sorriso. Mas não demorou até minha atenção direcionar-se de volta aos estudantes que se recompunham depois da passagem do furacão Seo. – O que deu nela?

— É que hoje tem pão recheado com carne. Ela adora. Só que acaba rápido, então…

— Entendi… – Achei melhor deixar para lá. Não era realmente importante. – Bem, vamos?

Sakura sorriu e anuiu a cabeça, seguindo-me até o exterior do prédio, uma pequena marmita em suas mãos. Sentamo-nos na sombra de uma árvore, como vínhamos fazendo já durante toda a semana. Ela apoiou o recipiente nas pernas e o abriu, revelando um lanche decorado e delicado.

Sorri um pouco enquanto a observava levar a comida à boca.

— Nozaki deve gostar muito de você, Sakura. Esse tipo de coisa com certeza dá trabalho pra fazer.

Ela quase engasgou por um momento. A ruiva virou imediatamente em minha direção e balançou as mãos na frente do rosto.

— Não é sempre! E não é como se fosse realmente por mim! Ele faz isso pra estudar diferentes tipos de combinações de cores e estilos! É tudo pro manga dele!!

— Ainda assim, ele escolheu você especificamente.

— Por ser conveniente!

— Por que você nega tanto?

Seu olhar tornou-se sério.

— Cansei de decepções. Qualquer esperança é fútil.

— Mas você não tinha decidido se confessar de novo?

Ela fechou a marmita ainda por terminar e apoiou as mãos nela. Seus olhos se encontravam sem o típico brilho que sempre os possuíam quando o assunto da conversa era o mangaká.

— Digamos apenas que eu ganhei mais um autógrafo e horas extras.

— Como?...

— Aparentemente, dizer estar admirada por ele e que desejo passar mais tempo ao seu lado não foi claro o suficiente.

Levei a mão à cabeça e baguncei os fios de meu cabelo. Mais uma vez, eu me via incapaz de consolá-la. Era difícil de acreditar que ele escrevia romances tão realistas e açucarados, quando era denso daquela maneira.

— Mas deixa isso pra lá. E você, Mikorin? Como você está? Já faz pouco mais de uma semana…

Inevitavelmente, senti um aperto em meu peito. Meus olhos observavam os dedos das minhas mãos atentamente, como se tivesse algo ali a ser visto. Qualquer pensamento que até então permeava minha mente desapareceu. Tudo se silenciou por alguns segundos; segundos estes que pareceram muito mais longos do que foram na realidade. Mas eu sabia que precisava respondê-la, por isso, engoli todas as emoções complicadas que me consumiam e respirei fundo.

— Tudo bem. Já estou bem melhor. – Sakura não pareceu muito convencida, então tornei a assegurá-la. – Sério. Eu tinha que superar uma hora.

A garota decidiu por nada mais dizer e apenas voltou ao seu lanche, terminando-o pouco antes do sinal tocar. Acompanhei-a até a sala antes de direcionar-me à minha, e perguntei se gostaria de ir comigo a algum lugar depois da aula, recebendo uma resposta inicialmente incerta, mas que logo se tornou positiva. Sakura encarava-me com olhos preocupados e eu não entendia o porquê. Lamentei a separação, mas esta era inevitável.

Fui para a minha sala, chegando pouco antes do professor. Kashima observou todo meu trajeto da porta até minha carteira. Quando me sentei ela reclinou seu corpo para frente, a fim de falar comigo.

— E aí, Mikoshiba.

— Oi. – Encarei-a com expressões surpresas, pois aquela era a primeira vez que ela falava comigo há dias.

— Hey… – Ela ficou em silêncio por alguns instantes, como se pensasse por um momento antes de falar; uma atitude rara, vindo dela. – Me diz, aconteceu alguma coisa?

Ela podia ser bem perspicaz, às vezes.

— Não. Por quê?

— Não sei… Você está estranho. Além de que, quase não toca no celular.

— Bem, sala não é lugar de celular.

— Você não parecia se importar com isso nos últimos meses.

Vi-me sem saber o que responder. Eu me sentia desconfortável. Suas palavras me machucavam, mas não é como se ela desse conta disso. Encolhi os ombros, preferindo não responder.

— E estão rolando uns boatos estranhos sobre você e a Chiyo. Não que eu acredite, afinal são absurdos, mas...

Minha atenção foi imediatamente tomada.

— Que boatos?

— De que estão saindo.

— Como? – Franzi as sobrancelhas. Aquilo era um absurdo. – A Sakura é louca pelo Nozaki! Todo mundo sabe disso!

— Bem, o que eu soube foi que você pediu para ela te encontrar depois da aula, ela aceitou e desde então não desgrudam.

Fiquei em silêncio por alguns instantes, descrente que conseguiram espalhar um boato tão idiota.

— Cara, isso é impossível. Você sabe que é impossível. Como pôde acreditar numa estupidez dessa?

— Não é como se eu não tivesse achado estranho, mas todo mundo ficava falando sobre isso e de repente as coisas começaram a fazer sentido na minha cabeça… Não sei.

Ambos ficamos em silêncio por um tempo. Ela me encarava fixamente, e eu encarava de volta.

— Mas então… – Ela começou. – Vocês não estão saindo?

— É claro que não!

— Certo… Claro que a Chiyo não ia esquecer o Nozaki. Não sei como pude acreditar nisso. Você e a Sakura, – ela deu uma risada debochada – impossível.

— Fico feliz que tenha finalmente entendido. Se puder corrigir os outros, me faria um favor.

— Vou pensar no seu caso.

Não tive a chance de responder, pois nesse exato momento o professor entrou na sala. A aula começou, o assunto se esqueceu e minha mente foi tomada novamente pelo vazio. Haviam coisas demais acontecendo na minha vida, ultimamente.

.

.

Quando o sinal tocou, juntei meus materiais o mais rápido que pude e me ergui da cadeira.

— Quanta pressa. Aonde vai?

— Vou me encontrar com a Sakura. Ficamos de sair hoje à tarde.

—… Tipo um encontro?

Franzi as sobrancelhas, já cansado daquele assunto.

— Não! E não tem graça.

Ela abriu um largo sorriso, como se dizendo: “Tem, na verdade”

— Mas aconteceu alguma coisa? Vocês tem realmente passando bastante tempo juntos ultimamente. Sempre que tem tempo, você vai até a sala dela, além de terem almoçado juntos todos os dia nesta semana. Tem alguma coisa a ver com o Nozaki?

— Não. Por que teria?

— Então… Tem alguma coisa a ver com o real motivo de você ter deixado o celular de lado?

— Não sei do que está falando… – E dito isso sai porta afora, desejando me ver livre de Kashima o mais rápido possível. Ela estava afiada hoje, e parecia a fim de cutucar minhas feridas ainda abertas; mais abertas do que eu jamais admitiria estarem. Eu sabia que ela não fazia de propósito, mas ainda assim machucava, e eu nunca fui muito bom em lidar com a dor.

Seguindo pelo corredor, direcionei-me à sala de Sakura, mas já não havia quase ninguém lá. Estranhando a ausência da garota, busquei meu celular, puxando-o para fora do bolso. Encarei a luz piscante por um momento, sentindo-me bastante tenso de repente. Desbloqueando o aparelho, vi que haviam duas conversas; uma era Sakura, a outra… Mayumayu.

Desviei os olhos por um momento e respirei fundo. A força com que eu segurava o aparelho aumentou. Ele parecia mais pesado. Porém, eu não tinha tempo para isso, não agora. Ignorando as notificações das várias mensagens de Mayumayu, abri as de Sakura, descobrindo que ela já me aguardava junto ao portão. Apressando meus passos, encaminhei-me pelo caminho familiar, o peso extra em meu bolso lembrando-me que havia ainda outros assuntos inacabados. Eu não podia ignorá-la para sempre, e eu sabia disso.

Quando enfim me vi no exterior do prédio, o primeiro a me receber foi o sol escaldante. Cada dia que passava parecia mais quente e eu odiava isso. O uniforme suado, as dores de cabeça… Não tinha como gostar do tempo quente que vinha fazendo. Era insuportável. Andando em direção ao portão, não demorou até que eu avistasse o par de fitas vermelhas. Sakura acenou quando me viu caminhar em sua direção. Nozaki, que estava ao seu lado, limitou-se a observar minha aproximação, esperando eu parar ao lado deles para então me cumprimentar.

— Boa tarde, Mikoshiba.

— Ah! Oi, Nozaki! – Por algum motivo, senti-me desconfortável; eu via-me cheio de um estranho sentimento de culpa. Porém, não é como se eu tivesse feito alguma coisa para me sentir dessa forma. Provavelmente era apenas uma reação aos boatos, que eu nem sabia se eles estavam a par.

— Bem, então eu acho que vou indo. – Nozaki anunciou logo em seguida.

— Já?! – Sakura perguntou, e então constrangeu-se pelo tom exasperado de sua voz. Nozaki, porém, não pareceu perceber o significado da sua agitação.

— Sim. Tenho que dar uma boa estudada, já que larguei tudo nas últimas semanas.

— Ser um mangaká não é nada fácil.

— Bem, acho que sim… Um pouco. Mas vocês tem me ajudado bastante nos últimos tempos. Obrigado.

— Não a de quê.

Sakura e Nozaki trocavam olhares silenciosos, e enquanto isso eu os observava com satisfação. Era inegável a proximidade deles. Eu me perguntava quanto tempo ainda demoraria até que ele desse conta dos sentimentos da ruiva e dos seus próprios.

— Bem, até mais.

Sakura encarou ansiosa o distanciamento do garoto, os seus olhos tristonhos pela súbita separação. Era evidente que ela desejava seguí-lo, ficar mais tempo com ele. Porém, ela não fez nada, simplesmente permaneceu estática ao meu lado, provavelmente lamentando ter aceitado sair comigo naquela tarde. Mas eu tampouco a encorajei a me abandonar, afinal eu não desejava ficar sozinho. Na verdade, ficar sozinho era o que eu menos desejava naquele momento. Assim, eu a mantinha presa, apesar de saber que não era a minha companhia que ela realmente desejava.

Mesmo sabendo que isso não me fazia um cara legal, e muito menos um bom amigo, eu não conseguia evitar. Eu precisava de Sakura. Só quando eu estava com ela é que eu conseguia relaxar, esquecer de Mayumayu, de Mayu e de tudo que me aconteceu na última semana. Era demais para mim.

— Então… Onde quer ir? – A ruiva perguntou, por fim, ao ver que eu não me pronunciaria tão cedo sem um pouco de incentivo.

— O que sugere? – Perguntei, um sorriso discreto nos lábios.

Ela começou a caminhar e eu a segui. Entretanto, ela não parecia ter se decidido ainda sobre o nosso destino, pois suas feições encontravam-se pensativas.

— Que tal a praça daquela vez?

— Você quer dizer aquela perto da casa do Nozaki? – Ela anuiu a cabeça. – É um pouco longe… Mas tudo bem. Podemos aproveitar e passar na casa dele antes de ir pra casa.

Ela abriu um largo sorriso e eu imediatamente percebi que aquela era justamente a sua intenção. Por outro lado, eu sentia que não era só isso. A praça era quieta por ser pouco frequentada e a minha suspeita era de que Sakura desejava ter uma boa conversa comigo.

Mas como eu poderia dizer não para ela? Sinceramente, surpreende-me que ela tenha esperado até agora para me pressionar sobre o assunto. Afinal, eu tinha consciência de quão “chato” e “grudento” eu havia sido desde que levei um fora da Mayumayu e fui confessado pelo Mayu, tudo no mesmo dia. A ruiva havia virado meu porto seguro; eu me sentia acolhido em sua presença e me via capaz de esquecer de tudo, de minha vida e de suas complicações. Mas há um limite para quanto tempo alguém aguenta se ver preso nessa situação, e, no caso de Sakura, já havíamos ultrapassado-o há uns bons dias. Ficar longe de Nozaki por tanto tempo era demais para ela, e não ter a desculpa de “ter de ajudá-lo com o mangá” piorava ainda mais as coisas; demoraria pelo menos mais uma semana para Nozaki precisar de nossa ajuda novamente.

Eu estava ciente de que aquela situação não podia continuar eternamente, mas não sabia se já estava preparado para o inevitável. Suspirei fundo, fechei os olhos por um momento e então encarei o céu. O Sol brilhava forte, fazendo com que meus olhos se sentissem incomodados pela claridade. No alto quase não haviam nuvens, e as poucas que se aventuravam por aquela extensão celeste caminhavam lentamente devido à fraca força do vento. Estava quente, insuportavelmente quente. Eu mal podia esperar pelo inverno.

— Mikorin. – Sakura me chamou enquanto parava de andar. Olhando ao redor, percebi que havíamos andado uma distância considerável. Eu estava mais distraído do que imaginava. – Por onde agora? – Ela perguntou.

— Ah, certo… Viramos naquela esquina.

E dito isso continuamos com o trajeto, nossos passos num ritmo constante e nem um pouco apressado. Fixei minha atenção no caminho à nossa frente, fazendo o esforço de manter-me mais atento na parte final do percurso até a praça. Sakura pareceu notar a diferença, pois deu um leve sorriso depois de analisar bem as expressões que eu tinha no rosto. Ela, entretanto, não disse nada, ao que de certa forma agradeci.

Já estávamos perto do nosso destino quando decidimos passar na loja de conveniência; estava quente e a sede não era pouca. O local estava relativamente vazio e, assim, não demorou até que nos víssemos sentados no mesmo banco da última vez.

— Este local é realmente bem tranquilo… – Ela concluiu, depois de observar a praça por quase dois minutos. – Quase não vem gente aqui.

— Sim. Mas duvido que seja um bom lugar para ficar depois que anoitece.

— Como descobriu este local?

— Foi há algumas semanas... Mayu se perdeu quando vinha para a casa do Nozaki. Ele tentou fazer um caminho diferente do habitual para encurtar a distância e quando viu não sabia mais onde estava. – Dei uma breve risada ao lembrar do estado de pânico que o mangaká ficou quando o irmão o ligou. – Nozaki não sossegou até que eu fosse encontrá-lo, e Mayu desistiu de dizer que não era realmente necessário nada daquilo depois de se repetir pelo menos duas vezes.

Sakura encarava-me com seus grandes olhos púrpura, um sorriso satisfeito desenhado em seus lábios. Aquilo me deixou um pouco mais embaraçado do que eu gostaria.

— Você e o Mayu se dão bem. – Ela afirmou, de repente.

Aquelas palavras trouxeram um tumulto ao meu peito. Meu coração batia veloz e minha mente era rapidamente tomada por lembranças envolvendo o mais novo dos Nozakis. Sentindo meu rosto corar, levei uma das garrafas de água que havíamos há pouco comprado aos lábios e tomei um longo gole.

— Eu não diria que nos damos “bem”. Apenas… O normal.

Ela não mais insistiu no assunto, para meu alívio. Falar sobre Mayu era, para mim, tão difícil quando falar sobre Mayumayu; ambos eram parecidos na maneira como conseguiam fazer surgir os mais estranhos sentimentos dentro de mim, emoções complicadas e com as quais eu não sabia como lidar.

— Mas e então… Sobre o Nozaki, algum novo plano? Você não vai realmente desistir. ou vai?

Ela olhou para o chão e em seus lábios se desenhou um leve sorriso.

— Como se isso fosse possível... Amor não é um sentimento que você simplesmente abandona. Não é assim tão simples.

Era impossível não admirar a perseverança da garota. Essa era uma das suas melhores qualidades, na minha opinião. Mas, enquanto eu a observava, vi suas feições se tornarem repentinamente mais sérias. Senti um arrepio percorrer-me o corpo quando ela olhou na minha direção.

— E é por isso, Mikorin, que não acredito que você realmente esteja bem.

— O quê? – As palavras tremulavam em minha boca.

— Por que evita o assunto?

— Não sei do que…

— Mayumayu. – O nome da garota foi dito com firmeza e o efeito foi calar-me antes que eu tivesse a chance de terminar as palavras que eu antes dizia. – Você vai ter que falar dela alguma hora.

Uma risada cínica fugiu-me dos lábios antes que eu pudesse me conter.

— O que espera que eu diga? Eu levei um fora. É isso. Acabou.

— Não precisa acabar. Você pode dar um tempo, tentar de novo…

— Ela gosta de outra pessoa. Ela deixou clara as minhas chances. Acabou, Sakura. – Repliquei, exasperado. Respirei fundo, fechei os olhos e assim fiquei até sentir que eu havia relaxado ao menos um pouco.

— Poxa, Mikorin. Não fica assim. – Ela encarava-me com olhos cheios de pena. – Se não é ela, bem… Tudo que posso dizer é que com certeza tem alguém no mundo para você.

Olhei em sua direção, mas não fui capaz de sorrir como eu gostaria.

— Obrigado, Sakura.

Ela sorriu por mim, por ambos.

— Mas vocês tem se falado? Como estão as coisas entre vocês? Normais? Estranhas?

— Não sei dizer, já que não falo com ela desde então.

A ruiva pareceu sinceramente surpresa com a minha revelação. Ela franziu as sobrancelhas e, a seu pedido, tive que me repetir, talvez por ela não ter acreditado em seus ouvidos na primeira vez.

— Como assim?! Antes, vocês trocavam mensagens ao ponto de ser insuportável! Não acredito que ela simplesmente parou de falar com você, sem mais nem menos!

— Err, então… Na verdade…

As feições na face da garota imediatamente mudaram. Seu olhar encheu-se de reprovação. Ela estendeu a mão.

— Me dá.

Sem pensar duas vezes e me sentindo mais intimidado do que eu deveria, puxei o celular para fora do bolso e imediatamente o entreguei à garota. A luz piscava tanto quanto nos outros dias daquela semana. Ela apertou alguns botões, deslizou o dedo na tela algumas vezes e suspirou fundo antes de devolver-me o aparelho, não mais irritada pelo meu descaso com Mayumayu, mas sim decepcionada com meu comportamento infantil.

— Acho que você deveria ler. – Ela disse, simplesmente.

Vendo que eu não estava em posição de fazer qualquer objeção, simplesmente fiz o que ela me sugeriu. Dando enfim alguma atenção às mensagens de Mayumayu, notei que seu número era ainda maior do que eu havia constado. Comecei a ler.

.

[Mayumayu] Dia. Acabei de acordar.

[Mayumayu] Aula chata… Queria ir para casa dormir.

[Mayumayu] Hj o dia parecia q n ia acabar nunca. Indo pra casa agr

[Mayumayu] Desculpe, devo estar te incomodando

[Mayumayu] Bom dia

[Mayumayu] Mt quente esses dias. Tdb? Lembro de vc ter dito que n gostava de dias quentes

[Mayumayu] N queria ir pra aula hj...

[Mayumayu] Sono

[Mayumayu] Bom dia. N esqueça de se hidratar, Mamiko-san. Está mt quente hj

[Mayumayu] Noite, indo dormir.

[Mayumayu] Sabe, n tenho conseguido dormir bem ultimamente. Será por causa do calor?

[Mayumayu] Dia. Espero que esteja bem

[Mayumayu] Boa noite, Mamiko-san. Durma bem.

[Mayumayu] Dia

[Mayumayu] Noite. Tdb?

[Mayumayu] Sdds das nossas conversas…

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Depois de ler o que seria pouco menos de metade das mensagens e passar o olho por cima do resto, não foi difícil chegar a uma simples conclusão: eu era um babaca, um grandíssimo babaca. Sakura pareceu perceber o que se passava na minha cabeça, ou então minhas expressões entregavam-me mais do que eu imaginava, pois ela disse:

— Acho que está na hora de respondê-la.

E certamente estava. Eu ainda tinha dificuldades em acreditar que eu tinha conseguido ser tão cruel com Mayumayu. Agora estava mais do que claro que eu não a merecia. Mas, por algum motivo, isso era o que menos me incomodava naquele momento. Eu só queria concertar as coisas entre nós, se isso fosse ainda possível.

— O que eu digo? – Perguntei à garota que se encontrava sentada ao meu lado, e que aproveitara dos instantes que tivera para beber um pouco de água.

— Não sou eu quem tem que te dizer.

— Mas, Sakura… – Porém, não teve papo. Sakura virou o rosto e olhou para o outro lado, deixando-me sem opção além de resolver tudo sozinho.

Respirei fundo e decidi seguir pelo caminho da sinceridade.

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[Mamiko ♡] Boa tarde. Desculpe o sumiço. Andei com a cabeça cheia nos últimos dias mas acho que finalmente consegui por tudo mais ou menos em ordem. Não queria te incomodar com meus sentimentos novamente, então precisei de um tempo para superar. Estou pronto para retomar de onde paramos. Claro, se ainda desejar minha amizade…  (^u^’)

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Não demorou muito para vir uma resposta, o que não colaborou com o meu estado emocional. Eu sentia meu coração bater na garganta. Criei coragem e li o conteúdo da mensagem recém chegada, apesar de não saber se eu já estava pronto para o que poderia vir a seguir.

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[Mayumayu] Td bem… Imaginei que fosse algo mais ou menos assim.

[Mayumayu] Esperar não foi um problema. Fiquei com medo que não falasse mais comigo.

[Mamiko ♡] Então me perdoa? (^∇^)

[Mayumayu] Só não te perdoaria se parasse de falar comigo :)

[Mamiko ♡] (★^O^★)

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Sakura deu uma baixa gargalhada, atraindo a minha atenção.

— Problema resolvido. E muito bem resolvido, pelo jeito. – Ela sorriu.

— Como?...

— Você estava sorrindo feito bobo enquanto falava com ela. – Seu sorriso se alargou. Senti-me constranger pelas suas palavras e deboches, mas, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela voltou a se pronunciar. – Fico feliz que tudo esteja bem, agora.

Trocamos sorrisos silenciosos e terminamos com nossas garrafas d´água. O sol continuava tão forte quanto antes, mas eu me sentia muito menos incomodado pelo seu calor. Como não poderia ser mais justo, prometi a Sakura que iria com ela até a casa do Nozaki; só pedi que ela me desse mais alguns minutos. Eu me sentia bem comigo mesmo, relaxado e tranquilo, de uma maneira que eu não me sentia há bastante tempo, e gostaria de continuar assim um pouco mais antes de me ver sendo lembrado de que haviam outras coisas – ou eu deveria dizer, uma outra pessoa – perturbando a minha mente.

Quando nos levantamos para ir até a casa do artista, eu me sentia nervoso de uma maneira inexplicável. Com um mal pressentimento, segui ao lado da ruiva, que o caminho todo fez nada além de falar sobre Nozaki e de como enfim poderia ficar mais tempo com ele, já que eu havia finalmente resolvido meus problemas com Mayumayu.

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Uma caneta rodava em seus dedos, enquanto um suspiro fugia pelos lábios. Apesar do que prometera a si mesmo, não estava conseguido focar em seu estudo por mais que soubesse da necessidade que este representava. Mas o que podia fazer? Tinha coisas demais em sua mente!

Mayu sentou no sofá, vindo da cozinha. Ele carregava um copo de suco de laranja em cada mão; um era obviamente para si, o outro era para seu irmão, que parecia mais agitado do que nunca. Ele, porém, não se deu ao esforço de perguntar o que estava havendo, afinal, se fosse importante ele eventualmente ficaria sabendo.

Mayu deu um pequeno gole na bebida, saciando a sede que era inevitavelmente provocada pelo tempo quente dos últimos dias. Seu celular apitou e ele agachou-se em busca do aparelho que havia caído no chão quando ele se sentara. Ao ver o remetente, seu coração deu um salto. Fazia tanto tempo que não recebia uma mensagem de Mamiko… Ou deveria dizer, de Mikoshiba Mikoto.

Mayu não conseguia definir o que sentira quando descobriu a relação das suas duas pessoas mais importantes como nada além de surpresa. Era como um sonho. Mamiko era aquela garota doce e amável que ensinara tantas coisas a ele, até mesmo a se expressar um pouco melhor. Ela era indubitavelmente uma de suas melhores amigas. Mikoshiba, por outro lado, era uma figura interessante. A maneira como ele se embaraçava com suas próprias palavras, ou como ele tentava esconder tão desesperadamente seu lado otaku… Era simplesmente adorável. Ele era adorável. Mayu sorriu levemente, como sempre fazia quando pensava no outro garoto. Sabia que devia estranhar se sentir daquela maneira em relação a alguém de seu gênero, mas não conseguia se importar o suficiente; simplesmente amá-lo era muito mais fácil.

Ele terminava de responder a mensagem de Mamiko, vulgo Mikoshiba, quando seu irmão largou a caneta na mesa, jogou a cabeça para trás e deu um longo suspiro. Mayu viu-se então sem opções além de perguntar o que estava acontecendo.

— É a Sakura e o Mikoshiba… – Mayu teve sua atenção imediatamente tomada. – Acho que eles estão escondendo algo de mim.

Segue um momento de silêncio.

— Por quê? – Mayu pergunta, enfim.

— Eles não desgrudam. Ultimamente, estão sempre juntos. – Nozaki olhou pensativamente para suas mãos, que repousavam sobre a baixa mesa de trabalho que ele tinha no meio de sua sala. – Mal tenho falado com a Sakura, já que ela sempre está com o Mikoshiba em algum lugar. Quase não a vi a semana inteira.

E essas palavras foram suficientes para se ter não mais um, mas dois Nozakis incomodados com aquela situação.

Enquanto Umetarou tentava inutilmente voltar aos seus estudos, Mayu se via recordar do dia em que fora dispensado por Mikoshiba. A lembrança era tão nítida que parecia ter sido ontem. Lembrava-se perfeitamente do seu rosto, dos seus lábios e de sua voz dizendo que gostava de outra pessoa. Na hora não se incomodou. Considerou aquilo uma desculpa, ou então pensou que ele se referisse a Mayumayu, ou seja, a ele. Mas e se estivesse enganado? Não era impossível, se pensasse bem. Sakura e Mikoshiba sempre foram muito bons amigos... O fato dele não conseguir simplesmente desconsiderar a ideia era a pior parte.

Talvez ter levado um fora da Mayumayu tivesse aproximado-o da Sakura... Seria aquela então a sua punição? Teria tudo sido diferente se tivesse aberto o jogo sobre quem ele era, quando Mikoshiba confessou-se para si, ou melhor, para Mayumayu? Esperava que não fosse esse o caso, afinal ele tinha seus motivos para manter sua identidade um segredo, e o principal deles era que desejava que Mikoshiba se apaixonasse por si, e não pela sua contraparte virtual. Ele queria ser amado pelo que ele era e não pelo que parecia ser.

Não aguentando mais toda aquela angústia, Mayu se levantou, atraindo imediatamente a atenção de seu irmão.

— Já vai?

Mayu anuiu a cabeça e terminou de juntar suas coisas. Ele já estava a meio caminho da saída quando parou e voltou-se novamente em direção ao irmão, ao se recordar de palavras um dia proferidas a si, e que ele sentia que podiam ser úteis ao outro.

— Uma última coisa… Acho que não devia perder mais tempo, irmão, ou vai perdê-la.

E, dito isso, Nozaki Umetarou se viu sozinho na sala. Ainda encarando o caminho há pouco traçado pelo mais novo, não conseguiu deixar de pensar: “O que deu nele?” Porém, tampouco conseguiu ignorar por completo o que lhe fora dito. Enquanto isso, Mayu terminava de por os sapatos. E quando abriu a porta, o que ele procurava esperava-o do lado de fora.

.

.

Naquele momento, perguntei-me se o mundo tinha algo contra mim.

Uma banda tocava em meu peito e minhas mãos tremiam. Eu desejava um buraco para me enterrar e desaparecer. Tentei falar alguma coisa, mas apenas ruídos incompreensíveis saíram de meus lábios. Agora, eu desejava um buraco ainda mais fundo.

Sakura, alheia a situação, limitou-se a me encarar com expressões confusas antes de cumprimentar o outro garoto.

— Oi, Mayu. Já está de saída?

Mayu anuiu a cabeça, respondendo à pergunta de Sakura. Seus olhos, porém, encontravam fixados em mim. Seu olhar era penetrante e desconfortável, e causou-me um arrepio. Agarrei-me à manga da blusa da garota postada ao meu lado, recebendo um olhar ainda mais confuso da jovem. Mayu franziu as sobrancelhas; ele parecia impaciente.

— Posso falar com você... – Seu tom de voz era sério. Sua palavras faziam com que um inexplicável nervosismo crescesse dentro de mim. Mas o que veio a seguir estava longe de ser o que eu esperava. –... Sakura?

Naquele momento, duvidei de meus ouvidos.

— Ela? – Perguntei, soltando enfim do braço da jovem, que pareceu aliviada ao se ver livre de mim.

Mayu balançou a cabeça, e eu me vi mais confuso do que nunca. Por que ela? Mas não tive coragem de perguntar, apesar de algo não parecer estar certo naquela história. Eu me sentia incomodado.

— Claro. – Sakura respondeu, simplesmente. Ela parecia não entender a razão de tanta tensão no ar, mas não questionou.

Tomado por um forte sentimento de embaraço, olhei para o chão. E pensar que achei que ele desejava falar comigo, talvez se confessar uma vez mais… Eu devia estar aliviado por não ser esse o caso, mas de alguma forma não estava. Eu não entendia mais nada.

— E-Eu acho que vou para casa.

Antes que eles pudessem falar qualquer coisa, disparei rua abaixo, meus passos apressados. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas eu me sentia estranho. O tempo continuava o mesmo, quente e abafado, fazendo com que minhas roupas colassem em meu corpo enquanto eu andava ligeiro pelas ruas. Vi meus pensamentos vagarem até Mayu e Sakura. Do que eles falavam?... Sobre Nozaki, talvez? Fechei os olhos e respirei fundo. Eu não tinha um bom pressentimento, e pensar sobre o assunto apenas pioraria as coisas. Decidi que o melhor seria não pensar em absolutamente nada.

O caminho até em casa foi bem solitário, e nem a companhia de meus próprios pensamentos eu tive, pois estes foram expulsos pelo meu subconsciente. Eu já estava cansado de tudo aquilo.

.

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Quando deram conta do que acontecia, Mikoshiba já estava longe demais para ser alcançado pelas suas vozes. Sakura tinha uma de suas mãos estendidas na direção onde o garoto se encaminhara até sumir de vista ao dobrar a esquina. Eles encaravam a rua agora vazia, confusos sobre o que tinha acabado de acontecer.

— O que deu nele?

— Acho que foi por minha causa… – Mayu murmurou, numa voz cansada. Agora que prestava mais atenção, Sakura começava a notar que Mikoshiba não era o único que estava estranho. Mayu tinha expressões ansiosas no rosto, que não combinavam muito com seu jeito habitual de ser.

— Por quê? O que houve?

Mas ela não obteve uma resposta. Mayu desviou o olhar e perguntou:

— O que está acontecendo entre vocês? – Seu nervosismo era notável em sua voz. – É verdade que não desgrudaram a semana inteira?

Sakura pensou um pouco antes de responder, por saber que aquele era um assunto muito mais delicado do que parecia. Mayu não tirava seus olhos dela, o que tornava aquela situação um tanto desconfortável.

— É verdade que o Mikorin meio que não largou de mim nessa última semana. O que eu entendo, porque algumas coisas aconteceram e tal. – Ela respondeu, finalmente – Mas acho que que tudo deve voltar ao normal bem em breve. O que é ótimo, se quer saber. Eu mal vi o Nozaki esses dias. Estava começando a ficar com abstinência… – Sakura deu um sorriso bobo, satisfeita de ter seu dia a dia de volta ao normal.

Mayu ainda não parecia totalmente satisfeito. Ele olhou no fundo dos olhos púrpuras da garota e assim ficou por alguns instantes. Sakura, porém, logo se sentiu incomodada e virou o rosto. Era desconfortável ter alguém te encarando tão fixamente daquela maneira. Toda aquela situação começou a ficar estranha e o silêncio não ajudava. Sakura já abria os lábios quando Mayu decidiu se pronunciar:

— Eu amo ele.

Sakura surprendeu-se com tamanha honestidade, mas a admirou ao mesmo tempo. Um sorriso sutil se desenhou em seus lábios.

— Eu sei. – Ela murmurou.

.

.

O professor falava, mas eu não prestava atenção. Meus olhos pesavam e o esforço que eu fazia para não soltar um alto bocejo em plena aula era grande. Eu apoiava a cabeça em uma das mãos, e o cotovelo na mesa. Manter-me acordado estava sendo um desafio, e quem eu culpava pelo meu estado era Mayu.

Ontem, a primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi beber uma garrafa inteira de água. A segunda foi tomar uma ducha, a fim de me livrar do suor que impregnava meu corpo e minhas roupas. Andar embaixo do sol quente em ritmo acelerado fora uma péssima ideia, e descobri isso ao me ver, depois, sem energias. Por isso, a terceira coisa que fiz foi me encaminhar ao meu quarto e me deitar, a fim de dormir um pouco. Mas, mesmo exausto, não fui capaz de adormecer; era só eu fechar os olhos que minha mente enchia-se de pensamentos envolvendo Mayu. Eu me sentia extremamente embaraçado por algum motivo. Não era, porém, a parte embaraçada que me incomodava, mas o fato de uma fração de mim estar desagradada com toda aquela situação de mais cedo. E daí se não era comigo que ele não queria falar? Não é como se eu quisesse falar com ele também...

Enquanto eu tentava relaxar e esquecer de todas aquelas coisas que me perturbavam, Kaori pulou em minha cama e deitou-se ao meu lado. Virei e o abracei, puxando-o para perto de mim; não demorou nem três segundos para ele escapar por entre meus braços e miar descontente. Ví-me então sozinho, ou não tão sozinho, afinal meus pensamentos se negavam a me abandonar.

Por fim, acabei decidindo por jogar videogame até sentir que conseguiria dormir sem problemas, o que só foi acontecer lá perto das duas da manhã. E é por essa razão que eu, hoje, estava tão cansado.

Senti me baterem de leve no ombro e assim abri os olhos. Olhei para o meu lado, encontrando uma Kashima de feições descrentes.

— Agora vai dormir na aula? Mikoshiba, você tá tentando repetir de ano por acaso?

Cocei os olhos e olhei ao redor, não entendendo muito bem o que estava acontecendo. Só restavam nós na sala.

— Cadê todo mundo?

— A aula acabou.

— O quê?! Há quanto tempo?

— Uns trinta minutos, eu diria…

Pisquei algumas vezes, ainda com dificuldade para entender o que havia acontecido. Comecei a guardar os materiais na mochila, deixando de fora apenas o meu celular.

— E você? O que esta fazendo aqui? As atividades dos clubes já não começaram?

— Bem, sim… Mas é mais legal quando Hori-senpai vem me buscar.

— Então você está esperando ele vir brigar com você por estar atrasada?...

— Basicamente.

Resolvi que não adiantava discutir com ela, pois isso só acabaria por me desgastar ainda mais. Eu estava cansado demais para me preocupar com os problemas dos outros. Despedi-me e sai da sala, o celular em mãos e me avisando que eu possuía mensagens não lidas no chat do blog.

.

[Mayumayu] Eu queria que esfriasse. É horrível praticar esportes nesse calor. Sua aula já acabou?

[Mamiko ♡] Eu tbm não aguento mais esse calor!!! E acabei de sair da aula… Indo pra casa agora ( *U* )/

[Mayumayu] Q inveja…

.

Não pude evitar de sorrir. Era tão bom ver que tudo estava normal entre mim e Mayumayu de novo. Um verdadeiro alívio, e uma preocupação a menos na minha vida. Meu celular tremeu em minhas mãos, mas a mensagem recém chegada tinha outro remetente. Desta vez, era uma mensagem para o meu próprio celular.

.

Sakura >> Onde você está??? Estou te procurando faz tempo!

Eu >> Onde você está?

.

Esperei até que ela me respondesse e então me encaminhei ao local apontado, que era onde nós costumávamos almoçar nos dias em que tínhamos aula até mais tarde. Quando ela finalmente entrou no meu campo de visão, apressei meus passos e acenei. Ela correspondeu ao gesto.

— Desculpe a demora.

— O que houve? Foi só você e Mayumayu se acertarem para te chamarem a atenção por causa do celular?

— Eu não uso o celular nas aulas. – Retruquei. – Não mais.

— Então o que aconteceu?

—… Eu dormi.

— Mikorin!

— Não é como se eu tivesse feito de propósito! – Defendi-me. – Eu não dormi bem à noite, okay?

— Ué, por quê?

Naquele momento, arrependi-me de não ter pensado melhor antes de falar. Afinal, não é como se eu pudesse simplesmente falar a verdade e admitir que foi porque eu não conseguia parar de pensar no Mayu. Quero dizer… Ela com certeza compreenderia errado! Virei o rosto, sentindo-o arder. Ainda assim, eu precisava respondê-la.

— Eu fiquei jogando videogame até tarde. – O que não era mentira.

Ela me encarava com um olhar de quem não se convenceria tão fácil.

— O quê? É verdade!

— Tá, mas por quê? Você nunca foi de fazer isso. E por que saiu correndo ontem?

— Eu queria jogar. Jogo novo, sabe como é. – Eu odiava mentir, mas ela estava começando a me deixar sem escolha.

— Mikoshiba, você é um péssimo mentiroso.

— E-Eu não estou mentindo!

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, apenas me encarando fixamente. Eu tentava encontrar alguma forma de escapar daquela situação antes que eu me visse encurralado quando ela deu o bote final.

— Foi o Mayu, não foi?

— Mas heim? – Meu coração acelerou. O que eu sentia naquele momento não podia ser descrito como nada além de desespero. A minha sensação era a de uma pequena lebre diante de um enorme e faminto lobo.

— Okay… O que o Mayu te disse?

— Nada! Por que ele me diria alguma coisa? – Tentei disfarçar com uma breve gargalhada, mas essa se mostrou uma péssima escolha.

— Você sabe muito bem o porquê, pelo jeito.

— Ah, falando nisso! Sobre o que vocês falaram ontem? Nozaki? E você viu os boatos que andaram espalhando sobre nós? Que loucura, né? – Eu estava começando a ficar sem ideias.

— Ele me disse que te ama.

Sakura tinha feições sérias e seus olhos haviam se pregado em mim. Eu tentei manter o contato visual, mas não aguentei por muito tempo. Na verdade, acho até que aguentei por bastante tempo, porém, era inevitável que havia um limite para o quanto eu conseguia suportar e manter a compostura.

Escondi o rosto vermelho atrás das mãos e curvei meu corpo para frente. Respirei fundo várias vezes, mas nada parecia ser capaz de fazer com que meu coração desacelerasse. Eu me perguntava porque aquilo tinha que acontecer, e porque ele havia contado para a Sakura. Espiei por entre os dedos, constatando que meu pequeno surto não causou qualquer reação na ruiva.

— Por que ele te contou?

— Não é como se eu precisasse que ele me dissesse…

— Ah? – Indaguei, confuso com o que ela queria dizer.

— Sério que você não tinha notado?

— Por que eu teria? – Ajeitei-me, sinceramente curioso para com o que ela dizia.

— Teve aquele lance na praça, pra começar. E o dia na sorveteria. Você não achou nada daquilo suspeito?

— Não... Por que deveria?

— Porque era óbvio. – Ela falou, simplesmente. – Mayu sempre foi apegado a você, se você pensar bem. E esse apego deve ter virado amor em algum ponto. – Ela balançou os ombros, como que dizendo que ela mesma não entendia completamente o que havia acontecido.

— Não era óbvio… – Foi tudo que pude falar em minha defesa. Eu sentia-me envergonhado e não conseguia acreditar que eu estava realmente tendo aquela conversa com Sakura. Só podia ser um sonho; ou eu deveria dizer, pesadelo.

— Eu admito que também achei estranho no começo, mas, se quer saber… Vocês não ficariam mal juntos.

— Não! Sakura, não!

— Ué? Por que não?

— O Mayu é o Mayu! Você não espera que eu saia com o irmão mais novo do Nozaki, espera?

— Se você também gostar dele, por que não?

— Tá, mas eu não gosto dele.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. Ela olhava fixamente nos meus olhos, e eu nos dela. O clima entre nós estava tenso e eu me perguntava se seria muito chato simplesmente me levantar e sair. Eu estava precisando ficar um pouco sozinho, ou eu sentia que ia acabar passando mal, pois até então meu coração não havia desacelerado sequer um pouco.

— Por quê? – Sakura perguntou, por fim. Ela insistia em continuar aquele assunto.

— Eu não sou obrigado a gostar dele. – Respondi sem nem pensar duas vezes e desviei os olhos, não aguentando mais mantê-los na garota.

— Não. – Ela balançou a cabeça. – Não é isso. Por que você insiste tanto em negar que talvez goste dele também?

— Porque eu não gosto!

— Tá, e eu não gosto no Nozaki. – Ela revirou os olhos. – Mikorin, eu já disse... Você não sabe mentir. Tem ideia da cara que está fazendo agora?

Surpreso, silenciei-me. Olhei para os lados, sentindo-me bastante embaraçado. O que ela queria dizer? Eu queria contradizê-la, mas as palavras não me vinham.

— Você me parece perdido.

— O quê?

— Mikorin, como você se sente quando vê o Mayu?

— Como?... Normal.

— Normal? – Ela ergueu uma das sobrancelhas. – Você saiu correndo ontem. Quero uma resposta sincera. – Ela insistiu.

— E-Eu não sei o que você espera que eu te diga! Não sei o que você espera de mim! – Exasperei-me.

— Eu quero que você perceba de uma vez que ama ele!

— Por que insiste tanto nisso?

— Porque isso não envolve só você! Por que esta sendo tão teimoso? Você não vê que se continuar assim vai acabar machucando os sentimentos do Mayu?

— Eu já dispensei ele! Já pus um final nessa história! Você é quem decidiu ser teimosa! E não é como se você tivesse alguma coisa a ver com isso!

Sakura pareceu chocada com as palavras que foram cuspidas na sua cara. Eu, porém, não me arrependia. Mas a reação da garota foi diferente da que eu esperava.

— Idiota! – Sua voz mostrava toda a sua raiva e impaciência para comigo. – Você realmente acha que resolveu alguma coisa? Pois então deixa eu te falar… Não adianta nada dar o fora nele e agir como uma donzela apaixonada sempre que ele chega perto!

— Hm?!

— Sabe ontem? Você estava nervoso, não é? Muito, extremamente ansioso só por ver ele na sua frente. E depois você ficou confuso porque ele não queria falar com você. Sabe o que foi aquilo? Ciúmes! Mas, enfim, você acha que é normal se sentir assim em relação a alguém que não significa nada pra você? Porque deixa eu te dizer… Não é!

— Eu… Eu não…

— Você ama ele! Aceita que dói menos.

Eu pressionava os meus lábios juntos, meu coração batia rápido, minhas mãos suavam e eu sentia meu rosto arder devido ao meu constrangimento. E, de alguma maneira, eu me via aceitando tudo aquilo. Não é que eu tenha cansado de discutir com Sakura, ou tenha decidido simplesmente ignorá-la. É só que eu sabia que as mentiram não saiam dos lábios dela, mas dos meus. Não é como se eu fosse tão babaca assim. Era simplesmente difícil de aceitar.

— Tudo bem… Digamos que você esteja certa, o que espera que eu faça?

— O que você acha?

— Você não pode estar querendo que eu me confesse…

— Por que não?

— Eu dei um fora nele semana passada!

— Esquece semana passada. O que você quer agora?

Deixei que meus olhos vagassem, e eles então se direcionaram ao céu. Não haviam nuvens, só o Sol a nos observar de cima, impiedoso. Respirei fundo.

— Tá, mas eu não sei quando vou vê-lo de novo. E não é como se eu tivesse o número do Mayu. Afinal, ele não quis me passar o contato dele. – Eu disse, a lembrança desse pequeno detalhe chateando-me mais do que nunca. Eu até agora não entendia o porquê da recusa. Não fazia sentido. Sakura também pareceu surpresa com aquela revelação, mas esforçou-se para não desviar do assunto.

— Vamos pedir pro Nozaki.

— Se Mayu não quer me dar o número dele, pegá-lo com Nozaki seria errado. Não posso fazer isso.

— Tem razão…

Encaramos a cara um do outro por alguns instantes, esperando que mais alguma ideia surgisse.

— Ah! E se a gente ver com o Nozaki se ele sabe quando o Mayu vai aparecer de novo? Ou então pedir pro Mayu dar um pulo lá quando tiver um tempo!

— Pode ser… Não é uma má ideia. Você liga pra ele?

Ela anuiu a cabeça e pegou o celular, discando o número do mangaká de cabeça. Observei enquanto ela colocava o telefone do lado da orelha e esperava por uma resposta do outro lado da linha. Ela tinha um largo sorriso nos lábios, que se alargou ainda mais ao ouvir o tom familiar da voz do outro.

— Ah! Oi, Nozaki! É a Sakura!

Uma pequena pausa.

— Sim, tudo bem. E com você? Espero não estar interrompendo os seus estudos.

Outra pequena pausa.

— Sério?! Fico feliz que finalmente saiba o que fazer pro capítulo!.. Sim, sim, claro. Hoje mesmo?... Não, eu não tenho nada. Posso ir aí te ajudar.

Sakura olhou em minha direção, confusa, ao que chamei seu nome. Eu fiz um pequeno gesto e só então ela pareceu lembrar do motivo da ligação.

— Ah, mas então. Eu queria te pedir um favor. Você sabe quando o Mayu vai te visitar de novo?... Não, não. É o Mikorin… Longa história… Ah? O Mayu está aí?!... Não! Não deixa ele sair!... É importante. Fala pro Mayu esperar aí que eu e o Mikorin já estamos indo!... Eu não me importo. Amarra ele numa cadeira se precisar! É importante!... Okay, estamos indo.

Sakura desligou o aparelho e olhou em minha direção.

— Temos que nos apressar.

— Pera, o Mayu tá lá agora? – Perguntei, a fim de me certificar de que eu não me enganara.

— Sim! Ele veio trazer umas coisas de casa pro Nozaki, mas ele já tava de saída. – Sakura segurou-me pela mão e caminhamos para fora da escola, nossos passos apressados. – Temos que nos apressar! Nozaki disse que ia segurar ele quanto conseguisse, mas disse que Mayu tinha que ir treinar, ou algo assim. Temos que correr!

— Não, pera! Por que não deixamos isso para outro dia? Quero dizer, não precisamos ir correndo até lá só pra isso. Haverão outras oportunidades e… – Eu sentia meu coração bater contra a garganta.

— Mikorin, nem começa! Eu te conheço bem, e você vai ficar enrolando.

Nós dobramos uma esquina e depois mais outra. Sakura continuava me puxando pelo pulso, guiando-me pelas ruas. Estava quente e abafado. Eu me perguntava se aquilo era uma boa ideia, e a cada segundo que passava eu tinha mais certeza que não, não era.

— E-Eu não estou pronto, Sakura! – Parei, forçando a garota a parar também. Minha face ardia, eu estava suado e meu cabelo despenteado.

— Não é como se ele fosse te dispensar. Ele ama você.

— Não é essa a questão. Não sei se estou pronto pra amar ele. E se as palavras não saírem?

— Eu sei que você consegue. Vai dar tudo certo.

Sakura sorriu para mim daquela maneira doce de sempre e eu vi o quão sortudo era por tê-la como amiga. Eu ainda estava incerto se aquele era o momento certo, e apavorado se eu conseguiria me expressar quando fosse a hora, mas decidi confiar em suas palavras. Respirei fundo e anui a cabeça. Ela pareceu compreender o recado, pois retomou a corrida. Desta vez, fiz o esforço de correr ao seu lado.

Não demorou muito mais até que avistássemos a rua conhecida. Estávamos perto. Eu corria e corria, e o vento deixava meu cabelo cada vez mais bagunçado. Meu coração batia acelerado pelos mais variados motivos. Quando enfim a casa do mangaká entrou em nosso campo de visão, avistamos Mayu e Nozaki conversando na porta.

— Nozaki! – Sakura acenou, chamando a atenção dos dois irmão.

Quando nos juntamos a eles estávamos completamente sem fôlego. Por alguns segundos, eles se limitaram a nos encarar, talvez esperando que nossa respiração normalizasse. Agora que eu estava de frente para ele, era ainda mais difícil acreditar no que eu estava prestes a fazer. Meus lábios tremiam e eu não sabia como poderia dizer “eu te amo” quando nem “oi” fui capaz de falar direito.

— Eu não sei o que está acontecendo, mas foi por pouco. Não sei por quanto tempo mais eu conseguiria segurar o Mayu.

— Obrigada, Nozaki! Você não sabe o bem que fez! Né, Mikorin? – E de repente todos olharam em minha direção. Em pânico, tudo que pude fazer foi balançar a cabeça nervosamente.

— Então?... – Nozaki Umetarou perguntou, ainda olhando fixamente em minha direção.

Mas não me vi capaz de proferir sequer uma palavra, pois estava ocupado demais surtando internamente. Não demorou muito até que a paciência alheia se esgotasse.

— Tenho que ir. – Mayu anunciou, apontando em direção à rua.

— Não! – Sakura exclamou, surpreendendo não apenas os dois irmãos, mas também a mim.

— Por quê?

Enquanto Sakura pensava em uma boa razão que servisse de desculpa, eu me ocupava observando Mayu sorrateiramente. Olhando-o de soslaio, analisei sua postura, suas feições e seus gestos enquanto ele esperava a resposta que seria dada pela ruiva.

— Sakura, o Mayu realmente tem que ir. Isso não pode ficar para outro dia? – Nozaki perguntou em prol do irmão.

— Não, mas…

Sakura olhou de Umetarou para Mayu, e de Mayu para mim, e depois de volta para Mayu. Ela tinha as mãos fechadas em punhos e sua teimosia era evidente. Quando ela voltou a olhar em minha direção, seus olhos brilhavam e havia um leve sorriso em seu rosto. Ela parecia ter dito uma ideia.

— Mikoshiba, por que você não vai com o Mayu até a estação? – Sua pergunta mais parecia uma ordem.

— Hm?! – Minha face enrubesceu, pois as intenções da ruiva eram óbvias.

— Então está decidido! Vocês dois já podem ir!

— N-Não, Sakura… Espera. – Mas ela não quis me dar ouvidos.

Ela agarrou a mão do mangaká e o arrastou para dentro de casa, acenando antes de fechar a porta. Mayu e eu ficamos encarando o local por onde eles sumiram por alguns segundos, depois, olhamos um para a cara do outro. O moreno encarava-me com expressões que eu não conseguia ler, provavelmente por eu estar ocupado demais me preocupando em tentar manter um sorriso nos lábios.

— Vamos? – Ele perguntou, por fim, e tudo que eu consegui fazer foi balançar a cabeça e sorrir tortamente. Eu estava me sentindo um grande idiota, mas eu não conseguia evitar de agir como eu estava agindo, tamanho era o meu nervosismo.  

Andávamos lado a lado, em total silêncio. Eu me perguntava quando era suposto que eu deveria me confessar, mas eu me via sem respostas. Por algum motivo, todo o conhecimento que eu havia juntado no último ano me parecia, agora, inútil. Não que eu pensasse que o que se passava nos meus jogos era a realidade, mas bem que podia ter pelo menos um dica ou outra...

Olhei de relance em sua direção, a quinta vez nos últimos dois minutos. Mayu encarava a frente, seu olhar fixo no horizonte. Meus olhos caíram para o chão e lá ficaram por alguns instantes. Olhei então para o céu, mas a claridade logo me incomodou.

Passeando a vista pela rua, eu buscava algo que servisse para puxar assunto. Nada, porém, surgiu de interessante. Levei os dedos ao cabelo, lembrando só então o quão bagunçado ele estava. A minha situação era ridícula, pra simplificar. Tudo estava sendo um desastre e nada daquilo estava sendo fácil, apesar de não haver motivos para não o ser. Quero dizer… Não é como se Mayu fosse me dispensar… Certo?

Tornei a olhar em sua direção, de repente me sentindo bastante nervoso.

Mayu parou, e eu o imitei. Ele olhou em minha direção, suas feições sérias, e meu coração disparou ainda mais rápido. Respirei fundo.

— Isso está começando a ficar chato…

Meus lábios tremeram.

— O que você tem?

Algo me dizia que aquele era o tão esperado momento de me confessar, mas eu me via desejando que não o fosse. E se algo der errado? Sempre dava algo errado…

— Mikoto-san?

— A-Ah, bem…Você tem treino hoje? Vai ter algum campeonato?

Mayu franziu as sobrancelhas, o que me fez surtar ainda mais. Eu me via sem saída e eu estava começando a ficar angustiado.

— Mikoto-san…

Abri os meus lábios, o ar enchendo-me rapidamente os pulmões, meu coração batia-me contra a garganta, minhas mãos suavam… Fechei os olhos por um momento, e então coloquei a mão no bolso, puxando para fora o celular. Mayu observava cada gesto meu atentamente, curioso.

— O seu número. – Eu estendi o braço, erguendo o celular. – Por favor.

Mayu piscou duas vezes, seus olhos negros fixos em mim. Ele me parecia confuso. Por outro lado, eu não tinha coragem de o encarar e, por isso, eu olhava para os meus próprios pés.

— Eu não…

— Por que não? Por favor.

Mayu inclinou a cabeça, suspirou e não disse nada por alguns segundos; os segundos mais longos e angustiantes da minha vida. Minhas mãos tremiam e eu me perguntava o que sequer eu estava fazendo.

— Eu tenho os meus motivos.

— Por favor. – Repeti.

— Por que isso importa?

— Porque eu tenho o número de todas as pessoas que me são minimamente importantes, mas eu não tenho o seu. – Minha voz ficou de repente mais baixa e trêmula – Não ter o número da pessoa que amo é tão...

Olhei para o chão, sem coragem de sequer terminar de me pronunciar. Porém, não demorou até que eu sentisse os braços do outro garoto me trazendo para mais perto de si. Escondi meu rosto em seu peito, sem vontade de ser visto naquele momento. Mayu apoiou sua cabeça no topo na minha e se deixou estar.

— Eu já estava cansando de esperar você se dar conta. – Ele murmurou, depois de um tempo.

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Notas finais do capítulo

Obrigada aos que se deram ao trabalho de ler até aqui. Eu tenho mais algumas coisas a dizer, então espero que não se importem de ler mais um pouco. Mas, antes, eu gostaria de lembrá-los que como toda escritora normal eu sobrevivo através de reviews. Por isso, deixe sua opinião! Eu estou realmente interessada em saber o que vocês acharam! Críticas, elogios, sugestões, erros gramaticais... Aceito tudo!
Agora, o meu boletim informativo. :)
Como eu comentei nas notas iniciais, este capítulo encerra o primeiro arco de três da história. "Mas acaba assim??" Sim, acaba. O próximo arco dará um salto no tempo, não muito grande, e iniciará outra temática que quero trabalhar. Não vai ter primeiro encontro, nem nada do tipo, não se isso for depender de mim. MAS, eu decidi começar uma iniciativa simples (okay, não tão simples assim): eu vou escrever extras se, e somente se, vocês me mandarem alguma sugestão. Para isso, vocês devem entrar em contato comigo no meu tumblr (nekoclair.tumblr.com) e mandar a sua sugestão para lá. "Mas o que eu posso mandar?" O que você quiser, desde headcanons até temas mais específicos. Obviamente, darei o devido crédito à pessoa pela ideia, nas notas iniciais.
E, para evitar mal entendidos... Vocês não precisam me seguir nem nada, pode até mandar em anônimo; na verdade, você nem conta precisa ter no tumblr. O motivo dessa minha iniciativa é ver se consigo mais contato com outros fãs de mayumiko, e nada mais. Além disso, adoro desafios.
Sintam-se livres para entrar em contato comigo se tiverem alguma dúvida. Pode até ser por aqui. Peço apenas que, se for para mandar uma ideia para um extra, que seja no tumblr -ok?
Acho que é isso. Até a próxima~



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